A prostituição pode ser definida como a troca consciente de favores sexuais por interesses não sentimentais, afetivos ou prazer. Apesar de comumente a prostituição consistir numa relação de troca entre sexo e dinheiro, esta não é uma regra. Pode-se trocar relações sexuais por favorecimento profissional, por bens materiais (incluindo-se o dinheiro), por informação, etc.
A prostituição é praticada mais comumente por mulheres, mas há um grande número de casos de prostituição masculina em diversos locais ao redor do mundo.
Conceito
Interior de um bordel, pintura de Henri de Toulouse-Lautrec.A sensibilidade sobre o que se considera prostituição pode variar dependendo da sociedade, das circunstâncias onde se dá e da moral aplicável no meio em questão.
A prostituição é reprovada em diversas sociedades, devido a ser contra a moral dominante, à possível disseminação de doenças sexualmente transmissíveis (DST) , por causa de adultério, e pelo impacto negativo que poderá ter nas estruturas familiares (embora os clientes possam ser ou não casados).
Na cultura silvícola de algumas regiões, inclusive no interior da Amazônia, Brasil, e em algumas comunidades isoladas, onde não há a família monogâmica, não existe propriedade privada e por conseguinte não existe a prostituição: o sexo é encarado de forma natural e como uma brincadeira entre os participantes. Já onde houve a entrada da civilização ocidental o fenômeno da prostituição passa a ser observado com a troca de objetos entre brancos e índias em troca de favores sexuais.
[editar] História
Apesar de fortemente disseminada no senso comum, a ideia de que a prostituição seja a profissão mais antiga do mundo não encontra qualquer fundamento histórico ou antropológico, visto que os mais antigos registros de atividades humanas revelam as mais variadas especializações como agricultura e caça, mas raramente revelam indícios de prostituição, que normalmente exige um contexto social posterior.
Posteriormente, ainda na antiguidade, em muitas civilizações já desenvolvidas, a prostituição era praticada por meninas como uma espécie de ritual de iniciação quando atingiam a puberdade.
No Egito antigo, na região da Mesopotâmia e na Grécia, via-se que a prática tinha uma ritualização. As prostitutas, consideradas grandes sacerdotisas (portanto sagradas), recebiam honras de verdadeiras divindades e presentes em troca de favores sexuais.
[editar] Grécia e Roma
Cliente e uma prostituta (o saco de dinheiro está pendurando na parede) 480–470 AC, depositado em coleção particular em Munique.Mais adiante, na época em que a Grécia e Roma polarizaram o domínio cultural, as prostitutas eram admiradas, porém tinham que pagar pesados impostos ao Estado para praticarem sua profissão; deveriam também utilizar vestimentas que as identificassem, pois caso contrário eram severamente punidas.
Na Grécia, existia um grupo de cortesãs, chamadas de hetairas, ou heteras, que frequentavam as reuniões dos grandes intelectuais da época. Eram muito ricas, belas, cultas e consideradas de extrema refinação; exerciam grande poder político e eram extremamente respeitadas.
[editar] Israel
A prostituição era severamente reprimida dentro da cultura judaica. Segundo a lei mosaica, as prostitutas poderiam ser sujeitas a penas severas até com a morte. No entanto, verifica-se que na prática houve situações de tolerância, como se vê na história de Raabe contada no livro de Josué durante a conquista de Jericó.
[editar] Cristianismo e Idade média
Durante a Idade Média houve a tentativa massiva de eliminar a prostituição, impulsionada em parte pela moral cristã mas também no grande surto de DSTs (principalmente sífilis). Em contrapartida, havia o culto ao casamento cortês, onde a política e a economia sobrepujavam aos sentimentos, e as uniões eram arranjadas somente por interesse (que por si só já poder-se-ia considerar como prostituição), reforçam ainda mais a prostituição. Em muitas Cortes, o poder das prostitutas era muito grande: muitas tinham conhecimento de questões do Estado, tanto que a prostituição passou a ser regulamentada.
Quando houve a Reforma religiosa no século XVI, o puritanismo começou a influir de forma significativa na política e nos costumes. Somada a este evento, como já mencionado, aconteceu uma grande epidemia de doenças sexualmente transmissíveis. A Igreja Católica enfrentou frontalmente o problema da prostituição, lançando mão de recursos teológicos (dogmas, tradição e textos Bíblicos). Com a ação da Igreja Católica e das igrejas protestantes que surgiam a prostituição foi relegada a uma posição de clandestinidade, apesar da persistência de algumas cortesãs nas cortes Europeias e de suas colônias.
[editar] Revolução Industrial
Com o advento da Revolução Industrial, houve um crescimento na prostituição. As mulheres de então passaram a somar à força de trabalho, e como as condições eram desumanas, muitas passaram a prostituir-se em troca de favores dos patrões e capatazes, expandindo novamente a prostituição e o tráfico de mulheres. Somente em 1899 aconteceram as primeiras iniciativas para acabar com a escravidão e exploração sexual de mulheres e meninas. Vinte e dois anos mais tarde, a Liga das Nações mobilizou-se para tentar erradicar o tráfico para fins sexuais de mulheres e crianças.
[editar] Século XX
Prostituta na actualidade.A ONU, em 1949, denunciou e tentou tomar medidas para o controle da prostituição no mundo. Desde o início do século XX, os países ocidentais tomaram medidas visando a retirar a prostituição da atividade criminosa onde se tinha inserido no século anterior, quando a exploração sexual passou a ser executada por grandes grupos do crime organizado; portanto, havia a necessidade de desvincular prostituição propriamente dita de crime, de forma a minimizar e diminuir o lucro dos criminosos. Dessa forma as prostitutas passaram a ser somente perseguidas pelos órgãos de repressão se incitassem ou fomentassem a atividade publicamente.
Com a disseminação de medidas profiláticas e de higiene e o uso de antibióticos, o controle da propagação de doenças sexualmente transmissíveis (DST) e outras enfermidades correlatas à prostituição parecia próximo até meados da década de 1980 no século XX, porém, a AIDS tornou a prostituição uma prática potencialmente fatal para prostitutas e clientes, havendo no início da enfermidade uma verdadeira epidemia.
[editar] Atualidade
Prostituta em Tijuana.Modernamente, com as doenças sexualmente transmissíveis, (DST), entre as quais a SIDA (AIDS em inglês), a prática da prostituição recebeu um golpe. Foi necessária a intervenção estatal para o controle e prevenção das doenças, que atingiram níveis de epidemia no final do século XX, início do século XXI, extinguindo boa parte da população de risco (pois são enfermidades fatais aos clientes e prostitutas).
Apesar das tentativas de órgãos de saúde pública em todo o mundo na prevenção a estas doenças, em regiões mais pobres do planeta, miséria e prostituição são palavras praticamente sinônimas.
Nas regiões mais pobres a miséria, a prostituição, o tráfico de drogas e as DST se entrelaçam. No Brasil a prostituição infantil é comum nas camadas mais pobres dos grandes centros urbanos. Nas capitais do Nordeste em especial, existe o turismo sexual, onde crianças de ambos os sexos são recrutadas para satisfazer os desejos de pedófilos provindos de todas as partes do mundo, em especial dos Estados Unidos e da Europa.
Alguns países já reconhecem legalmente a prostituição como profissão, a exemplo da Alemanha.
Com a popularização dos meios de comunicação em massa, novas formas de prostituição se verificaram, como o sexo por telefone, e sites onde o sexo é vendido em filmes, imagens, web cams ao vivo, etc., criando uma nova forma da atividade: a prostituição virtual.
[editar] No Brasil
Ver artigo principal: Prostituição no Brasil
No Brasil, numa pesquisa do Ministério da Saúde e da Universidade de Brasília indica que no segundo semestre de 2005 quase 40% das prostitutas estavam na profissão há, no máximo, quatro anos, fato que seria um indício de que a prostituição estaria ligada à juventude e, quando sentem o tempo passar, ficariam desesperançosas. Já o Centro de Educação Sexual, uma ONG que realiza trabalhos com garotas e garotos de programa do Rio de Janeiro e Niterói, diz que a maioria se prostitui para sobreviver, embora muitas pessoas sonham em encontrar um amor, apesar acreditarem que vão carregar um estigma. [carece de fontes?]
A atividade de prostituição no Brasil em si não é considerada ilegal, não incorrendo em penas nem aos clientes, nem às pessoas que se prostituem. Entretanto, o fomento à prostituição e a contratação de mulheres para atuarem como prostitutas é considerado crime, punível com prisão.
Enquanto muitas garotas de programa são exploradas por agenciadores outras tornam-se independentes divulgando seu próprio trabalho em classificados de jornais e classificados online, como em alguns sites na internet, em ambos os casos a anunciante deve fornecer documento de identidade, para que seja comprovada a maioridade da anunciante e a veracidade das informações contidas no anúncio. O que não ocorre na rua, onde menores de idade podem ser vítimas da indústria do sexo.
[editar] Em Portugal
Ver artigo principal: Prostituição em Portugal
A atividade de prostituição entre adultos em Portugal não é considerada ilegal por si só, não incorrendo em penas nem aos clientes, nem às pessoas que se prostituem. No entanto, o fomento à prostituição ou a recolha de lucros pela actividade de prostituição de terceiros é considerado crime de lenocínio, punível com prisão.
Embora estas leis tenham sido pensadas inicialmente para protegerem mulheres da exploração sexual por parte de terceiros, na prática invalidam também que as pessoas que se dedicam à prostituição se possam organizar entre si quer em grupos de apoio (excepto em situações específicas em que seja claro que não há nenhuma promoção da prostituição) quer para coordenação comercial.
[editar] Sinônimos
Devido ao tamanho continental do Brasil e ao alcance mundial do idioma lusófono, há uma série de palavras sinônimas de: prostituição, prostituta ou prostituto, muitas delas pejorativas numa região e em outra não. Podem, por exemplo, ser designadas como putas, rampeiras, garotas de programa, messalinas, michês, mulheres da vida, quengas, raparigas, além de diversos outros termos coloquiais e técnico-profissionais.
A prostituição no Brasil é legal, já que não há nenhuma lei que proíbe a prostituição adulta[1] mas o governo brasileiro está frustrado cada vez mais com o fato de que os turistas ocidentais vêm ao Brasil para o turismo sexual,[2][3] particulamente prostituição infantil.[4] Existem, atualmente, diversas campanhas do governo brasileiro contra a prostituição infantil.[3][5][6]
O relatório de 2010 do Departamento de Estado dos Estados Unidos cita o Brasil como "fonte de homens, mulheres, meninos e meninas para prostituição forçada no país e no exterior". O levantamento inclui o trabalho forçado relacionado ao tráfico de mulheres feito por organizações criminosas de Goiás de onde partem meninas e mulheres para países como Espanha, Itália, Reino Unido, Portugal, Suíça, França, Estados Unidos e Japão. Também há indícios de formação de redes de prostituição forçada em países vizinhos como Suriname, Guiana Francesa, Venezuela e Paraguai. [7]
Na Espanha e Rússia organizações criminosas estão montadas para o tráfico sexual forçado de brasileiras.[7]
A Organização Mundial do Turismo (OMT) (1995) define o turismo sexual como “viagens organizadas dentro do seio do sector turístico ou fora dele, utilizando no entanto as suas estruturas e redes, com a intenção primária de estabelecer contactos sexuais com os residentes do destino”. Ryan (2001) por sua vez, entende que se trata de um tipo de turismo onde “o motivo principal de pelo menos uma parte da viagem é o de se envolver em relações sexuais. Este envolvimento sexual é normalmente de natureza comercial“.
Historicamente, as viagens e a prostituição têm sido muitas vezes associadas. De fato, quando olhamos para a história do turismo, podemos verificar através das ruínas de antigas grandes cidades, que era frequente receber "viajantes" por motivos essencialmente religiosos ou comerciais, e já há cerca de dois milênios, existiam bairros de prostitutas. Exemplos deste fato são as ruínas das cidades de Éfeso (Turquia), Babilônia (Iraque) e Pompeia (Itália) (Staebler, 1996).
O turismo sexual no geral tem sido reconhecido como uma das atrações turísticas de vários países do sudeste asiático (Ryan e Hall, 2001: 136) e da América Latina, inclusive no Brasil.[1][2]
Geralmente, a prostituição doméstica antecede o turismo sexual, ou seja, há primeiro uma procura interna à prostituição e só depois se verifica a chegada de turistas sexuais (Ryan & Hall, 2001: 139).
Segundo Ryan e Hall (2001: 136), a institucionalização do turismo sexual no sudeste asiático ocorreu nos anos 1960, quando a prostituição associada à existência de bases militares norte-americanas e japonesas, à época da Segunda Guerra Mundial. Ainda segundo Ryan e Hall (2001: 141), os militares foram posteriormente substituídos pelos turistas estrangeiros, e o turismo sexual transformou-se em fonte de recursos em moeda estrangeira, para a população local.
Embora a prostituição seja proibida na maior parte dos países onde o turismo sexual acontece, a legislação existente a este respeito normalmente não é cumprida ou se revela insuficiente. Assim, o turismo sexual “democratizou-se“ ao longo das últimas décadas do século XX, constituindo atualmente um fenômeno de massa em alguns países, notadamente na Europa Ocidental, e a exploração sexual utiliza-se da infraestrutura turística convencional. O mesmo também ocorre em algumas regiões do Brasil, notadamente aquelas menos financeiramente desenvolvidas.
É muito comum ouvirmos as pessoas dizerem que a prostituição é a profissão mais antiga da humanidade, mas a prostituição, como vemos hoje, é um “fenômeno essencialmente urbano”, surgido há menos de 2 séculos com o nascimento das grandes cidades, da classe dominante burguesa, do modelo de família monogâmica, e da noção de fidelidade que normatizou a sexualidade das pessoas.
Luiz Henrique Passador, Antropólogo social, nos lembra que essa família burguesa, que passou a ser o modelo para uma nova ordem sexual, onde o prazer permitido tornou-se o privado, o lar, e que nessa nova privacidade, a mulher foi confinada e “dessexualizada”, surgindo então, a figura mítica da “rainha do lar” cujo prazer passa a ser direcionado para o cuidado e a reprodução da família, que passou a ter a sua sexualidade controlada por questões morais de poder. Nesse momento a virgindade ganhou o significado de pureza moral, ou seja, aquela que se guardou para um só homem, que controlou seus “instintos” e não se entregou à busca da satisfação de prazeres carnais e mundanos.
Assim, a prostituição e a prostituta passam a ser vistos como os opostos ao lar e à “rainha do lar” . É na prostituição onde a sexualidade insubmissa podia acontecer, associada às representações do impuro, da sujeira sexual - a “Boca do Lixo”! É nesse contexto que os homens podiam viver as fantasias irrealizáveis, os desejos proibidos no território do lar, locais com caráter lúdico e público – boates, bordéis, “zonas” e ruas. A prostituição se apresenta ainda hoje, como uma alternativa momentânea à quebra da disciplina, principalmente em relacionamentos que preservam esse caráter machista do poder e do sexo. É o território do prazer ilegítimo na vida cotidiana, onde muitos podem revelar suas fantasias e suas identidades sexuais mesmo que temporariamente desestruturadas sem que corram o risco de terem suas identidades sociais comprometidas retornando íntegros ao lar, a família, e ao trabalho, tal como romanceava Jorge Amado, no campo da literatura de ficção, um dos autores que privilegiam o estereótipo romanceado e humanizante da prostituta sábia, tolerante e acolhedora, e do bordel enquanto espaço de convívio social masculino.
Apesar de uma maior liberação sexual entre os jovens que buscam iniciar sua vida sexual com colegas ou namoradinhas, ainda hoje as profissionais do sexo fazem a iniciação sexual de muitos jovens. Muitos homens procuram nessas profissionais a oportunidade de extravasar o desejo, de viver fantasias ou fetiches sexuais de uma forma imediata, principalmente, quando não se tem alguém para fazer sexo, ou também quando por uma educação repressora referente à sexualidade, esse homem e sua parceira tem um modelo de relacionamento onde não cabe o compartilhar de fantasias sexuais, a possibilidade de ousar.
Quando ouvimos falar de homens profissionais do sexo, conhecidos como garotos de programa ou michês, podemos levantar a hipótese de que as mulheres estão ousando ou reproduzindo um modelo masculino de vivenciar a erotização da sua sexualidade fora do contexto doméstico, mas essa idéia não confere com a realidade. É sabido que a clientela desses garotos de programa é composta na sua quase total maioria de homens, homo ou bissexuais, que buscam prazer e diversão com o sexo, nesse caso, pago.
Certo? Errado? Não cabe a nós julgarmos.
Alguns buscam no sexo pago a realização de seu poder, a realização de seus desejos e até de uma transa sem envolvimento afetivo, sabemos que muitos homens, após inúmeras frustrações afetivo-sexuais se tornam avessos a compromissos, por outro lado, apesar das grandes mudanças comportamentais que as mulheres conquistaram nesses últimos 40 anos, inclusive sexualmente, é sabido que muitas mulheres ainda carregam em si os pudores de uma educação repressora da sexualidade, o que faz com que o relacionamento seja repleto de uma moralidade que retira a possibilidade de viver o erotismo na relação. Sabemos também que a sociedade tem um comportamento muitas vezes cruel, repleto de preconceito e discriminação com relação às pessoas com orientação homossexual ou com pessoas que manifestam sua bissexualidade, muitas vezes esses homens homo ou bissexuais buscam ter com homens profissionais do sexo alguém para fazer sexo, e a oportunidade de extravasar desejos e fantasias.
Qual o cuidado?
Em qualquer relacionamento as pessoas deveriam ter em mente o cuidado consigo próprias, com seus afetos, saúde e com seu projeto de vida.
Por isso não podemos esquecer de tomar os cuidados básicos que devem existir em qualquer relacionamento íntimo, seja homo ou heterossexual, com um(a) namorado(a), com seu parceiro(a) ou com um(a) profissional do sexo, e esse cuidado preventivo básico é o de não deixar de usar o preservativo, em nenhuma situação!
Mas é preciso saber que o correto é usar o preservativo desde o inicio da relação, e não só no momento de penetração, seja ela vaginal ou anal; é necessário também usar o preservativo para o sexo oral . Nunca use dois preservativos, é errado pensar que isso aumenta sua proteção, isso só aumenta a chance dele estourar!
Isso vale para todas as pessoas, jovens, adultos, idosos, clientes e profissionais do sexo, homem ou mulher, somos todos passíveis de adoecer, de se apaixonar e também de se contaminar e de morrer. Muitas são as DST – doenças sexualmente transmissíveis, as mais comuns são: sífilis, gonorréia, “crista de galo” ou HPV, e a contaminação por HIV – Aids; fora essas, outras doenças como a hepatite, que não é sexual mas pode ser passada via contato sexual. Se você não colocar sua vida em 1ºlugar e se proteger, você fica muito mais vulnerável , por isso proteja-se! Sempre!
Arlete Mª Girello Tavares Gavranic
Psicóloga, Mestre em Educação; Educadora e Terapeuta sexual pela Sbrash,
Coordenadora e docente dos cursos de Pós-graduação lato sensu em Educação
sexual e em Terapia sexual do ISEXP / Sbrash e FMABC.
Coordenadora e docente do curso de Capacitação em Sexualidade Humana ministrado no ISEXP.
Consultora de sexo da uol / vyaestelar
Prostituição infantil
Criança, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é a pessoa com até doze anos de idade e adolescente é a pessoa entre doze e dezoito anos de idade (art. 1¼, do ECA).
Alessandra Mendonça
6 período de jornalismo
Um fato que é incontestável é que a rede de prostituição infantil no Brasil continua sem solução, talvez isso ocorra porque este tipo de negócio transformou-se no terceiro mais rentável comércio mundial, atrás apenas da indústria de armas e do narcotráfico. Este é um daqueles temas que houve-se muito mas sabe-se pouco. Não é por menos que é problema que vem preocupando, não só o governo brasileiro, mas também do mundo inteiro.
Como toda atividade clandestina, a prostituição infantil sempre foi abafada. Na visão da grande maioria das pessoas, não só dos leigos como também dos instruídos, acreditam que os principais clientes que procuram pelos serviços das menores eram os turistas estrangeiros, que vem para o país e se encantam com as mulheres seminuas que encontram nas praias e, por quê não, nas ruas. No entanto, o trabalho da polícia mostra que a maioria dos clientes são brasileiros de classe média alta e rica, empresários bem sucedidos, aparentemente bem casados e, algumas vezes, com filhos adultos ou crianças. Além dos empresários estão, também, na lista, os motoristas de caminhão e de táxis, gerentes de hotéis e até mesmo os policiais.
Já do outro lado, prova-se que as meninas são pobres e que moram em uma total miséria na periferia. A primeira relação sexual pode ter ocorrido com o próprio pai, padrasto ou até mesmo seu responsável aos 10, 12 ou 17 anos. Por este motivo as pesquisas demonstram que a garota até poderia tolerar por mais tempo a pobreza e a miséria, mas o que ela encontra em casa é a violência, o abandono e a degradação familiar. Para elas, talvez, seja mais fácil encontrar as dificuldades da prostituição nas ruas do que enfrentar os distúrbios de homens, que ao invés de dar-lhes proteção, abusam delas sexualmente.
Algumas vezes a mãe não sabe o que acontece ao seu redor, acredita que sua filha possa estar trabalhando em algum lugar "decente" e não tem a mínima idéia de que ela possa estar fazendo programas. Já em outros casos, os próprios pais as levam para se prostituirem. É um trabalho rentável e que gera lucro à toda família, sendo a garota a única prejudicada. Assim, as meninas prostituídas passam a apresentar numerosos transtornos orgânicos e psíquicos, como por exemplo baixa auto-estima, fadiga, confusão de identidade, ansiedade generalizada, medo de morrer, furtos, uso de drogas, doenças venéreas, irritação na garganta e atraso no desenvolvimento.
Além da degradação moral de toda espécie humana, a onda de pedofilia está contribuindo para criar uma geração precoce de portadores do vírus da AIDS, já que as crianças, mais frágeis fisicamente, estão propensas a sofrer ferimentos durante o ato, o que facilita a infecção. Adicionando à posição de inferioridade, que não os dá direito de exigir do parceiro o uso de preservativos.
Existem leis que obrigam os motéis e estabelecimentos similares a entrada de menores de 18 anos. No entanto, como todas as leis, esta também não é cumprida. Os casais entram nestes lugares sem o mínimo de intervenção, por esse motivo os homens podem entrar não só com uma menor mas duas ou três, depende de seu gosto e sua disposição.
A prostituição infantil no Brasil é um dos problemas sociais mais vergonhosos pois como já diz o nome afeta a classe mais "ingênua" da sociedade. Atualmente no município de Patos de Minas o tema não é muito discutido pelas pessoas, pois muitos acreditam que não há prostituição infantil em nossa cidade. Por incrível que pareça, a prostituição infantil existe e não é pouca coisa. Isso acontece mais "isoladamente", é algo mais fechado. Segundo dados do Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente há denuncias de aproximadamente 10 casos por mês. A prostituição infantil está em todas as classes sociais, mas há uma incidência maior na classe menos favorecida, devido ao fato de os pais não terem uma boa base para educar seus filhos e também por não conseguirem dar uma boa assistência financeira para a família.
Traçar o perfil da prostituição feminina no Brasil constitui tarefa diretamente associada a uma vasta gama de fatores que se interpõem como desafios a serem superados. As dificuldades da tarefa têm a dimensão do País e são permeadas pela pluralidade da riqueza humana que define sua população. Qualquer tentativa de se traçar o perfil brasileiro da prostituição feminina, terá que observar atentamente alguns fatores de interferência, caso contrário corre-se o risco de fornecer uma visão deformada da multiplicidade disponível. Neste contexto alguns elementos são determinantes, como as modalidades variadas no exercício da profissão, a dimensão continental do País, a diversidade das condições sócio-econômicas e culturais, a inexistência de dados específicos sobre profissionais do sexo nos serviços de saúde e, a insuficiência de dados nos levantamentos realizados sobre esse segmento em particular.
Respeitando essas dificuldades, a sistematização da proposta incidiu, inicialmente, sobre três tópicos que longe de se esgotarem, pretendem modestamente, rascunhar uma possibilidade de entendimento sobre a dinâmica vinculada às profissionais do sexo no País. O primeiro fornece informações gerais sobre as leis que vigoram no País quanto ao exercício da profissão e de que maneira interferem no cotidiano das profissionais do sexo, incluindo algumas perspectivas relacionadas às possibilidades de desdobramento. O tópico seguinte traça um resumo histórico do movimento de classe no País e no mundo, objetivando não só definir o perfil da organização e como se deu a criação das associações de profissionais do sexo, mas também abordando a contribuição dessas associações no âmbito das ações específicas de prevenção às DST/HIV/Aids. O último tópico, descreve as principais modalidades vinculadas ao exercício da profissão, levantando informações sobre as práticas sexuais, os valores atribuídos pelo mercado e as interferências sócioeconômicas sujeitas à profissão.
O quarto tópico deste capítulo relaciona as iniciativas implantadas no âmbito da assistência e prevenção às DST/HIV/AIDS junto às profissionais do sexo. Como objeto da análise processada, tomou-se como base tanto as ações governamentais como aquelas das associações de classe e de outras organizações não governamentais. A expectativa é não só retratar este cenário em nível nacional, considerando determinado período, mas também incentivar a formulação de novas propostas que possam efetivamente ampliar a abrangência da cobertura até hoje efetivada.
A partir dessas prioridades, a prostituição feminina foi contextualizada no cenário nacional, observando tanto fatores de ordem socioculturais quanto as características relacionadas à epidemia pelo HIV. Certamente, é necessário considerar nesse quadro, o histórico dos temas referendados para um maior entendimento sobre a inserção desse segmento específico da população no País. Neste sentido, ressalta-se a estigmatização e a discriminação sofridas, ao longo da história, pelas profissionais do sexo. O papel de "transmissoras naturais das DST" imposto por uma sociedade dirigida por padrões masculinos e opressores, associado aos primeiros conceitos aplicados quando do surgimento da epidemia pelo HIV, não podem deixar de ser considerados na análise dos temas aqui propostos. Por um lado, o incremento das discussões sobre gênero e sexualidade, a maior vulnerabilidade da mulher em relação à infecção e as atuais tendências epidemiológicas do HIV/Aids, se inscrevem como fatores que contribuíram para a alteração de comportamentos e/ou diminuição de atitudes discriminatórias. Por outro, esses mesmos elementos foram fundamentais no processo de promoção de maior cidadania e garantia dos direitos humanos às mulheres profissionais do sexo.
Cabe ressaltar, no entanto, que independentemente dos avanços no campo da discussão sobre a legalização da profissão, da prevenção às DST/HIV/Aids e, da conscientização e mobilização da classe, dois fatores ainda sobressaem. O primeiro está vinculado às características socioeconômicas das diferentes regiões brasileiras, que determinam para algumas áreas poucas diferenças contrapondo o avanço obtido em outras, restringido desta forma a possibilidade de crescimento. O segundo, diz respeito ao muito ainda a ser feito para garantir o direito à saúde, ao trabalho, à informação e à educação das profissionais do sexo, promovendo não só uma sociedade mais justa e igualitária, mas também ações eficazes e eficientes de combate à epidemia.
Tipos de Prostituição
O fator econômico é o determinante mais comum de ingresso na prostituição, sendo seguido pelo fim do casamento e pelo abandono da família, associados à dificuldade de integração no mercado de trabalho. Geralmente existe a expectativa por parte das mulheres, de que a permanência na prostituição seja transitória, alimentada pela esperança de conseguir outro tipo de trabalho, voltar a estudar, encontrar um companheiro e casar. Assim, para grande parte das profissionais do sexo a prostituição é ainda considerada como uma estratégia de curta duração, coincidindo com a transitoriedade das dificuldades enfrentadas na manutenção pessoal e de seus filhos.
A baixa escolaridade somada às dificuldades financeiras ou à pobreza absoluta, integram os obstáculos, quase intransponíveis, para a integração das profissionais do sexo no mercado oficial de trabalho. Para aquelas que pertencem às camadas sociais mais baixas, as perspectivas de mudança de atividade ainda são menos viáveis em virtude da baixa (ou nenhuma) escolaridade e a falta de qualquer qualificação profissional.
A invisibilidade das profissionais do sexo no sistema oficial de saúde, em relação às DST/HIV/Aids, se estabelece a partir da ausência de variável específica no instrumento de coleta de dados de notificação. Acrescenta-se a este fato o constrangimento dessas mulheres em se identificarem enquanto profissionais do sexo quando atendidas nos serviços de saúde. Essa prática muito utilizada, evita a exposição pessoal ao possível preconceito dos profissionais de saúde. Na maioria das vezes, as profissionais do sexo se auto-identificam como donas-de-casa, empregadas domésticas ou comerciárias, na tentativa de garantir um atendimento mais digno.
A violência física é presença constante na vida das profissionais do sexo e se expressa nas relações com clientes, cafetinas, taxistas e policiais. Apesar de existirem indicadores de ausência ou diminuição da violência física nas áreas de prostituição abrangidas pela ação das associações de classe e/ou ONG, este ainda é um elemento fortemente associado à profissão. A intensidade e a freqüência de práticas agressivas que permanecem impunes, contribuem para que a violência seja considerada pelas próprias profissionais do sexo, como o maior perigo enfrentado no cotidiano. Além dessa violência característica do trabalho, a presença de um estupro inicial é também um fato recorrente nas histórias pessoais, sendo muitas vezes responsável pelo ingresso na prostituição. Frente a esses fatores de vulnerabilidade imediatos e cotidianos, as DST e a Aids passam a ser secundárias na percepção dos riscos vinculados à profissão.
Mesmo considerando essa realidade, e embora não tenham muitas vezes um conhecimento claro sobre todas as formas de transmissão das DST/HIV/Aids, as profissionais do sexo estão bem informadas sobre a importância do preservativo no exercício da atividade profissional. Por outro lado, de forma a preservar a clientela e a própria sobrevivência, tanto a aids quanto as outras DST se apresentam como doenças do "outro", distanciando sempre a possibilidade de infecção na prática pessoal ou profissional.
Assim sendo, pode-se identificar como satisfatório o conhecimento das profissionais do sexo quanto à necessidade de uso do preservativo com seus clientes, apesar da baixa assimilação de informações mais amplas sobre a transmissão e a prevenção das DST/HIV/Aids.
Outro fator que amplia a vulnerabilidade das profissionais do sexo para as DST/HIV/Aids é a presença marcante do uso de drogas, que são consumidas por um contigente significativo de mulheres. Há registros constatando que a grande demanda de drogas está associada ao efeito deturpante da consciência promovido pelo álcool, anfetaminas, cocaína e crack no desempenho diário da profissão. As drogas são, geralmente, consideradas substâncias aliadas capazes de abrandar as dificuldades cotidianas, principalmente no que tange ao cumprimento da longa duração da jornada de trabalho. Complementando esse quadro, existem ainda as profissionais do sexo que definem a prostituição como a sua principal fonte de sustento para o consumo de drogas, injetáveis ou não.
A principal variável que permite traçar o perfil socioeconômico das mulheres que exercem a prostituição é o valor cobrado pelos programas. Esse "valor" será determinante na classificação da profissional do sexo, uma vez que oscila de acordo com a região geográfica, o tipo de profissional e as diferentes modalidades dos programas sexuais comprados. Considerando como parâmetro a prostituição tradicional exercida em ruas ou casas fechadas em áreas metropolitanas das Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste o valor do programa pode ficar entre R$ 5,00 e R$ 20,00. Por outro lado, nas Regiões Sul e Sudeste, nessa mesma modalidade, o programa fica em torno de 10,00 a 30,00 reais.
Se focarmos as áreas de prostituição que possuem características específicas – como nos garimpos – não há, nem mesmo, uma remuneração concreta: as profissionais do sexo são atraídas por promessas de elevados lucros, ficando no entanto condicionadas ao pagamento de intermináveis dívidas referentes às despesas de alojamento, medicação, consumo de bebidas alcóolicas, alimentação e vestuário. Em contrapartida, se dirigirmos nossa atenção às casas de massagem do Sul e do Sudeste, podemos identificar profissionais do sexo com renda semanal mínima em torno de R$ 300,00. Para fins de comparação e estudo, se realizarmos uma média dos diferentes valores dos programas cobrados no País, o preço da prática sexual tradicional (coito) varia de R$20,00 a R$ 30,00. A inclusão de práticas diferenciadas da tradicional, ocasiona um acréscimo no valor a ser cobrado: o serviço completo convencional (incluindo felação), por exemplo, pode variar de R$40,00 a R$80,00.
É importante considerar como elemento diferencial no estabelecimento do preço do programa e na adoção de comportamentos mais seguros em relação às DST/Aids, a multiplicidade das categorias e/ou modalidades para o exercício da prostituição no País. Essas categorias são determinadas tanto pelas características pessoais da profissional do sexo, quanto pelo local onde atua. Conjugando esses dois fatores, podemos observar que as profissionais que trabalham nas ruas, assim como aquelas "mais velhas" (acima de 25 anos) são menos procuradas e, por conseqüência, estabelecem preços menores em comparação com aquelas mais jovens, que atuam em boates ou casas fechadas. Esta situação além de refletir o ciclo de prostituição da mulher (quanto menor o tempo na prostituição mais valorizado o preço do programa) revela a flexibilidade de comportamentos a que estão sujeitas em função da manutenção da sobrevivência.
As profissionais do sexo que trabalham em boates ou casas fechadas têm um discurso onde a auto-representação e a auto-estima são bastante positivas. As informações sobre a prostituição de alta renda são muito difíceis de se obter devido, principalmente, ao sigilo mantido em relação aos clientes atendidos. Essa modalidade da profissão é freqüentemente encontrada em fechadas "casas de massagens" ou em "agências" especializadas. Um dos desdobramentos dessa categoria são as profissionais do sexo denominadas "garotas de programa" ou "scort girls", que também constituem um segmento à parte, com características bem peculiares.
Devido às características geográficas e culturais do País, o sexo-turismo é uma das modalidades que vem se consolidando na rotina da profissional do sexo, sobretudo naquelas das regiões balneárias (como Recife, Belém, Rio de Janeiro, Santos, Fortaleza, Salvador e, Aracaju). Aliado a este fato, o empobrecimento crescente da população feminina, tem incrementado a prostituição infantil atrelada ao sexo-turismo. Os clientes-estrangeiros, que também sustentam essa prática ilegal da prostituição, não compõem um grupo homogêneo. Em algumas cidades portuárias como Belém e Santos, há a predominância de trabalhadores (marinheiros que circulam nos pontos de prostituição de baixa renda próximos aos portos). Em cidades cuja economia está fortemente baseada no turismo como Fortaleza, Salvador e Recife, os clientes consumidores do sexo-turismo são homens de meia idade de países europeus, como Alemanha e Itália, que agenciam suas viagens a partir da negociação de pacotes "turísticos" com forte apelo sexual.
A definição de um perfil da profissional do sexo no Brasil é extremamente difícil, uma vez que existem vários tipos e categorias da profissão, estabelecidas a partir de variáveis pouco definidas. A precariedade econômica e o difícil acesso aos serviços de saúde e educação, vêm contribuindo para diminuir ou anular a estrutura familiar das classes menos favorecidas ao longo das últimas décadas. Uma das conseqüências dessa realidade, é a presença de um "incentivo" suplementar ao ingresso na prostituição para as mulheres da faixa etária de 15 a 26 anos. Assim, a profissão deixa de ser uma opção individual, para se impor enquanto única alternativa na busca da sobrevivência. A exemplo do que acontece com a população brasileira de uma forma geral, a preocupação diária com a subsistência (fundamentalmente alimentação e moradia), não permite que a saúde seja inscrita como uma prioridade no cotidiano da profissional do sexo. Desta forma, a efetiva alteração em qualquer padrão de comportamento - seja na adoção de práticas sexuais mais seguras, seja na promoção de cuidados com a saúde sexual e reprodutiva - tende a se distanciar cada vez mais do cotidiano dessas mulheres. No entanto, frente ao muito que já se avançou nessa área, e considerando a situação sócioeconômica a que estão sujeitas as profissionais do sexo, é possível definir a presença de uma efetiva assimilação de conhecimento e/ou comportamentos preventivos relacionados às DST/Aids, quando - e se - minimizadas as dificuldades de sobrevivência.
Na troca de favores sexuais, que caracteriza a prostituição, elementos sentimentais,
como o afeto, devem estar ausentes em pelo menos um dos protagonistas. Nesta
profissão, tida como “a mais antiga do mundo”, na grande maioria das vezes troca-
se sexo por dinheiro. Mas, pode-se cambiar relações sexuais por favores
profissionais, informações, bens materiais e muitas outras coisas. Ainda que muitos
homens se prostituam, historicamente a prostituição feminina é mais freqüente que a
masculina.
A representação social da prostituta varia segundo época e cultura; nem sempre foi
acompanhada do estigma que o Ocidente lhe atribui. Nas sociedades em que a
propriedade privada inexistia e a família não era monogâmica, por exemplo, o sexo
era encarado de forma bem diferente que a nossa, e ao que tudo indica, não havia
prostituição. Já em algumas civilizações tratava-se de um ritual de passagem
praticado pelas meninas ao atingirem a puberdade; em outras, os homens iniciavam
sexualmente as jovens em troca de presentes.
Além disso, a percepção dessa prática muda enormemente segundo a moral vigente.
A posição social que a prostituta ocupa hoje na sociedade ocidental é tributária da
visão que temos da sexualidade, algo bem diverso da Antiguidade, em que não havia
a noção de pecado ligado ao sexo.
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De sacerdotisas a hereges
Algumas formas de prostituição (do latim “prostituere”: “colocar diante”, “à
frente”, “expor aos olhos”) já foram vinculadas a divindades, como nas primeiras
civilizações da Mesopotâmia e do Egito, onde sacerdotisas prostitutas, consideradas
sagradas, recebiam presentes em troca de favores sexuais. Na Grécia antiga, havia as
hierodule, mulheres sagradas que ofereciam serviços sexuais em ocasiões especiais,
mas não correspondiam exatamente ao que entendemos por prostitutas. Eram vistas
como a encarnação de Afrodite e respeitadas pela população e pelos governantes por
evocarem o amor, o êxtase e a fertilidade. Embora fossem escravas como as
deikteriades (prostitutas cujos donos eram cidadãos comuns) tinham mais regalias
que elas.
Na antiga civilização grega, a prostituição fazia parte da paisagem cotidiana, era um
meio de obtenção de rendimento igual a qualquer outro e uma prática controlada
pelo estado. As prostitutas deviam pagar altos impostos e vestir-se de forma a serem
identificadas como tal. Entre as várias categorias, havia as hetairas, de grande
relevância social, conhecidas pela inteligência, esperteza na administração dos bens
e competência nas articulações políticas. Freqüentavam livremente o universo
masculino e participavam das atividades reservadas aos homens. Trabalhavam nos
bordéis do Estado, sem sofrerem qualquer represália. As hetairae eram formadas em
escolas nas quais as aspirantes aprendiam a arte do amor, a literatura, a filosofia e a
retórica, vindo a ser as mulheres mais instruídas da Grécia.
A prostituição era uma profissão tão rentável que algumas mães incentivavam as
filhas a fazer carreira. Aspásia, por exemplo, tornou-se uma prostituta famosa e
admirada pelas qualidades intelectuais a ponto de o grande Sócrates levar seus
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discípulos para ouvi-la – o contrário do que ocorria com as jovens destinadas ao
casamento, que se dedicavam exclusivamente ao trabalho doméstico. Curiosa
expressão da legendária democracia grega: só as prostitutas tinham acesso ao
conhecimento.
Na cultura judaica, por sua vez, a prostituição era severamente punida; a lei mosaica
previa sanções severas aos praticantes, inclusive com pena de morte. Na prática,
entretanto, havia certa tolerância como o mostra a história de Raabe – prostituta
salva pela graça de Deus – relatada no livro de Josué. A moral cristã sempre
condenou tal prática, que também era tida como a responsável pela disseminação de
doenças sexualmente transmissíveis – sífilis, por exemplo.
A partir do século XII o amor cortês passou a regular a sociedade européia. Em
nome de interesses político-econômicos, as uniões passaram a ser arranjadas, não se
levando em conta os sentimentos mútuos entre os parceiros, o que contribuiu para
ampliar a prática da prostituição, que passou a ser regulamentada e protegida pela
lei. Em muitas cortes, as prostitutas alcançaram grande poder, tendo conhecimento
de questões estratégicas.
Com a Reforma religiosa no século XVI, o puritanismo passou a controlar os
costumes e ditar a moral. A Igreja Católica lançou mão, então, de seu arsenal
teológico para lidar com o problema de prostituição. Em conseqüência da ação
conjunta das igrejas católica e protestantes, a prostituição caiu na clandestinidade
sem, contudo, ser eliminada: cortesãs continuariam a existir nas cortes européias e
colônias.
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A Revolução Industrial trouxe um elemento significativo à prostituição, pois as
mulheres tiveram de enfrentar condições desiguais no trabalho em relações aos
homens. Prostituir-se em troca de favores, de melhores condições de vida, revelou-
se uma opção.
Valores revistos
Os primeiros movimentos internacionais contra a exploração sexual de mulheres e
adolescentes começaram no final do século XIX. Em 1921, a Liga das Nações
designou um comitê para tratar o problema do tráfico de mulheres e crianças; em
1946, a ONU adotou uma convenção a fim de erradicar a prostituição. As questões
tornaram-se mais agudas com a epidemia da aids na década de 80, exigindo
providências urgentes e eficazes. Se as medidas profiláticas de higiene e o advento
dos antibióticos contribuíram para diminuir a incidência de doenças sexualmente
transmissíveis, a aids representava uma ameaça fatal tanto para as prostitutas quanto
para os clientes, obrigando o poder público a intervir. Não se podia mais, sobre um
pretexto moral, negar a existência de certas camadas do tecido social, ignorar o
comércio marginal do sexo. Como conseqüência, ocorreu uma reorganização dos
costumes e valores.
Nos últimos anos, a grande maioria dos países ocidentais adotou medidas destinadas
a descriminalizar a prostituição. Alguns países europeus, como Alemanha, Países
Baixos, Dinamarca e Noruega legalizaram a prostituição; em outros, como no Reino
Unido, é tolerada. Em Portugal, a prostituição não é ilegal, desde que não haja
incentivo para essa atividade. Na França, não é legal nem proibida, embora o
proxenetismo seja uma infração.
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Outros países ainda a penalizam, como a Suécia, onde vender sexo é tão ilegal
quanto comprá-lo. Resultado: prostituta e clientes são punidos com até seis meses de
prisão. Nos Estados Unidos a prostituição é ilegal em praticamente todo o território.
Nos países mais pobres, assolados pela miséria, a prostituição continua presente e as
tentativas de melhorar as condições de vidas das prostitutas têm sido ineficazes. No
Brasil a prostituição adulta é legal na medida em que não existe lei que a proíba,
mas é incriminada quando existir incitação pública ao ato sexual. Igualmente, o
incentivo à prostituição e o comércio do sexo são atividades delituosas.
Números alarmantes
Segundo pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde do Brasil, 40% das prostitutas
está na profissão há mais ou menos quatro anos, sugerindo uma ligação entre
prostituição e juventude. O Centro de Educação Sexual, ONG que trabalha com
garotas e garotos de programa do Rio de Janeiro e Niterói, estima que a maioria
dessas pessoas se prostitui para sobreviver e guarda a esperança de encontrar um
grande amor e mudar de vida.
Realidade ainda mais triste é a prostituição infantil que assola a sociedade brasileira.
Presente nas camadas sociais mais pobres dos grandes centros urbanos, sobretudo
nas capitais do norte e nordeste do Brasil, assim como em regiões isoladas do país
marcadas por atividades extrativas, supõe-se que o número de meninas envolvidas
nessa atividade chegue aos 500 mil. Entre os motivos que as levam a se prostituir
destacam-se fatores econômicos e a baixa escolaridade. Em um primeiro momento,
a prostituição é uma solução temporária à espera de um trabalho regular. Entretanto,
devido à falta de qualificação profissional para a entrada no mercado, a prostituição
permanece como a única possibilidade de sobrevivência.
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A prostituição infantil ocorre em ruas, praças públicas, boates, pátios de postos de
gasolina, estacionamentos, bares e restaurantes, ou até mesmo em casas
especializadas, às margens dos grandes eixos rodoviários do país. Em 2006 a Polícia
Rodoviária Federal recenseou mais de 1.200 locais de prostituição infantil. Junte-se
a isto o turismo sexual que explora adultos, crianças e adolescentes, meninas e
meninos. Segundo relatório da ONU, no período do Carnaval o sexo-turismo atrai
ao país, milhares de pessoas provenientes de várias partes do mundo, sobretudo da
Europa e da América do Norte. Esse “turismo” ocorre sobretudo nas áreas litorâneas
de grande movimento, como em Santos e no Rio de Janeiro e no eixo norte-nordeste
(Recife, Natal, Fortaleza e Belém).
O tráfico de mulheres para comércio sexual é outro grande problema a ser
enfrentado. O “Relatório sobre Tráfico de Pessoas”, de 2008, elaborado pelo
Departamento de Estado norte-americano, reconhece os avanços consideráveis do
governo brasileiro na aplicação das leis contra o tráfico sexual interno e
internacional, mas conclui que o problema ainda está longe de ser erradicado. A
maioria das mulheres recrutadas sai das cidades litorâneas rumo a países europeus,
em particular a Itália, Espanha e Portugal. Existem aproximadamente 70 mil
brasileiras envolvidas na prostituição no exterior, a maioria entre 18 e 21 anos.
Novos mercados
O campo de atuação não cessa de expandir: nos meios de comunicação é cada maior
o número de propostas de “serviços personalizados”, seja por meio de anúncios em
jornais e/ou revistas (de forma explícita ou velada), na televisão, via telefone ou
MSN. Nos sites da Internet, onde (quase) todas as fantasias sexuais podem ser
realizadas mediante pagamento que varia segundo a extravagância da demanda,
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surgiu a prostituição virtual: sexo vendido por meio de imagens fotográficas, filmes,
e mesmo “ao vivo”, via webcam.
Em paralelo, cresce o número de agências de encontros e de garotas de programa
que adotam nomes politicamente corretos como call ou scort girls. Nesse mercado
em franco desenvolvimento, circulam garotas de todas as classes sociais, algumas
com formação universitária, e falando mais de um idioma. Para uma boa
profissional, convidada a acompanhar executivos e empresários em festas e
recepções, é fundamental que nada as identifique como prostitutas. Já para a que se
prostitui na rua, a “mulher de vida fácil”, os critérios são completamente diferentes.
Em vez de manter sua atividade em segredo, ela deve deixar claro quem é e o que
faz para ser identificada.
A grande diferença entre as prostitutas de luxo e as do baixo meretrício, porém, não
se localiza nos elementos externos (formação intelectual, beleza, etc.), e sim nas
suas posições subjetivas, nas relações que cada uma estabelece com o que faz e
como percebe a si mesma. As scort girls, por pertencem, na grande maioria das
vezes, ao mesmo universo social que seus clientes, estabelecem com a prostituição
uma relação bem diferente da prostituta do baixo meretrício, muitas vezes nem
cumprimentada na rua.
Fato curioso: a prostituição se adapta às novas demandas do mercado, a despeito das
mudanças de costumes e mesmo da chamada revolução sexual que, argumenta-se,
teria reduzido os tabus sexuais. Então, por que os homens de hoje, mesmo vivendo
uma situação afetivo-sexual satisfatória com uma parceira fixa, ainda procuram
prostitutas? Que tipo de fantasia buscam viver com elas? A mesma coisa com os
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jovens que, graças à liberação sexual, podem iniciar a vida sexual com colegas ou
namoradas, e apesar disso, continuam a buscar “profissionais do sexo” para a
iniciação sexual.
É claro que não se pode dar uma resposta única e definitiva sobre o lugar que a
prostituta ocupa na economia psíquica dos prazeres da cultura ocidental. Porém,
justamente por ela estar à margem da sociedade encarna a possibilidade de uma
sexualidade sem entraves, uma liberação sexual.
O sistema de valores que sustenta a família burguesa determina a moral sexual
vigente. Historicamente, na construção dessa moral, a mulher foi “dessexualizada”,
fazendo emergir a figura da “rainha do lar”. Para que a “moça de bem” se
mantivesse virgem até o momento de entregar-se a um só homem, ela deveria
aprender a conter seus desejos e a evitar os prazeres carnais e mundanos. Ora, os
espaços da prostituição, locais dos prazeres sem limites, foram opostos ao lar, lugar
de procriação. Os dois espaços são inconciliáveis; quem freqüenta um, não pode ser
visto no outro. Ao mesmo tempo, ambos se atraem, pois enquanto a prostituta
muitas vezes sonha em mudar de vida, casar-se e tornar-se respeitada dona de casa,
sua liberdade sexual não deixa indiferente a esposa que, não raro, imagina a
sexualidade da prostituta a partir das fantasias sexuais em geral a ela interditadas.
Um negócio de homens
Eis as dificuldades subjetivas para erradicar ou legalizar a prostituição: erradicá-la
traria problemas, pois tal prática funciona como uma válvula de escape aos limites
impostos pela moral sexual ocidental; oficializá-la seria igualmente complicado,
pois corresponderia a reconhecer a falência e a hipocrisia da moral vigente.
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Se, por um lado, a prostituição traz a marca de um estigma relacionado a
comportamentos e práticas sexuais marginais, por outro lado, é justamente dessa
marginalidade que ela tira sua força. O território de prazeres ilegítimos, que conta
com a cumplicidade entre aqueles que o freqüentam, permite ao homem viver
fantasias sexuais inconfessáveis, sem se sentir ameaçado em sua identidade social.
Além disso, os eventuais e inevitáveis fracassos sexuais são igualmente preservados
neste espaço. Existem também aqueles para quem o pagar representa uma forma de
afirmação de poder, virilidade (em particular quando a performance sexual deixa a
desejar), uma maneira de compensar uma insegurança ou frustrações afetivo-
sexuais, etc. Mas, por certo, existem pessoas que sentem prazer nessa forma de viver
a sexualidade sem maiores problemas.
Evidentemente, não se pode negar que, no Brasil, a miséria seja um dos maiores
fatores que leva as mulheres à prostituição. Entretanto, atribuir a entrada e a
permanência nessa prática unicamente a questões financeiras é um argumento
redutor, além de misógino, pois nega, mais uma vez, o direito à mulher de escolher
livremente como quer viver sua sexualidade. Ou seja, se posicionar como sujeito
desejante e histórico, fazendo da prostituição uma escolha como qualquer outra.
Se não existe um motivo único do por que os homens procuram prostitutas, são
insatisfatórias as tentativas de explicar a razão que leva as mulheres a optar pela
prostituição: rivalidade com os homens, reconhecimento narcísico, conflitos infantis
mal resolvidos, predisposições perversas, abandono pelo marido, dificuldade de
criar os filhos, etc.
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A profissional do sexo não existe sem o cliente. Entre eles há um movimento mútuo
e complementar de oferta e demanda: é por existirem, de ambos os lados, desejos
em busca de satisfação e promessa de satisfazê-los que a prostituição sempre existiu
e continuará existindo, mesmo nos lugares em que sua prática seja oficialmente
proibida. Todos os elementos presentes na construção do universo erótico da
prostituição (local, formas de sedução, promessas, confidências, preço, adereços,
vestimentas, fetiches, etc.) se misturam de forma que é impossível saber quem está
realizando a fantasia de quem, embora, objetivamente, os papéis estejam bem
definidos.
A prostituição sempre foi um negócio dos homens e do Estado, os quais mantiveram
o controle da situação geradora de recursos econômicos à custa da exploração das
mulheres, seja na figura do proxeneta, nas taxas, leis ou extorsões que as prostitutas
são obrigadas a se submeter. Juntamente com a violência conjugal, o estupro, e
outras tantas formas de dominação masculina, a prostituição constitui mais uma
manifestação da cultura machista, pois, em certa medida, a sexualidade feminina
continua sendo gerenciada pelos homens. Além disso, a sociedade que cria
fiscalizações, sanções e punições às atividades de prostituição em nome da
moralidade e dos bons costumes é a mesma que cria subterfúgios para manter esses
serviços ativos e disponíveis quando a ocasião, e/ou a necessidade, se apresentar.
Seja como for, refletir sobre a prostituição é aprofundar o debate sobre as relações
entre homens e mulheres, o que não pode ser feito sem levar em conta as questões
ligadas à posição subjetiva da mulher na sociedade, em particular a da prostituta, e a
hegemonia do discurso masculino dominante.
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O universo dos michês
Em geral, a prostituição masculina se deve a fatores de ordem econômica
Na Grécia antiga, a prostituição masculina, como a feminina, já existia e não era
vista como algo escandaloso. Os pórnoi, “homens prostituídos”, atendiam homens e
mulheres e estavam sujeitos ao pagamento de taxas nos bordéis de Atenas. Hoje, no
Brasil, guias turísticos de algumas cidades brasileiras incluem roteiros noturnos às
áreas da cidade freqüentadas pelos prostitutos masculinos: os michês. As razões
para a entrada na profissão são quase sempre de ordem econômica. As idades em
geral variam de 18 a 30 anos. Há michês homossexuais, bissexuais e heterossexuais.
Muitos são casados ou têm parceira fixa.
Há os que ficam nas ruas se expondo, como produtos em vitrine. Os mais ousados,
não hesitam em mostrar o pênis ereto. Outros, de classe social mais alta, como
estudantes universitários, justificam a atividade para “arredondar” as contas no final
do mês. Estes em geral anunciam seus serviços em jornais, revistas, nas salas de
bate papo e de namoro da net, ou freqüentam saunas masculinas. Nos anúncios, a
aparência física, assim como a menção do tamanho de pênis e das preferências
sexuais – ativo, passivo, versátil, moderno – são fatores importantes para atrair a
clientela.
Existem também os scort boys: garotos de programa ligados a agências
especializadas, que se anunciam de forma discreta e personalizada. Possuem um
book fotográfico, no qual a beleza física, o corpo perfeito e as qualidades
intelectuais são realçadas para atender uma clientela diferenciada composta de
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homens de alto poder econômico. Por fim, há os michês eventuais que, quando a
ocasião se apresenta, não perdem a chance de “ganharem um extra”. Fato
interessante é que entre tais sujeitos, existem os que usam a prostituição como
desculpa – “isso é apenas um trabalho” – para viver uma relação homossexual de
outra forma intolerável a eles.
Os clientes dos michês, majoritariamente homens, são diversificados: bissexuais,
homossexuais não assumidos, heterossexuais curiosos, que procuram os garotos de
programa para viverem fantasias e desejos homossexuais de forma anônima. Outros,
que não escondem a homossexualidade, recorrem aos michês por diversas razões:
solidão, uma aventura sem compromisso, uma noite à dois, um extra à vida do casal
homossexual, ou simplesmente por gostarem dessa forma de relação sexual. Casais
heterossexuais também procuram os michês para que participem, como um terceiro,
da relação sexual. Geralmente, o parceiro fica na posição do voyeur que observa a
parceira tendo relações sexuais com outro homem.
Entre o michê e seu cliente existe, às vezes, uma cumplicidade que vai além das
questões financeiras. Como na prostituição feminina, entre os protagonistas se
estabelece um jogo erótico no qual fica difícil saber quais fantasias estão sendo
realizadas.
A legislação brasileira
No Brasil, a prostituição existe de fato, mas não de direito
A legislação penal brasileira não criminaliza a prostituição, por entender que ela
não é um problema penal, mas social. Nem as prostitutas nem os clientes incorrem
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em penas. O Capítulo V do Código Penal, porém, considera crime punível com
prisão induzir ou atrair alguém à prostituição, ou, ao contrário, impedir alguém de
abandoná-la; criar ou manter casas ou locais para encontros libidinosos, havendo ou
não intuído de lucro; tirar proveito da prostituição alheia; intermediar a entrada, o
transporte, a transferência ou acolhimento no território nacional de pessoas que
venham exercer a prostituição; facilitar a saída de pessoas para exercê-la no exterior.
Em 2003, o então deputado Fernando Gabeira apresentou o Projeto de Lei 98,
baseado na legislação da Alemanha, que propõe a descriminalização da prostituição
e o pagamento por prestação de serviços sexuais (que inclui o tempo dispensado
para tais serviços, ainda que não tenham sido prestados). Em complementação, o
Projeto propõe a supressão do Código Penal dos artigos que tratam do
favorecimento dessa atividade, das casas de prostituição e do tráfico de mulheres.
Gabeira argumenta que a prostituição, atividade própria à civilização, nunca deixou
de existir, embora tenha sido estigmatizada e reprimida, inclusive com violência.
Sua descriminalização seria uma maneira de admitir a realidade, tornar possível que
os serviços prestados sejam pagos e reduzir os malefícios que acarretam a
marginalização dessa atividade.
Embora, sem dúvida, o Projeto traga uma discussão importante e atual, ele sofre de
limitações por não levar em conta certos aspectos relativos aos direitos das
prostitutas. Ademais, tal como está, corre o risco de reforçar ainda mais a indústria
da prostituição, transformando as prostitutas em reféns dos empresários, os grandes
beneficiados economicamente. Haveria, também, o perigo de estimular crianças e
adolescentes a essa prática.
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30/07/2010 - 20h06
Turismo sexual estimula prostituição infantil no Brasil
DA BBC BRASIL
Um programa da BBC mostrou que crianças estão suprindo uma crescente demanda de turistas estrangeiros que viajam ao Brasil atrás de sexo e acompanhou as tentativas de controlar o problema.
O programa "Our World: Brazil's Child Prostitutes" ("Nosso Mundo: As Crianças Prostitutas do Brasil", em tradução livre), vai ao ar no canal de TV internacional de notícias da BBC, BBC World, neste fim de semana.
A cada semana, operadores de turismo despejam nas cidades brasileiras milhares de homens europeus que chegam em voos fretados especialmente ao Nordeste em busca de sexo barato, incentivando assim a prostituição.
O problema, que foi constatado pela BBC em Recife, já estaria levando o Brasil a alcançar a Tailândia como o principal destino mundial do turismo sexual.
De acordo com o repórter Chris Rogers, responsável pela reportagem, apesar das garantias de uma ação policial, nas ruas da capital pernambucana parece haver poucos indícios de que a prostituição infantil está desaparecendo.
Corpo frágil
Uma menina vestida com um pequeno biquíni expõe seu corpo frágil. Ela não parece ter mais do que 13 anos, mas é uma das dezenas de garotas andando pelas ruas à procura de clientes debaixo do sol da tarde.
A maioria vem das favelas da região. Ao parar o carro, a reportagem da BBC é recebida com uma dança provocante da menina, para chamar a atenção.
"Oi, meu nome é C. Você quer fazer um programa?", ela pergunta. C. pede menos de R$ 10 por seus serviços. Uma mulher mais velha chega perto e se apresenta como mãe da menina.
"Você pode escolher outras duas meninas, da mesma idade da minha filha, pelo mesmo preço", ela diz. "Eu posso levar você a um motel local onde um quarto pode ser alugado por hora."
Quando a noite cai, em uma área com bares e bordéis da cidade, o playground sexual de Recife ganha vida.
Prostitutas se divertem com turistas, dançando e procurando por clientes em potencial. Muitas delas parecem muito menos do que 18 anos de idade.
Motoristas de táxi trabalham com as garotas que são jovens demais para entrar nos bares. Um deles me oferece duas pelo preço de uma e uma carona para um motel local.
"Elas são menores de idade, então são muito mais baratas que as mais velhas", explica ele ao me apresentar S. e M.
Nenhuma delas faz nenhum esforço para esconder sua idade. Uma delas leva consigo uma bolsa da Barbie, e as duas se dão as mãos com um olhar que parece aterrorizado diante da perspectiva de um potencial cliente.
Crack
A zona da prostituição no Recife está cheia de carros circulando em baixa velocidade ao lado dos grupos de garotas exibindo seus corpos.
Uma delas, P., está vestida com um top cor-de-rosa e uma minissaia. A menina de 13 anos concorda em falar comigo sobre sua vida como prostituta. Ela conta que trabalha na mesma esquina todas as noites até o amanhecer para financiar o vício dela e da mãe em crack.
"Normalmente eu tenho mais de dez clientes por noite", ela se vangloria. "Eles pagam R$ 10 cada - o suficiente para uma pedra de crack", diz.
Por segurança, P. trabalha com um grupo de meninas mais velhas que atuam como cafetinas, tomando conta do dinheiro e cuidando das mais novas.
"Há muitas meninas trabalhando por aqui. Eu não sou a mais nova. Minha irmã tem 12 anos e tem uma menina de 11", conta.
Mas P. está preocupada com sua irmã. "Eu não vejo a B. há dois dias, desde que ela saiu com um estrangeiro", diz.
P. diz ter começado a trabalhar como prostituta com sete anos. A Unicef estima que há 250 mil crianças prostituídas como ela no Brasil.
"Estou fazendo isso há tanto tempo que nem penso mais nos perigos", ela afirma. "Os estrangeiros vivem aparecendo por aqui. Eu já saí com um monte deles", conta.
Apenas algumas quadras dali a calçada está tomada por travestis procurando clientes. Entre eles está R., de 14 anos, e I., de 12.
Os primos parecem convincentes como meninas com seus saltos altos, minissaias, blusas e maquiagem pesada.
"Precisamos ganhar dinheiro para comprar comida para nossas famílias", explica R. ajeitando seu longo cabelo.
"Nossos pais não se preocupam muito com a gente. Dizemos a eles quando estamos saindo e quando chegamos. E então damos a eles o dinheiro para comprar comida. Eles sabem como conseguimos o dinheiro, mas nós não discutimos isso", diz.
Fortaleza
Antes, a maioria dos turistas sexuais costumava ir a Fortaleza. Mas não mais --no último ano, a capital do Estado do Ceará vem mandando uma clara mensagem aos turistas sexuais de que eles não são bem-vindos.
Todas as semanas, dezenas de carros com policiais federais armados com metralhadoras AK-47 patrulham as ruas das zonas de prostituição, vasculhando os motéis e bordéis, prendendo clientes e cafetões e levando meninas menores de idade para abrigos.
Eline Marques, coordenadora da Secretaria Especial de Prevenção ao Tráfico de Seres Humanos, afirma que as blitze estão tendo um resultado.
"Já fechamos muitos estabelecimentos em Fortaleza. Ruas inteiras estão agora livres da prostituição. Meu objetivo é intensificar essas ações antes da Copa do Mundo, tendo com alvo o próprio turismo que fomenta a prostituição infantil", diz ela.
Outros Estados indicaram que estão acompanhando a campanha de Marques e que, se ela tiver sucesso, poderão seguir ações semelhantes.
Mas, para cada estabelecimento sexual que é fechado, para cada turista sexual preso, há também vítimas. Muitas são levadas para abrigos de instituições de caridade.
Recuperação
O Centro de Recuperação Rosa de Saron, perto do Recife, está operando com sua capacidade máxima, porque as meninas não podem ser devolvidas para casa, por causa da pobreza que as levou à prostituição. Elas chegam lá vindas de todo o Brasil.
M., de 12 anos, quer viver com a mãe, mas não pode porque seu cafetão, que a forçou a trabalhar nas ruas e em bordéis, ameaçou matá-la se ela tentasse escapar.
Ela diz que ainda teme por sua vida.
"Não tive opção a não ser fazer o que ele mandava. Eu senti que estava perdendo minha infância, porque eu tinha só 9 anos de idade", diz ela. "Eu tinha medo. Às vezes eu voltava sem dinheiro e ele me batia", conta.
Jane Sueli Silva, que fundou o centro, diz que a maioria das garotas tem entre 12 e 14 anos quando chegam. Algumas delas chegam grávidas.
"Muitas delas chegam aqui com problemas sérios, como câncer de colo de útero", diz. "Como o câncer normalmente está só no estágio inicial, podemos ajudá-las, e graças a Deus que a cura é normalmente bem-sucedida."
Uma outra ONG, a britânica Happy Child International, planeja construir mais centros para abrigar o crescente número de crianças prostituídas.
Mas crianças como P. ainda estão desamparadas.
Sua casa é um pequeno barraco que ela divide com sua mãe, dois irmãos e a irmã B., de 12 anos. Dentro, apenas dois sofás que são usados como camas e um balde plástico usado para lavar roupas e pratos.
Quando perguntada sobre se a prostituição das filhas a magoava, a mãe delas pareceu mais preocupada com dinheiro. "Se elas conseguem dinheiro, não trazem para cara. Não, elas não trazem dinheiro nenhum para casa", disse.
P., por sua vez, diz que espera um dia sair da prostituição.
"Todo dia eu peço a Deus que me tire dessa vida. Às vezes eu paro, mas depois volto para as ruas para procurar homens. A droga faz mal, a droga é minha fraqueza, e os clientes estão sempre a fim de pagar."
Brasileiras dominam prostituição em ilhas espanholas, diz relatório
Anelise Infante
De Madri para a BBC Brasil
Informe diz que 80% das prostitutas na região são brasileiras
As prostitutas brasileiras estão dominando o mercado de alto luxo nas ilhas mais exclusivas da Espanha, segundo as conclusões de um congresso governamental divulgadas no domingo.
De acordo com os participantes do evento, oito entre dez mulheres que exercem a prostituição no arquipélago mediterrâneo de Baleares (que inclui Palma de Mallorca, Ibiza, Menorca e Formentera) são brasileiras.
As autoridades estimam que a prostituição movimenta por ano mais de 300 milhões de euros (cerca de R$ 760 milhões) apenas nas ilhas da região.
O diretor do Congresso sobre Prostituição e Direitos Humanos do governo balear, pedagogo da Universidade de Mallorca, Jaume Perelló, disse em nota à imprensa que, desde o ano 2000, os esquemas de prostituição nas ilhas estão mudando.
"Primeiro, mudou o perfil da mulher que exerce a prostituição", disse Perelló.
"Das espanholas que estavam na rua, passamos às sul-americanas que agora estão em prostíbulos de nível muito elevado em mansões com bares, piscinas e varandas com vista para o mar, entre outras comodidades, para captar uma clientela seleta e com capacidade econômica."
De acordo com o informe de conclusões do congresso, só na ilha de Mallorca, a maior e mais cara do arquipélago, com uma das rendas per capita mais altas da Espanha, atuam em torno de 2,5 mil prostitutas, 82% brasileiras.
O restante se divide entre colombianas, dominicanas, européias do leste e africanas. Estas últimas trabalham apenas nas ruas.
"Não podemos esquecer que esse fluxo é originado pela situação sócio-econômica dos países de origem dessas mulheres", afirmou Perelló.
Máfias
O informe diz que a chegada em massa de brasileiras às Ilhas Baleares, principalmente a Mallorca e Ibiza, tem ocorrido porque as máfias encontraram um mercado por explorar.
"As brasileiras se destacam por suas características físicas e personalidade", afirma o relatório. "Estão chegando aos prostíbulos de luxo para atender a uma demanda de certo tipo de clientes."
"As africanas (da Nigéria e Serra Leoa) atuam nas ruas porque as máfias que as controlam são muito agressivas e expulsaram outras mulheres que ocupavam aquele espaço."
"Algumas do Leste Europeu, embora em menor proporção, também passam pela mesma situação de exploração nas ruas", acrescenta o documento. "Mas a maioria está em prostíbulos."
Esses prostíbulos, no caso das ilhas espanholas, são mansões - muitas de alto luxo, servidas de todo tipo de atenção cinco estrelas para a "clientela vip".
O informe de conclusões do congresso chega a definir como "espetacular" as novas formas de serviços e captação da prostituição na região.
Contato
Uma das novidades, segundo o relatório, está na forma de contato com os clientes. Por meio de um site, por exemplo, é possível contratar o serviço de prostitutas desde qualquer parte do mundo e marcar dia, hora, lugar, tipo de mulher e quaisquer detalhes de atenção de luxo.
O site apresenta desde as características da prostituta e do ambiente onde o cliente pode receber o serviço até tipos de bebida, alimentos, carros e objetos de fetiche.
O informe indica ainda que as máfias exigem que a maioria das prostitutas tenha que se mudar de prostíbulo constantemente. "Às vezes, exercem (a prostituição) em vários locais em um mesmo dia", diz o relatório.
Nos casos de prostíbulos menos luxuosos, a clientela quer mais conversa e menos sexo, segundo as conclusões do congresso.
"É fácil encontrar casos de homens cuja única intenção é se desinibir com elas (prostitutas), contar suas vidas e seus problemas", diz o informe. "E quando se sentem bem, vão embora."
Nesta situação estão dois de cada seis clientes que freqüentam os prostíbulos das Ilhas Baleares por dia, segundo o relatório. A maioria apenas paga bebidas para as mulheres, que recebem porcentagens pelas bebidas consumidas.
O congresso sobre prostituição, que terminou no último dia 18, em Mallorca, concluiu que o mercado do sexo nas ilhas se ressentiu pela saída da frota naval americana e dos grandes contingentes da Marinha espanhola, mas está se recuperando com esse novo perfil de "serviço vip".
A Associação Nacional de Empresários de Locais de Prostituição reclama das máfias que atuam nas mansões do arquipélago e pede a regularização do trabalho das mulheres porque considera "uma concorrência desleal", como disse o secretário-geral da instituição, José Luis Roberto, que também participou do congresso.
Segundo as cifras oficiais do Senado espanhol, o negócio da prostituição no país alcança 18 bilhões de euros (cerca de R$ 45 bilhões) por ano.
Garotas de programas usam fotos no Orkut para anunciar prostituição
Cada vez mais garotas de programa usam a internet para promover a prostituição. O Orkut se tornou o mais novo recurso de marketing das prostitutas, que usam o site para criar no perfil um verdadeiro "cartão de visitas". Algumas garotas chegam a produzir pequenos filmes mostrando os atributos físicos, e todas colocam nos álbuns fotos sensuais em poses eróticas. Como o site tem removido os perfis que têm fotos com nudez, os perfis são recriados diariamente pelas "meninas".
Após "conferir o material", conforme sugere um dos perfis, os clientes podem deixar um scrap ou, em alguns casos acessar um e-mail da garota de programa. No Acre, um blog intitulado "agência de programa acreana" causou grande repercussão entre os internautas. A página na web promovia descaradamente o comércio virtual de garotas de programa. Fotos de garotas nuas e semi-nuas eram mostradas sem nenhuma censura.
O responsável pelo site, "Ivan", oferece o serviço das garotas através do site e oferece telefone de contato aos interessados. Segundo a equipe do jornal Noticias da Hora (#), o agenciador tem uma verdadeira rede de prostituição no site de relacionamentos Orkut.com.
O cafetão digital criou um profile falso com o nome de “Natalia Ferraz”. E nesse perfil mostra fotos de dezenas de supostas garotas de programa. Em contato com Ivan, a equipe de reportagem informa que cada programa custa de R$ 100 a 150 reais. Perguntado se essas garotas existem mesmo e se são prostitutas, o tal agenciador confirma e ainda disse que deixa a garota onde o cliente quiser (espécie de entrega a domicilio).
Não se sabe se existem menores entre as garotas no álbum. Pela lei brasileira, a prostituição não é crime. Toda pessoa é dona de seu corpo e pode usá-lo como quiser. Mas tirar proveito da prostituição, seja de que forma for, é crime. Viver às custas de prostitutas ou mesmo induzir alguém a esse tipo de feito, é considerado crime.
Na semana passada a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara rejeitou em votação simbólica, a proposta que regulamentava a prostituição no país. Com isso, cerca de 23 mil garotas de programa associadas a Rede Nacional de Prostitutas deixaram de ser beneficiadas com a regulamentação.
Cidades amazônicas viram eldorados da prostituição infantil
Ao lado dos lucros com petróleo e mineração, 3 cidades amazônicas vêem crescer abusos e gravidez precoce
06 de setembro de 2008 | 20h 02
Leia a notícia
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Os novos eldorados econômicos da Amazônia apresentam números de exploração sexual de crianças e índices de qualidade de vida na infância piores que os de outras cidades na floresta, informam os enviados especiais do Estado à região Leonêncio Nossa e Celso Júnior. Leia reportagem completa na edição do Estado deste domingo. Veja também: Galeria de fotos: prostituição infantil na Amazônia Líderes na arrecadação de impostos e royalties de gás, petróleo, bauxita e minério, os municípios de Coari (AM), Juruti e Parauapebas (PA) vivem um boom econômico, mas registram, ao mesmo tempo, índices de violência contra meninas proporcionalmente semelhantes aos que surgiram nos anos 70, no rastro da traumática experiência de desenvolvimento impulsionada pela Rodovia Transamazônica, pela mina de Serra Pelada e pela hidrelétrica de Tucuruí. Após 34 anos da abertura da Transamazônica e de 25 anos do auge do garimpo e da inauguração da usina, a Amazônia desses municípios repete padrões de crescimento igualmente destruidores, tem gestões públicas sem transparência, além de ignorar o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A estatística das meninas grávidas com idade até 15 anos é o retrato fiel da situação. Das mulheres que tiveram filhos no Brasil, nos primeiros seis meses deste ano, 1,3% estavam nessa faixa. Esse índice cresce nos Estados do Amazonas e do Pará para 1,9%, mas é dez vezes maior em Coari, 13,9% - em 1995, um ano antes da chegada da Petrobras à cidade, 1,7% das grávidas do local tinha idade abaixo de 15 anos. Parauapebas registrou no primeiro semestre deste ano uma taxa de 2% de grávidas com idade abaixo de 15 anos. Em Juruti, do total de grávidas atendidas no hospital local, no ano passado, 2,5% tinham idade abaixo de 15 anos - esse porcentual foi de 0,9% em 1995. Nos projetos de prefeituras e empresas que lideram a atividade econômica nesses locais - Alcoa, Vale e Petrobrás - sobram intenções e faltam objetivos práticos que mudem o panorama. E não é por falta de dinheiro.
Prostituição: "Estamos sujeitas a tudo, até a ser mortas"
Por Bárbara Oliveira - ljcc04079@letras.up.pt
Publicado: 21.12.2007 | 11:57 (GMT)
Marcadores: Exclusão social , Porto , Prostituição
De dia ou de noite, a prostituição é uma realidade no Porto. Os carros param e as prostitutas entram, sem medo e com destino incerto.
Prostituição no Porto
Dossiê por Bárbara Oliveira e Marisa Pinho
- "Sujeitas a tudo, até a ser mortas"
- A história de vida de um travesti
- Espaço Pessoa dá apoio a prostitutas há 11 anos
- Carrinha dá apoio na rua
- Vamp: Viatura Móvel de Apoio à Prostituição
- Um percurso da VAMP (primeira, segunda e última paragem)
- Ana Lopes defende debate sobre indústria do sexo"A poucos dias do Natal, na Baixa do Porto caras desconhecidas enchem as ruas em busca de presentes. Na Trindade, as senhoras que lá vagueiam têm o rosto a nu, familiar aos muitos que conhecem a zona e que as procuram mais nesta épocaprocuram mais nesta época.
Três prostitutas de rua dão a voz pela prostituição no Porto. Preferem trabalhar durante o dia porque têm medo dos perigos que a noite pode trazer. Luísa tem 47 anos e passou mais de metade da vida a prostituir-se. As palavras saem cruas, sem receio, a não ser do incerto de uma vida feita entre becos e calçadas.
É defensora da legalização da sua actividade e explica que as prostitutas "deviam fazer descontos para a velhice [segurança social]". É que "a carne não dura sempre". "As mulheres de rua deviam estar numa casa. E o cliente procurava a mulher, o que queria, e pagava o seu devido valor".
Gracinda tem outra história para contaroutra história para contar. Tem 67 anos, está reformada e é prostituta. Já esteve presa. Não gosta do que faz e queria arranjar um emprego "normal", mas confessa que não tem "outro modo de vida". A família sabe o que faz e, apesar de ter sofrido muito no início, "todos acabaram por se conformar".
"Uns são humanos, outros não"
Maria Luísa, de 56 anos, fala abertamente sobre os perigos da prostituição. "Uma vez, um cliente apontou-me a pistola à cabeça dentro do quarto. Disse que não me fazia mal, mas fiquei sempre com medo". Maria já é avó e o seu desejo é sair da prostituiçãoo seu desejo é sair da prostituição para que o neto um dia possa conhecer uma mulher diferente daquela que o filho dela conheceu.
Com mais de duas décadas de rua, Maria Luísa trabalha para o agregado familiar. O marido abandonou-a quando descobriu que estava grávida, a nora está desempregada e o filho recebe o salário mínimo. "Há muitos portugueses que ainda não aceitam a actividade e isto tão cedo não vai mudar", reflecte. Não consegue contar as vezes que foi discriminada - esconde a sua vida para não ser alvo de represálias.
Preservativo: sim ou não?
Ao contrário de outras profissionais do sexo com quem o JPN falou, Maria diz que nunca pratica relações sexuais sem a utilização de preservativo (já recebeu propostas para o fazer). Apesar do uso de contraceptivos ser uma questão que as incomoda, Gracinda e Luísa partilham uma opinião diferente de Mariapartilham uma opinião diferente de Maria.
São três mulheres que se prostituem devido à força da necessidade, que muitas vezes faz com que sonhos sejam adiados. Como o de Luísa, que confessa, em tom tímido: "Se pudesse sair da rua, gostaria de cumprir o sonho de ser cabeleireira".
Dados do Ministério da Justiça mostram que a prostituição infantil está presente em todas as capitais brasileiras e em muitas das grandes cidades do País, sobretudo as do litoral nordestino e, entre os principais fatores estão a pobreza e o turismo sexual.
Na lista estão todas as capitais brasileiras, mas a maior parte dos municípios com exploração sexual de menores está no interior, em municípios pobres de 20 mil a 100 mil habitantes.
O número de municípios é assustador. Número de vítimas não foi levantado.
A exploração sexual infantil está presente em 16,88% dos municípios brasileiros, ou seja, em 937 das 5.551 cidades pesquisadas.
Segundo o ministro Nilmário Miranda, esta é a primeira vez que o Brasil vai ter um diagnóstico completo sobre a exploração sexual infanto-juvenil e as estratégias para a sua superação.
O documento não vai ter estatísticas, nem ranking dos piores municípios, mas vai mostrar as circunstâncias que mais propiciam o problema, além do perfil das vítimas e sua condição social.
O estudo levantou também os programas governamentais que existem em cada município para enfrentar o problema. De acordo com a pesquisa, dos 937 municípios citados, 827 têm conselhos tutelares para lidar com o problema.
O estudo mostra que o quadro é mais grave no Nordeste, em 32% das cidades há exploração sexual de crianças e adolescentes. Seguido do Sudeste com 25,7%, e depois respectivamente, vem as regiões Sul 17,3%, Centro-Oeste 13,6% e Norte 11,6%. A Região Sul registra 162 cidades com exploração sexual, com 49 no Rio Grande do Sul, 57 em Santa Catarina e 56 no Paraná.
As cidades gaúchas citadas pelo relatório: Alvorada, Balneário Pinhal, Cachoeirinha, Camaquã, Campo Bom, Candelária, Canoas, Capela de Santana, Carazinho, Caxias do Sul, Cruz Alta, Dom Feliciano, Eldorado do Sul, Erechim, Gravataí, Guaporé, Guarani das Missões, Ijuí, Iraí, Jaguari, Machadinho, Mostardas, Novo Hamburgo, Panambi, Parobé, Passo Fundo, Pelotas, Porto Alegre, Quaraí, Rio Grande, Rio Pardo, Santa Maria, Santana do Livramento, Santo Ângelo, São Gabriel, São Jerônimo, São Leopoldo, São Luiz Gonzaga, Sapucaia do Sul, Soledade, Taquara, Três Passos, Tupanciretã, Tuparendi, Uruguaiana, Vacaria, Venâncio Aires, Veranópolis, Viamão.
Entre os estados onde a situação pode ser considerada mais grave estão São Paulo, com 93 cidades citadas, Minas Gerais, com 92, e Pernambuco, com 70.
No Rio de Janeiro, foram detectados 33 municípios com casos de crimes sexuais.
A pesquisa identificou quatro tipos de crimes: foram contabilizados 764 episódios de prostituição, 143 de tráfico de menores, 44 de pornografia e 37 de turismo sexual.
Para enfrentar a situação, o governo pretende articular ações de todos os programas sociais existentes no sentido de dar mais atenção às vítimas dos crimes sexuais e à prevenção. Com isso, programas de 13 ministérios, como o Bolsa Família e o Saúde da Família, por exemplo, terão agentes treinados para aconselhar e informar a população das cidades citadas.
Os principais problemas hoje são a impunidade, a pobreza e a desigualdade.
Por conta da gravidade do problema, o governo relançou, às vésperas do carnaval, a campanha de Combate à Exploração Sexual Infanto-Juvenil no País.
As ações vão dar prioridade às cidades litorâneas e às capitais nordestinas e ter atenção redobrada sobre turistas estrangeiros.
Telefone do Disque-Denúncia: 0800 990 500
Prostituição infantil movimenta 4 milhões de reais por anoEnviado por admin, seg, 10/13/2008 - 15:13
09/10/2008
Fonte:
Infonet
Autor:
Mariana Rocha e Raquel Almeida
Pesquisas realizadas no mundo virtual mostram que a quantidade de sites com conteúdo erótico infantil cresceu cerca de 70,35%
Divulgar e comercializar fotos de crianças e adolescentes despidas, cenas de intimidade com crianças, ludibriá-la em conversas em salas de bate-papo para atender desejos através de webcan são algumas práticas de pedofilia que ocorre pela internet. De acordo com Mônica Horta, delegada e assessora de comunicação da Polícia Federal (PF), a indústria da pornografia infantil brasileira fatura aproximadamente R$4 milhões por ano. Enquanto a indústria mundial fatura U$5 bilhões de dólares.
Mônica relata que pesquisas realizadas no mundo virtual mostram que a quantidade de sites com conteúdo erótico infantil cresceu cerca de 70,35% no período de um ano. “Essa realidade é possível por conta do poder que a internet tem em disseminar imagens e vídeos dos menores”, explica.
Compartilhamento de imagens
A assessora explica que a disseminação do conteúdo é muito fácil quando se tem um computador em mãos, uma vez que é só acessar o site, clicar na foto e/ou vídeo desejado e comprar. Os valores das fotos nem sempre são divulgados nos sites e geralmente são negociadas pelo dono e o comprador, através de e-mail e telefone. Porém, Mônica lembra de um caso, onde a PF recebeu uma denúncia de um site que vendia fotos de menores por apenas R$5.
Mônica e o diretor da organização não-governamental SaferNet Brasil, Rodrigo Nejm, afirmam ser difícil colocar em números o quanto essa indústria ganha, pelo fato de não ser divulgado pelos proprietários dos sites. “Uma foto pode ser vendida por qualquer valor”, diz Rodrigo. Já as crianças, ganham brinquedos, roupas e afeto do abusador. “Raramente uma criança ganha dinheiro nessa indústria. Na verdade acaba sendo uma relação de troca: você deixa eu tirar uma foto sua e eu te dou um brinquedo. É tudo muito inocente para o universo infantil”, conta Mônica.
Consumidor
Em relação ao consumidor desses materiais, a Presidente do Fórum Estadual de Direitos da Criança e do Adolescente (Fórum DCA), Lídia Rêgo, diz que existem questões graves que devem ser observadas e analisadas. "A cultura da violência, uma vez que acontecem crimes no país diariamente. E depois a política neoliberal capitalista atrelada ao consumo excessivo do brasileiro que influenciam diretamente nesse processo. As pessoas querem sempre mais dinheiro, poder", diz.
Lídia explica que esses fatores influenciam na prostituição infantil, pois é perfil do pedófilo ser violento com seus familiares e com as pessoas que o rodeiam, com exceção da criança. E também é comum que ele tenha um poder aquisitivo elevado. "Só lamento o fato do país ser ausente em dados estatísticos para poder fazer um levantamento mais preciso sobre isso. O que iria ajudar na prática deste crime", alerta.
Sites
O trabalho da PF em investigar os sites só começa quando as denúncias oriundas de organizações não-governamentais, hackers, cooperações internacionais, agentes infiltrados e da própria população chegam até órgão. Após feita a denúncia, a equipe precisa descobrir o endereço de IP (Internet Protocol) do computador que estava postando o material. Com o número do endereço em mãos, é necessário solicitar a quebra de sigilo ao juiz competente para que se possa chegar ao responsável. “Essa quebra de sigilo pode ser dada pelos provedores de internet”, acrescenta.
Porém um dos problemas observados por Mônica é que muitas vezes o número do IP corresponde a computadores utilizados em lan houses. E explica que neste caso, a PF vai até o endereço que corresponde aquele computador e exige do dono do estabelecimento a relação com os nomes das pessoas que utilizaram aquele específico aparelho no dia x. "A partir daí se inicia outra investigação até chegar ao 'vendedor' do conteúdo pornográfico. Identificado o usuário é feito um pedido de busca e apreensão de todo material encontrado para diligência", relata.
Central Nacional de Denúncias
Rodrigo Nejm conta que a organização criou em parceria com o Ministério Público Federal do Estado da Bahia (MPF), a Central Nacional de Denúncias, para oferecer o serviço de recebimento, processamento, encaminhamento e acompanhamento on-line de denúncias anônimas sobre qualquer crime ou violação aos Direitos Humanos praticados por meio da Internet.
“Diariamente recebemos cerca de 2.500 denúncias”. Do total de denunciantes, 99% escolhe a opção de realizar a denúncia anonimamente. E ao 1% restante é garantido total e completo anonimato. No primeiro semestre deste ano, 27.883 (63%) são referentes à pedofilia ou pornografia infantil. Em comparação ao mesmo período de 2007, o número de denúncias recebidas foi de 14.465. “O número praticamente dobrou no comparativo entre o primeiro semestre de 2007 e o primeiro semestre deste ano”, completa.
Para denunciar basta enviar um e-mail para a PF ou acessar o site da ONG.
Durante toda essa semana o Portal Infonet publica uma série de reportagens especiais sobre a violência sexual contra crianças e adolescentes. A cada dia publicaremos uma nova matéria sobre o tema.
A prostituição mental
A criminologia intelectual é tão profunda e complexa que requereriam milhões de volumes para poder estudar essa matéria. Somente nos permitimos tocar alguns pontos.
A criminologia intelectual se acha contida em livros, revistas, arenas, cinemas, folhetos etc.
Existem em distintos países revistas pornográficas que prostituem a mente dos jovens.
Quando chega à mente uma representação pornográfica o inconsciente retém essa representação e com ela elabora seus conceitos.
Os conceitos elaborados pelo inconsciente são o resultado exato da qualidade da representação. O Eu retém a representação nos recôncavos inconscientes da mente e elabora com ela seus conceitos.
No mundo da mente cósmica, os conceitos se traduzem em imagens semiconscientes Essas são as Efígies do mundo mental.
No plano da mente cósmica o Eu fornica e adultera com essas imagens Essa é a prostituição da mente.
As poluções noturnas são o resultado morboso da prostituição mental.
Existem também as revistas dos fracassados.
Nessas revistas, a mulheres se anunciam, solicitam marido, alto, baixo, gordo, magro, com dinheiro etc.
Muitas jovens senhoritas seguem esse exemplo. Isto é prostituição mental e o resultado é gravíssimo.
Começa o intercâmbio epistolar. Ama a quem não se conhece. Forjam projetos e o dia que os casais se encontram vem, então, o fracasso inevitável.
Senhoras que nunca foram prostitutas, senhoritas dignas e honradas, se deixam enganar pelo modernismo e caem no delito da prostituição mental.
Se um clarividente estuda no plano mental os anúncios amorosos de todas essas revistas, poderá ver então casas de prostituição. Cada anúncio desses corresponde, no mundo mental, à recâmara horrível de um Bordel Mental.
Todo clarividente assombra-se ao ver um bordel no plano mental. Dentro de cada recâmara desses antros horríveis há uma prostituta deitada.
Os homens entram e saem dessas antecâmaras. Cada anúncio da revista corresponde a uma dessas antecâmaras. A mulher que colocou o anúncio está deitada na antecâmara.
Esta é a prostituição do plano mental
O verdadeiro amor nada tem a vem com esses bordeis do plano mental. Milhares de jovens e distintas senhoras se estão pervertendo com essa classe de revistas.
O verdadeiro amor começa sempre por um elemento de simpatia. Substancializa-se com a força do carinho e se sintetiza em suprema adoração infinita.
O verdadeiro amor é natural, sem artifícios, como o das aves, como o dos peixes do imenso mar, como o selvagem esquilo na selva impenetrável.
Mulheres Prostituídas
Maria Cristina Castilho de Andrade*
criscast@zaz.com.br
“Só ouve direito quem se liberta dos preconceitos;
e só se liberta dos preconceitos quem é capaz de
restituir a palavra ao silenciado”
(Frei Antônio Moser).
I – Introdução
A palavra “prostituir” vem do verbo latino prostituere, que significa expor publicamente, por à venda, entregar à devassidão. Dela se deriva “prostituta”, para designar as cortesãs de Roma que se colocavam à entrada das casas de devassidão.
A prostituição é parte de uma indústria multibilionária. Entre as distintas modalidades desta indústria estão, ainda, o turismo sexual, o tráfico de mulheres, a pornografia, etc.
A instituição da prostituição não beneficia somente o cliente, mas traz benefícios a terceiros: donos de hotel, administradores, proxenetas, traficantes, agências de turismo.
As mulheres prostituídas, em sua maioria, foram condicionadas para ser prostitutas através do maus tratos, da violência, da discriminação e da falta de auto-estima, que as faz vulneráveis e passivas. Dentro desses condicionamentos, as mulheres sentem que não valem nada em si e que seu único recurso é o uso de seu corpo como objeto sexual.
Existe “prostituição de casa”, nas “zonas de confinamento”, e “prostituição de rua” ou “trottoir”. Na “prostituição de casa”, as mulheres atendem os seus clientes nestes locais, recebendo ordens, geralmente, de uma cafetina. São obrigadas a usar drogas e bebidas alcoólicas para beneficiar a cafetina. Na “prostituição de rua”, é lá que ela conquista os seus clientes e paga aluguel em quartos de hotéis de alta rotatividade. Há, ainda, locais de prostituição disfarçados como algumas casas noturnas, casas de massagem, “relax for men”, além de anúncios na imprensa e sites na Internet.
De acordo com artigo do Serviço à Mulher Marginalizada, ONG que estuda o assunto, considerar que a prostituição é uma opção de trabalho, é uma maneira de aceitar que o sexo e o corpo da mulher e de menores de idade são uma mercadoria. Reforçam-se, assim, os conceitos patriarcais que alentam os papéis sexuais de dominação masculina e submissão feminina. Destaca a entidade os mitos a respeito do assunto: vida fácil, profissão mais antiga do mundo, não gosta do “pesado”, faz muito dinheiro, não tem caráter e o que se diz: “vagabunda, ninfomaníaca, escolheu livremente a profissão, sabe muito sobre sexo”.
De forma geral, a sociedade lança um olhar de condenação sobre as mulheres que sobrevivem da prostituição, sem procurar as causas que levam a essa situação. Não condena, contudo, o agente ativo da situação: o senhor cliente. Toda vez que se discute a prostituição, coloca-se o foco na mulher e ergue-se um muro de silêncio em torno do homem que paga e, portanto, mantém o comércio do sexo. E tratando-se de crianças, o cliente é, antes de tudo e principalmente, um criminoso.
Em entrevista à revista “Mulher Libertação” - Ano XII – Nº 51- publicação do SMM, em 1997, Dom Antonio Fragoso, bispo Emérito, fala sobre a hipocrisia social: o homem acusa a mulher de perdida, mas sustenta o comércio sexual. Essa esquizofrenia, segundo ele, é uma das responsáveis pela prostituição. “Dentro dessa ótica, a mulher prostituída é vítima, e vítima não se condena, mas se lhe oferece solidariedade”, conclui o Bispo.
Dom Fragoso, em 1960, na época Bispo Auxiliar em São Luís do Maranhão, implantou no Brasil o primeiro trabalho com mulheres prostituídas, a partir de experiência do Padre Talvas, em Paris, com o movimento Ninho.
Segundo Anima Basak, indiana, membro da Federação Abolicionista Internacional, “a prostituição significa a dominação machista sobre a mulher, que tem um corpo considerado como explorável. Não pode haver prostituição com apenas uma pessoa. Mas é sempre a mulher que leva a marca de pecadora”.
O Brasil assinou, em 1949, a “Convenção contra o Tráfico de Pessoas e Exploração da Prostituição” da ONU e, em 1979, a “Convenção de Eliminação de Todas as Formas de Exploração da Mulher”.
A atividade não é crime e portanto não é ilegal. Conforme os artigos 227 e 231 do Código Penal Brasileiro, que tratam dos crimes contra os costumes, crime é o lenocínio e o tráfico de mulheres, ou seja, a exploração da prostituição alheia. Nestes itens podem ser enquadrados cafetões, rufiões e donos de casa e hotéis.
Nos Estudos da CNBB (15), “Prostituição, desafio à sociedade e a Igreja”, Dom Luciano Duarte define o tema: “A prostituição, como instituição legal, é uma mancha vergonhosa em nossa civilização. É a aceitação de um fato, postulado pelo egoísmo dos homens, propiciado pela fragilidade das mulheres, amparado pela hipocrisia generalizada (...) Uma coisa é algo de que a gente se serve, como quem usa um sabonete num lavatório. Depois se deixa para lá. Uma pessoa é algo que é preciso descobrir por detrás da fuligem do cotidiano. Uma pessoa é alguém que tem um nome, uma história, foi criança, teve ilusões, sonhou com a vida, sentiu desabrochar dentro de seu coração uma aspiração de felicidade”.
II – Causas da Prostituição
Estudiosos do assunto, na causas da prostituição colocam fatores sócio-econômicos e psicológicos.
Fatores econômicos: falta de emprego; migração para os grandes centros urbanos; jovens do campo, passando a viver na cidade; mães solteiras com dificuldade na manutenção do filho. Moradias em condições subumanas: barracos, cortiços, porões, muitas vezes abrigam a promiscuidade, que é um caminho aberto para a prostituição.
Fatores psicológicos: carências afetivas e traumas que marcam a infância e a adolescência das pessoas.
Temos observado, na convivência com as mulheres prostituídas em situação de pobreza, que a maioria foi estuprada na infância por alguém muito próximo; possuem baixa ou nenhuma escolaridade e faltou-lhes apoio familiar. Quanto às mais jovens, diversas delas trocam o corpo por uma quantia de droga ilícita.
Segundo recente trabalho do Serviço à Mulher Marginalizada (SMM), há uma legião de meninas vendendo o corpo por desinformação e ilusão, levadas pela ganância de agenciadores (muitas vezes mulheres) e pela mídia. Querem ganhar dinheiro, com baixa escolaridade e sem empregos à vista. Enxergam, no sexo comercializado, a única porta para as maravilhas do consumo, o ideal moderno da felicidade.
III – Realidade da Prostituição e do Abuso Sexual Infantil
De acordo com o Serviço à Mulher Marginalizada - SMM, uma pesquisa da Faculdade de Ciências Humanas da Fundação Mineira de Educação e Cultura de Belo Horizonte estima que exista 1,1 milhão de mulheres prostituídas no país. O SMM acredita que esse número esteja abaixo da realidade, já que é muito difícil ter dados quantitativos quando se trata de uma questão que envolve preconceito, falsa moral e pecado.
A revista “Época”, de 23 de outubro a 06 de novembro de 2000, elaborou três interessantes reportagens sobre a realidade da prostituição no Brasil, com o título: “As Prostitutas do Século XXI”. Uma das entrevistadas salienta que ansiava pelos 18 anos para assumir, sem documentos falsos, sem a condição de vítima, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, a condição de prostituta. Escolheu comercializar o corpo atraída pelo dinheiro. Mora com o namorado. Com dezessete anos, ele a trocou por uma garota de programa. Ao tentar reconquistá-lo, ouviu a proposta: “Se você for para a noite, fico com você”. O namorado transformou-se em “empresário”: gerencia a manutenção financeira, procura trabalhos mais vantajosos e decidiu que ela deve aprender inglês para melhorar a fluência na negociação com clientes estrangeiros. O namorado a leva até a boate de luxo. A reportagem observou que, na porta, se abraçaram. “Eu te amo”, disse ele. “Eu te amo muito e já já estou em casa”, ela balbuciou. Não gosta de ser chamada de prostituta.
Em outro estudo da Faculdade de Ciências Humanas da Fundação Mineira de Educação e Cultura (FUMEC), realizado com prostitutas de Belo Horizonte e publicado na Revista Veja de 12/04/2000, a trajetória das prostitutas de luxo, em geral, começa em casas de massagem ou em boates “privês”, onde fazem shows de “strip-tease” e mantêm contatos com potenciais clientes. Com o passar do tempo, por causa do desgaste com os clientes e da própria depreciação estética, muitas garotas passam a oferecer seus “serviços” em qualquer lugar. Vão parar nas ruas. No estudo da FUMEC, 76% das prostitutas entrevistadas apresentaram sintomas de depressão, 59% de stress crônico e 36% disseram ter pensado em suicídio alguma vez desde que começaram a prostituir-se.
Voltando à revista “Época”: Brasília é uma outra realidade abordada pela revista, atraindo uma clientela etiquetada como “vip” no mercado da prostituição. São procuradas por homens maduros, com dinheiro, tempo e disposição para a busca do prazer. Ficam em boates e ruas. São encontradas, ainda, na rede de contatos, buscando discrição. Uma delas, atraída pelos ganhos materiais, sonha abrir um salão de beleza, casar e ter filhos, longe de Brasília.
Na segunda matéria, uma cafetina, com escritório registrado como agência de modelos, comenta que ganha de 20% a 30% do combinado. Diz que muitas meninas vêm iludidas para São Paulo, querem ser modelos ou atrizes famosas. Terminam fazendo programas. Ajudam a família e para que a família não desconfie do que fazem, seus documentos são falsificados.
As mulheres do porto de Salvador vendem sexo a marinheiros estrangeiros. Alcançam os navios em catraias inseguras, superlotadas e muitas delas trazem marcas dos naufrágios. Uma conta à revista sobre o naufrágio. Eram seis pessoas e apenas três coletes salva-vidas. As quatro mulheres boiaram agarradas aos restos da embarcação. Atravessaram assim a madrugada. Pela manhã, o sol queimava, o sal fazia a pele arder e os peixes beliscavam. Uma das quatro, de 13 anos e grávida, morreu. A entrevistada só alcançou a praia na manhã seguinte, com o sol alto. Estava cega. O efeito só passaria horas mais tarde. Do naufrágio trouxe, nos pés, espinhos de ouriços-do-mar e queimaduras no pescoço. Aos dez anos, foi estuprada em uma praia de Salvador. Envergonhada, omitiu da família. Parou de freqüentar a 3.ª série porque se sentia “suja”. Fugiu de casa. Com 14 anos teve o primeiro filho.
Conhecidas como “pisteiras”, há mulheres que se arriscam à beira das vias movimentadas. Fazem ponto em postos de gasolina. Vendem minutos de prazer dentro das cabines e podem ser companheiras de viagem. Concentram-se em estradas de tráfego intenso, próximas às regiões carentes e com escassas oportunidades de trabalho. Muitas são menores de idade. “São empurradas para o acostamento da miséria”. Uma delas, após o primeiro programa, comprou uma calça jeans. “Eu me senti poderosa quando saí da loja com o pacote debaixo do braço”.
Em sua última matéria, a revista “Época” aborda a situação das mulheres prostituídas na região garimpeira. Uma das mulheres, cafetina, na reportagem afirma: ”No mundo, a gente vale o que tem. Quem aprende isso encontra a felicidade”. Para ela, menina que dá lucro é aquela que tem amor pelo ouro e pela liberdade. De cinco em cinco meses, excursiona de ônibus pela região em busca de novas atrações, pois casa cheia é ouro no cofre. Em território garimpeiro, a iniciação sexual é precoce. Mal menstruam, as garotas são consideradas prontas para o sexo. Sucumbem às regras e à falta de perspectivas.
A revista conclui que é um mundo complexo, habitado por mulheres que cumprem papéis variados. Não existe a prostituta universal e previsível, capaz de caber num verbete.
Gilberto Dimenstein, no livro “Meninas da Noite”, aborda, também, a prostituição na área indígena que, segundo o líder Antônio Apurinã, de Rio Branco, é alarmante. Tentava, em 1992, o líder da UNI (União das Nações Indígenas), Apurinã, que a FUNAI impedisse a entrada dos marreteiros nas tribos, pois transformaram, bem como os garimpeiros e soldados, o sexo, tão natural entre a comunidade, em troca de cachaça, remédios, roupas e comidas. Em Manaus, segundo Dimenstein, em conversa com o coordenador do CIMI (Conselho Indigenista Missionário) Michael Feeney, marreteiros e soldados, espalhados pelos quartéis da Amazônia, são os responsáveis pelos ataques às mulheres e meninas. O médico e antropólogo Antonio Maria de Souza, pesquisador do Museu Emílio Goeldi, de Belém, que passou boa parte de sua vida visitando as tribos da Amazônia, obteve dezenas de depoimentos sobre curras de meninas praticadas por soldados em São Gabriel da Cachoeira, no alto Rio Negro. Um grupo de homens (em geral, recrutas de folga) pegava uma indígena, geralmente jovem, arrastava para um lugar ermo e praticava “a geral”, ou seja, uma curra. Testemunha do médico é o índio Gabriel Gentil: “Eu vi com meus olhos como uma mocinha chamada Larita, de 18 anos de idade, foi agarrada por 11 recrutas brancos do Exército. Eu os vi trepando em cima dela e se satisfazendo no corpo da moça durante a noite: desde as 8hs até às 3hs da madrugada”. O comandante do 5. º Batalhão Especial de Fronteiras do Exército de São Gabriel da Cachoeira, coronel Francisco Abrão comenta o fato: “São as índias que tentam estuprar meus soldados quando estão no cio. Eu tenho que segurar meus soldados, porque eles não podem se aproveitar dessa deficiência”.
Relatório do Serviço à Mulher Marginalizada apresenta, na cidade de São Paulo, a realidade das mulheres e adolescentes pobres que vivem na rua e albergues, também em hotéis e pensões que as acolhem exclusivamente para atividades de prostituição:
- São provenientes de famílias em situação de miséria, desestruturadas, com abandono de filhos e as meninas encontram na prostituição um meio para ganhar o sustento. Algumas mulheres já fazem parte da segunda ou terceira geração de mães prostituídas.
- Um grande número delas sofreu violência sexual por parte de familiares, pessoas próximas ou nos locais onde trabalhavam como domésticas.
Iniciaram a prostituição na puberdade e adolescência, provocando distúrbios no seu desenvolvimento afetivo-emocional e obstáculos no aprendizado escolar básico e habilidades profissionais; são em sua maioria analfabetas ou semi-alfabetizadas.
- São rejeitadas socialmente pela atividade de prostituição e assimilaram de forma profunda os preconceitos e desvalorização social, fatores que agravam as dificuldades de procura e entrada no mercado de trabalho.
- Em situação de abandono, são submetidas e exploradas por mulheres e homens que vivem da prostituição (cafetões) e traficantes de drogas. Envolvidas nessas situações, são constantemente presas e vítimas de abusos e violência policial.
- Mulheres adolescentes, usuárias de drogas, principalmente álcool e crack, utilizam-se da prostituição para conseguir dinheiro para as drogas.
- Apresentam alta incidência de doenças, incluindo-se alcoolismo e dependência de crack.”
De acordo com informações do Centro Feminista de Estudo e Assessoria – Cfêmea -, as regiões brasileiras, no que diz respeito à exploração sexual de crianças e adolescentes, possuem algumas características:
No NORTE, os garimpos propiciam as formas mais violentas de exploração sexual que incluem cárcere privado, venda e tráfico de crianças e adolescentes, leilões de meninas virgens, mutilações, desaparecimentos e turismo sexual portuário e de fronteiras.
No CENTRO-OESTE, prevalece a exploração sexual em prostíbulos nas regiões de fronteira e rota de narcotráfico, redes de prostíbulos fechados, leilão de virgens.
No SUL, predomina a exploração de meninos e meninas de rua, prostituição nas estradas, exploração de crianças pelo narcotráfico e denúncias de tráfico de crianças.
No NORDESTE, prevalece o turismo sexual, com uma rede organizada de aliciamento que inclui agências de turismo nacionais e internacionais, hotéis, taxistas e comércio de pornografia, tráfico de menores para países estrangeiros. Fenômeno recente na região é a descentralização da exploração comercial de menores que começa a se deslocar do litoral para o sertão.
No SUDESTE, acentuam-se o pornoturismo e a exploração sexual comercial de meninas e meninos de rua, nas estradas e prostíbulos, com regime de cárcere privado.
Relativo ao turismo do sexo, o jornal “Folha de São Paulo”, em matéria de 14/09/97 – 3 – Cotidiano -, “Pantanal entra na rota do turismo do sexo”, abordou pesquisa inédita realizada pelo Instituto Brasileiro de Inovações em Saúde Social – Ibiss - com o apoio do Ministério da Justiça, Unicef e do governo estadual do Mato Grosso do Sul, mapeando e identificando 65 pontos de prostituição em seis cidades da região pantaneira localizada dentro dos limites do Estado. Esse turismo é movimentado por pescadores e turistas vindos principalmente de São Paulo.
A prostituição acontece em boates, “whiskeria”, ranchos. As boates empregam mais de cem garotas de programa vindas de São Paulo, Goiás, Paraná, Minas Gerais e até do Paraguai e do Chile.
Na cidade de Coxim, por exemplo, a prostituição praticamente dobra durante a realização dos festivais de pesca na cidade e a pobreza faz com que alguns pais até ofereçam as filhas.
Conforme matéria da revista “Maria Maria” – págs. 40, 41 e 42, abordando o livro “Meninas do Porto”, de autoria de Maria Tereza Verardo, Márcia S. Farah Reis e Rosângela M. Vieira, fruto de trabalho junto às meninas do porto de Santos, entre 11 a 17 anos, essas meninas já vivenciaram muitas mortes. Foi a morte familiar, quando foram abusadas sexualmente em casa. Foi a morte social, quando perceberam que suas famílias estavam à margem da sociedade e dos padrões de consumo. Foi a morte dos modelos de beleza, quando descobriram que não se enquadravam no paradigma estético difundido pela mídia. E, na rua, essas meninas encontram mais mortes.
A ONU, em matéria publicada no jornal “Estado de São Paulo” – Caderno A – pág. 9 – 12/12/01, alerta para a existência de 100 mil crianças e mulheres sendo exploradas sexualmente no Brasil. A informação faz parte do relatório “Lucrando com o Abuso”, publicado pela Unicef. O estudo indica a situação brasileira como uma das piores no mundo, sendo superada apenas pelos Estados Unidos, pela Índia e pela Tailândia.
Segundo a Unicef, o problema está concentrado nas cidades de Salvador, Recife, Fortaleza e Manaus e a dificuldade para combater essa prática decorre da falta de leis. Outro fator que contribui para o problema é o turismo sexual principalmente nas capitais do Nordeste brasileiro. Cerca de 14% das crianças e das mulheres exploradas sexualmente no País fazem parte desse mercado.
Entre os principais motivos da exploração sexual comercial, encontramos no relatório: pobreza, discriminação de gênero, guerras, crime organizado, globalização, ambição, tradições e crenças, disfunções familiares e o tráfico de drogas. Crianças exploradas sexualmente sofrem danos – sexuais, físicos e emocionais – que duram a vida toda ou resultam em morte precoce.
As crianças que sofrem abusos, mas conseguem escapar do comércio sexual – que são a minoria -, enfrentam o preconceito da sociedade, a rejeição da família, vergonha, medo e a perda das perspectivas no futuro.
A educação é vital para prevenir a exploração sexual de crianças: fortalece a criança para que se proteja. Além disso, as escolas podem ensinar a criança a evitar situações de alto risco.
Conclui o relatório que a exploração sexual comercial de crianças é um flagelo clandestino, por isso a grande dificuldade de se conseguir estatísticas precisas. A quantidade exata de crianças exploradas sexualmente nunca chega às autoridades governamentais, porque as crianças são negociadas por meio de rede subterrânea de traficantes de crianças. Em muitos países, esse problema nem sequer é reconhecido. Estima-se em aproximadamente um milhão o número de crianças – na sua maioria meninas – que entram para o comércio multibilionário do sexo a cada ano no mundo.
Marlene Vaz, socióloga e pesquisadora da Unicef, em entrevista aos Cadernos do CEAS em 1996, relata que, uma vez, em Aracaju, conseguiu levar as meninas para um exame ginecológico. Os cafetões, quando descobriram que ela era pesquisadora, tentaram agredi-la. Após tê-los convencido a entrar no local onde as meninas estavam, constatou a grande mudança com relação ao ambiente sofisticado da noite anterior, onde havia ocorrido um strip-tease. Elas estavam confinadas num lugar de chão de terra batida, algumas de shortinho e camiseta, outras só de calcinha e sutiã, drogadas, desgrenhadas, todas comendo de mão numa vasilha semelhante a um cocho, como se dá de comer aos porcos. Vinha um cachorro e tentava abocanhar a carne – e uma das meninas o empurrava com a perna, sonolentamente, imersa naquela letargia do dia seguinte, do sono, da bebedeira, das drogas. Contou isso para mostrar a diferença do que é a noite, na presença dos clientes, e o dia seguinte.
Segundo Marlene, a maioria não gosta de da vida que leva. Há pouquíssimas que dizem que não querem sair porque já se acostumaram. O mais comum é a falta de perspectiva, de qualificação, de conhecimento de outra vida. Num ou outro caso, são infelizes. Ao serem entrevistadas, terminam muito fragilizadas e acabam chorando.
A exploração sexual de crianças começou no passado. Narra-nos Guido Fonseca, em seu livro “História da Prostituição em São Paulo” – Editora Resenha Universitária – São Paulo – (1982), que, em 1788, José Arouche de Toledo Rendon, em análise feita das causas da decadência da Capitania de São Paulo chama a atenção para o triste espetáculo que se via nas ruas da cidade: inúmeras meninas esmolando e outras recebendo dinheiro em troca do corpo, muitas delas com menos de doze anos. Em sua maioria eram órfãs ou enjeitadas pelos pais.
No mesmo livro, cita-se que, em 1825, crianças enjeitadas ou filhas de militares enviados ao extremo sul do país para a defesa da Pátria e que não haviam retornado ou que voltavam inválidos, erravam pela cidade e acabavam sendo recolhidas por famílias paupérrimas que logo as atiravam à prostituição, almejando algum lucro.
Outras, filhas de prostitutas, simplesmente seguiam o caminho trilhado pela mãe e a maioria, talvez, embrenhava-se por esse caminho como única forma de tentar sair da miséria.
Ficou conhecido, ainda no século passado, o prostíbulo da Nhá Tuca, velha exploradora que reservava crianças do sexo feminino, filhas de prostitutas escravas, para a renovação de seu prostíbulo, substituindo as mais velhas ou as que tivessem morrido. Como narra Fonseca, aos domingos e dias santos, a cafetina mandava três ou quatro meninas, bem vestidas, para o centro, a fim de conquistar principalmente os acadêmicos, trazendo boa quantia em dinheiro para a sua alegria.
A idade, a beleza e a gravidez eram acenos para um comprador mal intencionado, como o anúncio que transcrevemos, publicado no jornal “A Lei” (São Paulo) em 01º / 03/ 1853: “Vende-se uma boa escrava crioula de quinze anos de idade, sem vícios, moléstia ou defeito; muito bonita e bem preta, a qual está grávida de quatro meses. Quem quiser comprá-la dirija-se à rua Tabatinga, na casa que fica em frente à rua Boa Morte”.
Uma outra situação, envolvendo menores, é narrada no livro “Abandonados” da Dra. Lia Junqueira: uma família chegou do Norte e logo as duas filhas, uma de 14, outra de 16 anos, foram levadas, junto com um irmão, ainda adolescente, para um prostíbulo na rua Aurora. Neste lugar, funcionava um esquema no qual o gerente fazia o papel de rufião. A mulher era praticamente loteada: o usuário determinava que parte do corpo ele queria usar. Da cintura para cima era um preço, da cintura para baixo, outro preço, corpo todo, outro preço. O irmão ficava no buraco da fechadura observando se o cliente estava usando só a parte pela qual pagara. Se o cliente tivesse pagado por uma parte e usasse outra, o dever do menino era chamar o gerente do hotel, que adicionaria mais uma quantia na conta.
No livro “Memória da Morte, Memória da Exclusão”, Francisca E. S. Severino entrevista uma menina que, com dez anos, foi violentada pelo irmão e essa situação permaneceu por um tempo. Para proteger-se, a menina vestia calças compridas uma por cima da outra. A mãe não acreditou na história.
Maria Cecília de Souza Minayo, que prefacia o livro “O Corpo na Rua e o Corpo da Rua” de Romeu Gomes, afirma que é preciso exorcizar o horror que é destruir impunemente corpos, sonhos e vidas tangidos pela fragilidade e pela miséria.
A exploração sexual é um grave atentado aos direitos das crianças e dos adolescentes. Ela se caracteriza pelo uso sexual com fins de lucro, seja levando-os a manter relações sexuais com adultos ou adolescentes mais velhos, seja utilizando-os para a produção de materiais pornográficos, como revistas, fotografias, filmes, vídeos e sites da Internet. Outra forma de exploração é o tráfico, isto é, levar crianças e/ou adolescentes para outras cidades, estados ou países, a fim de servirem a propósitos sexuais.
Essa situação tem raízes na exploração do ser humano. São os filhos da promiscuidade gerados pela miséria, pela droga, pela violência sexual infantil, pelo erotismo, pela coisificação da pessoa.
IV - O Tráfico de mulheres
O primeiro mercado em dinheiro ilegal do mundo é o tráfico de armamentos. O segundo é o tráfico de drogas seguido pelo tráfico de mulheres, crianças e adolescentes.
Segundo estimativas da Federação Internacional Helsinque de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), 75 mil brasileiras se prostituem atualmente nos países da União Européia (UE). Apenas 5% delas vendem o corpo por opção. As demais são vítimas de mercadores de escravas brancas.
As estimativas mostram que cerca de 15% das mulheres obrigadas a se prostituir na União Européia são aliciadas no Brasil, o que coloca o País como o maior exportador de mulheres para exploração sexual da América do Sul. Relatórios de ONGs e investigações da Interpol identificam as três principais rotas usadas pelos mercadores no País. Mulheres são aliciadas no Rio e embarcadas nos aeroportos Tom Jobim e de Guarulhos em São Paulo. Trajeto semelhante ao usado para levar as aliciadas no Nordeste: Salvador (BA), Fortaleza ( CE) e Recife (PE), que também usam como opção o aeroporto de Salvador. As duas rotas têm como destino Portugal e Espanha. Na terceira, as mulheres são levadas de Goiânia (GO) e Belém (PA) para o Suriname, de onde seguem para Amsterdã.
Para driblar as autoridades européias, os mercadores mudam as mulheres de cidade e de país. Assim elas passam por turistas, ficando de três a seis meses em cada região.
A revista “Isto É”, em reportagem sobre o tráfico de mulheres, publicada em 5 de junho de 1996, coloca uma outra situação: agências de viagem da Europa incluem em seus pacotes os serviços de garotas de programa brasileiras. Em muitos casos as mulheres são vendidas.
Segundo a jornalista Priscila Siqueira, em outubro de 1998, oito brasileiras, entre 19 e 34 anos, vítimas da rede internacional de prostituição em Israel, foram resgatadas da máfia russa. Elas haviam viajado três meses antes, achando que seriam empregadas como garçonetes ou como domésticas em Tel-Aviv.
Conforme testemunho de Kátia Regina Fernandes, 19 anos, ela pretendia comprar um apartamento para a família, com a promessa de ganhar US$ 1.500,00 por mês. Kátia vivia em cárcere com as colegas e só podiam sair na companhia de seguranças da máfia. Seus passaportes foram tomados assim que chegaram em Israel.
De acordo com Ana Lucia Furtado, 34 anos, ela era ameaçada pelos chefões da rede quando não atendia a 15 clientes por noite, mesmo que apresentassem doenças venéreas.
Ainda na matéria da Revista “Isto É”, citada acima, o maior agenciador de brasileiras, no Suriname, é Henk Kunath, de 54 anos. As mulheres que chegam à sua boate são obrigadas a assinar um documento concordando com seus métodos de trabalho. Assinam, realmente, mas muitas vezes sob coação, cercadas de seguranças truculentos. No contrato de quatro páginas oferecido por Kunah, as mulheres são proibidas de tudo e ele controla suas vidas. Passam a pagar, à boate, a alimentação e a moradia. Cumprem exigências absurdas, como não freqüentar lugares onde existam brasileiros, sob pena de multa. Se ficarem grávidas ou adquirirem alguma doença venérea, Kunath aplica mais multas, com valores definidos a seu critério. Até por ficarem menstruadas, as mulheres podem ser penalizadas.
As maiores queixas de maus tratos em boates ocorrem em Manila. O dono da casa, um filipino chamado Ricky, é acusado de espancar brasileiras.
As mulheres do Suriname também são usadas para transportar drogas para a Europa.
Muitas mulheres ganham no corpo um número tatuado, para facilitar a identificação.
Uma outra forma de atrair para a prostituição é o casamento por correio, que se dá através de avisos que aparecem nos jornais e revistas, por meio de algumas agências matrimoniais e atualmente também por Correio Eletrônico, solicitando jovens de boa presença que desejem se casar com estrangeiros. Na maioria destes casos, os supostos casamentos significam uma arapuca para introduzir as mulheres na prostituição. Nos casos em que de fato ocorre o matrimônio, as mulheres podem sofrer abuso ou serem maltratadas, e ao buscarem libertar-se desta relação, ficam no estrangeiro e muitas terminam na prostituição.
V – Violência sexual
O jornal “Folha de São Paulo” – caderno Folhateen de 27/07/98, em matéria sobre a violência sexual apresenta dados que merecem destaque:
Perfil do agressor: o pai é o principal violentador, seguido do padrasto, de ouros familiares e vizinhos.
Perfil da vítima: a maioria é menina e entre 11 e 15 anos.
Números da violência sexual doméstica: em São Paulo, de 1104 casos atendidos no IML em 1997, 41% dos agressores eram o pai, 21%, o padrasto e 14%, o tio.
Conseqüências do abuso: medo, depressão, sentimento de culpa, queda de auto-estima, distúrbios alimentares, tentativas de suicídio.
O que o agressor diz à vítima: “Foi você quem provocou”; “Se você contar para alguém, vou dizer que é mentira”; “Faço isso para agradar você e porque você gosta”; “Você é minha preferida. Gosto mais de você do que de outra mulher”; “Esse será nosso segredo”.
Em reportagem no jornal “Folha de São Paulo” – Caderno Campinas – C6, em 14/07/2000, encontramos que o Brasil registra cerca de 50 mil casos por ano de violência sexual contra crianças e adolescentes segundo o Ministério da Justiça.
De acordo com pesquisadores que trabalham com a questão da violência contra menores, a estimativa é que os números oficiais representam apenas 10% do total de casos. Isso porque grande parte das agressões ocorre na própria casa das vítimas. É uma violência que, em muitos casos, não é notificada. Os crimes mais comuns são de lesão corporal, maus-tratos, estupros, ameaças e sedução.
De 80 casos de violência sexual, analisados pela Clínica Psicanalítica da Violência do Rio de Janeiro, em parceria com a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), 74% aconteceram em casa e o agressor é o pai, o irmão ou o padrasto:
37% – próprio pai;
24% - padrastos;
13% - irmãos;
13% - vizinhos;
13% - outros.
Idade das vitimas:
05 a 09 anos – 50%;
00 a 04 anos – 20%;
10 a 14 anos – 16%;
15 a 19 anos – 14%.
Seqüelas mais comuns: desvios de comportamento, comprometimento do quadro emocional, distúrbios severos do sono, dificuldade de aprendizado, isolamento social, conduta regressiva e precocidade sexual.
Em pesquisa realizada no município de São Paulo (Saffioti, 1993/1995) sobre o abuso incestuoso: 71,5% dos agressores eram os próprios pais biológicos e 11,1% eram padrastos. Assim o pai e quem lhe faz as vezes compareceram com 82,6% do total de agressores sexuais incestuosos.
A CPI da Prostituição Infanto-Juvenil, realizada pela Câmara dos Deputados em 1993, apresentou a realidade da exploração sexual de crianças e adolescentes em diversos estados do país. Revelou que 50% dos estupros são incestuosos, o que implica uma transgressão do dever de proteção que se inscreve na família como instituição.
VI – Incesto
A revista “Maria Maria” do UNIFEM aborda o tema incesto. A maior parte do abuso contra as crianças acontece dentro da família e os agressores são, em geral, o próprio pai ou o padrasto.
A maioria das vítimas é mulher (93%) e cerca de 60% têm entre 08 e 15 anos, de acordo com um estudo de casos atendidos no Setor de Sexologia do Instituto Médico Legal de São Paulo, finalizado em 1996 pelo médico Carlos Alberto Diêgole, coordenador do PAVAS de São Paulo.
Uma das agravantes desse tipo de violência é que ela ocorre por um tempo prolongado. Levantamento conclusivo do CEARAS (Centro de Estudo e Atendimento Relativo ao Abuso Sexual da Universidade de São Paulo) mostra que cerca de 40% dos casos se estende por um período de um a cinco anos.
Adolescentes que são molestados desde criança costumam carregar uma culpa enorme. Por isso, na maioria das vezes se calam. “A vítima não sabe diferenciar se é abuso ou se o afeto é assim mesmo”, diz Cláudio Cohen, psicanalista coordenador do CEARAS. Com o tempo, percebe a diferença, mas o medo e a vergonha fazem com que não denuncie.
As seqüelas desse tipo de abuso são imprevisíveis e independem do fato de ter ou não ter havido estupro. As vítimas costumam se tornar adultos com forte tendência à depressão e à baixa auto-estima. Têm problemas emocionais, dificuldades de estabelecer relacionamentos e são muito inseguras.
Conclui a matéria, feita por Andréia Pires, com a colaboração de Rossana Maurelli: “Freqüente, o abuso intrafamiliar não é fácil de diagnosticar, mas pode ser minimizado se professores, médicos e cada um de nós estiver atento aos sinais de sofrimento de uma criança. A omissão, nesses casos, infelizmente, é comum. Um crime que é cúmplice da violência”.
O abuso sexual sempre deixa seqüelas. Se a ferida não for tratada, ela não cicatriza.
VII – Pedofilia
O I. º Congresso Mundial contra a Exploração Sexual de Crianças, realizado em Estocolmo de 27 a 31 de agosto de 96, estabeleceu um plano de ação coordenador entre os diferentes países e os serviços policiais internacionais, contudo as questões de fundo sobre o significado e as causas da pedofilia permaneceram em aberto.
O abuso sexual de crianças pode acontecer dentro do quadro familiar, no âmbito comunitário ou de forma internacional.
As conseqüências na infância são: insucesso escolar, perturbações do comportamento, fobias em relação à sexualidade, sexualização das relações (perversões, precocidade sexual). Na adolescência: dificuldades na identidade feminina, rejeição da imagem corporal, estado depressivo grave, perturbações alimentares (anorexia), delinqüência, prostituição e outras.
Por vezes, as más condições da vida familiar levam a criança desamparada a vagar pelas ruas à procura do pai ou da mãe imaginários, acabando por encontrá-los, dramaticamente, na pessoa do pedófilo. O ato dessas pessoas inesperadas deixa cicatrizes profundas na alma da criança sob a forma de culpa e de angústia.
A luta contra a violência sexual com as crianças passa necessariamente pela resposta a duas grandes questões:
1. Qual o lugar da criança na sociedade?
2. Qual a atitude dos adultos em relação às crianças?
Há duas maneiras de conviver no mundo com as crianças: criança como sujeito ou criança como objeto. A atitude do adulto pode comprometer seriamente a relação da criança consigo mesma, com o mundo e com os outros.
VIII – Prostituição e Gênero
No que diz respeito à relação de gênero e prostituição, a pedagoga Josefa Brendía Gómez (Pepita), do Centro Ecumênico de Serviço à Evangelização e Educação (Cesep), em entrevista à revista “Mulher Libertação” (Nov. /Dez. 97), coloca que a prostituição é um negócio que envolve muitos interesses. É o produto de uma concepção da sexualidade patriarcal que coloca os homens como sujeitos da mesma. No negócio da prostituição, a mulher é a peça mais frágil e responsabilizada. A trajetória de mulheres pobres prostituídas é uma trajetória de violência familiar.
De acordo com algumas pesquisas, a menina se prostitui depois de ter sido violentada, dentro de casa, pelo padrasto ou pelo próprio pai. Isso gera uma visão negativa do próprio corpo e uma carência afetiva. Há uma cadeia de responsabilidades que ficam ocultas quando a mulher é vista como a única responsável, a sem-vergonha. Assim, fica oculto o sistema que leva à marginalidade. Nesse sentido, a ação de apoio deveria se realizar no sentido das mulheres se fortalecerem, aumentando a sua auto-estima e a sua consciência, para que elas se reconheçam dentro de sua própria história. E esta é sempre carregada de culpa.
Conforme trabalho do Serviço à Mulher Marginalizada, muitos homens exercem sua sexualidade à custa da exploração e dominação de mulheres, meninas e meninos, fundamentando-se em premissas patriarcais: a crença de que o seu impulso sexual é incontrolável e requer desafogo. É parte desta mesma cultura patriarcal, que considera que a mulher é inferior ao homem e que sua sexualidade tem que estar a ser- viço do homem, a repetida frase: “a prostituição é a profissão mais antiga do mundo”.
IX – A mulher prostituída e a literatura
Em 1957, Cecília Meireles compôs o Oratório de Santa Maria Egipcíaca, espécie de poema coral, base provável para uma partitura, de fato composta em 1959 pelo compositor alemão Ernst Widmer. O poema revela uma continuidade no aproveitamento poético das narrativas cristãs medievais em sua obra. É baseado na lenda da pecadora arrependida de Alexandria, que, após uma vida de dissolução, decide partir em peregrinação expiatória até Jerusalém, e, no meio do caminho, paga a sua travessia com o próprio corpo.
Um certo abade, chamado Zósimo, havendo atravessado o Jordão, buscava ver se encontrava algum santo padre nesse deserto. Reparou numa criatura toda nua, o corpo negro e queimado pelo sol, e era Maria Egipcíaca. Assim que o viu, ela tentou se esconder, mas Zósimo a perseguiu correndo velozmente; ela lhe disse então: “Zósimo, por que me persegues? Perdoa-me, porque eu não ouso me mostrar a ti nem te fitar de frente, pois estou toda nua, mas dá-me teu manto para eu me cobrir e poder te olhar sem envergonhar-me”.Quando ele ouviu seu nome, foi tomado de surpresa e deu seu manto.
Contou-lhe que nascera do Egito e que, com doze anos, chegara a Alexandria, onde, por dezessete anos, não recusara a homem algum. Desejando ir a Jerusalém, para adorar a verdadeira cruz, pagou com seu corpo, aos marinheiros, a travessia. Chegando a Jerusalém, não conseguiu entrar na igreja, detendo-se na porta. Recolheu-se, pensou nos inúmeros pecados, chorou por eles e castigou o corpo com as mãos. No portal de uma igreja, viu a imagem da Virgem Maria e suplicou-lhe que a perdoasse, podendo adorar a verdadeira Cruz. Conseguiu entrar. Após haver adorado a Cruz, um homem lhe deu três moedas, com as quais comprou três pães. Ouviu então uma voz que dizia assim: “Se atravessas o Jordão, serás salva”. Atravessou, veio para o deserto, onde Zósimo a encontrou. Ali estava há quarenta e sete anos. Os três pães endureceram e lhe eram suficientes. Pediu-lhe a bênção e que na Páscoa trouxesse a Eucaristia.
O velho voltou ao seu mosteiro e, no ano seguinte, ao se aproximar o dia da Páscoa, tomou o corpo de Nosso Senhor e foi até a borda do rio. Percebeu que a mulher estava na outra margem. Ela fez o sinal-da-cruz e veio sobre a água ao deserto. No ano seguinte, ele voltou ao mesmo lugar e a encontrou morta. Disse a si próprio: “De bom grado a enterraria, se não temesse desagradá-la”. E enquanto refletia nisso, viu ao lado da cabeça da santa um escrito que continha estas palavras: “Zósimo, enterra o corpo de Maria, devolve o seu pó a terra, e roga por mim a Nosso Senhor, por ordem do qual abandonei este mundo no segundo dia das calendas de abril.” Havia morrido assim que comungara, no ano anterior. Enquanto o velho tentava cavar a terra, mas sem o conseguir, ele viu aproximar-se um leão muito plácido e lhe disse: “Esta santa me pediu que a enterrasse, e eu não posso cavar a terra, porque sou velho, e me faltam os instrumentos necessários. Tu, então, cava esta terra, arranha-a tanto que possamos enterrar o corpo santo.” E o leão começou logo a cavar e fez uma cova suficiente; e quando o corpo ali foi deposto, ele se retirou tão pacífico como um cordeiro.
Segundo Alexei Bueno, crítico literário, a primeira reformulação poética desta lenda é de Manuel Bandeira, incluída no seu livro “Ritmo Dissoluto”, de 1924:
Balada de Santa Maria Egipcíaca
Santa Maria Egipcíaca seguia
Em peregrinação à terra do Senhor.
Caía o crepúsculo, e era como um triste sorriso de mártir...
Santa Maria Egipcíaca chegou
À beira de um grande rio.
Era tão longe a outra margem!
E estava junto à ribanceira,
Num barco,
Um homem de olhar duro.
Santa Maria Egipcíaca rogou:
Leva-me à outra parte do rio.
Não tenho dinheiro. O Senhor te abençoe.
O homem duro fitou-a sem dó.
Caía o crepúsculo, e era como um triste sorriso de mártir...
-Não tenho dinheiro. O Senhor te abençoe.
Leva-me à outra parte.
O homem duro escarneceu: - Não tens dinheiro,
Mulher, mas tens corpo. Dá-me o teu corpo, e vou levar-te.
E fez um gesto. E a santa sorriu,
Na graça divina, ao gesto que ele fez.
Santa Maria Egipcíaca despiu
O manto, e entregou ao barqueiro
A santidade de sua nudez.
Mais de trinta anos depois, o mesmo tema reaparecia pelas mãos de Cecília Meireles e Rachel de Queiroz. Em 1958, Rachel de Queiroz publicou a peça “A beata Maria do Egito”, transposição para o ambiente nordestino da lenda medieval.
Com o “Oratório de Santa Maria Egipcíaca”, Cecília Meireles encerra a trilogia iniciada pelo “Pequeno Oratório de Santa Clara” (1955) e pelo “Romance de Santa Cecília” (1957).
De acordo com Bueno, o que impressiona Cecília é a santidade de Maria Egipcíaca. “Sem martírio, sem milagres, sem coisas extraordinárias a não ser a sua levitação sobre as águas, o leão final que lhe abre a cova no deserto e a cobre de terra, ela é a penitente. Seu problema é “interior”, seu “martírio”, seu “milagre” como sua glória decorrem nesse tempo oculto da alma, esse lugar oculto. A “voz” que no poema parece uma advertência divina pode ser o seu próprio instinto de santidade em luta com circunstâncias que lhe impõem um comportamento contraditório. E quando a pecadora Maria acorda energicamente para uma vida nova, acorda “por si mesma”, por sentir seus passos pesados e sua voz indigna.
Foi dentro dessa perspectiva, pois, que o poema se formou. Se ele por si não o deixa claro, a autora gostaria de acentuar aqui a sua intenção: o processo de transformação da pecadora. A clareza da sua consciência no Mal e no Bem. Sob o nítido céu do Egito, quase se vê desenhada como um triângulo essa vida singular, límpida e geométrica na sua edificação. Talvez mesmo o ápice desse triângulo não esteja no deserto, onde a penitência desliza em miragens de um passado que se desmoronou com certa felicidade melancólica. Talvez o ápice esteja na Terra Santa, na irrecusável conversão.”
Bueno comenta, neste estudo, que o sonho de adolescente de Cecília Meireles foi escrever um Oratório do Apóstolo São Paulo. Talvez a autora, portanto, ao escrever sobre Maria Egipcíaca, associe a sua conversão ao instante análogo na vida de São Paulo.
O poema:
Senhor, Senhor, Senhor, eu sou Maria,
aquela do porto de Alexandria,
que deste menina vivo dedicada
a amar quem passa pela cidade.
Como posso cantar para a Eternidade,
se minha vida é só para breves instantes?
E como poderei amar a Divindade
se apenas mortais têm sido os meus amantes?
Senhor, eu não sou romeira nem peregrina,
eu sou a que fugiu de casa, quando era menina,
a que era tão leve, tão bela e graciosa.
que nem a palmeira, que nem a brisa, que nem a rosa.
Cora Coralina escreveu o poema “Mulher da vida, minha irmã”, do qual transcrevo alguns versos:
De todos os tempos
De todos os povos
De todas as latitudes
Ela vem do fundo imemorial das idades
E carrega a carga pesada
Dos mais torpes sinônimos
Apelidos e apodos:
Mulher da zona
Mulher da rua
Mulher perdida
Mulher à-toa.
Pisadas, espezinhadas, ameaçadas,
Desprotegidas e exploradas
Ignoradas da lei, da justiça e do direito
Necessárias fisiologicamente
Indestrutíveis
Sobreviventes
Possuídas e infamadas sempre
Por aqueles que um dia
As lançaram na vida.
Mulher da vida
Minha irmã.
Marcadas, contaminadas
Escorchadas, discriminadas
Flor sombria, sementeira espinhal
Gerada nos viveiros da miséria
Da pobreza e do abandono
Enraizada em todos os quadrantes da terra
Na fragilidade de sua carne maculada
Esbarra às exigências impiedosas do macho.
Sem cobertura das leis
E sem proteção legal
Ela atravessa a vida ultrajada
E imprescindível, pisoteada, explorada
Nem a sociedade dispensa
Nem lhe reclama os direitos
Nem lhe dá proteção.
Mário Quintana escreve em versos uma “Pequena crônica policial”:
Jazia no chão, sem vida,
E estava toda pintada!
Nem a morte lhe emprestara
A sua grave beleza...
Com fria curiosidade,
Vinha gente espiar-lhe a cara,
As fundas marcas da idade,
Das canseiras, da bebida...
Triste da mulher perdida
Que um marinheiro esfaqueara!
Vieram uns homens de branco,
Foi levada ao necrotério.
E quando abriam, na mesa,
O seu corpo sem mistério,
Que linda e alegre menina
Entrou correndo no Céu?!
Lá continuou como era
Antes que o mundo lhe desse
A sua maldita sina:
Sem nada saber da vida,
De vícios ou de perigos,
Sem nada saber de nada...
Com a sua trança comprida,
Os seus sonhos de menina,
Os seus sapatos antigos!
De Ipatinga, Jorge Pousada escreveu sua homenagem à mulher prostituída:
Vem, mulher, vem sempre
Vem, mulher, com teus olhos
Vaga-lumes na noite.
Vem, mulher, com teus peitos,
Nascendo nos tecidos da vida.
Vem, mulher, com tua força,
Molhada pelos oceanos do mundo.
Vem, mulher, com tua dignidade,
Que não quer festa de um dia.
Vem, mulher, com tua vontade,
Abrindo caminho de respeito
Que cresceu contigo,
Para fazer da tua luta
Um cântico permanente
Para todos os dias.
Vem, mulher, vem sempre...
X – Perspectiva cristã
No episódio da mulher adúltera ( Jo 8, 1-11), Santo Agostinho reflete que Jesus não viola a Lei e, ao mesmo tempo, não quer que se perca o que Ele estava a buscar, porque tinha vindo para salvar o que estava perdido. Como podem cumprir a Lei e castigar aquela mulher uns pecadores? Vejam-se cada um a si mesmo, entre no seu interior e ponha-se na presença do tribunal do seu coração e de sua consciência e ver-se-á obrigado a confessar-se pecador.
Apenas dois ficam ali: a miserável e a Misericórdia. O Senhor crava o dardo da Sua justiça no coração dos judeus e, fazendo com que reconheçam os seus pecados, torna-os mais humanos. E condena o pecado da mulher, mas não a mulher, ao dizer “Vai e doravante não tornes a pecar”. Propõe-lhe um caminho novo.
Jesus, que é o Justo, não condena; ao contrário, aqueles, que são pecadores, ditam sentença de morte.
Isaías de Gaza apresenta a seguinte reflexão: “Julgar-se primeiramente a si mesmo produz humildade. Julga-te a ti mesmo, isso te produzirá humildade. Renuncia com humildade à tua própria vontade diante do teu próximo. Não julgar é ter caridade, e ser indulgente consiste em não pensar nada mau contra o teu próximo”.
No Antigo Testamento, no Livro de Josué (2,14. 6,22), encontramos: E os homens disseram-lhe: A nossa vida responderá pela vossa, se denunciardes a nossa missão; e quando Josué nos der a terra, usaremos de misericórdia e fidelidade para contigo. E ainda: Josué disse aos dois homens que haviam espionado a terra: “Entrai na casa da meretriz e fazei essa mulher sair de lá com tudo que lhe pertence, conforme lhe jurastes”.
De todo povo de Jericó, somente a meretriz Raab foi preservada, porque somente ela entendeu que aqueles homens eram enviados por Deus e os acolheu. Ser testemunha de Deus não quer dizer que somos perfeitos. Testemunha é aquele que experimenta a misericórdia de Deus.
E em Mateus 21, 31 – 32: “Em verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no Reino de Deus. Porque veio a vós João, no caminho da justiça, e não crestes nele. Os publicanos, porém, e as meretrizes creram nele. E vós, vendo isto, nem assim vos arrependestes depois, crendo nele”.
Jon Sobrino, de San Salvador, em reflexão sobre “A Igreja Samaritana e o Princípio da Misericórdia”, destaca que uma Igreja de verdade é, antes de tudo, uma Igreja que se parece com Jesus e o princípio mais forte da vida de Jesus é a misericórdia.
A misericórdia é uma reação diante do sofrimento, que chega às entranhas e ao coração. A misericórdia é uma reação diante do sofrimento alheio para erradicá-lo.
O princípio da misericórdia é sentar-se à mesa com os marginalizados. Quem exercita a misericórdia será salvo. Seremos julgados de acordo com a misericórdia.
Na origem do processo de salvação está a ação amorosa de Deus. Ele viu a opressão de seu povo no Egito, ouviu suas queixas contra os opressores, fixou-se em seus sofrimentos e os conduziu à libertação (Ex. 3). Deus escuta os clamores do povo que sofre e, por essa razão, decide empreender ação libertadora. A essa ação de amor chamamos de misericórdia.
A parábola do “Bom Samaritano” demonstra que ele é movido pela misericórdia e a misericórdia supõe, portanto, a disponibilidade de ser chamado Samaritano.
Por ser misericordioso, não por ser um liberal, Jesus antepõe o coração à observância do sábado ao homem de mão seca.
O exercício da misericórdia é que põe a Igreja fora de si mesma e em um lugar bem preciso: ali onde acontece o sofrimento humano, ali onde se escutam os clamores dos humanos.
Quando a Igreja sai de si mesmo para ir ao encontro dos que se encontram feridos, então ela se descentraliza realmente e, assim, se assemelha a Jesus Cristo. Deve oferecer aos pobres a esperança do Reino de Deus e lançá-los a construir esse Reino.
Praticar a misericórdia é, também, tocar os ídolos, os deuses esquecidos, que não estão superados, que seguem bem presentes, apesar de encobertos.
A Diocese de Jundiaí – SP - pronuncia-se também sobre o assunto. Para o Bispo Diocesano, Dom Amaury Castanho, a Pastoral da Mulher deve ser evangelizadora e libertadora, planejada e permanente, levando as mulheres prostituídas ao encontro consigo mesmas e com a própria dignidade explorada. Encontro com a Sociedade, com Deus e a Igreja. Dom Roberto Pinarello de Almeida, Bispo Emérito, comenta que “é a pastoral da paciência, da espera, do sorriso, da mão que se estende e que oferece. É a pastoral da fé e esperança nas energias escondidas dentro de um coração machucado e de uma vida crucificada. É a pastoral da inconformação diante das injustiças e da pior das escravidões, aquela que escravizando o corpo escraviza o espírito”. Lembra que Jesus disse à mulher: “Teus pecados estão perdoados... Tua fé te salvou. Vai em paz!” (Lc. 7, 48).
Para Mons. Joaquim Justino Carreira, primeiro padre na Diocese a trabalhar com as mulheres prostituídas, é necessário aprender com Cristo, o Bom Pastor, acolhendo e mesmo indo atrás da ovelha que está perdida, sozinha, que se sente desprezada, julgada, explorada, evitando julgamentos e amando, ou seja, fazendo o que é necessário para que todos se encontrem com a dignidade que só nos vem da parte de Deus. “Estejamos conscientes do quanto Deus nos ama e se, ao socorrermos a ovelha perdida e a colocarmos nos ombros, ela, sem entender, se rebelar e fizer escorrer sobre nós seus excrementos ou o pus de suas feridas, não desistamos e nem nos assustemos, pois o Bom Pastor dá a vida por suas ovelhas; o Bom Pastor preocupa-se com o bem das ovelhas e o mau pastor preocupa-se com o seu próprio bem”, diz ele.
Quanto ao trabalho de promoção social das mulheres, Mons. Carreira considera que ele surge como testemunho de um duplo amor: amor ao Mestre, de pés cobertos de beijos, na madrugada da Ressurreição, e amor fraterno que liberta do apedrejamento moral as criaturas atiradas no “trottoir” pela desventura da própria história ou segregadas do convívio pelo puritanismo preconceituoso.
Pe. Venilton Calheiros, pároco da Catedral Nossa Senhora do Desterro, é bastante claro: aquele que olha com descrença a irmã excluída, que traz em sua face o rosto desfigurado do Crucificado, não tem fé, pois não consegue enxergar, atrás da cruz, a luz da Ressurreição.
XI – O trabalho de inclusão
O frei franciscano Antônio Moser, doutor em teologia moral e diretor presidente da Vozes, em seu último livro: “O Enigma da Esfinge – A Sexualidade”, cujo tema central é o homossexualismo, tece considerações que são fundamentais para o convívio com qualquer grupo de excluídos:
“Venha, vamos caminhar juntos, olhar com os olhos do Cristo, vamos ver até onde podemos chegar. (...) Vamos aceitar as pessoas como são, como ponto de partida, não como ponto de chegada. (...) Independentemente do que mudar nessa travessia, elas deverão sempre ser recebidas por um espírito de acolhida e de compreensão.” E ainda: “ Aceitar a pessoa (...) como é significa ir ao encontro dela, disposto a mais ouvir do que falar, mais aprender do que ensinar. Nesse contexto convém ter claro que só ouve direito quem se liberta dos preconceitos; e só se liberta dos preconceitos quem é capaz de restituir a palavra ao silenciado.”
Na caminhada com as mulheres prostituídas, há dificuldades: de início, a dúvida de que alguém, sem segundas intenções, coloque-se ao seu lado. A reconstrução, a partir de tantas catástrofes, não é simples. O essencial, portanto, é fortalecê-la, no amor, para que, sentindo-se gente, recupere o direito ao livre arbítrio que lhe foi negado. Esse fortalecimento faz-se, prioritariamente, na iniciação da plenitude da vida cristã, a partir da reflexão sobre a Palavra de Deus. Apenas a Palavra pode libertar uma pessoa de suas desgraças. O tempo para esse fortalecimento e para essa libertação não é nosso, o tempo é de Deus: nós nos colocamos a serviço e a obra é dEle. Se desejarmos ver os frutos de nosso trabalho, estaremos apenas em busca de nós mesmos.
Aquele que se dispõe a trabalhar com mulheres prostituídas deve, inicialmente, ver-se, tirar todas as máscaras e reconhecer suas misérias. Todos nós somos capazes dos mesmos atos. Ninguém é bom, somente Deus é bom. Colocar-se em cima da calçada e de lá “observar” mulheres na sarjeta é o primeiro passo para fracassar na experiência da misericórdia, além de aumentar, nas excluídas, a dor da humilhação. Escandalizar-se é julgar e condenar o outro.
Li, em um dos exemplares do boletim “Mulher da vida, é preciso falar”, da Pastoral da Mulher de Lajes, o seguinte:
Agora é preciso
reiniciar com a mesma
paciência antiga.
Se não conseguirmos
o almejado, chegaremos
um dia diante de Deus
dizendo: “Eu não desisti,
tentei, tentei, tentei...”
Diocese de Jundiaí – SP
Iniciada, em 1982, a Pastoral da Mulher na Diocese de Jundiaí – SP, atua da seguinte maneira:
Evangelização
Proclamação da Palavra, reflexão, cânticos e oração, às quartas-feiras, das 18h30 às 20h00, em sala da Catedral Nossa Senhora do Desterro.
Promoção social
Através da ONG, Sociedade Maria de Mágdala, fundada em 1994, que administra duas escolas:
- Escola Maria de Mágdala I – Rua Senador Fonseca, 596.
Destinada às mulheres prostituídas e a outras mulheres ligadas a ela.
Cursos: artesanato, confecção, cabeleireiro, quitutes, alfabetização, projeto integral (preparação profissional para serviços domésticos em parceria com a Pastoral da Criança).
- Escola Maria de Mágdala II – Rua Senador Fonseca, 517.
Destinada a crianças e adolescentes, filhos das participantes da Escola I.
Cursos: reforço escolar, informática, dança, artesanato, natação (em parceria com a Escola Superior de Educação Física).
A ONG possui ainda, para manutenção das escolas (além da contribuição de empresários e de subvenção anual da Prefeitura Municipal), Sebo e Brechó.
Maiores informações pelo telefone: (11) 4522-4970 com Profa. Anna Aparecida Osti Geromel(Coord. Diocesana da Pastoral) ou Rosemary A. Gentil Ormenesi (Coord. Administrativa das Escolas). E-mail: mariademagdala@uol.com.br
XII – Conclusão
Para quem se sente chamado a trabalhar com mulheres prostituídas, a melhor preparação está no Hino à Caridade ( I Coríntios 13, 1 – 8. 13):
Ainda que eu falasse a línguas,
as dos homem e as dos anjos,
se eu não tivesse a caridade,
seria como um bronze que soa
ou como um címbalo que tine.
Ainda que eu tivesse o dom da profecia,
o conhecimento de todos os mistérios
e de toda a ciência,
ainda que eu tivesse toda a fé,
a ponto de transportar montanhas,
se não tivesse a caridade,
eu nada seria.
Ainda que eu distribuísse
todos os meus bens aos famintos,
ainda que entregasse
o meu corpo às chamas,
se não tivesse a caridade,
isso nada me adiantaria.
A caridade é paciente,
a caridade é prestativa,
não é invejosa, não se ostenta,
não se incha de orgulho.
Nada faz de inconveniente,
não procura o seu próprio interesse,
não se irrita, não guarda rancor.
Não se alegra com a injustiça,
mas se regozija com a verdade.
Tudo desculpa, tudo crê,
tudo espera, tudo suporta.
A caridade jamais passará.
Quanto às profecias, desaparecerão.
Quanto às línguas, cessarão.
Quanto à ciência, também desaparecerá.(...)
Agora, portanto, permanecem fé,
esperança, caridade,
estas três coisas.
A maior delas, porém, é a caridade.”
Resumindo um pouco a realidade da mulher prostituída em situação de pobreza, ousei escrever o rap, cuja letra segue abaixo, gravado pela cantora jundiaiense Clarina:
Guerreiras
Mulheres diversas, dispersas, perdidas,
No poste, no quarto, no vácuo sem vida,
Mulheres fantasmas, no giro da noite,
Na volta do brinco, na pedra que brilha,
A boca vermelha, os olhos de estrela,
Cabelos de sol, carícias vendidas,
Mulheres diversas, dispersas, perdidas,
De alcovas e açoites, a dama da noite.
Da terra e do porto,
Garimpo, naufrágio,
Que é Cinderela no cabaré.
Mulheres diversas, dispersas, perdidas,
Mulheres que são, que estão, que não ficam,
Mas levam no sonho um pouco de tudo.
Mulheres guerreiras, guerreiras do sangue
Tirado por dentro, entranhas profundas,
Do corpo e da alma, o pai, o padrasto,
O irmão, o vizinho, o amante, o bagaço.
Mulheres diversas, dispersas, perdidas.
Mulheres guerreiras em meio à miséria,
Meninas do nada, desfeitas de tudo.
No esgoto que escorre, um barco profundo.
Mulheres guerreiras, o pó e a pedra,
A cola e a fumaça adormecem a luta.
Relutam, insistem, não podem ficar.
Mulheres diversas, dispersas, perdidas,
Mulheres guerreiras, sem eira, nem beira.
Mulheres diversas, dispersas, perdidas,
Mulheres guerreiras, do corpo e da alma,
Ressuscitarão, ressuscitarão...
A prostituição de menores em Natal deu um salto espantoso nos últimos quatro anos. De 2002 para 2005, a estatística só subiu, passando, nesse intervalo, de 22 para 130 casos, segundo registro da Delegacia da Criança e do Adolescente. Um aumento de 500%, muito embora a gravidade da questão não tenha se dado na mesma escala, — há sempre que se considerar a subnotificação, principalmente nos primeiros anos. Nas ruas, entretanto, é visível o quanto é difícil contar os jovens se prostituindo.
A estatística é referente às ocorrências e denúncias registradas na Delegacia da Criança e do Adolescente. O grande e gradativo aumento nos registros é atribuído, em grande parte, à maior divulgação do telefone 0800 para denúncia. O promotor de Defesa da Criança e do Adolescente, Manoel Onofre de Souza Neto, diz que principalmente em 2004 houve um trabalho intenso de divulgação desse telefone.
“Naquele ano foi realizada uma campanha grande de divulgação. Esse crescimento reflete muito a atuação da comunidade, em resposta à campanha. Nos anos anteriores aconteciam muitos casos também, mas como não se denunciava ninguém ficava sabendo. E ainda hoje há subnotificação”, disse Onofre.
O promotor, no entanto, crê que o turismo sexual infanto-juvenil esteja mesmo crescendo na cidade. Um dos fatores determinantes, segundo ele, é a questão sócio-cultural. O turismo também contribui. Com o maior fluxo de pessoas e de dinheiro, a tendência, segundo Onofre, é haver um aumento na oferta. O delegado da Delegacia da Criança e do Adolescente, Marcelo Marcos Alves de Lima, confirma a relação das denúncias e ocorrências com o turismo. “Existem muitos casos em que há essa ligação”, disse.
Segundo Manoel Onofre, Ponta Negra, Redinha e a Praia do Meio são pontos onde é possível flagrar meninas e também meninos — em número bem menor — se prostituindo. O cruzamento da avenida da Integração com a Prudente de Morais é outro ponto. Inclusive, em 2004 a TRIBUNA DO NORTE chegou a flagrar essas meninas em ação durante todo um dia.
O problema, segundo o promotor de Defesa da Criança e do Adolescente, é que o município não dispõe de políticas públicas para combater o problema. “A ação da Prefeitura é de abordagem, policialesca, portanto insuficiente e ineficaz. De nada adianta tirar essas meninas das ruas, como é feito, sem ter um trabalho articulado com outros órgãos. É preciso dar apoio psicológico e gerar renda”, disse o promotor.
De acordo com Manoel Onofre, Natal tem seu Plano Municipal de Enfrentamento à Violência e Exploração Sexual Infanto-juvenil, mas infelizmente as diretrizes discutidas nunca saíram do papel. “Ele foi elaborado mas falta viabilizar. Nem o eixo que trata da análise da situação saiu. E ele é um dos mais importantes para as ações começarem a ser implementadas. Tudo começa desse ponto, pois primeiro é preciso saber quem e quantos são esses jovens, onde eles ficam e de onde vêm”.
Desde o início de 2005 que Onofre bate nessa tecla. No ano passado, ele fez críticas por ocasião da divulgação do Relatório da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, que incluiu 22 cidades do Rio Grande do Norte entre os 937 municípios brasileiros com problemas de exploração sexual infanto-juvenil. No relatório, Natal e Mossoró apareceram como os municípios com a pior situação. Na capital, a pesquisa detectou a existência de tráfico, turismo sexual, prostituição e pornografia de crianças e adolescentes para fins comerciais.
Ponta Negra é um dos pontos sem controle
Ao despontar como um dos principais pólos turísticos internacionais no Brasil, Natal também passou a fazer parte da rota mundial do sexo-turismo. E a cada ano, com o aumento do fluxo de visitantes de fora do País, cresce a quantidade de garotas de programa na cidade. Na alta estação, o número é ainda maior. Em um passeio pela avenida Erivan França, orla de Ponta Negra freqüentada maciçamente por estrangeiros, pode-se ver, em horários mais diversos, muitas mulheres em busca de clientes, preferencialmente gringos.
Há alguns estabelecimentos que funcionam como pontos certos, mas é possível encontrá-las no calçadão. Parte delas apela para roupas e gestos provocativos. No início da semana passada, à noite, a TRIBUNA DO NORTE esteve no local observando o movimento e conversando com transeuntes, ambulantes, taxistas e donos de quiosques. Também falou com três garotas de programa.
Um ambulante indicou um dos locais de concentração e nossa equipe foi até lá. No balcão do bar, de fato havia duas garotas de programa, cada uma acompanhada de um estrangeiro. Eles bebiam e conversavam, se entendendo bem no idioma estrangeiro. A impressão é de que já se conheciam antes.
Três garotas depois aparece-ram. Uma disse ter 26 anos e as outras, 20. Sem se identificar, a reportagem sentou junto à mesa em que elas estavam. Sem qualquer empecilho, as três falaram do esquema em Ponta Negra. Disseram, abertamente, que o interesse maior delas eram os gringos, “porque eles pagam bem”. Para o estrangeiro, o programa sai, no mínimo, por R$ 150, já para o brasileiro, o mínimo é R$ 80.
Elas contaram que entraram nessa vida porque precisam. Algumas disseram que pensam em deixar essa vida, assim que fizerem um “pé de meia”. As três confirmaram que existem meninas menor de idade fazendo programa na avenida Erivan França.
O que elas disseram está na estatística do Ministério do Turismo. Na semana passada, o órgão federal divulgou o seguinte dado: dos 1.514 destinos turísticos brasileiros, 398 têm esquemas de exploração sexual de crianças e adolescentes. Natal aparece no Nordeste, região que lidera o ranking de denúncias.
Violência também preocupa
As ocorrências e denúncias registradas na Delegacia da Criança e do Adolescente apontam um crescimento contínuo no número de crimes contra menores em Natal. De 2001 — ano em que a delegacia foi criada — para 2005, a estatística só cresceu, saltando de 276 para 751 casos. O crescimento, no entanto, não reflete exatamente o aumento real no número de casos de violência contra a criança e o adolescente, mas certamente tem relação com o trabalho de conscientização da população e de divulgação do 0800 (disk denúncia), realizado com mais intensidade a partir de 2004.
Este ano, o telefone para denúncia vai passar a ser difundido também nas escolas da rede municipal de ensino, ampliando ainda mais o alcance do trabalho. Um projeto de lei municipal, sancionado pelo prefeito Carlos Eduardo Alves e publicado no Diário Oficial do Município, determina que a direção das escolas fixem, dentro das salas de aula, o número telefônico, bem como outras informações que incentivem a denúncia de abusos cometidos contra menores.
O delegado da Delegacia da Criança e do Adolescente, Marcelo Marcos Alves de Lima, considera que a medida pode ajudar na punição dos criminosos. A tendência é o número de ocorrências aumentar.
A secretária municipal de Educação, Justina Iva, entende que a medida, nas escolas, pode inibir a prática de crimes. Para ela, o meio é importante para punir, mas o trabalho educativo de prevenção não pode ser esquecido. “O fator educativo é muito importante. Nós já fazemos um trabalho nesse sentido nas escolas e, agora em 2006, vamos estar ampliando”, disse a secretária.
De acordo com o delegado Marcelo Marcos Alves de Lima, os crimes contra a criança e o adolescente acontecem com maior freqüência nas camadas sociais mais carentes, mas eles estão presentes em todas as classes, incluindo aí os crimes de maus tratos e abuso sexual.
Pelas ocorrências registradas em 2005, os crimes de maus tratos são cometidos principalmente pelas mães. Depois, os pais, seguidos pelos padrastos. Já esses aparecem entre os primeiros na lista dos responsáveis por estupro. As crianças de 0 a 6 anos são as principais vítimas de maus tratos. As meninas entre 0 e 6 anos e 7 a 11 são, nessa ordem, as que mais sofrem abuso sexual.
Mundo secreto das prostitutas de luxo
2008-11-13
Sílvia Maia *
São mulheres bonitas de corpos esculturais e conhecimentos na alta sociedade. Além do dinheiro, muitas também procuram prazer: são prostitutas acompanhantes de luxo. Todas fazem parte de uma "pequena comunidade secreta" a ser investigada por um sociólogo português.
Bernardo Coelho trabalha no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) e em 2002 começou o trabalho de pesquisa para tentar perceber "as atracções no contexto das prostitutas acompanhantes e os seus clientes". Hoje vai apresentar alguns dos resultados da investigação na conferência "As regras da atracção", que se realiza na Culturgest, em Lisboa.
Deixou de lado as mulheres de rua, as que estão envolvidas em redes, as que trabalham pensando "quanto mais depressa despachar o cliente, melhor", para se centrar nas prostitutas acompanhantes.
Neste estudo, a precariedade e a vulnerabilidade da mulher que faz sexo em pensões ou no carro do cliente e a mulher que arrisca tudo, até ser vítima de violência, dão lugar a um mundo onde o "sexo fraco" se pode dar ao luxo de escolher quem atende.
Dinheiro é a motivação principal
Mas existem vários tipos de prostitutas acompanhantes: há as dos anúncios nos jornais, as dos sites na Internet e as das redes de contactos restritos. Em comum têm apenas a resposta à pergunta "o que as leva a fazer isto?": Dinheiro. E é o uso que lhe dão que faz a diferença.
"Algumas vêem a prostituição numa lógica da sobrevivência, porque dependem exclusivamente do que ganham e muitas vezes precisam do dinheiro para sustentar os filhos. Depois existe um outro grupo que pede valores muito mais elevados e que usa o dinheiro apenas para ter uma vida que consideram mais glamourosa e luxuosa", explica Bernardo Coelho, acrescentando que "usam o dinheiro para outros consumos, como ter um carro melhor, poder fazer viagens ou tratamentos em SPA´s".
Além dos bens materiais que conseguem ter com o dinheiro que ganham, estas mulheres têm prazer com a sua actividade, até porque "erotizam a própria prática da prostituição". No final dos encontros, sentem que foi "mais uma fantasia sexual cumprida".
Prostituição ultra-secreta
"É uma prostituição ultra secreta", reconhece Bernardo Coelho, que está a aprofundar a história de duas mulheres. Não têm anúncios nos jornais, nem deixam contactos em sites da Internet e, por isso, aceder a estas mulheres jovens e bonitas com corpos esculturais está ao alcançe de muito poucos, apesar de desejadas por muitos.
"A rede é completamente fechada, ninguém sabe que esta ou aquela mulher é uma prostituta nem quem são os homens que recorrem aos seus serviços", diz.
Só os homens com poder económico, que pertencem a classes sociais de algum estatuto, com profissões liberais ou de direcção conseguem ter a companhia destas prostitutas acompanhantes.
O investigador explica que este é um "mundo social restrito" onde circulam discretamente mulheres entre os 18 e os 35 anos, idade em que entram numa "fase de decadência, porque o corpo deixa de corresponder às expectativas que os homens querem".
Os seus atributos físicos, o uso que conseguem fazer do seu corpo, os conhecimentos linguísticos e até a possibilidade de poder viajar fazem subir o seu preço. "Claro que o corpo é o centro da capacidade de atracção. Quanto mais chamativos são os seus atributos, melhor".
Custa ter uma mulher destas?
E quanto custa ter uma mulher destas? "Os valores não são tangíveis", explica o sociólogo. O homem não deixa dinheiro na mesinha de cabeceira, nem as mulheres aceitam receber por um encontro. "Às vezes, eles podem pagar a renda da casa ou do carro, fazem transferências bancárias...".
Escolheram-nas para ter relações sexuais descomprometidas, para romper com relações rotineiras e poder simular a conquista sexual, mas muitos homens acabam por ficar dependentes delas. Os homens procuram-nas para afirmar a sua masculinidade, mas no final "têm medo de serem expostos e, por isso, aceitam as regras delas com alguma passividade. Existe um grande temor de se poder descobrir que, afinal, aquela mulher não é uma conquista, desvalorizando a sua masculinidade".
* Agência Lusa
Prostitutas de luxo da TV na mira da Polícia Federal
9 junho, 2010 por Edson José
Esta notíca está assustando muitas moças famosas por aí, e é claro, quem contratou os serviços delas também.
PF investiga prostituição de modelos e dançarinas de TV.
A Polícia Federal desmontou um esquema de prostituição que envolve modelos e dançarinas de TV que ganham cachês de até R$ 20 mil por programa.
Diálogos interceptados pela PF mostram a rede de prostituição de luxo, descoberta em uma operação de 2009, durante a operação Harém. A operação chegou a ser divulgada pela PF no ano passado, mas agora a Folha teve acesso às escutas que mostram detalhes do filão mais lucrativo da quadrilha: o das “famosas” da TV e de revistas. E também de seus principais clientes: políticos, empresários e jogadores de futebol.
Em uma ligação, uma famosa assistente de palco de TV relata a uma agenciadora detalhes do programa que lhe rendeu R$ 10 mil.
Em outra ligação, um agenciador diz que um governador está interessado em uma dançarina de um programa de TV. Outra aliciadora diz que não seria possível, pois ela estava ‘namorando um playboyzinho’.
Das 12 mulheres indicadas como testemunhas de acusação pelo Ministério Público, três aparecem nas telas da TV e duas já foram capa de revistas masculinas.
Operação Harém
De acordo com a PF, o esquema era liderado por Yzamak Amaro da Silva, conhecido como ‘Mazinho’, e Luiz Carlos Oliveira Machado, o ‘Luiz da Paulista’. Ao todo, 11 pessoas foram denunciadas à Justiça por quatro crimes ligados à exploração da prostituição, além de formação de quadrilha.
Segundo investigações da polícia, as mulheres mais conhecidas exigem programas em hotéis de luxo e determinam a posição da relação sexual, por exemplo, para se prostituírem. Um resort na República Dominicana envolvido no esquema criou um manual de conduta para as brasileiras que frequentam o hotel.
Aí fica a curiosidade, quem são as famosas dançarinas? Se descobrirem elas estão ferradas, para ser bem sincero gostaria de saber quem são, rs.
Matéria muito boa sobre prostituição com o Repórter Roberto Cabrini no SBT:
PF investiga prostituição de garotas de TV
Por noticiasdodireito
Esquema descoberto pela Polícia Federal pagava até R$ 20 mil para dançarinas e modelos se prostituírem
Escutas revelam que mulheres eram levadas inclusive para outros países onde realizavam programas sexuais
FLÁVIO FERREIRA
DE SÃO PAULO
O cliente do Paraná liga e diz que quer sair com “alguém consagrado”. A agenciadora cita os nomes de uma modelo, de uma dançarina de um programa de TV, de uma ex-capa de revista masculina. E lista os preços: R$ 6.000, R$ 4.000…
Em outra ligação, uma famosa assistente de palco de TV relata a uma agenciadora detalhes do programa que lhe rendeu R$ 10 mil.
Diálogos interceptados pela Polícia Federal mostram que uma rede de prostituição de luxo, descoberta em uma operação de 2009, intitulada Harém, cooptou modelos, atrizes e dançarinas de programas de TV, oferecendo cachês de até R$ 20 mil.
A Operação Harém chegou a ser divulgada pela PF no ano passado, mas agora a Folha teve acesso às escutas que mostram detalhes do filão mais lucrativo da quadrilha: o das “famosas” da TV e de revistas. E também de seus principais clientes: políticos, empresários e jogadores de futebol.
Em uma das gravações, um agenciador diz que um governador está interessado em uma dançarina de um programa de TV. Outra aliciadora diz que não seria possível, pois ela estava “namorando um playboyzinho”.
Em outra escuta, uma paulista que já posou várias vezes para revistas masculinas e é destaque de escolas de samba foi enviada à França pelo grupo para atender a um jogador de futebol francês. Ganhou R$ 6.000.
O preço mais alto discutido pelos agenciadores grampeados pelos agentes da Polícia Federal foi de cerca de R$ 20 mil. Eles negociaram uma a noite com uma mulher casada e com filhos.
Nas escutas, os aliciadores citam também muitas mulheres que consideram impossíveis ou difíceis de serem cooptadas pela rede de prostituição de luxo.
INVESTIGAÇÃO
Das 12 mulheres indicadas como testemunhas de acusação pelo Ministério Público, três frequentam as telas da TV e duas já foram capa de revistas masculinas.
O caso da modelo que foi para França foi usado nos relatórios da PF para comprovar que os aliciadores cometeram crimes de tráfico internacional de pessoas para exploração sexual.
De acordo com a PF, o esquema era liderado por Yzamak Amaro da Silva, conhecido como “Mazinho”, e Luiz Carlos Oliveira Machado, o “Luiz da Paulista”.
Ao todo, 11 pessoas foram denunciadas à Justiça por quatro crimes ligados à exploração da prostituição, além de formação de quadrilha. As penas podem chegar a 26 anos de prisão.
O processo criminal do caso está na fase de depoimento de testemunhas.
Como a prostituição não é crime, nem as garotas nem os clientes foram denunciados, e a Folha decidiu não publicar seus nomes.
Esquema tinha até um manual de conduta
DE SÃO PAULO
As escutas da Operação Harém mostram que a prostituição de luxo envolve regras, condutas e fetiches particulares.
As investigações da PF mostram que as mulheres mais conhecidas na mídia fazem exigências para se prostituírem, como: o encontro deve ser em um hotel de luxo, e a entrada deve ser pela garagem, ou a relação sexual deve ser “padrão”- aquelas que aceitam extravagâncias cobram preços extras.
Em um dos grampos da PF, uma aliciada “famosa” enviada à França fez uma declaração sobre os fetiches dos clientes. “Hoje é muito diferente de antigamente, pois antes as meninas deveriam ser lindas, mas agora elas têm que fazer algo bizarro, filme pornô, etc.”, disse ela.
RESORT
Um resort na República Dominicana envolvido no esquema criou um manual de conduta para as brasileiras enviadas ao hotel.
Elas recebiam o manual em português e inglês e tinham que assiná-lo para mostrar concordância com as regras. Uma delas dizia: “Não é permitido banho de sol de topless em público. Topless é obrigatório na piscina privativa do resort”.
Ocidente é menos liberal com relação a prostitutas
HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA
Para os dicionários, “homem público” é o indivíduo que desempenha altas funções no Estado. Já “mulher pública” significa “puta” mesmo. Mais do que preconceito de gênero, a diferença de tratamento revela também o fascínio exercido pela prostituição sobre a sociedade e, por extensão, o idioma.
Das 32 locuções com a palavra “mulher” registradas pelo “Houaiss”, 19 (60%) são um eufemismo para “marafona”. O mesmo dicionário, no verbete “meretriz”, traz nada menos que 121 sinônimos para o termo, sem pretender esgotá-los.
Se a profissão mais antiga do mundo é assim tão popular, como pode ser considerada crime? Ou, como colocou o comediante norte-americano George Dennis Carlin, “por que é ilegal vender algo que pode ser dado de graça totalmente dentro da lei?”
O tratamento jurídico dado às mulheres da vida varia bastante no espaço e no tempo. Há desde países islâmicos em que elas são condenadas à morte por dilapidação até algumas nações ocidentais, como Holanda, Alemanha, Suíça e Nova Zelândia, em que a atividade é legal e está regulamentada.
A grande maioria dos países ocidentais, contudo, adota uma posição menos liberal. Não chega a proibir uma pessoa de entregar-se por dinheiro, mas veda explorar comercialmente a libidinagem de terceiros. É nessa categoria que se inscrevem Brasil, França, Canadá e Dinamarca, entre outros.
As coisas ficam ainda mais confusas se analisarmos o tratamento dado à prostituição através da história. O primeiro erro seria imaginar que caminhamos de uma situação de total rejeição para uma de maior tolerância.
DEVER RELIGIOSO
Entre os antigos, vender o corpo chegou a ser um dever religioso. Esse hábito escandalizou o historiador grego Heródoto, que escreveu: “Vejamos agora o costume mais vergonhoso dos babilônios. É preciso que cada mulher do país, uma vez em sua vida [normalmente antes do casamento], se una a um homem estrangeiro no templo de Afrodite [é como Heródoto traduz Ishtar] (…) Quando uma mulher está sentada ali [nas cercanias do templo], tem de esperar para poder voltar a casa que um estrangeiro lhe tenha jogado dinheiro nos joelhos e se tenha unido a ela no interior do templo (…) A mulher não tem absolutamente o direito de recusar o homem, pois o dinheiro é sagrado. (…) As que são belas e têm um belo corpo podem voltar rapidamente para casa; mas as feias são obrigadas a ficar ali por muito tempo, sem poder satisfazer a lei. Algumas ficam lá por três ou quatro anos”.
O dinheiro arrecadado pelos templos era depois emprestado a juros, no que constitui a origem das primeiras casas bancárias.
A reação de Heródoto não significa que os gregos condenassem a venda do sexo. Muito pelo contrário, entre as grandes realizações de Sólon, o legendário legislador ateniense, é sempre citada a criação dos bordéis públicos a preços módicos. Atenienses viam a iniciativa como parte de sua democracia.
OUTRO LADO
Acusado diz que não atua mais com prostituição
DE SÃO PAULO
Agenciadores de prostituição luxo estão enviando brasileiras à África do Sul para atender clientes durante a Copa, segundo um dos réus da Operação Harém da PF.
Luiz Carlos Oliveira Machado, o “Luiz da Paulista”, apontado pela PF como um dos líderes do grupo de aliciadores descoberto pela PF, afirmou à Folha que atuou por 17 anos com agenciamento, mas deixou tal a atividade quatro anos anos antes de a PF iniciar a operação.
Machado disse que atualmente trabalha com investimentos em imóveis e comércio de bebidas, mas continua tomando conhecimento sobre as ações de agenciadores.
Ele diz que há cerca de 15 intermediadores em ação na prostituição de luxo, e eles já enviaram mais de 50 mulheres para a África do Sul. “Elas assinam contratos para trabalhar como recepcionistas, recebem US$ 500 por dia, mas é tudo fachada”, disse.
Segundo o acusado há grandes empresas que também contratam mulheres para acompanhar convidados e realizar programas sexuais com eles na Copa.
Segundo ele, não há provas de que ele tenha atuado como agenciador e ele foi grampeado porque aliciadores na ativa ligaram para ele pedindo informações.
Aleixo de Lelles, advogado do réu Yzamak Silva, disse que não há elementos no inquérito que provem que o acusado cometeu crimes.
FOCO
Assédio é frequente, afirma dançarina de televisão
AUDREY FURLANETO
DO RIO
Um homem ou mulher se aproxima e entrega um cartão de visitas com telefone. É a forma mais frequente de abordagem para tentar um “programa de luxo”, conta Nicole Bahls, uma das “panicats” (dançarinas de palco e personagens do “Pânico na TV!”, da Rede TV!).
Aos 24 anos e escalada para estampar a “Playboy” de agosto ou setembro, ela já recebeu “quatro ou cinco propostas” diretas ou feitas por “intermediários”.
“Alguém aborda e entrega um cartão. “Vou deixar meu cartão e você me liga.” Vai deixar cartão para quê, entende? Que relação é essa?”, questiona.
Ex-dançarina e atriz do “Pânico”, Regiane Brunnquell, 27, deixou o programa há cerca de um ano. Interpretava a personagem “Sandy Capetinha”, versão sexy e engraçada da cantora Sandy.
Formada em administração, ela conta que ouviu incontáveis propostas, mas, “por uma questão de postura”, nunca aceitou. “Já recebi umas do tipo: fui fazer evento e o filho de um governador mandou uma pessoa perguntar o que eu gostaria de jantar. E não: “Quanto é?” Essa coisa vulgarizada, não.”
Regiane deixou o “Pânico” na tentativa de ser apresentadora de um programa próprio, para adolescentes. Hoje, faz participações no SBT e em eventos a convite.
Para Nicole Bahls, as investidas e propostas são “o resultado de ter um trabalho de biquíni”. “As pessoas julgam. A exposição do corpo ainda não é uma coisa natural”, avalia.
“Uma vez, [a pergunta] foi bem direta: “Qual é o valor?”. Eu já tinha passado por uma situação, tinha ficado chocada e levei na brincadeira: “É um milhão!”. Também digo: “Quanto é que sua mãe está cobrando?’”
Ela conta que a maioria das propostas vem de empresários “que querem aparecer”. “Não vou citar nomes, né, amiga?”
Fonte: Folha de São Paulo
GAROTAS DE LUXO:
PRODUTO MADE IN FAMÍLIA
Arlete Gavranic
Psicóloga e Terapeuta Sexual
Dei uma entrevista para um jornal do Espírito Santo, falando sobre o nível sócio cultural elevado da maioria de garotas da prostituição de luxo e os fatores que estimulam essa busca e dificultam a saída, achei esse tema importante de ser colocado para vocês.
A prostituição é uma realidade presente no mundo todo, mas uma característica que vem chamando a atenção de pesquisadores sociais é uma mudança no perfil das garotas que vem fazendo programas em casas de prostituição de luxo nas grandes capitais do Brasil, em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Vitória, Curitiba, Florianópolis, entre outras, essa realidade esta chamando a atenção. O perfil das garotas que íam para a prostituição era de garotas de classes sociais economicamente menos favorecidas, às vezes garotas de uma classe média baixa, mas essas não eram a maioria. Mas as casas de “encontros” mudaram muito nos últimos anos, passaram a ser lugares bonitos, luxuosos, e o perfil das meninas que trabalham também mudou, hoje encontramos garotas bonitas, bem cuidadas, universitárias na sua grande maioria, e a mudança que mais tem chamado atenção é que elas são, na sua maioria, filhas de famílias de classe média a média alta! Isso mesmo, filhas de executivos, de profissionais liberais, de pequenos empresários, de um perfil de família muito diferenciado tanto culturalmente como na estabilidade financeira.
Mas o questionamento se dirige ao porquê essas garotas acabam buscando a prostituição?
Essa é uma reflexão muito interessante, pois nos remete a forma como estamos vivendo, os valores que alimentamos e as famílias. É certo que a humanidade se modernizou muito nos últimos 50 anos e que isso veio acompanhado de um novo hábito que para muitos já foi incorporado como necessidade, o de consumir. Alem disso, estamos no século do fast, tudo tem que ser para agora, não dá para esperar. Nós temos vivido esses padrões de consumo, desejo de status e observamos nas famílias de classe média para mais um desejo de proporcionar aos filhos todos os desejos como se isso evitasse sofrimento e frustrações e fizesse os pais serem mais queridos ou os filhos mais felizes. Erros existenciais, basta andar nos shoppings ou entrar em lojas de brinquedos e de eletrônicos e veremos pais alimentando pequenos tiranos em seu desejo de poder e sem nenhuma noção de valor ou de merecimento, tudo na vida tem uma relação custo-benefício, mas os pais dão presentes do carrinho ao computador ou ao jogo mais moderno, da canetinha a bolsa ou bota de griffe, sem data ou sem merecimento, e com isso ensinam a relação entre querer e ter sem o espaço da conquista, do esforço, do merecimento. E aí como podemos esperar que filhos (as) sigam suas vidas pessoais e profissionais com determinação e empenho em estudar, trabalhar, em crescer por mérito próprio? Isso leva tempo e implica em investimento, estudo, trabalho, suor, tem que esperar. semear, regar, para depois colher!
Esses valores familiares têm facilitado um enorme número de jovens que anseiam em conquistar sem esperar muito, e algumas grandes portas abertas no mundo das contravenções tornam-se sedutoras a esses jovens, aqui vou me deter a pensar na prostituição de luxo.
O perfil dessas garotas tende a ser de meninas de 18 a 25/ 27 anos, bonitas, magras, universitárias na grande maioria, talvez a metade delas seja de cidades próximas ou mais distantes e para estudar vieram morar sozinhas, outras moram com a família, mas todas costumam dizer que tem horário prolongado, pois fazem trabalhos (em geral se intitulam modelos) em festas, eventos e isso têm horários estendidos ou até justificam inúmeras viagens que possam aparecer.
Essas garotas muitas vezes são apresentadas a prostituição por alguma amiga ou vão em busca sozinhas ao perceberem o quão difícil – e demorado pode ser a conquista de um conforto econômico. Enquanto uma estudante universitária consegue um estágio remunerado em torno de um a 1,5 salários mínimos, e precisa trabalhar diariamente de 6 a 8 horas, para pensar em adquirir experiência e talvez num planejamento pós-universidade (fazendo cursos de pós-graduação, ou mba ou especialização) em um prazo de cinco a sete anos ela estará conquistando um salário (se ela tiver talento, capacidade e boa colocação) que a auxilie a efetuar alguns de seus sonhos pessoais. É um planejamento de vida em médio prazo, mas a ansiedade e o padrão de comportamento até então vivido é o da conquista rápida, é o de ser avaliado por aquilo que tem, que veste, pelo lugar que freqüenta, pelo poder da compra, e muitas vezes é no desejo de não perder esse padrão de vida ou também de melhora-lo que muitas dessas garotas vislumbram um caminho rápido na prostituição de luxo.
Algumas pessoas questionam se não há uma crise de valores, um valor pessoal de não se sujeitar a ser usada, submetida ao outro, e aí temos que entender que os valores pessoais que muitas vezes tem sido reforçado nas famílias desde a infância estão ligados ao poder de ter coisas, status (e isso já se percebe em crianças e suas famílias ainda na pré-escola), é cada vez mais difícil ver famílias voltadas aos valores da moral e de valorizarem ‘a pessoa que se é’ e não só ‘o que se tem’.
Outro aspecto importante de ser entendido é que muitas vezes essas meninas que conseguem ficar na prostituição de luxo conseguem um rendimento médio que varia de 10 a 20 vezes o que ganhariam em seu estágio, e muitas delas relatam terem uma sensação de importância, pois se sentem bonitas, podem se cuidar conquistam o que desejam (materialmente falando), e aí vem a pergunta: essas famílias não percebem? Não questionam ou não recriminam? (isso seria outro artigo... aliás, uma tese!).
Elas freqüentam essas casas de que em geral tem um ambiente bonito e luxuoso, e são desejadas por homens muito diferenciados, executivos, profissionais liberais, empresários, alguns jovens, a maioria de homens maduros (de 35 a 55 anos), e que tem clientes interessantes, inteligentes, bonitos ou charmosos, mas com uma apresentação classe A, elas traduzem que muitos são homens que elas desejariam e que é excitante ver que eles pagam para ficar com elas. Essa garota sente-se poderosa na sua sensualidade e no seu poder de conquista, e isso acaba ‘viciando’.
Mas o discurso dessas garotas não é muito diferente da maioria das mulheres que se prostituem em todos os lugares, elas dizem que é passageiro, que vão juntar um valor para terem seu próprio negócio, e ainda que vão parar para viverem um grande amor, casar e ter seus filhos.
Sabemos que muitas terão um final não tão feliz, a depressão é companheira de muitas quando perdem esse espaço pelo avançar da idade, o poder de consumir torna-se um vício para muitas e o desejo de ter um negocio se distancia, crises existenciais fazem com que muitas se viciem em busca de um prazer ou de uma excitação, pois o sexo tende a se tornar banal, a carreira provavelmente dificilmente será recuperada e se for irá gerar enfrentamentos dos quais se fugiu anteriormente. Mas o mito do amor romântico, que um ‘príncipe’ a resgate para ser feliz continuará sendo a esperança da maioria delas.
Polícia desarticula rede de prostituição de luxo no Sertão
O Grupo Tático Especial (GTE) através da Operação Porneía (nome grego para prostituição) desarticulou nesta segunda-feira (7), uma rede de prostituição de luxo existente há cerca de cinco anos e com alcance interestadual, sediada em Patos, município localizado no Sertão da Paraíba.
De acordo com informações oficiais, foram presos Alexandre Silva de Souza, mais conhecido como ‘Alexandre’; Lúcia Karla Leite Dias, mais conhecida como ‘Karla’; e, José Fernando.
Após um período de quatro meses de investigações, a operação especial foi realizada sob o comando do delegado Cristiano Araújo e com auxílio de agentes da Depol de Princesa Isabel e de homens da 5ª GRPC.
Ainda segundo as informações, a rede criminosa era agenciada por ‘Alexandre’ que exercia o papel de agenciador falando com os 'clientes' em potencial através do telefone. O homem negociava a garota, o preço e a indicação do local que seria utilizado para o encontro.
O ‘cafetão’, pelo papel de intermediador entre cliente e garotas, recebia em média 13 do valor do programa, que oscilava em decorrência da garota negociada e do local onde aconteceria o encontro.
O agenciador, também, negociava encontros para outras cidades da Paraíba e de outros Estados, como é o caso do Rio Grande do Norte.
De acordo com os policiais, para o grupo de criminosos, não existia limites para que o sexo fosse comercializado, ele poderia ser de forma itinerante e se dirigia para onde o ‘cliente’ se dispusesse pagar.
A identificação dos agenciadores foi possível através de investigações realizadas pela Polícia Judiciária que descobriu que o trio, Alexandre, Karla e José Fernando, com base de atuação no município de Patos, recrutava mulheres e as favoreciam no comércio do sexo, mediante um percentual de cerca de 30% do lucro no ‘programa’.
Ainda segundo as informações policiais, existe a suspeita de ligação entre os agenciadores, uma vez que algumas garotas trabalhavam para eles sem exclusividade, passando a se dedicar mais àquele que conseguisse o maior número de clientes para elas. Durante as investigações o nome de Alexandre apareceu como o do agenciador mais articulado.
Patos ‘paraíso sexual’
De acordo com a Polícia, os números que revelam o mercado do sexo em Patos já atingiram índices considerados altíssimos por especialistas. Tal fato fez com que o município se transformasse ao longo dos tempos em um importante trecho inserido na rota do turismo sexual do Nordeste, fazendo inclusive, com que mulheres de outras cidades e Estados, migrassem para o município sertanejo.
Funcionamento da rede de prostituição
Os ‘clientes’ ligavam para o agenciador, indicavam a ‘garota de programa’ que desejavam e após negociação do valor do 'serviço', marcavam um motel ou outro local para a realização do encontro.
As acompanhantes eram, em grande maioria, naturais da cidade de Patos, entretanto, foram identificadas outras de cidades diversas e Estados, a exemplo de Pernambuco e do Rio Grande do Norte.
Apenas na minoria dos casos, os pais tinham ciência da prática da prostituição por parte das filhas.
As garotas de programa
As garotas de programa identificadas no ‘acervo’ de Alexandre possuem perfil privilegiado. Grande parte é formada por universitárias e funcionárias do comércio local. Muitas delas migraram de João Pessoa, Campina Grande e outras cidades da Paraíba.
A Polícia informou que, quando em contato com clientes, Alexandre, sempre fazia questão de destacar que possuía grande diversidade de mulheres para oferecer: loiras, morenas, ruivas, etc.
Os clientes
O perfil da clientela dos agenciadores da rede de prostituição de luxo em Patos era formado por pessoas da classe média alta, como: empresários, comerciantes, servidores públicos e até políticos.
As prisões
Foram presos, em cumprimento à mandados de prisões preventivas, expedidos pela Justiça da 2ª Vara da Comarca de Patos, Bruno Alexandre Silva de Souza, o ‘Alexandre’, Lúcia Karla Leite Dias, mais conhecida como ‘Karla’ e José Fernando.
A polícia vinha investigando a rede de prostituição de luxo, há cerca de quatro meses, findando as investigações com as prisões dos suspeitos, que vão responder pelos crimes de favorecimento à prostituição e submeter adolescente à prostituição (art.228,DO CPB cc art.244-A DO ECA).
Ainda de acordo com as informações da Polícia, estima-se, que Alexandre, administre a rede de prostituição, há mais de cinco anos apenas na cidade Patos.
A Operação Porneía, foi a última Operação do GTEPatos, coordenada pelo Delegado Cristiano Araújo, que durante o período de sete meses à frente do Grupo, dentre os vários trabalhos realizados, teve como destaque as Operações: Beiral (tráfico de drogas), Morada do Sol (tráfico de drogas), Fachada (desvio de cargas), Ouro Branco (tráfico de drogas que resultou na única apreensão de cocaína do ano em Patos, até o momento), “Ad hoc” (araques), Terra Sem Lei (apreensão de armas) e a Porneía (favorecimento à prostituição).
PROSTITUIÇÃO DE LUXO
Orgias movimentam milhões de reais na Paraíba
Publicado em 25 de Julho de 2010
Henriqueta Santiago e Álisson Arruda
Prazer, aventura, dinheiro, sexo sem limite e drogas. Esses são alguns dos ingredientes que fazem parte do cardápio de orgias, festas secretas regadas a muita bebida e sexo liberado que movimentam milhões de reais e servem não apenas atletas e jogadores de futebol.
Na Paraíba e em Estados do Nordeste como Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará e Bahia, empresários, políticos e assessores, advogados, médicos, promotores, juízes, cantores, atores e outras celebridades e autoridades fazem parte de uma seleta lista de "convidados", que pagam caro por momentos de prazer, "serviços sexuais" e luxo.
No entanto, nesses encontros secretos, há situações que fogem do controle: há drogas pesadas, como ecstasy, cocaína e LSD, sexo sem proteção, adolescentes aliciadas e exploradas sexualmente e até agressões físicas. Além disso, clientes ricaços pagam até R$ 12 mil por meninas virgens.
"Tem um empresário aqui de João Pessoa que me ofereceu R$ 12 mil para eu arranjar pra ele uma garota virgem. É um fetiche dele. Não arranjei, mas sei que meninas menores de 18 anos também participam de orgias", revelou Pierre do Valle, que agencia mulheres.
O Jornal Correio investigou o mundo das orgias, entrevistou meninas e garotos de programa de luxo, agenciadores de prostitutas e "convidados" que já participaram dessas festas para descobrir o que se esconde por trás desse misterioso universo, que é protegido por uma "rede de silêncio".
Farras sexuais aumentam em ano eleitoral
Um agenciador, que seleciona garotas de programa de luxo para orgias, em vários Estados do Nordeste, disse que, por mês, organiza de 10 a 12 festas desse tipo somente em João Pessoa. "Mas em ano eleitoral, aumenta 70% o número de farras sexuais e tem também a participação de adolescentes", revelou o agenciador, que se identificou como Pierre do Valle.
Ele conta que empresários e políticos de vários Estados da Região estão na lista dos principais clientes dessas festas secretas. Segundo o agenciador e garotas de programa, orgias de políticos e empresários chegam a durar até três dias, em granjas, fazendas e casas luxuosas de veraneio. O cachê das prostitutas de luxo varia de R$ 200 a R$ 3 mil.
"Os clientes ligam e pedem geralmente de quatro a 10 meninas para orgias aqui em João Pessoa, em Recife (PE), Natal (RN), Fortaleza (CE), Salvador (BA) ou outras cidades. Selecionamos as mais bonitas e mandamos. As loiras são as preferidas. Tudo é muito bem articulado e profissional para garantir o sigilo dos clientes", afirmou Pierre do Valle, que teve o verdadeiro nome preservado.
Os contatos telefônicos são feitos por assessores ou pelos próprios políticos e empresários. "Tem de tudo, vereadores, prefeitos, deputados, senadores...", afirmou Pierre. As farras são regadas a bebidas caras e drogas pesadas.
Dinheiro público para pagar orgias
Em ano eleitoral, é grande o "derrame" de dinheiro. Muitas vezes, recursos públicos. "Os políticos dizem que dinheiro não é problema e que querem mesmo ‘queimar' dinheiro. Então, a gente queima", afirma a garota de programa Pâmella Torlony, 19 anos, que mora em João Pessoa e é estudante.
Ela disse que, durante as farras sexuais, clientes chegam a oferecer até o triplo do cachê para transar sem preservativo, principalmente depois de usarem drogas. Políticos também fazem farras em suítes de hotéis de luxo.
"Eles oferecem valores altos pra fazer sexo sem camisinha. Uma vez, um político abriu uma pasta cheia de dinheiro e ofereceu para mim e minha colega. Ele queria que a gente fizesse tudo sem camisinha. Eram uns R$ 10 mil. Mas a gente estranhou a oferta e não aceitou. Ele deveria ter uma doença muito grave pra oferecer tanto dinheiro assim para duas prostitutas", comentou Pâmella, que mora em João Pessoa.
Seis horas de sexo e drogas
Marcelo Almeida, 45 anos, conta que foi convidado por um amigo, assessor de um político, para participar de uma festa íntima. A festa era para comemorar a despedida de solteiro do amigo e aconteceu numa suíte de luxo de um motel de João Pessoa, com capacidade para 10 ou mais pessoas. Começou num sábado à tarde e entrou pela noite. Segundo ele, foram aproximadamente seis horas de farra, regada a sexo sem limite e sem proteção, bebidas, energético, estimulante sexual e droga.
Na festa, conta Marcelo, havia cinco garotas de programa, de 20 a 25 anos, e cinco homens, com idades entre 30 e 45 anos. "Era pra todo mundo se divertir à vontade. Quando eu e meu amigo chegamos ao motel, os demais convidados ainda não haviam chegado, mas a suíte já estava toda preparada, com a churrasqueira pronta, muita cerveja, uísque, vodka e muito redbull", afirmou. "Rolou de tudo...Fiz sexo com três das cinco garotas. Duas delas aceitaram tudo. Houve até sexo sem camisinha", revelou.
Cliente não quer usar preservativo
A prática do sexo anal durante uma orgia é a preferência de praticamente 100% dos homens, como revelam as garotas de programa. O problema, segundo elas, é que muitos querem fazer o ato sem o uso de preservativo, acreditando que não correm riscos de contrair Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs).
No entanto, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) alerta que existem estudos que apontam que o sexo anal oferece ainda mais chances de infecção que o vaginal.
"Eles só querem por trás. E essa é umas das coisas que eu não faço e aviso logo no primeiro contato por telefone. Aí ficam insistindo, a proposta vai aumentando e dependendo eu acabo aceitando. Tem casos que eles dobram o preço inicial. Sendo que, quando chega na hora, nem sempre querem usar camisinha", contou Thaysa Toledo.
Encontros pela internet
Utilizando o anonimato das salas de bate-papo, internautas dão o primeiro passo para experiências sexuais reais. "Protegidos" por nomes, idade e descrições muitas vezes falsas, adolescentes, mulheres e homens, inclusive casados, revelam suas verdadeiras fantasias e partem para encontros e aventuras envolvendo mais de duas ou três pessoas.
Se passando por um estudante de João Pessoa, chamado Paulo, de 22 anos, que namora uma jovem de 20, a reportagem obteve depoimentos de pessoas que buscavam encontros secretos com casais e até mesmo combinando orgias com pessoas de vários bairros, que vão se ver pela primeira vez minutos antes de transar.
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