sexta-feira, 20 de agosto de 2010

URANTIA 71 A 101

DOCUMENTO 71

O DESENVOLVIMENTO DO ESTADO
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O estado é uma evolução útil da civilização; ele representa o ganho líquido que a sociedade retira das devastações e dos sofrimentos da guerra. Até mesmo a arte política do estadista é meramente uma técnica acumulada para ajustar a disputa competitiva de forças, entre as tribos e as nações em luta.

71:0:2 8002 O estado moderno é a instituição que sobreviveu na longa luta pelo poder grupal. O poder maior finalmente prevaleceu, e gerou uma criação de fato – o estado – e, junto, o mito moral da obrigação absoluta de o cidadão viver e morrer pelo estado. Mas o estado não tem uma gênese divina; nem mesmo é um produto da ação humana volitiva intencional; é uma instituição puramente evolucionária e a sua origem foi totalmente automática.

1. O ESTADO EMBRIONÁRIO


71:1:1 8003 O estado é uma organização social territorial reguladora; o estado mais forte, o mais eficiente e duradouro, é composto de uma nação única, cujo povo tem uma língua, costumes e instituições em comum.

71:1:2 8004 Os primeiros estados eram pequenos, todos resultantes de conquistas. Eles não se originavam de associações voluntárias. Muitos foram fundados por nômades conquistadores, que se arremetiam sobre grupos de pastores pacíficos ou colônias de agricultores, para subjugá-los e escravizá-los. Tais estados, resultantes de conquistas, ficaram forçosamente estratificados; as classes tornaram-se inevitáveis, e as lutas de classes sempre foram seletivas.

71:1:3 8005 As tribos de homens vermelhos, ao norte da América, nunca chegaram a se organizar de fato em um estado. Nunca progrediram mais do que uma confederação afrouxada de tribos, uma forma muito primitiva de estado. A que mais se aproximou de um estado foi a federação iroquesa, mas esse grupo de seis nações nunca funcionou de fato como um estado e não conseguiu sobreviver por causa da falta de alguns elementos essenciais à vida moderna nacional, tais como:

71:1:4 8006 1. A aquisição e a herança da propriedade privada.

71:1:5 8007 2. Cidades providas de agricultura e de indústrias.

71:1:6 8008 3. Animais domésticos úteis.

71:1:7 8009 4. Uma organização prática da família. Esses homens vermelhos ativeram-se à família materna e à herança de tio para sobrinho.

71:1:8 80010 5. Um território definido.

71:1:9 80011 6. Um chefe executivo forte.

71:1:10 80012 7. A escravização dos prisioneiros – ou eles os adotavam ou os massacravam.

71:1:11 80013 8. Conquistas decisivas.

71:1:12 80014 Os homens vermelhos eram democráticos demais; eles tinham um bom governo, mas ele fracassou. Eles teriam finalmente evoluído até um estado, caso não tivessem encontrado prematuramente a civilização mais avançada do homem branco, que estava buscando os métodos de governo dos gregos e dos romanos.

71:1:13 8011 O êxito do estado romano baseou-se:

8012 1. Na família paterna.

8013 2. Na agricultura e na domesticação dos animais.

8014 3. Na concentração da população – as cidades.

8015 4. Na propriedade e nas terras privadas.

8016 5. Na escravatura – nas classes de cidadania.

8017 6. Na conquista e na reorganização dos povos fracos e atrasados.

8018 7. Num território definido e com estradas.

8019 8. Em governantes pessoais e fortes.

71:1:14 80110 A grande fraqueza da civilização romana e um fator do colapso final do império foi a disposição, supostamente liberal e avançada, para a emancipação do jovem, aos vinte e um anos de idade , e a liberação incondicional das moças, de modo que ficassem livres para casar-se com os homens da sua própria escolha, ou para circular pelo país tornando-se dissolutas. O dano à sociedade não consistiu nessas reformas em si mesmas, mas muito mais na maneira súbita e disseminada com que foram adotadas. O colapso de Roma indica o que pode ser esperado, quando um estado é submetido a uma rápida expansão, associada à degeneração interna.

71:1:15 80111 O estado embrionário tornou-se possível pelo declínio dos laços consangüíneos, em favor da ligação territorial; e essas federações tribais foram, em geral, firmemente acimentadas pelas conquistas. Ainda que uma soberania que transcenda a todas as lutas menores e todas as diferenças grupais seja característica do verdadeiro estado, muitas classes e castas ainda persistem nas organizações estatais posteriores, como remanescentes dos clãs e das tribos de dias passados. Os estados territoriais mais recentes e maiores tiveram uma longa e amarga luta com esses grupos de clãs consangüíneos menores, o governo tribal passando pela provação de uma transição valiosa, da autoridade da família, para a do estado. Durante tempos mais recentes, muitos clãs surgiram do comércio e de outras associações econômicas.

71:1:16 80112 O fracasso na integração do estado resulta no retrocesso às condições técnicas governamentais do pré-estado, tais como o feudalismo da Idade Média européia. Durante essas idades das trevas, o estado territorial entrou em colapso, e houve um retrocesso até surgirem os pequenos grupos encastelados, com o reaparecimento do clã e dos estágios tribais de desenvolvimento. Semi-estados semelhantes existem, até mesmo atualmente, na Ásia e na África, mas nem todos representam retrocessos evolucionários; muitos formam núcleos embrionários de estados do futuro.

2. A EVOLUÇÃO DO GOVERNO REPRESENTATIVO


71:2:1 80113 A democracia, enquanto um ideal, é um produto da civilização, não da evolução. Ide devagar! Escolhei com cuidado! Pois os perigos da democracia são:

80114 1. A glorificação da mediocridade.

80115 2. A escolha de governantes vis e ignorantes.

80116 3. O fracasso em reconhecer os fatos fundamentais da evolução social.

80117 4. O perigo do sufrágio universal nas mãos de maiorias pouco instruídas e indolentes.

80118 5. A escravidão à opinião pública; a maioria nem sempre está certa.

71:2:2 8021 A opinião pública, a opinião comum, sempre atrasou a sociedade; contudo, ela é valiosa, pois, conquanto retarde a evolução social, ela preserva a civilização. A educação da opinião pública é o único método seguro e verdadeiro de acelerar a civilização; a força é um expediente apenas temporário, e o crescimento cultural irá acelerar cada vez mais, se a arma que lança projéteis der lugar à arma pelo voto. A opinião pública e os costumes são a energia básica e elementar da evolução social e do desenvolvimento do estado, mas para que tenha valor, para o estado, deve ser não violenta na sua expressão.

71:2:3 8022 A medida do avanço da sociedade é diretamente determinada pelo grau com que a opinião pública pode controlar o comportamento pessoal e pelas regulamentações do estado, por meio de expressões não violentas. Um governo realmente civilizado terá chegado quando a opinião pública estiver investida dos poderes do voto pessoal. As eleições populares nem sempre podem decidir corretamente as coisas, mas elas representam o modo certo, até mesmo de fazer uma coisa errada. A evolução não produz, de imediato, a perfeição superlativa, ela faz um ajustamento antes comparativo e de avanço prático.

71:2:4 8023 Há dez passos, ou estágios, na evolução de uma forma de governo representativo que seja prática e eficiente, e esses passos são:

71:2:5 8024 1. A liberdade da pessoa. A escravidão, a servidão e todas as formas de sujeição humana devem desaparecer.

71:2:6 8025 2. A liberdade da mente. A menos que um povo livre esteja bem instruído – preparado para pensar inteligentemente e para planejar com sabedoria –, a liberdade, em geral, causa mais mal do que bem.

71:2:7 8026 3. O âmbito da lei. A liberdade pode ser desfrutada apenas quando as vontades e os caprichos dos governantes humanos são substituídos pelos atos do legislativo, de acordo com a lei fundamental aceita.

71:2:8 8027 4. A liberdade de discurso. Um governo representativo é inconcebível sem liberdade para todas as formas de expressão, para as aspirações e as opiniões humanas.

71:2:9 8028 5. A segurança da propriedade. Nenhum governo pode resistir muito, se deixar de proporcionar o direito ao desfrute da propriedade pessoal de alguma forma. O homem anseia pelo direito de usar, controlar, dar, vender, alugar e legar a sua propriedade pessoal.

71:2:10 8029 6. O direito de petição. O governo representativo assume o direito de serem ouvidos, que os cidadãos têm. O privilégio de petição é inerente à cidadania livre.

71:2:11 80210 7. O direito de governar. Não é suficiente ser ouvido; o poder de reivindicar deve progredir até à administração factual do governo.

71:2:12 80211 8. O sufrágio universal. O governo representativo pressupõe um eleitorado inteligente, eficiente e universal. O caráter desse governo será determinado sempre pelo caráter e pelo calibre daqueles que o compõem. À medida que a civilização progride, o sufrágio, ainda que permanecendo universal, para ambos os sexos, deverá ser efetivamente modificado, reagrupado e diferenciado de outros modos.

71:2:13 80212 9. O controle dos servidores públicos. Nenhum governo civil será útil e eficiente, a menos que os cidadãos possuam e façam uso de técnicas sábias para conduzir e controlar os cargos e os funcionários.

71:2:14 80213 10. Uma representação inteligente e treinada. A sobrevivência da democracia depende de um governo representativo que tenha êxito; e isso é condicionado à prática de eleger aos postos públicos apenas indivíduos tecnicamente treinados, que sejam intelectualmente competentes, socialmente leais e moralmente adequados. Apenas com essas precauções pode o governo do povo, pelo povo e para o povo ser preservado.

3. OS IDEAIS DO ESTADO


71:3:1 8031 A forma política ou administrativa de um governo tem pouca importância, desde que forneça os elementos essenciais ao progresso civil – liberdade, segurança, educação e ordem social. Não é o que um estado é, mas o que ele faz, que determina o curso da evolução social. E, afinal, nenhum estado pode transcender aos valores morais dos seus cidadãos, tais como exemplificados pelos seus líderes eleitos. A ignorância e o egoísmo assegurarão a queda, mesmo do mais elevado tipo de governo.

71:3:2 8032 Por mais que seja de se lamentar, o egoísmo nacional tem sido essencial à sobrevivência social. A doutrina do povo eleito tem sido um fator primordial na fusão das tribos e na edificação da nação, até os tempos modernos. Mas um estado só pode atingir os níveis ideais de funcionamento quando todas as formas de intolerância sejam controladas; elas são, para sempre, inimigas do progresso humano. E a intolerância é mais bem combatida sob a coordenação da ciência, do comércio, das diversões e da religião.

71:3:3 8033 O estado ideal funciona sob a força de três impulsos poderosos coordenados:

8034 1. A lealdade ao amor, que advém da realização da irmandade humana.

8035 2. O patriotismo inteligente, baseado em ideais sábios.

8036 3. O discernimento cósmico, interpretado em termos de fatos, de necessidades e de metas planetárias.

71:3:4 8037 As leis do estado ideal são poucas em número e passaram da idade do tabu negativo para a era do progresso positivo, da liberdade pessoal, conseqüência de um autocontrole individual mais acentuado. O estado superior não apenas compele os seus cidadãos ao trabalho, mas também os incita a uma utilização proveitosa e enaltecedora do tempo crescente de lazer, resultante da liberação do trabalho pesado, advindo com a idade da máquina. O lazer deve produzir, tanto quanto consumir.

71:3:5 8038 Nenhuma sociedade tem avançado o suficiente quando permite a ociosidade ou tolera a pobreza. Mas a pobreza e a dependência nunca poderão ser eliminadas se as linhagens defeituosas e degeneradas forem sustentadas livremente e se lhes for permitido reproduzir-se sem restrição.

71:3:6 8039 Uma sociedade moral deveria almejar preservar o auto-respeito dos seus cidadãos e proporcionar a cada indivíduo normal uma oportunidade adequada de auto-realização. Esse plano de realização social produziria uma sociedade cultural da mais elevada ordem. A evolução social deveria ser encorajada pela supervisão governamental que exerce um mínimo de controle regulador. O melhor estado é aquele que coordena o máximo, enquanto governa o mínimo.

71:3:7 80310 Os ideais do estado devem ser alcançados pela evolução, pelo crescimento lento da consciência cívica: o reconhecimento da obrigação e do privilégio do serviço social. Depois do fim da administração por empreguismo e oportunismo político, a princípio, os homens assumem as responsabilidades do governo, como um dever, porém, mais tarde, eles buscam essa ministração como um privilégio, como a maior honra. O status da civilização, em qualquer nível, é fielmente retratado pelo calibre dos cidadãos que se apresentam voluntariamente para aceitar as responsabilidades do estado.

71:3:8 80311 Numa comunidade real, a questão de governar cidades e províncias é conduzida por especialistas e é administrada exatamente como quaisquer outras formas de associações econômicas e comerciais de pessoas.

71:3:9 80312 Nos estados avançados, o serviço político é considerado como sendo digno da mais elevada devoção dos cidadãos. A maior ambição dos cidadãos mais sábios e mais nobres é ganhar o reconhecimento civil, é ser eleito ou apontado para alguma posição de confiança no governo, e esses governos conferem as suas mais elevadas honras de reconhecimento por serviços aos seus servidores civis e sociais. Na seqüência da ordem, as honras são concedidas em seguida aos filósofos, aos educadores, aos cientistas, aos industriais e aos militares. Os pais são devidamente recompensados pela excelência dos seus filhos; e os líderes puramente religiosos, sendo os embaixadores de um Reino espiritual, recebem as suas recompensas reais em um outro mundo.

4. A CIVILIZAÇÃO PROGRESSISTA


71:4:1 8041 A economia, a sociedade e o governo devem evoluir, se querem permanecer. As condições estáticas, em um mundo evolucionário, indicam decadência; apenas perduram aquelas instituições que se movem para a frente, junto com a corrente evolucionária.

71:4:2 8042 O programa progressivo de uma civilização em expansão abrange:

8043 1. A preservação das liberdades individuais.

8044 2. A proteção do lar.

8045 3. A promoção da segurança econômica.

8046 4. A prevenção das doenças.

8047 5. A educação compulsória.

8048 6. O emprego compulsório.

8049 7. Uma utilização proveitosa do lazer.

80410 8. Os cuidados pelos desventurados.

80411 9. O aperfeiçoamento da raça.

80412 10. A promoção da ciência e da arte.

80413 11. A promoção da filosofia – da sabedoria.

80414 12. A ampliação do discernimento cósmico – da espiritualidade.

71:4:3 80415 E esse progresso nas artes da civilização conduz diretamente à realização das metas humanas e divinas mais elevadas que os mortais buscam – a realização social da fraternidade dos homens e o status pessoal da consciência de Deus, que se torna revelado dentro de cada indivíduo, pelo seu desejo supremo de fazer a vontade do Pai dos céus.

71:4:4 80416 O surgimento da fraternidade genuína significa que foi alcançada uma ordem social na qual todos os homens rejubilam-se de carregar o fardo uns dos outros; de fato, eles desejam praticar a regra dourada. Mas essa sociedade ideal não pode ser realizada, se os fracos ou os perversos ficam à espera para tirar vantagens injustas e ímpias daqueles que estão principalmente possuídos pela devoção ao serviço da verdade, da beleza e da bondade. Nessa situação, apenas uma linha de conduta torna-se prática: os “adeptos da regra de ouro” podendo estabelecer uma sociedade progressista, na qual eles vivem de acordo com os seus ideais, enquanto mantêm uma defesa adequada contra os companheiros ignorantes que poderiam procurar explorar as suas predileções pacíficas ou destruir a sua civilização em avanço.

71:4:5 80417 O idealismo não poderá sobreviver nunca, em um planeta em evolução, se os idealistas de cada geração permitirem a si próprios ser exterminados pelas ordens mais vis da humanidade. E aqui está o grande teste do idealismo: pode uma sociedade avançada manter aquela prontidão militar que a torna protegida contra todos os ataques dos seus vizinhos, amantes da guerra, sem cair na tentação de empregar essa força militar em operações ofensivas contra outros povos, com propósitos de ganho egoísta ou de engrandecimento nacional? A sobrevivência nacional demanda a prontidão, e só o idealismo religioso pode impedir que a prontidão seja prostituída pela sua transformação, em agressão. Apenas o amor e a irmandade podem impedir que os fortes oprimam os fracos.

5. A EVOLUÇÃO DA COMPETIÇÃO


71:5:1 8051 A competição é essencial ao progresso social, mas a competição desordenada gera a violência. Na sociedade atual, a competição está, aos poucos, substituindo a guerra, ao determinar o lugar do indivíduo na atividade produtiva, bem como ao decretar a sobrevivência das próprias indústrias. (O assassinato e a guerra diferem entre si pelo status perante os costumes; o assassinato tendo estado fora da lei desde os primeiros tempos da sociedade, ao passo que a guerra nunca foi totalmente proscrita pelas leis da humanidade. )

71:5:2 8052 O estado ideal assume regulamentar a conduta social apenas o suficiente para afastar a violência da competição individual e para impedir a injustiça na iniciativa pessoal. E aqui está um grande problema de ordem estatal: como garantir a paz e a tranqüilidade na atividade produtiva, como pagar os impostos para sustentar o poder do estado e, ao mesmo tempo, impedir que os impostos prejudiquem essas atividades e que o estado se torne um parasita ou um tirano?

71:5:3 8053 Durante as idades iniciais de qualquer mundo, a competição é essencial à civilização progressiva. À medida que a evolução do homem progride, a cooperação torna-se cada vez mais eficaz. Nas civilizações avançadas, a cooperação é mais eficiente do que a competição. O homem primitivo é estimulado pela competição. A evolução primitiva é caracterizada pela sobrevivência do mais apto biologicamente; mas as civilizações posteriores são mais bem promovidas pela cooperação inteligente, por um espírito de fraternidade compreensiva e pela irmandade espiritual.

71:5:4 8054 Bem verdade é que a competição, na indústria, leva a desperdícios excessivos tornando-se altamente ineficaz; mas nenhuma tentativa de eliminar essa perda na atividade econômica deveria ser encorajada, se os ajustamentos acarretarem, até mesmo, a mais leve anulação de qualquer das liberdades fundamentais do indivíduo.

6. A MOTIVAÇÃO DO LUCRO


71:6:1 8055 A economia atual, motivada pelos lucros, está condenada, a menos que a motivação do lucro possa ser acrescida da motivação de servir. A competição impiedosa, baseada em interesses egoístas e de horizontes estreitos, é terminantemente destrutiva, até mesmo daquelas coisas que busca manter. A motivação exclusiva do lucro individualista é incompatível com os ideais cristãos – e mais incompatível ainda com os ensinamentos de Jesus.

71:6:2 8056 Na economia, a motivação do lucro está para a motivação do serviço, como o medo está para o amor, na religião. Mas a motivação do lucro não deve ser destruída, nem removida, subitamente; ela mantém muitos mortais no trabalho duro, os quais, de outro modo, ficariam indolentes. Não é necessário, contudo, que esse estimulador das energias sociais, para sempre, tenha objetivos puramente egoístas.

71:6:3 8057 O motivo do lucro nas atividades econômicas é de todo vil e totalmente indigno de uma ordem avançada de sociedade; contudo, é um fator indispensável no decorrer das primeiras fases da civilização. A motivação do lucro não deve ser afastada dos homens, até que eles estejam imbuídos de tipos superiores de motivações não lucrativas, para os seus esforços econômicos e para os seus serviços sociais – os anseios transcendentes de uma sabedoria superlativa, de uma fraternidade fascinante, e da excelência, na realização espiritual.

7. A EDUCAÇÃO


71:7:1 8061 O estado duradouro é fundamentado na cultura, dominado pelos ideais e motivado pelo serviço. O propósito da educação deve ser adquirir habilidade, buscar a sabedoria, realizar a individualidade e alcançar os valores espirituais.

71:7:2 8062 No estado ideal, a educação continua durante a vida e, algumas vezes, a filosofia torna-se a principal busca dos seus cidadãos. Os cidadãos dessa comunidade buscam a sabedoria como uma ampliação do seu discernimento dos significados nas relações humanas, das significações da realidade, da nobreza dos valores, das metas da vida e das glórias do destino cósmico.

71:7:3 8063 Os urantianos devem ter a visão de uma nova sociedade cultural bem mais elevada. A educação saltará para novos níveis de valor, quando ultrapassar o sistema da economia, baseado puramente na motivação do lucro. A educação tem sido, por muito tempo, regionalista, militarista, exaltadora do ego e buscadora do sucesso; ela deve finalmente ser aberta para o mundo, tornar-se idealista, auto-realizadora e abrangente do ponto de vista cósmico.

71:7:4 8064 A educação passou, recentemente, do controle do clero para o dos advogados e homens de negócios. E finalmente deve ser entregue aos filósofos e cientistas. Os educadores devem ser seres livres, líderes de fato, com o fito de que a filosofia, a busca da sabedoria, possa tornar-se a busca principal na educação.

71:7:5 8065 A educação é a ocupação maior da vida; deve continuar durante toda a vida e de um modo tal que a humanidade possa gradualmente experimentar os níveis ascendentes da sabedoria mortal, que são:

8066 1. O conhecimento das coisas.

8067 2. A compreensão dos significados.

8068 3. A apreciação dos valores.

8069 4. A nobreza do trabalho – o dever.

80610 5. A motivação das metas – a moralidade.

80611 6. O amor pelo serviço – o caráter.

80612 7. A clarividência cósmica – o discernimento espiritual.

71:7:6 80613 E então, por meio dessas realizações, muitos ascenderão à ultimidade da realização mortal da mente: a consciência de Deus.

8. O CARÁTER ESTATAL


71:8:1 80614 O único aspecto sagrado de qualquer governo humano é a divisão do estado nos três domínios de funções, o executivo, o legislativo e o judiciário. O universo é administrado de acordo com esse plano de separação das funções e da autoridade. À parte esse conceito divino de regulamentação social efetiva, ou de governo civil, pouco importa a forma de estado que um povo possa escolher, desde que os cidadãos estejam sempre progredindo no sentido da meta de um autocontrole maior e de um serviço social ampliado. A depuração intelectual, a sabedoria econômica, a habilidade social e a força moral de um povo são, todas, fielmente refletidas no estado.

71:8:2 80615 A evolução do estado requer progresso, de nível para nível, do seguinte modo:

71:8:3 80616 1. A criação de um governo tríplice, com as ramificações de um poder executivo, de um legislativo e de um judiciário.

71:8:4 80617 2. A liberdade para as atividades sociais, políticas e religiosas.

71:8:5 8071 3. A abolição de todas as formas de escravidão e de servidão humana.

71:8:6 8072 4. A capacidade dos cidadãos de controlar a arrecadação de impostos.

71:8:7 8073 5. O estabelecimento da educação universal – o aprendizado, abrangendo do berço ao túmulo.

71:8:8 8074 6. O ajustamento próprio, entre o governo local e o governo nacional.

71:8:9 8075 7. O estímulo à ciência e ao controle das doenças.

71:8:10 8076 8. O devido reconhecimento da igualdade dos sexos e do funcionamento coordenado de homens e mulheres no lar, na escola e na igreja; e com o serviço especializado das mulheres, na indústria e no governo.

71:8:11 8077 9. A eliminação da escravidão do trabalho, por meio da invenção da máquina e pela subseqüente mestria sobre a idade da máquina.

71:8:12 8078 10. A conquista dos dialetos – o triunfo de uma língua universal.

71:8:13 8079 11. O fim da guerra – o julgamento internacional das diferenças nacionais e raciais, por intermédio das cortes continentais das nações, a que presidirá um supremo tribunal planetário, automaticamente recrutado, dos chefes que, periodicamente, se aposentam nas cortes continentais. As cortes continentais têm autoridade executiva; a corte mundial é consultivo-moral.

71:8:14 80710 12. A tendência mundial da busca da sabedoria – a exaltação da filosofia. A evolução de uma religião mundial será o indício da entrada do planeta nas fases iniciais do seu estabelecimento em luz e vida.

71:8:15 80711 Esses são os pré-requisitos do governo progressivo e os sinais de identificação do estado ideal. Urântia está longe da realização desses ideais elevados, mas as raças civilizadas já tiveram um começo – a humanidade está na marcha em direção a destinos evolucionários mais elevados.

71:8:16 80712 [Auspiciado por um Melquisedeque de Nebadon.]

DOCUMENTO 72

O GOVERNO, NUM PLANETA VIZINHO
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Com a permissão de Lanaforge e com a aprovação dos Altíssimos de Edêntia, eu estou autorizado a narrar certas coisas da vida social, moral e política da mais avançada raça humana que vive em um planeta não muito distante, pertencente ao sistema de Satânia.

72:0:2 8082 De todos os mundos de Satânia, que se tornaram isolados por causa da participação na rebelião de Lúcifer, esse planeta experienciou uma história a mais semelhante à de Urântia. A similaridade das duas esferas, sem dúvida, explica por que foi concedida a permissão para se fazer esta extraordinária apresentação, pois é muito inusitado que os governantes dos sistemas consintam na narração, em um planeta, dos assuntos de outro.

72:0:3 8083 Esse planeta, como Urântia, foi desviado pela deslealdade do seu Príncipe Planetário quando da rebelião de Lúcifer. O planeta recebeu um Filho Material pouco depois de Adão ter vindo para Urântia, e esse Filho também cometeu a falta, deixando a esfera isolada, pois um filho Magisterial nunca esteve auto-outorgado entre as suas raças mortais.

1. UMA NAÇÃO CONTINENTAL


72:1:1 8084 Apesar de todas essas desvantagens planetárias, uma civilização muito superior está em evolução em um continente isolado, de tamanho comparável ao da Austrália. Essa nação tem cerca de 140 milhões de habitantes. O seu povo é formado de raças miscigenadas, com predominância da azul e da amarela, tendo uma proporção ligeiramente maior da raça violeta do que as chamadas raças brancas de Urântia. Tais raças diferentes não estão ainda integralmente miscigenadas, mas confraternizam-se e socializam-se de um modo muito aceitável. A média de vida nesse continente, atualmente, é de noventa anos, quinze por cento mais alta que a de qualquer outro povo no planeta.

72:1:2 8085 O mecanismo industrial dessa nação desfruta de uma grande vantagem, que vem da topografia única do continente. Montanhas altas, nas quais cai uma chuva pesada durante oito meses em um ano, estão situadas bem no centro do país. Esse arranjo natural favorece a utilização do potencial hidráulico e facilita grandemente a irrigação do oeste, a quarta parte mais árida do continente.

72:1:3 8086 Esses povos se auto-sustentam, isto é, podem viver indefinidamente sem importar nada das nações vizinhas. Os seus recursos naturais são fartos e, por meio de técnicas científicas, eles aprenderam como compensar as suas deficiências no que concerne às coisas essenciais à vida. Eles usufruem de um comércio doméstico ativo, mas têm pouco comércio externo, devido à hostilidade generalizada dos seus vizinhos de menos progresso.

72:1:4 8087 Essa nação continental, em geral, seguiu a tendência evolucionária do planeta: o desenvolvimento do estágio tribal, até o aparecimento de governantes fortes e de reis; o que levou milhares de anos. Os monarcas incondicionais foram seguidos por muitas formas diferentes de governo – repúblicas abortadas, estados comunitários e ditaduras vieram e desapareceram, em uma profusão sem fim. Esse crescimento continuou até cerca de quinhentos anos atrás, quando, durante um período politicamente agitado, um dos poderosos ditadores de um triunvirato da nação passou por uma crise de ânimo. Ele fez-se voluntário para abdicar, sob a condição de que um dos outros governantes, o mais vil dos outros dois, também renunciasse ao triunvirato ditatorial. Assim, a soberania do continente foi colocada nas mãos de um único governante. O estado unificado progrediu, sob um forte governo monárquico por mais de cem anos, durante os quais desenvolveu-se uma compreensiva carta de liberdades.

72:1:5 8091 A transição subseqüente, da monarquia para uma forma representativa de governo, foi gradual; os reis permaneceram como figurantes meramente sociais ou sentimentais; até finalmente desaparecerem, quando a linha masculina de descendência extinguiu-se. A república atual tem apenas duzentos anos de existência e, durante esse tempo, tem havido um progresso contínuo na direção das técnicas de governo, que iremos narrar; os últimos desenvolvimentos nos campos industriais e políticos tendo sido feitos na década passada.

2. A ORGANIZAÇÃO POLÍTICA


72:2:1 8092 Essa nação continental tem, agora, um governo representativo, com uma capital nacional situada no centro do país. O governo central consiste em uma forte federação de cem estados relativamente livres. Esses estados elegem os seus governadores e legisladores, por dez anos, e nenhum deles pode ser candidato à reeleição. Os juízes do estado são apontados vitaliciamente pelos governadores e confirmados pelas suas legislaturas, que consistem em um representante para cada cem mil cidadãos.

72:2:2 8093 Há cinco tipos diferentes de governo metropolitano, dependendo do tamanho da cidade, mas nenhuma cidade pode ter mais de um milhão de habitantes. No conjunto, esses esquemas de governos municipais são muito simples, diretos e econômicos. Os poucos cargos da administração urbana são altamente almejados pelos tipos mais elevados de cidadãos.

72:2:3 8094 O governo federal abrange três divisões coordenadas: a executiva, a legislativa e a judicial. O chefe do executivo federal é eleito a cada seis anos, pelo sufrágio territorial universal. Ele não se candidata à reeleição, exceto a pedido das legislaturas de setenta e cinco estados, pelo menos, e apoiado pelos respectivos governadores dos estados, e por apenas um mandato adicional. Ele é aconselhado por um supergabinete, composto de todos os ex-chefes executivos vivos.

72:2:4 8095 A divisão legislativa abrange três câmaras:

72:2:5 8096 1. A câmara superior é eleita por grupos de trabalhadores das indústrias, de profissionais liberais, de agricultores e de outros grupos, votando de acordo com a função econômica.

72:2:6 8097 2. A câmara inferior é eleita por algumas organizações da sociedade, que compreendem os grupos sociais, políticos e filosóficos, não incluídos na indústria ou em outras profissões. Todos os cidadãos de boa posição participam da eleição de ambas as classes de representantes, mas eles são agrupados de modo diferente, dependendo de a eleição ser para a câmara superior ou para a inferior.

72:2:7 8098 3. A terceira câmara – a de antigos estadistas – abrange os veteranos dos serviços cívicos e inclui muitas pessoas ilustres, nomeadas pelo chefe do executivo, pelos executivos regionais (subfederais), pelo chefe do supremo tribunal, e pelos funcionários que presidem qualquer uma das outras câmaras legislativas. Esse grupo está limitado a cem membros, que são eleitos pela ação majoritária dos próprios antigos estadistas. Os membros têm função vitalícia e, quando surgem vagas, aquele que recebeu a maior votação entre os da lista dos indicados torna-se devidamente eleito. As incumbências desse corpo são puramente de assessoria, mas ele é um forte regulador da opinião pública e exerce uma influência poderosa sobre todos os setores do governo.

72:2:8 8101 Grande parte do trabalho da administração federal é efetuada pelas dez autoridades regionais (subfederais), cada uma delas consistindo na associação de dez estados. Essas divisões regionais são totalmente executivas e administrativas, não tendo funções legislativas nem judiciárias. Os dez postos de executivos regionais são apontados pessoalmente pelo chefe executivo federal, e o mandato deste coincide com o deles – seis anos. O supremo tribunal federal aprova a indicação desses dez executivos regionais e, ainda que não possam ser indicados novamente, o executivo que se aposenta torna-se automaticamente um assessor vinculado ao seu sucessor. Por outro lado, esses chefes regionais escolhem os seus próprios gabinetes de funcionários administrativos.

72:2:9 8102 Nessa nação, a justiça é feita por dois sistemas maiores de tribunais – os tribunais da lei e os tribunais socioeconômicos. Os tribunais da lei funcionam nos três níveis seguintes:

72:2:10 8103 1. As cortes menores, de jurisdição municipal e local, de cujas decisões se pode apelar aos altos tribunais do estado.

72:2:11 8104 2. As cortes supremas estatais, cujas decisões são finais, em todas as questões que não envolvam o governo federal, e que não coloquem em perigo os direitos dos cidadãos e as suas liberdades. Os executivos regionais têm poder de levar qualquer caso imediatamente ao foro da suprema corte federal.

72:2:12 8105 3. A suprema corte federal – o alto tribunal para o julgamento das contendas nacionais e para os casos de apelações vindos das cortes dos estados. Este supremo tribunal constitui-se de doze homens, acima dos quarenta e abaixo dos setenta e cinco anos de idade, que serviram por dois ou mais anos em algum tribunal estadual, e que foram indicados para essa posição elevada pelo chefe executivo, com a aprovação majoritária do supergabinete e da terceira câmara da assembléia legislativa. Todas as decisões desse corpo judiciário supremo são tomadas por meio de pelo menos dois terços dos votos.

72:2:13 8106 Os tribunais socioeconômicos funcionam nas três divisões seguintes:

8107 1. Os tribunais familiares, associados às divisões legislativas e executivas do sistema social e familiar.

8108 2. Os tribunais educacionais – os corpos jurídicos vinculados aos sistemas de escolas estaduais e regionais e associados ao setor executivo e ao legislativo do mecanismo administrativo educacional.

~ 8109 3. Os tribunais industriais – os tribunais de jurisdições, investidos da autoridade plena para o esclarecimento de todos os mal-entendidos econômicos.

72:2:14 81010 A suprema corte federal não julga os casos socioeconômicos, exceto mediante os votos de três quartos do terceiro setor legislativo do governo nacional, a câmara dos antigos estadistas. Em outros casos, todas as decisões do alto tribunal da família, do tribunal educacional e do industrial representam a palavra final.

3. A VIDA DO LAR


72:3:1 8111 Nesse continente, a lei não permite que duas famílias vivam sob o mesmo teto. E, já que as habitações grupais foram interditadas pela lei, a maioria dos tipos de edifícios de apartamentos múltiplos foi demolida. Os solteiros, contudo, ainda vivem em clubes, hotéis e outras formas de habitações grupais. A menor área em que se permite a uma família viver deve ter meio hectare de terra. Toda a terra e as outras propriedades usadas para propósitos de moradia são livres de impostos, até dez vezes o tamanho mínimo do lote para uma família.

72:3:2 8112 A vida familiar desse povo melhorou consideravelmente durante o último século. É obrigatório que os progenitores, tanto o pai quanto a mãe, freqüentem a escola de puericultura para os pais. Até mesmo os agricultores, que residem em pequenas colônias no campo, fazem esse estudo por correspondência, indo aos centros próximos para uma instrução oral, uma vez a cada dez dias – a cada duas semanas, pois eles têm uma semana de cinco dias.

72:3:3 8113 As famílias têm, em média, cinco crianças, e elas ficam inteiramente sob o controle dos pais ou, em caso de morte de um ou de ambos, sob a guarda do tutor que for designado pelos tribunais da família. Considera-se uma grande honra, para qualquer família, ser recompensada com a guarda de um órfão de pai e mãe. Exames competitivos são feitos entre os pais, e o órfão é concedido ao lar daqueles que apresentem as melhores qualificações como pais.

72:3:4 8114 Esse povo considera o lar como a instituição básica da sua civilização. A expectativa é de que a parte de maior valor na educação de uma criança, da formação e aperfeiçoamento do seu caráter, seja provida pelos seus pais e no lar, e o pai dedica quase tanta atenção à cultura da criança quanto o faz a mãe.

72:3:5 8115 Toda a instrução sexual é ministrada em casa pelos pais ou por guardiães legais. A educação moral é oferecida pelos professores, durante os períodos de recreio, nas oficinas das escolas, mas a educação religiosa não é dada assim. A educação religiosa é considerada um privilégio exclusivo dos pais, pois a religião é vista como uma parte integral da vida do lar. A educação puramente religiosa é dada, publicamente, apenas nos templos de filosofia, pois esse povo desenvolveu as igrejas como instituições que não são tão exclusivamente religiosas como as igrejas de Urântia. Na filosofia desse povo, a religião é o esforço para conhecer a Deus e manifestar amor pelo semelhante, servindo a ele; mas essa não é uma concepção típica do status da religião nas outras nações nesse planeta. A religião é uma questão tão completamente da família, junto a esse povo, que não há locais públicos devotados exclusivamente a reuniões religiosas. Politicamente, a igreja e o estado, como os urantianos têm o habito de dizer, são inteiramente separados, mas há uma estranha superposição entre religião e filosofia.

72:3:6 8116 Até vinte anos atrás, os instrutores espirituais (comparáveis aos pastores de Urântia), que visitavam todas as famílias, periodicamente, para examinar as crianças e certificar-se de que elas foram instruídas adequadamente pelos seus pais, estavam sob a supervisão do governo. Esses conselheiros espirituais e examinadores estão agora sob a direção da recentemente criada Fundação do Progresso Espiritual, uma instituição sustentada por contribuições voluntárias. Essa instituição, possivelmente, não evoluirá mais, antes da chegada de um Filho Magisterial do Paraíso.

72:3:7 8117 As crianças permanecem legalmente submissas aos seus pais, até que tenham quinze anos, quando então lhes são dadas as primeiras iniciações às responsabilidades cívicas. Depois disso, a cada cinco anos, por cinco períodos consecutivos, exercícios públicos semelhantes são realizados para esses grupos etários; e, daí para a frente, as suas obrigações para com os pais diminuem, enquanto novas responsabilidades civis e sociais para com o estado são assumidas. O sufrágio é conferido aos vinte anos; o direito de casar sem o consentimento dos pais não é concedido antes dos vinte e cinco anos, e os filhos devem deixar o lar ao atingir a idade de trinta anos.

72:3:8 8121 As leis para o casamento e o divórcio são uniformes em toda a nação. O casamento antes dos vinte anos – a idade da emancipação civil – não é permitido. A permissão para o casamento só é concedida um ano depois da notificação da intenção e depois de ambos os noivos apresentarem certificados mostrando que eles foram devidamente instruídos, na escola de pais, a respeito das responsabilidades da sua vida de casados.

72:3:9 8122 As regulamentações para o divórcio são de certo modo indulgentes, no entanto, os decretos de separação, emitidos pelo tribunal da família, não podem ser obtidos antes de um ano depois de o pedido ter sido registrado, e o ano nesse planeta é consideravelmente mais longo do que em Urântia. Não obstante haver indulgência nas leis do divórcio, o índice atual de divórcios é de apenas um décimo do das raças civilizadas de Urântia.

4. O SISTEMA EDUCACIONAL


72:4:1 8123 O sistema educacional dessa nação é compulsório e misto nas escolas pré-universitárias, que os estudantes freqüentam dos cinco aos dezoito anos. Essas escolas são bastante diferentes das de Urântia. Não há salas de aula, apenas um estudo é feito por vez e, depois dos três primeiros anos, todos os alunos tornam-se professores assistentes, instruindo os que estão abaixo deles. Os livros são usados apenas para assegurar a informação que ajudará a resolver os problemas que surgem nas oficinas-escolas e nas fazendas-escolas. Grande parte do mobiliário usado nesse continente, bem como muitos dos aparelhos mecânicos – esta é, ali, uma grande idade para as invenções e mecanização – são produzidos nessas oficinas. Adjacente a cada oficina existe uma biblioteca de trabalhos práticos, onde os estudantes podem consultar os livros necessários como referência. A agricultura e a horticultura são também ensinadas, durante todo o período educacional, nas vastas fazendas contíguas a cada escola local.

72:4:2 8124 Os deficientes mentais são educados apenas na agricultura e na criação de animais, e são enviados, por toda a vida, para as colônias especiais de custódia, onde são separados por sexo, para impedir a paternidade, a qual é negada a todos os subnormais. Essas medidas restritivas têm estado em operação por setenta e cinco anos; os mandatos de internação são emitidos pelos tribunais da família.

72:4:3 8125 Todos tiram um mês de férias por ano. As escolas pré-universitárias são conduzidas durante nove meses, em um ano de dez meses, as férias sendo passadas com os pais ou amigos, em viagens. Essas viagens são uma parte do programa de educação do adulto e continuam durante toda a vida; os fundos para fazer frente a essas despesas são acumulados pelos mesmos métodos empregados para os fundos do seguro de assistência à velhice.

72:4:4 8126 Um quarto do tempo da escola é devotado aos jogos – as competições atléticas. Os alunos destacam-se nas competições locais, depois nas estaduais e regionais, e em seguida vão para as provas nacionais de habilidade e perícia. Do mesmo modo, os concursos de oratória e música, tanto quanto os de ciência e filosofia, ocupam a atenção dos estudantes, desde as divisões sociais mais baixas, até chegarem aos concursos para as honras nacionais.

72:4:5 8127 A direção da escola é uma réplica do governo nacional, com os seus três setores correlatos, o corpo dos professores funcionando como a terceira divisão, a de assessoria legislativa. O objetivo principal da educação nesse continente é fazer de cada aluno um cidadão que se auto-sustente.

72:4:6 8131 Cada criança que se gradua no sistema de escola pré-universitária, aos dezoito anos, é um artesão habilidoso. Então começa o estudo em livros e a busca de conhecimento especial, seja nas escolas de adultos, seja nas universidades. Quando um estudante brilhante completa o seu trabalho antes do tempo previsto, lhe são concedidos, em recompensa, o tempo e os meios para que possa executar algum projeto almejado, da sua própria invenção. Todo o sistema educacional é concebido para treinar adequadamente o indivíduo.

5. A ORGANIZAÇÃO INDUSTRIAL


72:5:1 8132 A situação industrial desse povo está longe dos seus ideais; o capital e o trabalho ainda têm os seus problemas, mas ambos estão ajustando-se a um plano de cooperação sincera. Nesse continente singular, os trabalhadores estão, cada vez mais, transformando-se em acionistas de todos os campos industriais; cada trabalhador inteligente está, aos poucos, tornando-se um pequeno capitalista.

72:5:2 8133 Os antagonismos sociais estão diminuindo, e a boa vontade está crescendo rapidamente. Nenhum problema econômico grave surgiu com a abolição da escravatura (há cerca de cem anos), já que um ajustamento foi feito gradualmente com a liberação de dois por cento deles, a cada ano. Aos escravos que passaram satisfatoriamente pelos testes mentais, morais e físicos, foi concedida a cidadania; muitos desses escravos superiores eram prisioneiros de guerra ou filhos desses prisioneiros. Há cerca de cinqüenta anos, eles deportaram os últimos dos escravos inferiores e, mais recentemente ainda, estão dedicando-se à tarefa de reduzir os números das suas classes degeneradas e viciadas.

72:5:3 8134 Esses povos desenvolveram recentemente novas técnicas para o ajuste de mal-entendidos industriais e para corrigir os abusos econômicos; técnicas essas que representam melhorias marcantes em relação aos antigos métodos de resolução dos problemas. A violência foi proscrita como comportamento para solucionar as desavenças pessoais ou industriais. Os salários, os lucros e as outras questões econômicas não são rigidamente regulamentados, mas são controlados, em geral, pelos legislativos industriais, enquanto todas as disputas que surgem na indústria passam pelos tribunais industriais.

72:5:4 8135 Os tribunais industriais têm apenas trinta anos de existência, mas estão funcionando muito satisfatoriamente. O mais recente desenvolvimento dispõe que, daquele momento em diante, os tribunais industriais reconheçam que a compensação legal recaia em uma das três divisões:

8136 1. Taxas legais de juros sobre o capital investido.

8137 2. Vencimentos razoáveis para os empregados habilitados nas operações industriais.

8138 3. Salários justos e eqüitativos, pelo trabalho.

72:5:5 8139 E essas condições serão satisfeitas, inicialmente, de acordo com um contrato ou, no caso de uma diminuição nos lucros, as partes compartilharão proporcionalmente de uma redução transitória nos salários. E, daí em diante, todos os ganhos que excedam os encargos fixos serão considerados como dividendos e serão rateados entre todas as três categorias: a do capital, a dos conhecimentos especializados e a do trabalho.

72:5:6 81310 A cada dez anos, os executivos regionais ajustam e decretam as horas legais da jornada diária do trabalho. A indústria opera atualmente com uma semana de cinco dias, trabalhando quatro e descansando um. Esse povo trabalha durante seis horas por dia e, como os estudantes, durante nove meses em um ano de dez meses. As férias são, em geral, gastas em viagens e, tendo sido desenvolvidos, muito recentemente, novos meios de transporte, toda a nação está inclinada a viajar. O clima favorece as viagens, durante oito meses ao ano, e eles estão aproveitando ao máximo as oportunidades que surgem.

72:5:7 81311 Há duzentos anos, a motivação do lucro era inteiramente dominante na indústria, mas hoje está sendo rapidamente substituída por outras forças mais elevadas. A competição é forte nesse continente, mas grande parte dela foi transferida da indústria para o esporte, para a destreza, para a busca científica e para a realização intelectual. A competição é bastante ativa no serviço social e na lealdade ao governo. Entre os desse povo, o serviço público está rapidamente tornando-se um motivo principal de ambição. O homem mais rico do continente trabalha seis horas por dia no escritório da sua oficina de máquinas e então se apressa até a filial local da escola para estadistas, onde procura qualificar-se para o serviço público.

72:5:8 8141 O trabalho está-se tornando mais honroso nesse continente, e todos os cidadãos válidos, acima de dezoito anos, trabalham, seja em casa, seja nas fazendas, seja em alguma indústria reconhecida, seja nos serviços públicos, onde aqueles que estão temporariamente desempregados são absorvidos, ou então nos corpos de trabalhadores compulsórios nas minas.

72:5:9 8142 Esse povo começa também a nutrir uma nova forma de aversão social – a aversão pela ociosidade, tanto quanto pela riqueza pela qual não se trabalhou. Lenta, mas certamente, eles estão triunfando sobre as suas máquinas. No passado, também eles lutaram pela liberdade política e, subseqüentemente, pela liberdade econômica. Agora eles entram na fase de desfrutar de ambas, enquanto, além disso, eles começam a apreciar o seu lazer bem merecido, que pode ser dedicado a aumentar a auto-realização.

6. O SEGURO DE VELHICE


72:6:1 8143 Essa nação está fazendo um esforço determinado para substituir o tipo de caridade que destrói o auto-respeito, pelas garantias condignas do seguro governamental para a velhice. Essa nação proporciona a toda criança uma educação, e a todo homem um trabalho; podendo, portanto, com êxito, manter um esquema de seguro para a proteção aos enfermos e dos idosos.

72:6:2 8144 Todas as pessoas desse povo devem aposentar-se da busca de remuneração pelo trabalho aos sessenta e cinco anos, a menos que tenham uma permissão do comissário do trabalho do estado, que lhes confira o direito a permanecer no trabalho até a idade de setenta anos. Essa idade limite não se aplica aos servidores do governo, nem aos filósofos. Os fisicamente incapacitados, ou permanentemente aleijados, podem ser colocados na lista de aposentados, a qualquer idade, por uma ordem da corte, contra-assinada pelo comissário de pensões do governo regional.

72:6:3 8145 Os fundos para as pensões de velhice provêm de quatro fontes:

72:6:4 8146 1. Um dia dos ganhos, a cada mês, é requisitado pelo governo federal, para esse propósito, e, nesse país, todos trabalham.

72:6:5 8147 2. Heranças – muitos cidadãos ricos deixam fundos para esse fim.

72:6:6 8148 3. Os ganhos do trabalho compulsório nas minas do estado. Após os trabalhadores recrutados retirarem o próprio sustento e mais as suas próprias contribuições de aposentadoria, todos os ganhos do seu trabalho que excederem a tudo isso vão para esse fundo de pensão.

72:6:7 8149 4. A renda de recursos naturais. Toda a riqueza natural do continente é mantida como um monopólio social pelo governo federal, e a renda proveniente dela é utilizada sempre para um propósito social, tal como: a prevenção de doenças, a educação dos gênios e as despesas com os indivíduos que representem promessas especiais nas escolas do estado. A metade da renda dos recursos naturais vai para o fundo de pensão para a velhice.

72:6:8 81410 Embora as fundações dedicadas aos seguros do estado e das províncias forneçam muitas formas de seguro de proteção, as pensões para a velhice são administradas apenas pelo governo federal, por meio dos dez departamentos regionais.

72:6:9 81411 Esses fundos governamentais, há muito, vêm sendo administrados honestamente. As penas mais pesadas, depois das penas dadas à traição e ao assassinato, aplicadas pelas cortes, estão ligadas à traição da confiança pública. As deslealdades sociais e políticas são atualmente consideradas o mais odioso de todos os crimes.

7. OS IMPOSTOS


72:7:1 8151 O governo federal é paternalista apenas quanto à administração das pensões para a velhice e quanto a fomentar o gênio e a originalidade criativos; os governos dos estados estão ligeiramente mais preocupados com o cidadão individualmente, enquanto os governos das províncias locais são muito mais paternalistas ou socialistas. A cidade (ou algumas divisões dela) preocupa-se com questões como saúde, saneamento, normas de construção, ornamentação, suprimento de água, iluminação, aquecimento, recreação, música e comunicações.

72:7:2 8152 Em toda a indústria, a maior atenção é voltada para a saúde; alguns aspectos do bem-estar físico são considerados prerrogativas industriais e comunitárias, mas os problemas da saúde individual e da família são questões de preocupação pessoal apenas. Na medicina, como em todos os outros assuntos puramente pessoais, é plano do governo interferir cada vez menos.

72:7:3 8153 As cidades não têm poder para cobrar impostos, nem podem contrair débitos. Elas recebem dotações do tesouro do estado, per capita da sua população, e devem suplementar essa receita com os ganhos dos seus empreendimentos socializados e por meio das concessões de várias atividades comerciais.

72:7:4 8154 As instalações de trânsito rápido, que facilitam consideravelmente a expansão das fronteiras das cidades, ficam sob o controle municipal. Os corpos municipais de bombeiros são sustentados pelas fundações de prevenção de incêndios e de seguros, e todos os prédios, na cidade e no campo, são à prova de fogo – tem sido assim por mais de setenta e cinco anos.

72:7:5 8155 Não há funcionários municipais destacados para manter a paz; as forças policiais são mantidas pelo governo do estado. Esse departamento é recrutado quase que inteiramente junto aos solteiros entre vinte e cinco e cinqüenta anos. A maior parte dos estados tem impostos altos para os solteiros, e que são destinados a todos os homens que integram a polícia do estado. A força policial dos estados tem atualmente, em média, apenas um décimo do tamanho que tinha cinqüenta anos atrás.

72:7:6 8156 Há pouca ou nenhuma uniformidade entre os esquemas de impostos dos cem estados relativamente livres e soberanos, pois as condições econômicas e outras variam, consideravelmente, nas diferentes partes do continente. Cada estado tem dez disposições constitucionais básicas que não podem ser modificadas, a não ser com o consentimento da suprema corte federal; e um desses artigos impede a cobrança de um imposto de mais de um por cento sobre o valor de qualquer propriedade, durante um mesmo ano; os domicílios, urbanos ou não, estão isentos.

72:7:7 8157 O governo federal não pode contrair dívidas, e a aprovação por uma maioria de três quartos é exigida para que qualquer estado possa tomar recursos emprestados, a menos que seja para propósitos de guerra. Como o governo federal não pode incorrer em débito, em caso de guerra, o Conselho Nacional da Defesa tem o poder de requisitar fundos dos estados, e também homens e materiais, segundo a necessidade. Todo débito, porém, deve ser pago em menos de vinte e cinco anos.

72:7:8 8158 A renda para manter o governo federal é retirada das cinco fontes seguintes:

72:7:9 8159 1. Impostos sobre importações. Todas as importações estão sujeitas a uma tarifa destinada a proteger o padrão de vida desse continente, que está muito acima do de qualquer outra nação do planeta. Essas tarifas são estabelecidas pela mais alta corte industrial, depois que ambas as casas do congresso industrial houverem ratificado as recomendações do chefe executivo dos assuntos econômicos, o qual é apontado, em conjunto, por esses dois órgãos legislativos. A câmara industrial superior é eleita pelo trabalho, e a câmara baixa, pelo capital.

72:7:10 8161 2 . Direitos de patentes. O governo federal encoraja a invenção e as criações originais, nos dez laboratórios regionais, dando assistência a todos os tipos de gênios – artistas, autores, e cientistas – e protegendo as patentes deles. Em troca, o governo fica com a metade dos lucros advindos dessas criações e invenções, seja vindos de máquinas, livros, objetos de arte, plantas ou animais.

72:7:11 8162 3. Imposto sobre a herança. O governo federal cobra uma taxa gradativa sobre a herança, que varia de um a cinqüenta por cento, dependendo do porte da propriedade, bem como de outras condições.

72:7:12 8163 4. Equipamento militar. O governo arrecada uma soma apreciável com os aluguéis dos equipamentos navais e militares, para uso comercial e recreativo.

72:7:13 8164 5. Recursos naturais. A renda que provém dos recursos naturais, quando não destinada, na sua totalidade, para os propósitos específicos designados na constituição da federação, é revertida para o tesouro nacional.

72:7:14 8165 Os orçamentos federais, exceto os fundos de guerra solicitados pelo Conselho Nacional da Defesa, são propostos pela câmara legislativa superior, sancionados pela câmara baixa, aprovados pelo chefe executivo, e, finalmente, validados pela comissão federal de orçamento. Os cem membros dessa comissão são indicados pelos governadores dos estados e eleitos pelos legislativos dos estados, para servirem por vinte e quatro anos, um quarto deles sendo eleito a cada seis anos. A cada seis anos esse corpo elege, por uma maioria de três quartos, um dos seus membros como chefe, e ele, assim, torna-se o diretor-controlador do tesouro federal.

8. AS ESCOLAS SUPERIORES ESPECIAIS


72:8:1 8166 Além do programa compulsório básico de educação, que abrange desde a idade de cinco anos até os dezoito, as escolas superiores especiais são mantidas do modo seguinte:

72:8:2 8167 1 . Escolas de administração estatal. Essas escolas são de três classes: nacionais, regionais e dos estados. Os cargos públicos da nação estão agrupados em quatro divisões. A primeira divisão de responsabilidade pública é, sobretudo, relacionada à administração nacional, e todos os funcionários ocupantes desses postos devem ser graduados em ambas as escolas de administração estatal, a escola regional e a nacional. Na segunda divisão, os indivíduos podem aceitar um posto político, eletivo ou por designação, depois de se graduarem em qualquer das dez escolas superiores regionais de administração estatal; as suas missões envolvem responsabilidades na administração regional e nos governos dos estados. A terceira divisão inclui responsabilidades nos estados, e desses funcionários é exigido apenas que tenham graduações em administração estatal. Da quarta e última divisão de funcionários não é exigido que tenham graduação em administração estatal, pois esses cargos são exclusivamente designados. Essas posições representam postos menores de assistência, secretariado e tecnologia, que são desempenhados pelas várias profissões liberais que atuam em funções da administração do governo.

72:8:3 8168 Os juízes das cortes menores e dos estados têm graduações das escolas de administração estatal. Os juízes dos tribunais com jurisdição sobre questões sociais, educacionais e industriais têm graduações das escolas regionais de administração. Os juízes da suprema corte federal devem ter graduações de todas essas escolas de administração estatal.

72:8:4 8171 2. Escolas de filosofia. Estas escolas são filiadas aos templos de filosofia e são mais ou menos ligadas à religião, como função pública.

72:8:5 8172 3. Instituições de ciência. Estas escolas técnicas são coordenadas à indústria mais do que ao sistema educacional, e são administradas sob quinze divisões.

72:8:6 8173 4. Escolas de aperfeiçoamento profissional. Essas instituições especiais proporcionam o aperfeiçoamento técnico para as várias profissões liberais, e são doze no total.

72:8:7 8174 5. Escolas militares e navais. Próximo da sede nacional e nos vinte e cinco centros militares costeiros são mantidas as instituições dedicadas ao aperfeiçoamento militar dos cidadãos voluntários de dezoito a trinta anos de idade. O consentimento dos pais é exigido, antes de vinte e cinco anos, para que se tenha acesso a essas escolas.

9. O PLANO DO SUFRÁGIO UNIVERSAL


72:9:1 8175 Embora as candidaturas a todos os cargos públicos estejam restritas aos graduados pelas escolas de administração pública estaduais, regionais ou federais, os líderes progressistas dessa nação descobriram uma falha séria no seu plano de sufrágio universal e, há cerca de cinqüenta anos, fizeram uma emenda constitucional provendo um esquema modificado de votação com as seguintes características:

72:9:2 8176 1. Todo homem e toda mulher de vinte anos, ou mais, tem direito a um voto. Ao atingir essa idade, todos os cidadãos devem aceitar ser membros de dois grupos de votação. Ao primeiro eles pertencerão de acordo com a sua função econômica – industrial, liberal, agrícola ou comercial; ao segundo grupo eles pertencerão de acordo com as suas inclinações políticas, filosóficas e sociais. Todos os trabalhadores, desse modo, pertencem a algum grupo eleitoral econômico, e esses agrupamentos, como as associações não-econômicas, são regulamentados muito como o é o governo nacional, com a sua tríplice divisão de poderes. A afiliação a esses grupos não pode ser modificada por doze anos.

72:9:3 8177 2. Por meio de uma indicação feita pelos governadores dos estados ou pelos executivos regionais e pelo mandato dos supremos conselhos regionais, os indivíduos que houverem prestado grandes serviços à sociedade, ou que houverem demonstrado uma sabedoria extraordinária no serviço do governo, podem ter um direito adicional de voto conferido a eles, mas com uma freqüência não maior do que a cada cinco anos, e esse direito adicional não deverá exceder a nove votos. O sufrágio máximo de qualquer votante múltiplo é de dez votos. Os cientistas, os inventores, os professores, os filósofos e os líderes espirituais também são reconhecidos, e, assim, são honrados com um poder político maior. Esses privilégios cívicos avançados são conferidos pelo estado e pelos supremos conselhos regionais, exatamente como os diplomas são conferidos pelas universidades especiais, e aqueles que os recebem ficam orgulhosos de colocar os símbolos desse reconhecimento cívico, junto com os seus outros diplomas, nas suas listas de realizações pessoais.

72:9:4 8178 3. Todos os indivíduos sentenciados ao trabalho compulsório nas minas e todos os servidores governamentais mantidos pelos fundos dos impostos perdem o direito de voto, durante o período desses serviços. Isso não se aplica a pessoas idosas, que podem aposentar-se aos sessenta e cinco anos de idade.

72:9:5 8179 4. Há cinco escalões de sufrágio, refletindo a média anual de impostos pagos anualmente para cada período de meia década. Aqueles que pagam impostos mais altos têm direito a votos extras até um máximo de cinco. Essa concessão independe de todos os outros reconhecimentos, mas, em nenhuma hipótese, uma pessoa pode ter direito a mais de dez votos.

72:9:6 8181 5. Na época em que esse plano de sufrágio foi adotado, o método territorial de votação foi abandonado em favor do sistema funcional ou econômico. Todos os cidadãos, agora, votam como membros de grupos industriais, sociais ou de profissionais liberais, independentemente da sua residência. Assim, o eleitorado consiste em grupos solidificados, unificados e inteligentes, que elegem apenas os seus melhores membros para as posições de confiança e de responsabilidade no governo. Há uma exceção a esse esquema de voto funcional ou grupal: a eleição de um chefe do executivo federal, a cada seis anos, é feita com votos de toda a nação, e nenhum cidadão vota mais do que uma vez.

72:9:7 8182 Assim, exceto na eleição do chefe do executivo, o sufrágio é exercido por agrupamentos econômicos, profissionais, intelectuais e sociais de toda a cidadania. O estado ideal é orgânico, e todo grupo livre e inteligente de cidadãos representa um órgão vital e funcional dentro do organismo governamental maior.

72:9:8 8183 As escolas de administração estatal têm o poder de entrar com processos judiciais junto às cortes do estado, visando a desautorizar o voto de qualquer indivíduo defeituoso, indolente, indiferente ou criminoso. Esse povo reconhece que, quando cinqüenta por cento de uma nação é inferior ou ausente e tem direito ao voto, essa nação está condenada. Eles acreditam que o predomínio da mediocridade provoca a queda de qualquer nação. O voto é obrigatório, e pesadas multas são dadas a quem deixar de depositar o seu voto.

10. LIDANDO COM O CRIME


72:10:1 8184 Os métodos que esse povo tem de lidar com o crime, a insanidade e a degenerescência, ainda que possam agradar sob alguns aspectos, sem dúvida, sob outros, parecerão chocantes à maioria dos urantianos. Os criminosos comuns e os deficientes são, separadamente por sexo, colocados em colônias agrícolas, onde eles produzem mais do que o necessário para sustentar-se. Os criminosos habituais mais sérios e os incuravelmente insanos são sentenciados à morte, em câmaras de gases letais, pelos tribunais. Inúmeros crimes, afora o de assassinato, incluindo a traição da confiança governamental, também implicam a punição de morte, e a ação da justiça é certa e rápida.

72:10:2 8185 Esse povo está passando da era negativa para a era positiva da lei. Recentemente, eles chegaram a ponto de tentar a prevenção do crime sentenciando aqueles que se acredita serem assassinos e criminosos maiores, em potencial, ao serviço perpétuo nas colônias penais. Se esses condenados demonstrarem, subseqüentemente, que se tornaram mais normais, eles podem ser libertados condicionalmente ou perdoados. O índice de homicídios, nesse continente, é apenas um por cento do das outras nações.

72:10:3 8186 Os esforços para impedir que os criminosos e deficientes se reproduzissem começaram há cerca de cem anos e já produziram resultados gratificantes. Não há prisões nem hospitais para os dementes. E há uma razão para tal: o número dessas pessoas é cerca de dez vezes menor do que em Urântia.

11. A PRONTIDÃO MILITAR


72:11:1 8187 Os graduados das escolas militares federais podem ser promovidos pelo presidente do Conselho Nacional da Defesa a “guardiães da civilização”, em sete escalões, de acordo com a capacidade e experiência. Esse conselho consiste em vinte e cinco membros, nomeados pelos tribunais superiores da família, da educação e das indústrias, confirmados pela suprema corte federal e presididos ex-officio pelo chefe da assessoria coordenada de assuntos militares. Esses membros servem até os setenta anos de idade.

72:11:2 8191 Os cursos que esses oficiais nomeados fazem têm quatro anos de duração e são relacionados, invariavelmente, com a mestria de algum ofício ou profissão. O aperfeiçoamento militar nunca é dado sem estar associado a essa escolaridade industrial, científica ou profissional. Quando o aperfeiçoamento militar é completado, o indivíduo terá, durante os quatro anos do curso, recebido a metade da educação administrada em qualquer das escolas especiais, nas quais os cursos têm, do mesmo modo, quatro anos de duração. Desse modo, a criação de uma classe militar profissional é evitada, proporcionando, a um grande número de homens, a oportunidade de sustentar a si próprios, ao mesmo tempo em que lhes é assegurada a primeira metade de um aperfeiçoamento técnico ou profissional.

72:11:3 8192 O serviço militar, durante os tempos de paz, é puramente voluntário, e o alistamento em todos os ramos do serviço dura quatro anos, durante os quais todo homem segue uma linha especial de estudo, além do mestrado em táticas militares. A educação musical está entre as mais visadas das escolas militares centrais e dos vinte e cinco campos de aperfeiçoamento distribuídos pela periferia do continente. Durante os períodos de inatividade industrial muitos milhares de desocupados são automaticamente utilizados para reforçar as defesas militares do continente, na terra, no mar e no ar.

72:11:4 8193 Embora esse povo mantenha um poderoso destacamento de guerra para a defesa contra a invasão pelos povos vizinhos hostis, deve ser lembrado, a seu favor, que eles nunca empregaram, durante mais de cem anos, esses recursos militares em uma guerra ofensiva. Eles tornaram-se civilizados a ponto de poder defender vigorosamente a civilização, sem ceder à tentação de utilizar o seu poderio de guerra para a agressão. Não houve guerras civis desde o estabelecimento do estado continental unido, mas, durante os dois últimos séculos, esse povo foi levado a travar nove violentos conflitos defensivos, três dos quais contra poderosas confederações de poderes mundiais. Embora essa nação mantenha uma defesa adequada contra ataques de vizinhos hostis, ela dedica muito mais atenção a formar estadistas, cientistas e filósofos.

72:11:5 8194 Quando essa nação está em paz com o mundo, todos os mecanismos de defesa móvel ficam integralmente empregados nos negócios, no comércio e na recreação. Quando a guerra é declarada, toda a nação mobiliza-se. Durante o período de hostilidades, os salários dos militares vêm de todas as indústrias, e os chefes de todos os departamentos militares tornam-se membros do gabinete do chefe do executivo.

12. AS OUTRAS NAÇÕES


72:12:1 8195 Embora a sociedade e o governo desse povo especial sejam, sob muitos aspectos, superiores àqueles das nações de Urântia, deveria ser esclarecido que nos outros continentes (há onze continentes nesse planeta) os governos são definitivamente inferiores aos das nações mais avançadas de Urântia.

72:12:2 8196 Atualmente, esse governo superior está planejando estabelecer relações diplomáticas com os povos inferiores e, pela primeira vez, um grande líder religioso surgiu advogando o envio de missionários até essas nações vizinhas. Tememos que eles estejam a ponto de incorrer no erro que tantos outros cometeram, quando tentaram impingir uma cultura e uma religião superiores a outras raças. Que coisa maravilhosa poderia ser feita naquele mundo, se essa nação continental de cultura avançada trouxesse até a si o melhor dos povos vizinhos e, então, depois de educá-los, enviasse-os de volta como emissários da cultura junto aos seus irmãos incivilizados! Claro está que, se um Filho Magisterial viesse logo a essa nação avançada, grandes coisas poderiam acontecer rapidamente nesse mundo.

72:12:3 8201 Esta narrativa sobre os assuntos de um planeta vizinho foi feita sob uma permissão especial, com a intenção de dar um avanço à civilização e de implementar a evolução dos governos em Urântia. Muito mais poderia ser dito, que sem dúvida causaria interesse e surpresa aos urantianos, mas esta revelação chega aos limites daquilo que o nosso mandato permite.

72:12:4 8202 Os urantianos deveriam, contudo, observar que essa esfera irmã, da família de Satânia, não foi beneficiada nem por missões magisteriais nem por missões de auto-outorga de Filhos do Paraíso. Nem estão os vários povos de Urântia separados uns dos outros por uma disparidade tão grande de cultura como a que separa aquela nação continental dos seus irmãos planetários.

72:12:5 8203 A efusão do Espírito da Verdade proporciona a fundamentação espiritual para a realização de grandes feitos, no interesse da raça humana do mundo de auto-outorga. Urântia está, portanto, muito mais bem preparada para uma realização mais imediata de um governo planetário, com suas leis próprias, mecanismos, símbolos, convenções e linguagem – e tudo o que poderia contribuir muito poderosamente para o estabelecimento da paz mundial, dentro da lei, e que poderia conduzir a um alvorecer futuro de uma verdadeira idade de busca e empenho espiritual; e essa idade é o portal planetário para as idades utópicas de luz e vida.

72:12:6 8204 [Apresentado por um Melquisedeque de Nebadon.]

DOCUMENTO 73

O JARDIM DO ÉDEN
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A decadência cultural e a pobreza espiritual, resultantes da desgraça de Caligástia e da confusão social conseqüente, pouco efeito tiveram sobre o status físico ou biológico dos povos de Urântia. A evolução orgânica continuou a passos largos, a despeito do retrocesso cultural e moral que, tão aceleradamente, se seguiu à deslealdade de Caligástia e de Daligástia. E veio um tempo, na história planetária, há quase quarenta mil anos, no qual os Portadores da Vida em serviço anotaram que, de um ponto de vista puramente biológico, o progresso do desenvolvimento das raças de Urântia estava aproximando-se do seu apogeu. Os administradores Melquisedeques, compartilhando dessa opinião, prontamente concordaram em aliar-se aos Portadores da Vida para uma petição aos Altíssimos de Edêntia, solicitando-lhes que Urântia fosse inspecionada com vistas a autorizar que fossem despachados, para este planeta, os elevadores biológicos, um Filho e uma Filha Materiais.

73:0:2 8212 Esse pedido foi dirigido aos Altíssimos de Edêntia, porque eles tinham exercido a jurisdição direta sobre muitos dos assuntos de Urântia desde a queda de Caligástia e a ausência temporária de autoridade em Jerusém.

73:0:3 8213 Tabamântia, supervisor soberano da série de mundos decimais ou experimentais, veio para inspecionar o planeta e, depois da sua pesquisa sobre o progresso racial, recomendou devidamente que fossem concedidos Filhos Materiais a Urântia. Pouco menos de cem anos depois da época dessa inspeção, Adão e Eva, um Filho e uma Filha Materiais do sistema local, chegaram e começaram a difícil tarefa de intentar desembaraçar os assuntos confusos de um planeta atrasado pela rebelião e colocado sob a excomunhão do isolamento espiritual.

1. OS NODITAS E OS AMADONITAS


73:1:1 8214 Num planeta normal, a chegada do Filho Material, via de regra, prenunciaria a aproximação de uma grande idade de invenções, de progresso material e de esclarecimento intelectual. A era pós-Adâmica é a grande idade científica da maioria dos mundos, mas isso não se deu em Urântia. Embora o planeta tenha sido povoado por raças fisicamente qualificadas, as tribos definhavam em profunda selvageria e na estagnação moral.

73:1:2 8215 Dez mil anos depois da rebelião, praticamente todos os avanços da administração do Príncipe haviam desaparecido; as raças do mundo estavam muito pouco melhores do que se esse Filho desencaminhado jamais houvesse vindo para Urântia. Apenas entre os noditas e os amadonitas, as tradições da Dalamátia e a cultura do Príncipe Planetário subsistiram.

73:1:3 8216 Os noditas eram os descendentes dos membros rebeldes do corpo de assessores do Príncipe, o seu nome derivando-se do seu primeiro líder, Nod, que outrora havia presidido à comissão da indústria e comércio da Dalamátia. Os amadonitas eram os descendentes daqueles andonitas que optaram por permanecer leais junto com Van e Amadon. “Amadonita” é uma designação mais cultural e religiosa do que um termo racial; do ponto de vista racial, os amadonitas eram essencialmente andonitas. “Nodita” é um termo tanto cultural quanto racial, pois os noditas constituíram a oitava raça de Urântia.

73:1:4 8221 Existia uma inimizade tradicional entre os noditas e os amadonitas. Essa hostilidade estava constantemente vindo à superfície, quando a progênie desses dois grupos tentava algum empreendimento em comum. E mesmo mais tarde, nos assuntos do Éden, foi extremamente difícil para eles trabalharem juntos em paz.

73:1:5 8222 Pouco depois da destruição da Dalamátia, os seguidores de Nod ficaram divididos em três grandes grupos. O grupo central permaneceu na vizinhança imediata da sua terra de origem, perto das cabeceiras dos rios do golfo Pérsico. O grupo oriental migrou para a região das terras altas de Elam, a leste do vale do Eufrates. O grupo do ocidente situou-se na margem nordeste do Mediterrâneo, local correspondente à costa da Síria e ao território adjacente.

73:1:6 8223 Esses noditas acasalaram-se livremente com as raças sangiques e deixaram, atrás de si, uma progênie de qualidade. E alguns dos descendentes dos rebeldes da Dalamátia subseqüentemente juntaram-se a Van e aos seus seguidores leais nas terras do norte da Mesopotâmia. Ali, nas proximidades do lago Van e da região sulina do mar Cáspio, os noditas uniram-se e acasalaram-se com os amadonitas, e foram considerados entre os “poderosos homens de outrora”.

73:1:7 8224 Antes da chegada de Adão e Eva, esses grupos – de noditas e de amadonitas – eram as raças mais avançadas e mais cultas da Terra.

2. O PLANEJAMENTO DO JARDIM


73:2:1 8225 Durante quase cem anos, antes da inspeção de Tabamântia, Van e os seus companheiros, da sua sede geral de ética e cultura mundial, situada nos planaltos, haviam pregado o advento de um Filho de Deus prometido, um elevador racial, um instrutor da verdade e um sucessor digno para o traidor Caligástia. Embora a maioria dos habitantes do mundo, naqueles dias, demonstrasse pouco ou nenhum interesse nesse vaticínio, aqueles que estavam em contato próximo com Van e Amadon levaram esse ensinamento a sério e começaram a planejar para receber efetivamente o Filho prometido.

73:2:2 8226 Van contou aos seus companheiros mais próximos a história dos Filhos Materiais em Jerusém, sobre o que conhecera deles antes mesmo de vir para Urântia. Ele sabia muito bem que esses Filhos Adâmicos sempre viveram em casas simples, mas encantadoras, em jardins; e propôs, oitenta e três anos antes da chegada de Adão e Eva, que eles se devotassem à proclamação do advento deles e à preparação de um lar-jardim para recebê-los.

73:2:3 8227 Da sua sede nos planaltos, e de sessenta e um assentamentos bem distantes uns dos outros, Van e Amadon recrutaram um corpo de mais de três mil trabalhadores entusiasmados e dispostos, que, em uma assembléia solene, dedicaram-se a essa missão de preparar a chegada do Filho prometido – ou pelo menos aguardado.

73:2:4 8228 Van dividiu os seus voluntários em cem companhias, com um capitão em cada uma e um companheiro que servia na sua assessoria pessoal como oficial de ligação, mantendo Amadon como o seu próprio colaborador. Essas comissões todas começaram seriamente os seus trabalhos preliminares e o comitê de localização do Jardim partiu à procura do local ideal.

73:2:5 8229 Embora Caligástia e Daligástia houvessem sido privados de muitos dos seus poderes para o mal, eles fizeram tudo o que lhes foi possível para frustrar e obstruir o trabalho de preparação do Jardim. Contudo, as suas maquinações malignas foram em grande parte contrabalançadas pelas atividades fiéis das quase dez mil criaturas intermediárias leais que trabalharam incansavelmente para fazer com que o empreendimento progredisse.

3. A LOCALIZAÇÃO DO JARDIM


73:3:1 8231 O comitê de localização esteve afastado por quase três anos. Fez um relatório favorável envolvendo três localizações possíveis: a primeira era uma ilha no golfo Pérsico; a segunda, a localização próxima ao rio subseqüentemente ocupada pelo segundo jardim; a terceira, uma longa e estreita península – quase uma ilha – que se projetava para oeste, na costa oriental do mar Mediterrâneo.

73:3:2 8232 O comitê foi, quase por unanimidade, a favor da terceira opção selecionada. Esse local foi escolhido, e dois anos foram necessários para transferir a sede cultural do mundo, incluindo a árvore da vida, para essa península no Mediterrâneo. Todos os grupos de moradores da península, exceto um, mudaram-se pacificamente, quando Van chegou com a sua companhia.

73:3:3 8233 Essa península no Mediterrâneo tinha um clima salubre e uma temperatura regular; esse clima era estável, devido às montanhas que circundavam o local e ao fato de que essa área era virtualmente uma ilha em um mar interior. Enquanto chovia copiosamente nos planaltos circundantes, raramente chovia no Éden propriamente dito. Todas as noites, porém, vinda da rede abrangente de canais artificiais de irrigação, uma “neblina subiria” e refrescaria a vegetação do Jardim.

73:3:4 8234 A linha do litoral dessa massa de terra era consideravelmente elevada, e o istmo ligando-a ao continente tinha apenas quarenta e três quilômetros de largura na parte mais estreita. O grande rio que banhava o Jardim vinha das terras mais altas da península e corria para o leste através do istmo peninsular até o continente, e daí atravessando as planícies da Mesopotâmia e indo para o mar adiante. Era engrossado por quatro afluentes que tinham origem nas colinas costeiras da península Edênica e que são as “quatro cabeceiras” do rio que “saía do Éden” e que se confundiram, mais tarde, com os afluentes dos rios em torno do segundo jardim.

73:3:5 8235 As montanhas que circundavam o Jardim eram ricas em pedras e metais preciosos, embora pouquíssima atenção se desse a isso. A idéia predominante era de glorificação da horticultura e exaltação da agricultura.

73:3:6 8236 O local escolhido para o Jardim era, provavelmente, o de maior beleza no gênero em todo o mundo, e o clima era, então, o ideal. Em nenhum outro lugar havia uma localização que se pudesse prestar de um modo tão perfeito a tornar-se um paraíso de expressão botânica. Nesse ponto de convergência, o que havia de melhor na civilização de Urântia estava reunindo-se. Dos seus confins para o lado exterior, o mundo permanecia nas trevas, na ignorância e selvageria. O Éden era o único local luminoso em Urântia; e, por natureza, era um sonho de beleza e logo se tornou um poema de paisagens de glória singular e perfeccionada.

4. O ESTABELECIMENTO DO JARDIM


73:4:1 8237 Quando os Filhos Materiais, os elevadores biológicos, iniciam a sua permanência em um mundo evolucionário, o local da sua morada é freqüentemente chamado de Jardim do Éden, porque é caracterizado pela beleza da flora e pelo esplendor da botânica de Edêntia, a capital da constelação. Van conhecia bem esses costumes e por isso cuidou para que toda a península fosse entregue ao Jardim. O pastoreio e a criação de animais foram projetados para as terras contíguas do continente. Da vida animal, apenas os pássaros e as várias espécies domesticadas permaneceriam no parque. As instruções de Van eram de que o Éden deveria ser um jardim, e apenas um jardim. Nenhum animal jamais foi abatido dentro dos seus recintos. Toda a carne consumida pelos trabalhadores do Jardim, durante todos os anos da construção, foi levada até lá dos rebanhos mantidos sob custódia no continente.

73:4:2 8241 A primeira tarefa foi construir o muro de tijolos, através do istmo da península. E, uma vez completado o muro, o trabalho real de embelezamento da paisagem e de construção das casas poderia continuar sem obstáculos.

73:4:3 8242 Um jardim zoológico foi criado, com a construção de um muro menor, um pouco mais para fora do muro principal; o espaço entre os dois muros, ocupado por todos os tipos de animais selvagens, servia como uma defesa adicional contra ataques hostis. Esse zoológico estava organizado em doze grandes divisões, e caminhos murados ligavam essas divisões aos doze portões do Jardim; o rio e as suas pastagens adjacentes ocupando a área central.

73:4:4 8243 Na preparação do Jardim, foram utilizados apenas trabalhadores voluntários, jamais um assalariado foi usado. Eles cultivavam o Jardim e cuidavam dos seus rebanhos para sustentar-se; e contribuições de comida eram também recebidas de crentes das vizinhanças. E esse grande empreendimento foi levado a um bom termo, a despeito das dificuldades que acompanharam a desordem do status do mundo durante esses tempos perturbados.

73:4:5 8244 Todavia, não sabendo quando viriam o Filho e a Filha esperados, Van causou uma grande decepção ao sugerir que a geração mais jovem também fosse treinada no trabalho de manter o empreendimento, para o caso de que a chegada deles fosse retardada. Isso pareceu uma admissão de falta de fé, da parte de Van, e provocou problemas consideráveis, causando muitas deserções. Van, porém, persistiu com o seu plano de prontidão, enquanto preenchia os lugares dos que desertaram com voluntários mais jovens.

5. O LAR DO JARDIM


73:5:1 8245 No centro da península edênica, encontrava-se o encantador templo de pedra do Pai Universal, o santuário sagrado do Jardim. Ao norte, a sede administrativa foi estabelecida; ao sul, foram construídas as casas para os trabalhadores e as suas famílias; a oeste, estavam reservados terrenos para as escolas propostas para o sistema educacional do Filho esperado, enquanto a “leste do Éden” foram construídos os domicílios destinados aos Filhos prometidos e à progênie imediata deles. Os planos arquitetônicos para o Éden previam casas e terras abundantes para um milhão de seres humanos.

73:5:2 8246 No momento da chegada de Adão, embora apenas um quarto do Jardim estivesse pronto, havia milhares de quilômetros de valetas de irrigação terminadas e mais de vinte mil quilômetros de vias e estradas pavimentadas. Havia um pouco mais do que cinco mil construções de tijolos nos vários setores, e árvores e plantas além da conta. Era de sete o maior número de casas que compunham qualquer conglomerado no parque. E, embora as estruturas do Jardim fossem simples, eram bastante artísticas. As estradas e as vias eram bem construídas, e a ornamentação da paisagem, refinada.

73:5:3 8247 Os dispositivos sanitários do Jardim eram mais adiantados do que qualquer coisa que houvesse sido feita anteriormente em Urântia. A água, para beber, no Éden era mantida potável por meio da observância rígida de regulamentações sanitárias destinadas a conservar a sua pureza. Durante esses tempos iniciais muita complicação advinha da negligência dessas regras, mas Van, gradativamente, inculcou nos seus companheiros a importância de não permitir que nada caísse nos reservatórios de água do Jardim.

73:5:4 8251 Antes que a rede do sistema de esgotos houvesse sido implantada, os edenitas enterravam escrupulosamente todo lixo ou material em decomposição. Os inspetores de Amadon faziam as suas rondas todos os dias, à procura de causas possíveis de doenças. Os urantianos só redespertaram a sua consciência para a importância da prevenção de doenças humanas em tempos posteriores, nos séculos dezenove e vinte. Antes da interrupção do regime Adâmico, um sistema coberto de condutos de tijolos para a rede de esgotos havia sido construído, correndo por baixo dos muros e desembocando no rio do Éden, a mais de um quilômetro e meio adiante do muro externo, o menor, do Jardim.

73:5:5 8252 Na época da chegada de Adão, a maior parte das plantas daquela região do mundo estava sendo cultivada no Éden. E muitas das frutas, cereais e nozes já haviam sido grandemente aperfeiçoadas. Muitos dos legumes e cereais modernos foram cultivados ali, pela primeira vez, mas dezenas de variedades de plantas comestíveis foram subseqüentemente perdidas para o mundo.

73:5:6 8253 Cerca de cinco por cento do Jardim destinava-se a um cultivo altamente artificial, quinze por cento estavam parcialmente cultivados e o remanescente foi deixado em um estado mais ou menos natural, aguardando a chegada de Adão, pois se considerou melhor terminar o parque de acordo com as idéias dele.

73:5:7 8254 E, assim, o Jardim do Éden se fez preparado para receber o Adão prometido e a sua consorte. E esse Jardim teria honrado um mundo sob administração perfeccionada e controle normal. Adão e Eva ficaram muito satisfeitos com o plano geral do Éden, embora houvessem feito muitas mudanças nas mobílias das suas próprias moradas pessoais.

73:5:8 8255 Embora o trabalho de embelezamento mal houvesse sido acabado na época da chegada de Adão, o local já era uma preciosidade de beleza botânica; e, durante a primeira temporada da sua estada no Éden, todo o Jardim tomou uma nova forma e assumiu novas proporções de beleza e grandeza. Nunca, antes dessa época nem depois, Urântia foi o abrigo de uma exposição de horticultura e agricultura tão completa e de tal beleza.

6. A ÁRVORE DA VIDA


73:6:1 8256 No centro do templo do Jardim, Van plantou a árvore da vida, guardada por tanto tempo, cujas folhas eram para a “cura das nações”, e cujos frutos, por tanto tempo, tinham sustentado a ele na Terra. Van sabia muito bem que Adão e Eva também dependeriam dessa dádiva de Edêntia para a manutenção das suas vidas, assim que aparecessem em Urântia na forma material.

73:6:2 8257 Os Filhos Materiais, quando nas capitais dos sistemas, não necessitam da árvore da vida para o seu sustento. Apenas quando são repersonalizados nos planetas é que eles dependem desse complemento para a imortalidade física.

73:6:3 8258 É possível que “árvore do conhecimento do bem e do mal” possa ser uma expressão, de sentido figurado, uma designação simbólica que abranja uma enorme quantidade de experiências humanas, mas a “árvore da vida” não foi um mito; ela era real e, por um período longo, esteve presente em Urântia. Quando os Altíssimos de Edêntia aprovaram a designação de Caligástia como o Príncipe Planetário de Urântia e dos cem cidadãos de Jerusém como os membros do seu corpo de assessoria administrativa, eles enviaram ao planeta, por intermédio dos Melquisedeques, um arbusto de Edêntia, e essa planta cresceu e transformou-se na árvore da vida em Urântia. Essa forma de vida não inteligente é nativa nas esferas-sedes da constelação, sendo também encontrada nos mundos-sedes do universo local e dos superuniversos, bem como nas esferas de Havona, mas não nas capitais dos sistemas.

73:6:4 8261 Essa superplanta armazenava certas energias do espaço que são antídotos para os elementos que produzem os efeitos do envelhecimento na existência animal. A fruta da árvore da vida era como uma bateria de armazenamento de uma superquímica, que, quando ingerida, libera misteriosamente a força que o universo tem de prolongamento da vida. Essa forma de sustento era totalmente inútil para os seres evolucionários comuns de Urântia, mas era especificamente útil aos cem membros materializados do corpo de assessores de Caligástia e aos cem andonitas modificados que haviam contribuído com os seus plasmas vitais para o corpo de assessores do Príncipe, e a quem, em retribuição, foi dado tornarem-se possuidores daquele complemento de vida que lhes tornou possível utilizar a fruta da árvore da vida para prolongar, por um tempo indeterminado, as suas existências que, de outro modo, seriam como as dos mortais.

73:6:5 8262 Durante os dias do governo do Príncipe, a árvore estava crescendo na terra, no canteiro central e circular do templo do Pai. Quando eclodiu a rebelião, ela foi re-cultivada do seu núcleo central por Van e seus companheiros no seu acampamento temporário. Esse arbusto de Edêntia, em seguida, foi levado para um retiro nos planaltos, onde serviu, tanto a Van quanto a Amadon, por mais de cento e cinqüenta mil anos.

73:6:6 8263 Quando Van e os seus companheiros prepararam o Jardim para Adão e Eva, eles transplantaram a árvore de Edêntia para o Jardim do Éden, onde, de novo, ela cresceu no adro central circular de um outro templo dedicado ao Pai. Então, Adão e Eva periodicamente compartilharam dos seus frutos para manter a sua forma dual de vida física.

73:6:7 8264 Quando os planos do Filho Material foram desencaminhados, não foi permitido a Adão e à sua família levar o núcleo da árvore para fora do Jardim. Quando os noditas invadiram o Éden, foi-lhes dito que se tornariam como “deuses se eles comessem do fruto da árvore da vida”. Para sua surpresa, eles encontraram-na sem guarda e comeram livremente do seu fruto durante anos, mas nada lhes sucedeu; eles eram todos mortais materiais do reino; faltava-lhes aquela dotação que atuava como complemento do fruto da árvore. Eles ficaram furiosos com a própria incapacidade de beneficiar-se da árvore da vida e, como conseqüência de uma das suas guerras internas, o templo e a árvore foram ambos destruídos pelo fogo; apenas a parede de pedra permaneceu de pé até que o Jardim posteriormente submergisse. Esse foi o segundo templo do Pai a desaparecer.

73:6:8 8265 E, agora, toda a carne em Urântia deve seguir o curso de vida e morte. Adão, Eva, os seus filhos e os filhos dos seus filhos, junto com os seus coligados, todos pereceram com o correr do tempo, tornando-se, assim, sujeitos ao esquema de ascensão do universo local, no qual a ressurreição nos mundos das mansões ocorre em seguida à morte material.

7. O DESTINO DO ÉDEN


73:7:1 8266 Depois que Adão o deixou, o primeiro Jardim foi ocupado variadamente pelos noditas, pelos cutitas e pelos suntitas. Posteriormente, tornou-se a morada dos noditas do norte que se opunham a cooperar com os adamitas. A península, após Adão haver deixado o Jardim, esteve invadida por esses noditas inferiores durante quase quatro mil anos, quando, em conseqüência da atividade violenta dos vulcões da vizinhança e da submersão da ponte terrestre que ligava a Sicília à África, o fundo do mar Mediterrâneo a leste afundou, levando para baixo das águas toda a península Edênica. Concomitantemente com essa imensa submersão, a linha da costa oriental do Mediterrâneo foi grandemente elevada. E esse foi o fim da mais bela criação natural que Urântia jamais abrigou. O afundamento não foi súbito, várias centenas de anos foram necessárias para submergir completamente toda a península.

73:7:2 8271 Nós não podemos considerar esse desaparecimento do Jardim como sendo, de nenhum modo, resultado de um malogro dos planos divinos nem resultado dos erros de Adão e Eva. Consideramos a submersão do Éden apenas um acontecimento natural, mas parece-nos que a data do afundamento do Jardim haja sido programada para acontecer por volta da data em que se teriam acumulado reservas tais da raça violeta que fossem suficientes para empreender o trabalho de reabilitar os povos do mundo.

73:7:3 8272 Os Melquisedeques aconselharam Adão a não iniciar o programa de elevação racial e de mistura das raças antes que a sua própria família alcançasse o número de meio milhão de pessoas. Nunca se pretendera que o Jardim fosse a morada permanente dos adamitas. Eles deviam tornar-se emissários de uma nova vida para todo o mundo; eles deviam mobilizar-se para outorgar-se, generosamente, às raças necessitadas da Terra.

73:7:4 8273 As instruções dadas a Adão pelos Melquisedeques implicavam que ele devia estabelecer sedes raciais, continentais e divisionais que ficariam a cargo dos seus filhos e filhas imediatos, enquanto ele e Eva deviam dividir o seu tempo entre essas várias capitais do mundo, como conselheiros e coordenadores da ministração, de âmbito mundial, da elevação biológica de avanço intelectual e de reabilitação moral.

73:7:5 8274 [Apresentado por Solônia, a seráfica “voz do Jardim”.]
DOCUMENTO 74

ADÃO E EVA
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Adão e Eva chegaram a Urântia 37 848 anos antes do ano 1934 d. C. Era meia estação, e o Jardim estava em um pico de florescimento quando eles chegaram. E foi ao meio-dia, sem prévio anúncio, que dois transportes seráficos, acompanhados pelo pessoal de Jerusém, os encarregados do transporte dos elevadores biológicos até Urântia, aterrissaram suavemente na superfície do planeta em rotação, na vizinhança do templo do Pai Universal. Todo o trabalho de rematerialização dos corpos de Adão e Eva foi feito dentro dos recintos daquele santuário, recentemente criado. E, desde o momento da chegada, passaram-se dez dias até que eles fossem recriados na forma humana dual, para serem apresentados como os novos governantes do mundo. Eles recuperaram a consciência simultaneamente. Os Filhos e Filhas Materiais sempre servem juntos. É parte da essência do serviço deles, em todos os tempos e todos os lugares, não se separarem jamais. Eles estão destinados a trabalhar aos pares; raramente funcionam separadamente.

1. ADÃO E EVA EM JERUSÉM


74:1:1 8282 O Adão e a Eva planetários de Urântia eram membros do corpo sênior de Filhos Materiais de Jerusém, onde estavam inscritos conjuntamente sob o número 14 311. Eles pertenciam à terceira série física e tinham em torno de dois metros e cinqüenta de altura.

74:1:2 8283 Na época em que Adão foi escolhido para vir para Urântia, ele estava empregado, com a sua companheira, nos laboratórios de ensaios e de provas físicas de Jerusém. Por mais de quinze mil anos, eles haviam sido diretores da divisão de energia experimental aplicada à modificação de formas vivas. Bem antes disso, haviam sido instrutores nas escolas de cidadania para recém-chegados em Jerusém. E deve-se ter tudo isso em mente ao se considerar a narrativa da sua conduta posterior em Urântia.

74:1:3 8284 Quando foi emitida a proclamação convocando voluntários para a missão da aventura Adâmica em Urântia, todo o corpo sênior de Filhos e Filhas Materiais fez-se voluntário. Os examinadores Melquisedeques, com a aprovação de Lanaforge e dos Altíssimos de Edêntia, finalmente escolheram o Adão e a Eva que vieram posteriormente a funcionar como os elevadores biológicos de Urântia.

74:1:4 8285 Adão e Eva haviam permanecido leais a Michael durante a rebelião de Lúcifer; o casal, contudo, foi convocado perante o Soberano do Sistema e o seu gabinete inteiro, para serem examinados e receberem instruções. Os detalhes dos assuntos de Urântia foram-lhes totalmente apresentados; eles foram exaustivamente instruídos quanto aos planos que deveriam seguir, ao aceitarem as responsabilidades do governo de um mundo tão transtornado por conflitos. Foram colocados sob juramentos conjuntos de lealdade aos Altíssimos de Edêntia e a Michael de Salvington. E foram devidamente aconselhados a considerar a si próprios como subordinados ao corpo de administradores Melquisedeques de Urântia, até que esse corpo de governo julgasse adequado entregar a direção do mundo ao encargo deles.

74:1:5 8291 Esse par de Jerusém deixou para trás de si, na capital de Satânia e em outros locais, cem descendentes – cinqüenta filhos e cinqüenta filhas –, criaturas magníficas que haviam escapado das armadilhas da progressão e que estavam todos funcionando como fiéis servidores, gozando da confiança do universo na época da partida dos seus pais para Urântia. Esses filhos estavam todos presentes ao belo templo dos Filhos Materiais, para assistir aos atos de despedida ligados às últimas cerimônias da aceitação da outorga. Eles acompanharam os seus progenitores até a sede da desmaterialização da sua ordem e foram os últimos a despedir-se deles e a desejar-lhes o êxito divino, enquanto os dois adormeciam na perda da consciência da personalidade que precede a preparação para o transporte seráfico. Os filhos passaram juntos algum tempo no convívio da família, rejubilando-se de que os seus pais fossem, em breve, tornar-se os chefes visíveis, em realidade, os governantes exclusivos do planeta 606 do sistema de Satânia.

74:1:6 8292 E assim Adão e Eva deixaram Jerusém, em meio à aclamação e aos bons votos dos seus cidadãos. Eles partiram para as suas novas responsabilidades, equipados adequadamente e plenamente instruídos quanto a todos os deveres e perigos que encontrariam em Urântia.

2. A CHEGADA DE ADÃO E EVA


74:2:1 8293 Adão e Eva adormeceram em Jerusém e, quando acordaram no templo do Pai em Urântia, na presença da imponente multidão reunida para dar-lhes as boas-vindas, eles estavam face a face com dois seres de quem eles muito haviam ouvido falar, Van e o seu fiel companheiro Amadon. Esses dois heróis da secessão de Caligástia foram os primeiros a saudá-los no seu novo lar no Jardim.

74:2:2 8294 A língua do Éden era um dialeto andônico, que era o que Amadon falava. Van e Amadon haviam melhorado bastante essa língua, criando um novo alfabeto de vinte e quatro letras, e esperavam vê-la transformar-se na língua de Urântia, quando a cultura Edênica se espalhasse pelo mundo. Adão e Eva já haviam aprendido e dominavam esse dialeto humano antes de partirem de Jerusém, de modo que aquele filho de Andon ouviu o eminente novo governante do seu mundo dirigir-se a ele na sua própria língua.

74:2:3 8295 E, naquele dia, houve grande emoção e alegria em todo o Éden, enquanto os corredores apressaram-se para buscar os pombos-correios reunidos de locais próximos e distantes, gritando: “Soltem os pássaros; que eles levem a nova de que o Filho prometido chegou”. Centenas de colônias de crentes, ano após ano, haviam mantido fielmente as reservas desses pombos de criação doméstica exatamente para tal ocasião.

74:2:4 8296 Na medida em que a nova da chegada de Adão espalhou-se até longe, milhares de membros das tribos das proximidades aceitaram os ensinamentos de Van e Amadon, enquanto durante meses e meses os peregrinos continuaram a afluir ao Éden, para saudar Adão e Eva e homenagear o Pai não visível de todos.

74:2:5 8297 Logo depois do despertar, Adão e Eva foram acompanhados até a recepção formal na grande elevação ao norte do templo. Essa colina natural fora ampliada e preparada para a instalação dos novos governantes do mundo. Ali, ao meio-dia, o comitê de recepção de Urântia deu as boas-vindas a esse Filho e a essa Filha do sistema de Satânia. Amadon era quem presidia ao comitê, que constava de doze membros, abrangendo um representante de cada uma das seis raças sangiques; o dirigente em exercício das criaturas intermediárias; Annan, filha e porta-voz leal dos noditas; Noé, filho do arquiteto e construtor do Jardim e executor dos planos do seu falecido pai; e os dois Portadores da Vida residentes.

74:2:6 8301 O ato seguinte foi a entrega do encargo da custódia planetária a Adão e Eva, feita pelo Melquisedeque sênior, dirigente do conselho dos administradores de Urântia. O Filho e a Filha Materiais fizeram o juramento de fidelidade aos Altíssimos de Norlatiadeque e Michael de Nebadon e foram proclamados governantes de Urântia por Van, que então renunciou à autoridade titular, a qual por mais de cento e cinqüenta mil anos ele vinha mantendo, em virtude de um ato dos administradores Melquisedeques.

74:2:7 8302 E Adão e Eva foram vestidos com os mantos reais nessa ocasião, momento da sua entronização formal no governo do mundo. Nem todas as artes de Dalamátia haviam sido perdidas para o mundo; a tecelagem era ainda praticada nos dias do Éden.

74:2:8 8303 Então, foram ouvidas a proclamação do arcanjo e a voz de Gabriel que, por transmissão, decretou o julgamento da segunda lista de chamada de Urântia e a ressurreição dos sobreviventes adormecidos da segunda dispensação de graça e de misericórdia ao planeta 606 de Satânia. A dispensação do Príncipe havia passado; a idade de Adão, a terceira época planetária, abriu-se em meio a cenas de grandeza e de simplicidade; e os novos governantes de Urântia começaram o seu reinado sob condições aparentemente favoráveis, não obstante a confusão de âmbito mundial ocasionada pela falta de cooperação daquele que o precedera em autoridade no planeta.

3. ADÃO E EVA APRENDEM SOBRE O PLANETA


74:3:1 8304 E agora, depois da sua instalação formal, Adão e Eva tornam-se conscientes, dolorosamente, do seu isolamento planetário. Silenciosas estavam as transmissões tão familiares para eles, e ausentes estavam todos os circuitos de comunicação extraplanetária. Os seus companheiros de Jerusém haviam ido para mundos onde tudo se passava normalmente, com um Príncipe Planetário bem estabelecido e um corpo de assessores experientes e competentes, prontos para recebê-los e para cooperar com eles durante o início da experiência deles em tais mundos. Todavia, em Urântia, a rebelião havia modificado tudo. Aqui, o Príncipe Planetário estava muito presente e, ainda que privado de quase todo o seu poder de fazer o mal, ele era ainda capaz de tornar difícil e, em uma certa medida, arriscada a tarefa de Adão e Eva. Eram um Filho e uma Filha de Jerusém, circunspectos e desiludidos aqueles que passearam naquela noite pelo Jardim, sob o brilho da lua cheia, falando de planos para o dia seguinte.

74:3:2 8305 Assim terminou o primeiro dia de Adão e Eva na Urântia isolada, o confuso planeta da traição de Caligástia; e eles andaram e conversaram até tarde da noite, a primeira noite deles na Terra – e sentiram-se muito sós.

74:3:3 8306 O segundo dia de Adão na Terra foi passado em uma reunião com os administradores planetários e o conselho consultor. Dos Melquisedeques e seus colaboradores, Adão e Eva souberam mais sobre os detalhes da rebelião de Caligástia e sobre o efeito que essa secessão teve sobre o progresso do mundo. E foi, no todo, uma história desencorajadora, esse longo relato dos desmandos nos assuntos mundiais. Souberam de todos os fatos a respeito do colapso completo do esquema de Caligástia para acelerar o processo de evolução social. Eles também chegaram a uma plena compreensão da loucura que fora tentar realizar o avanço planetário independentemente do plano divino de progresso. E assim terminou um dia triste, mas esclarecedor – o segundo dia deles em Urântia.

74:3:4 8311 O terceiro dia foi dedicado a uma inspeção do Jardim. Nos imensos pássaros de transporte – os fandores –, Adão e Eva viram, lá de cima, as vastas extensões do Jardim, enquanto eram carregados no ar por sobre esse que era o local mais belo da Terra. Esse dia de inspeção terminou com um enorme banquete em honra a todos aqueles que haviam trabalhado para criar esse jardim de beleza e de grandeza Edênica. E novamente, tarde na noite do seu terceiro dia, o Filho e a sua companheira caminharam no Jardim e falaram sobre a imensidão dos seus problemas.

74:3:5 8312 No quarto dia, Adão e Eva discursaram para uma assembléia do Jardim. Do monte inaugural, eles falaram ao povo a respeito dos seus planos para a reabilitação do mundo e esboçaram os métodos pelos quais eles iriam buscar redimir a cultura social de Urântia, dos níveis baixos até os quais caíra, em resultado do pecado e da rebelião. Esse foi um grande dia, e terminou com uma festa para o conselho de homens e mulheres que foram selecionados para assumir responsabilidades na nova administração dos assuntos mundiais. Percebei! Mulheres, e também homens, estavam nesse grupo, e essa era a primeira vez que uma coisa assim ocorria na Terra, desde os dias da Dalamátia. Era uma inovação assombrosa contemplar Eva, uma mulher, partilhando as honras e as responsabilidades dos assuntos do mundo com um homem. E, assim, terminou o quarto dia na Terra.

74:3:6 8313 O quinto dia foi ocupado com a organização do governo temporário, a administração que devia funcionar até que os administradores Melquisedeques deixassem Urântia.

74:3:7 8314 O sexto dia foi dedicado a uma inspeção dos numerosos tipos de homens e animais. Ao longo dos muros do lado leste do Éden, Adão e Eva foram escoltados durante todo o dia, observando a vida animal do planeta e tendo um entendimento melhor sobre o que deveria ser feito para reverter a confusão transformando-a em ordem, em um mundo habitado por tal variedade de criaturas vivas.

74:3:8 8315 Muito surpreendeu aos que acompanhavam Adão nessa viagem, observar quão plenamente ele entendia da natureza e da função dos milhares e milhares de animais mostrados a ele. No mesmo instante em que ele olhava um animal, ele indicava a sua natureza e comportamento. Adão podia dar os nomes e a descrição da origem, da natureza e da função de todas as criaturas materiais que via. Aqueles que o conduziam nessa viagem de inspeção não sabiam que o novo governante do mundo era um dos mais peritos anatomistas de toda a Satânia; e Eva era igualmente conhecedora. Adão deixou os seus companheiros estupefatos, ao descrever uma quantidade imensa de coisas vivas pequenas demais para serem vistas pelos olhos humanos.

74:3:9 8316 Quando terminou o sexto dia de permanência na Terra, Adão e Eva descansaram, pela primeira vez, no seu novo lar no “leste do Éden”. Os primeiros seis dias da aventura em Urântia haviam sido bastante cheios e eles aguardavam, com grande prazer, ter um dia inteiro livre.

74:3:10 8317 As circunstâncias, porém, assim não permitiram. O acontecido no dia que passara, no qual Adão falara tão inteligentemente e tão profundamente sobre a vida animal de Urântia, além do seu discurso inaugural, cheio de mestria e feito com o encanto que lhe era peculiar, tinham de um tal modo conquistado os corações e os intelectos dos moradores do Jardim, que todos ficaram não só de coração aberto para aceitar o Filho e a Filha recém-chegados de Jerusém como governantes, mas a maioria estava a ponto de prostrar-se diante deles e de cultuá-los como deuses.

4. A PRIMEIRA INSURREIÇÃO


74:4:1 8321 Naquela noite, a que se seguiu ao sexto dia, enquanto Adão e Eva estavam adormecidos, coisas estranhas estavam acontecendo na vizinhança do templo do Pai, no setor central do Éden. Ali, sob os raios doces da lua, centenas de homens e mulheres cheios de emoção e entusiasmo, durante horas, escutaram os argumentos apaixonados dos seus líderes. Eles tinham boas intenções, mas simplesmente não conseguiam entender a simplicidade dos modos fraternais e democráticos dos seus novos governantes. E, muito antes do nascer do dia, os novos administradores temporários dos assuntos do mundo chegaram à conclusão virtualmente unânime de que Adão e sua companheira eram exageradamente introvertidos e modestos. E decidiram que a Divindade havia descido à Terra em forma corpórea, que Adão e Eva eram, na realidade, deuses ou, de qualquer modo, estavam quase nesse estado, a ponto de serem dignos de uma reverência adoradora.

74:4:2 8322 Os incríveis acontecimentos dos primeiros seis dias de Adão e Eva na Terra haviam sido fortes demais para as mentes despreparadas até mesmo dos melhores homens da Terra; as suas cabeças estavam como que em um turbilhão, e eles haviam-se deixado levar pela proposta de trazer o nobre par até o templo do Pai, em pleno meio-dia, de modo que todos pudessem inclinar-se em adoração respeitosa e prostrar-se em humilde submissão. E os habitantes do Jardim estavam sendo realmente sinceros em tudo isso.

74:4:3 8323 Van protestou. Amadon estava ausente, fora encarregado da guarda de honra que permaneceria com Adão e Eva por toda a noite. Mas o protesto de Van foi posto de lado. Foi-lhe dito que também ele era por demais modesto, que também não se assumia; e que mesmo ele próprio não estava longe de ser um deus, ou, então, como teria ele vivido por tanto tempo na Terra, e se não fora, como havia causado um acontecimento tão importante como a vinda de Adão? E, como os edenitas superexcitados estavam a ponto de agarrá-lo e de carregá-lo até o monte para adoração, Van saiu de perto da multidão e, sendo capaz de comunicar-se com as criaturas intermediárias, enviou o líder delas com toda pressa até Adão.

74:4:4 8324 Era já quase a hora do alvorecer do sétimo dia deles, na Terra, quando Adão e Eva souberam das alarmantes novidades da proposta desses mortais bem-intencionados, mas desguiados; e então, ao mesmo tempo em que os pássaros de transporte estavam já batendo as asas para buscá-los e levá-los ao templo, as criaturas intermediárias, sendo capazes de fazer tais coisas, transportaram Adão e Eva ao templo do Pai. Era bem cedo na manhã desse sétimo dia e, do monte onde tinham sido recentemente recebidos, Adão adiantou-se para explicar sobre as ordens dos filhos divinos e deixou claro para aquelas mentes terrenas que apenas o Pai e aqueles a quem ele designava podiam ser cultuados ou adorados. Adão deixou bastante claro que ele aceitaria qualquer honraria e que receberia mesmo todo o respeito, mas nunca a adoração!

74:4:5 8325 Foi um dia memorável e, pouco antes do meio-dia, quase no momento da chegada do mensageiro seráfico trazendo a notícia de que Jerusém tomara conhecimento da instalação dos governantes do mundo, Adão e Eva, destacando-se da multidão, apontaram para o templo do Pai e disseram: “Ide agora até o emblema material da presença invisível do Pai e curvai-vos em adoração a Ele que nos fez a todos e que nos mantém vivos. E que esse ato seja a promessa sincera de que vós não sereis nunca mais tentados a adorar a ninguém senão a Deus”. E eles fizeram como Adão lhes havia mandado. O Filho e a Filha Materiais permaneceram de pé com as cabeças inclinadas, naquele pequeno monte, enquanto o povo se prostrava à volta do templo.

74:4:6 8326 E essa foi a origem da tradição do dia de sábado. Sempre, no Éden, o sétimo dia era devotado à reunião do meio-dia no templo; e o costume de consagrar o resto do dia à cultura pessoal perdurou por muito tempo. A manhã era dedicada aos aperfeiçoamentos físicos, a hora do meio-dia à adoração espiritual, a tarde à cultura da mente, enquanto a noite era passada em regozijo social. Isso nunca foi lei no Éden, mas permaneceu como costume enquanto a administração Adâmica conservou o seu poder na Terra.

5. A ADMINISTRAÇÃO DE ADÃO


74:5:1 8331 Por quase sete anos depois da chegada de Adão, os administradores Melquisedeques permaneceram nos seus postos, mas afinal chegou o momento em que eles passariam a administração dos assuntos do mundo para Adão e voltariam para Jerusém.

74:5:2 8332 A despedida dos administradores levou um dia inteiro e, durante a noite, os Melquisedeques, individualmente, deram a Adão e Eva os seus conselhos de despedida, com os melhores votos. Adão, por várias vezes, pedira aos seus conselheiros que permanecessem na Terra com ele, mas os seus pedidos foram sempre negados. Era chegado o momento em que os Filhos Materiais deveriam assumir toda a responsabilidade pela condução dos assuntos do mundo. E assim, à meia-noite, os transportadores seráficos de Satânia deixaram o planeta com quatorze seres, levando-os a Jerusém; o traslado de Van e Amadon ocorreu simultaneamente com a partida dos doze Melquisedeques.

74:5:3 8333 Tudo esteve relativamente bem em Urântia durante um certo tempo, e pareceu que Adão finalmente tornar-se-ia capaz de desenvolver algum plano para promover a expansão gradual da civilização edênica. Seguindo os conselhos dos Melquisedeques, ele começou a encorajar as artes da manufatura, com a idéia de desenvolver relações de comércio com o mundo exterior. Quando o Éden desagregou-se, havia mais de cem ateliês primitivos em funcionamento, e amplas relações de comércio com as tribos vizinhas haviam sido estabelecidas.

74:5:4 8334 Durante idades, Adão e Eva haviam sido instruídos na técnica de aperfeiçoar um mundo em prontidão para as suas contribuições especializadas para o avanço da civilização evolucionária; mas agora eles estavam face a face com problemas prementes, tais como o estabelecimento da lei e da ordem em um mundo de selvagens, de bárbaros e de seres humanos semicivilizados. À parte a nata da população da Terra, reunida no Jardim, apenas uns poucos grupos, aqui e ali, estavam prontos de fato para receber a cultura Adâmica.

74:5:5 8335 Adão fez um esforço heróico e determinado para estabelecer um governo mundial, mas deparou com uma resistência obstinada contra cada modificação. Adão já havia colocado em operação um sistema de controle grupal, em todo o Éden; havia confederado todas essas companhias na liga Edênica. Mas problemas realmente sérios ocorreram quando ele saiu do Jardim e procurou aplicar essas idéias junto às tribos exteriores. No momento em que os colaboradores de Adão começaram a trabalhar fora do Jardim, eles depararam com a resistência direta e bem planejada de Caligástia e Daligástia. O Príncipe caído fora deposto como governante do mundo, mas não havia sido afastado do planeta. Ele estava ainda presente na Terra e era capaz, pelo menos em uma certa medida, de resistir a todos os planos de Adão para a reabilitação da sociedade humana. Adão tentou prevenir as raças contra Caligástia, mas a tarefa foi dificultada em muito, porque o seu arquiinimigo era invisível aos olhos dos mortais.

74:5:6 8336 Mesmo entre os edenitas havia aquelas mentes confusas que pendiam para os ensinamentos que Caligástia disseminava, de uma liberdade pessoal desenfreada; e eles causavam contratempos sem fim para Adão; estavam constantemente perturbando os melhores planos de progressão ordeira e de desenvolvimento substancial. Adão foi obrigado, finalmente, a renunciar ao seu programa de socialização imediata e retomou o método de organização de Van, dividindo os edenitas em companhias de cem, com capitães em cada uma e com tenentes responsáveis por grupos de dez.

74:5:7 8341 Adão e Eva vieram para instituir um governo representativo em lugar da monarquia, mas eles não encontraram nenhum governo digno desse nome em toda a face da Terra. Momentaneamente, Adão abandonou todos os esforços de estabelecer um governo representativo e, antes do regime edênico entrar em colapso, ele teve êxito em estabelecer quase cem centros comerciais e sociais, onde individualidades fortes governavam no seu nome. A maioria desses centros havia sido organizada, antecipadamente, por Van e Amadon.

74:5:8 8342 O envio de embaixadores de uma tribo para outra data dos tempos de Adão. Esse foi um grande passo adiante na evolução do governo.

6. A VIDA FAMILIAR DE ADÃO E EVA


74:6:1 8343 As terras da família Adâmica abrangiam um pouco mais do que oito quilômetros quadrados. À volta desse domínio, haviam sido tomadas as providências para alojar mais de trezentos mil seres da progênie de linhagem pura. Contudo, apenas a primeira unidade das construções projetadas foi construída. Antes que o tamanho da família Adâmica crescesse para além dessa reserva inicial, todo o plano Edênico foi alquebrado e o Jardim, evacuado.

74:6:2 8344 Adamson foi o primogênito da raça violeta de Urântia, sendo secundado pela sua irmã e por Evason, o segundo filho de Adão e Eva. Eva foi mãe de cinco crianças antes que os Melquisedeques partissem – três filhos e duas filhas. Os seguintes foram dois gêmeos. Antes da falta, Eva concebeu sessenta e três crianças, trinta e duas filhas e trinta e um filhos. Quando Adão e Eva deixaram o Jardim, a sua família consistia em quatro gerações, com um total de 1 647 descendentes de pura linhagem. Eles tiveram quarenta e dois filhos depois de haverem deixado o Jardim, sem contar os dois descendentes de parentesco conjunto com uma linhagem mortal da Terra. E isso não inclui a descendência Adâmica entre os noditas e as raças evolucionárias.

74:6:3 8345 As crianças Adâmicas não tomavam leite de animais quando paravam de se nutrir do peito da mãe, com um ano de idade. Eva tinha acesso ao leite de uma grande variedade de nozes e aos sucos de muitas frutas e, conhecendo inteiramente a química e a energia desses alimentos, ela os combinava adequadamente para a nutrição dos seus filhos até o aparecimento dos dentes.

74:6:4 8346 Conquanto o cozimento fosse universalmente empregado fora do setor Adâmico do Éden, não se cozinhava nada no lar de Adão. Eles consideravam os seus alimentos – frutas, nozes e cereais – já preparados quando amadureciam. E comiam uma vez por dia, pouco depois do meio-dia. Adão e Eva também absorviam “luz e energia” diretamente de certas emanações do espaço, conjuntamente com a ministração da árvore da vida.

74:6:5 8347 Os corpos de Adão e de Eva emitiam uma luz difusa, mas eles sempre usavam roupas em conformidade com os costumes dos povos aos quais se ligaram. Embora usassem pouca roupa durante o dia, à noite eles envolviam-se com cobertas noturnas. A origem do halo tradicional que envolve as cabeças dos homens supostamente pios e santos retroage aos dias de Adão e Eva. Já que as emanações dos seus corpos eram tão fortemente obscurecidas pela roupa, apenas a auréola que se irradiava das suas cabeças era discernível. Os descendentes de Adamson sempre retratavam assim o seu conceito de indivíduos que se acreditava serem extraordinários em desenvolvimento espiritual.

74:6:6 8348 Adão e Eva podiam comunicar-se um com o outro e com os seus filhos diretos a uma distância de oitenta quilômetros. Essa troca de pensamentos era feita por meio das auréolas delicadas de gás, localizadas muito perto das estruturas do seu cérebro. Por meio desse mecanismo, eles podiam enviar e receber oscilações de pensamentos. Esse poder, porém, foi instantaneamente suspenso quando eles cederam espaço nas suas mentes para a discórdia e a desagregação do mal.

74:6:7 8351 As crianças Adâmicas freqüentavam as suas próprias escolas, até a idade de dezesseis anos; as mais jovens sendo ensinadas pelas mais velhas. Os pequeninos mudavam de atividades a cada trinta minutos, os maiores a cada hora. E, de certo, era uma visão nova em Urântia observar essas crianças de Adão e Eva brincando, em atividades alegres e vivificantes, só pelo prazer da diversão. Os jogos e o humor das raças dos dias atuais derivam-se todos das raças Adâmicas. Os adamitas, todos, tinham uma elevada apreciação da música, bem como um senso agudo de humor.

74:6:8 8352 A média de idade para o noivado era dezoito anos, e esses jovens então iniciavam um curso de dois anos de instrução e preparo para assumir as responsabilidades maritais. Aos vinte anos, eles estavam aptos para o casamento; e, depois do casamento, eles começavam o trabalho das suas vidas ou entravam em preparação especial para ele.

74:6:9 8353 A prática de algumas nações posteriores, de permitir que nas famílias reais, supostamente descendentes dos deuses, os irmãos se casassem com as irmãs, data das tradições das progênies Adâmicas, pois eles não podiam senão casar-se entre irmãos. As cerimônias de casamento da primeira e segunda geração do Jardim eram sempre oficiadas por Adão e Eva.

7. A VIDA NO JARDIM


74:7:1 8354 Os filhos de Adão, exceto pelos quatro anos em que freqüentavam as escolas do oeste, viviam e trabalhavam no “leste do Éden”. Eram educados intelectualmente até os dezesseis anos de idade, de acordo com os métodos das escolas de Jerusém. Dos dezesseis aos vinte anos, eles instruíam-se nas escolas de Urântia, na outra extremidade do Jardim, servindo ali também como professores para os graus anteriores.

74:7:2 8355 Todo o propósito do sistema das escolas do oeste do Jardim era a socialização. Os períodos matinais de recreação eram dedicados à horticultura prática e à agricultura, os períodos da tarde, aos jogos competitivos. As noites eram gastas em relações sociais e no cultivo de amizades pessoais. A educação religiosa e sexual era considerada domínio do lar, um dever dos pais.

74:7:3 8356 O ensino nessas escolas incluía a instrução sobre:

8357 1. Saúde e cuidados com o corpo.

8358 2. A regra de ouro, o modelo das relações sociais.

8359 3. A relação dos direitos individuais com os direitos grupais e as obrigações comunitárias.

83510 4. A história e a cultura das várias raças da Terra.

83511 5. Os métodos para implementar e fazer o comércio mundial progredir.

83512 6. A coordenação dos deveres e emoções conflitantes.

83513 7. O cultivo dos jogos, do humor e dos substitutos competitivos para as lutas físicas.

74:7:4 83514 As escolas e, de fato, todas as atividades do Jardim estavam sempre abertas aos visitantes. Os observadores desarmados eram livremente admitidos ao Éden, para visitas curtas. Para permanecer no Jardim, um urantiano tinha de ser “adotado”. Ele recebia instruções sobre o plano e sobre o propósito da outorga Adâmica, expressava a sua intenção de aderir a essa missão, e então fazia a declaração de lealdade ao regime social de Adão e à soberania espiritual do Pai Universal.

74:7:5 8361 As leis do Jardim eram baseadas nos códigos mais antigos da Dalamátia e foram promulgadas sob sete diretrizes:

8362 1. As leis sanitárias e de saúde.

8363 2. As regulamentações sociais do Jardim.

8364 3. O código das negociações e do comércio.

8365 4. As leis da conduta eqüitativa e das competições.

8366 5. As leis da vida familiar.

8367 6. O código civil da regra de ouro.

8368 7. Os sete mandamentos da lei moral suprema.

74:7:6 8369 A lei moral do Éden era pouco diferente dos sete mandamentos da Dalamátia. Mas os adamitas ensinavam muitas outras razões para esses mandamentos: por exemplo, a respeito da injunção contra o homicídio, a presença do Ajustador do Pensamento residente foi dada como um motivo a mais para não se destruir a vida humana. Eles ensinavam que “aquele que derramar o sangue humano terá o seu próprio sangue derramado pelo homem, pois Deus fez o homem à sua imagem”.

74:7:7 83610 A hora da adoração pública no Éden era o meio-dia; o pôr-do-sol era a hora da adoração familiar. Adão fez o que podia para desencorajar o uso de orações prontas, ensinando que a oração eficaz devia ser integralmente individual, que devia ser o “desejo da alma”; mas os edenitas continuaram a usar as preces e as formas transmitidas nos tempos da Dalamátia. Adão também se esforçou para substituir os sacrifícios de sangue, nas cerimônias religiosas, pelas oferendas de frutos da terra, mas pouco progresso tinha sido feito antes da desagregação do Jardim.

74:7:8 83611 Adão tentou ensinar às raças sobre a igualdade dos sexos. O modo pelo qual Eva trabalhava ao lado do seu marido exercia uma profunda impressão sobre todos os moradores do Jardim. Adão ensinara a eles, definitivamente, que a mulher, em igualdade com o homem, contribui com aqueles fatores da vida que se unem para formar um novo ser. Até então, a humanidade havia presumido que toda a procriação residia “na força do pai para gerar”; e havia considerado a mãe como um simples instrumento para nutrir aquele que iria nascer e para amamentar o recém-nascido.

74:7:9 83612 Adão ensinou aos seus contemporâneos tudo o que podiam compreender, mas isso não era muito, relativamente falando. Entretanto, os filhos mais inteligentes das raças da Terra aguardavam ansiosamente a época em que lhes seria permitido casar-se com os filhos superiores da raça violeta. E em que mundo diferente Urântia não se teria transformado, se esse grande plano de elevação das raças houvesse sido levado adiante! Mesmo sendo como foi, ganhos imensos resultaram da pouca quantidade do sangue dessa raça importada que foi assegurada incidentalmente aos povos evolucionários.

74:7:10 83613 E, assim, Adão trabalhou para o bem-estar e para a elevação do mundo da sua permanência. Todavia, era uma tarefa difícil conduzir esses povos mestiços e miscigenados por um caminho melhor.

8. A LENDA DA CRIAÇÃO


74:8:1 83614 A história da criação de Urântia, em seis dias, foi baseada na tradição de que Adão e Eva haviam demorado exatamente seis dias para o seu estudo inicial do Jardim. Essa circunstância conferiu uma ratificação quase sagrada ao período de tempo da semana, que fora originalmente introduzido pelos dalamatianos. O tempo de seis dias que Adão passou inspecionando o Jardim e formulando os planos preliminares para a sua organização não foi preconcebido; foi trabalhado dia a dia. A escolha do sétimo dia para a adoração foi totalmente incidental, e ligada aos fatos aqui narrados.

74:8:2 8371 A lenda de que o mundo foi criado em seis dias veio bem posteriormente; de fato veio mais de trinta mil anos mais tarde. Um aspecto da narrativa, o repentino surgimento do sol e da lua, pode ter tido origem nas tradições de que o mundo haja outrora emergido subitamente de uma nuvem densa de partículas diminutas do espaço, que, durante muito tempo, haviam obscurecido tanto o sol quanto a lua.

74:8:3 8372 A história de que Eva fora criada da costela de Adão é uma condensação confusa da chegada Adâmica e da cirurgia celeste, ligada com a troca de substâncias vivas associadas à vinda do corpo de assessores corpóreos do Príncipe Planetário, mais de quatrocentos e cinqüenta mil anos antes.

74:8:4 8373 A maioria dos povos do mundo tem sido influenciada pelas tradições de que Adão e Eva tinham formas físicas criadas para eles quando da sua chegada em Urântia. A crença de que o homem foi criado do barro era quase universal no hemisfério oriental; essa tradição pode ser encontrada desde as Ilhas Filipinas até a África, dando a volta ao mundo. E muitos grupos aceitaram essa história do homem vindo do barro, por alguma forma de criação especial, no lugar das crenças anteriores na criação progressiva – a evolução.

74:8:5 8374 Fora das influências da Dalamátia e do Éden, a humanidade tinha a tendência a acreditar na ascensão gradual da raça humana. A evolução não é uma descoberta moderna; os antigos entendiam o caráter lento e evolucionário do progresso humano. Desde o início da sua civilização, os gregos tinham idéias claras sobre isso, apesar da sua proximidade da Mesopotâmia. Embora as várias raças da Terra, infelizmente, tenham-se confundido nas suas noções de evolução, contudo, muitas das tribos primitivas acreditavam e ensinavam que eram os descendentes de vários animais. Os povos primitivos tinham o hábito de escolher para os seus “totens” os animais da sua origem presumida. Certas tribos de índios norte-americanos acreditavam que tiveram a sua origem nos castores e coiotes. Certas tribos africanas ensinam que são descendentes de hienas; uma tribo malaia, que descendem dos lêmures; um grupo de Nova Guiné, que os seus membros vêm do papagaio.

74:8:6 8375 Os babilônios, em conseqüência do seu contato direto com os remanescentes da civilização dos adamitas, ampliaram e tornaram mais bela a história da criação do homem; eles ensinaram que ele descendia diretamente dos deuses. E atinham-se a uma origem aristocrática da raça que era incompatível até mesmo com a doutrina da criação a partir do barro.

74:8:7 8376 O relato do Antigo Testamento sobre a criação data de uma época muito posterior a Moisés; ele nunca ensinou aos hebreus uma história tão distorcida. Ele apresentou, contudo, uma narrativa simples e condensada da criação aos israelitas, esperando com isso aumentar o seu apelo de adoração do Criador, o Pai Universal, a quem ele chamava de o Senhor Deus de Israel.

74:8:8 8377 Nos seus ensinamentos iniciais, com muita sabedoria, Moisés não tentou ir até antes da época de Adão e, posto que foi o instrutor supremo dos hebreus, as histórias de Adão tornaram-se intimamente associadas com aquelas da criação. Que as tradições iniciais reconheciam as civilizações pré-Adâmicas é visivelmente mostrado pelo fato de que os editores posteriores, com a intenção de erradicar todas as referências aos assuntos humanos antes da época de Adão, esqueceram-se de retirar a referência indicadora da emigração de Caim para a “terra de Nod”, onde ele encontrou uma esposa.

74:8:9 8381 Os hebreus não tiveram uma língua escrita de uso generalizado, por um longo tempo depois que chegaram à Palestina. Eles aprenderam o uso de um alfabeto dos vizinhos filisteus, que eram refugiados políticos da civilização superior de Creta. Os hebreus pouco escreveram até por volta de 900 a. C. e, não tendo nenhuma linguagem escrita até uma data tão tardia, eles tinham, em circulação, várias histórias diferentes da criação, mas, depois do cativeiro babilônio, eles inclinaram-se mais para a aceitação de uma versão mesopotâmica modificada.

74:8:10 8382 A tradição judaica ficou cristalizada no que se refere a Moisés e, por que ele se empenhou em restaurar a linhagem de Abraão até Adão, os judeus assumiram que Adão tivesse sido o primeiro homem de toda a humanidade. Yavé era o criador e ele deve ter feito o mundo justamente antes de criar Adão, já que se supunha ser Adão o primeiro homem. E, então, a tradição dos seis dias de Adão entra na história, resultando que quase mil anos depois da estada de Moisés na Terra, a tradição da criação em seis dias foi escrita e ulteriormente atribuída a ele.

74:8:11 8383 Quando os sacerdotes judeus retornaram a Jerusalém, eles já haviam terminado de escrever a sua narrativa do começo das coisas. Logo eles reivindicaram que essa narrativa era uma história recentemente descoberta da criação, escrita por Moisés. Contudo, os hebreus contemporâneos, da época de 500 a. C. , não consideraram esses escritos como sendo revelações divinas, eles os consideraram como sendo o que os povos mais recentes chamam de narrativas mitológicas.

74:8:12 8384 Esse documento espúrio, com a reputação de ser um ensinamento de Moisés, foi trazido à consideração de Ptolomeu, o rei grego do Egito, que fez com que uma comissão de setenta eruditos o traduzisse para o grego, para a sua biblioteca em Alexandria. E, assim, essa narrativa encontrou o seu lugar entre aqueles escritos que posteriormente se tornaram uma parte das coleções ulteriores das “sagradas escrituras” dos hebreus e das religiões cristãs. E, por identificação com esses sistemas teológicos, durante um longo tempo, esses conceitos influenciaram profundamente a filosofia de muitos povos ocidentais.

74:8:13 8385 Os instrutores cristãos perpetuaram a crença de um “fiat” momentâneo para a criação da raça humana, e tudo isso levou diretamente à formação da hipótese de que tenha havido uma idade de ouro, de bênção utópica, e de teoria da queda do homem ou do super-homem, o que explica a condição não utópica da sociedade. Essas perspectivas da vida e do lugar do homem no universo eram, no mínimo, desencorajantes, pois se baseavam na crença da regressão mais do que na progressão, bem como implicavam uma Deidade vingativa, que fez a sua cólera desabar sobre a raça humana, em retaliação pelos erros de certos administradores planetários de outrora.

74:8:14 8386 A “idade de ouro” é um mito, mas o Éden foi um fato; e a civilização do Jardim foi de fato arruinada. Durante cento e dezessete anos, Adão e Eva persistiam no Jardim, quando, por causa da impaciência de Eva e dos erros de julgamento de Adão, eles cometeram a presunção de desviar-se do caminho ordenado, trazendo rapidamente o desastre sobre si próprios e retardando, de um modo desastroso, o progresso do desenvolvimento em toda a Urântia.

74:8:15 8387 [Narrado por Solônia, a seráfica “voz do Jardim”.]

DOCUMENTO 75

A FALTA DE ADÃO E EVA
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Depois de mais de cem anos de esforços em Urântia, Adão não podia constatar senão pouquíssimo progresso fora do Jardim; o mundo, em geral, não parecia estar melhorando muito. A realização do aperfeiçoamento racial parecia estar muito distante; e a situação parecia desesperadora, a ponto de requerer algum remédio que não constava nos planos originais. Pelo menos era isso o que passava com freqüência pela mente de Adão, e foi isso que muitas vezes ele disse a Eva. Adão e a sua companheira eram leais, mas encontravam-se isolados dos seus semelhantes e estavam muito aflitos com a má situação do seu mundo.

1. O PROBLEMA DE URÂNTIA


75:1:1 8392 A missão Adâmica na Urântia experimental, estigmatizada e isolada pela rebelião, era uma tarefa descomunal. E o Filho e a Filha Materiais logo se tornaram conscientes das dificuldades e da complexidade do compromisso que assumiram com o planeta. Corajosamente, contudo, eles enfrentaram a tarefa de resolver os seus múltiplos problemas. Todavia, quando se dedicaram ao importante trabalho de eliminar os seres defeituosos e os degenerados dentre as linhagens humanas, eles ficaram bastante consternados. Não conseguiam ver uma saída para o dilema, e não podiam obter o conselho dos seus superiores de Jerusém, nem de Edêntia. E aqui estavam eles, isolados, confrontando-se dia a dia com algum contratempo novo e complexo, com algum problema que parecia insolúvel.

75:1:2 8393 Em condições normais, o primeiro trabalho do Adão e da Eva Planetários seria a coordenação e a mistura das raças. Em Urântia, porém, esse projeto parecia quase totalmente sem esperança, pois as raças, ainda que biologicamente adequadas, nunca haviam sido purgadas das suas linhagens atrasadas e defeituosas.

75:1:3 8394 Adão e Eva viram-se em uma esfera totalmente despreparada para a proclamação da irmandade dos homens, um mundo que tateava em uma obscuridade espiritual abjeta, afligido por uma confusão agravada pelo malogro da missão da administração precedente. A mente e a moral estavam em um nível baixo e, em lugar de começar a tarefa de efetuar a unificação religiosa, eles teriam de recomeçar o trabalho de conversão dos habitantes às mais simples formas de crenças religiosas. Em lugar de encontrarem uma língua pronta para ser adotada, eles depararam-se com a confusão mundial de centenas e centenas de dialetos locais. Nenhum Adão do serviço planetário fora, jamais, colocado em um mundo mais difícil; os obstáculos pareciam insuperáveis e os problemas aquém das possibilidades de solução por seres criados.

75:1:4 8395 Eles estavam isolados, e o terrível sentimento de solidão que os atormentava era aumentado, ainda mais, pela partida antecipada dos administradores Melquisedeques. Só indiretamente, por intermédio das ordens angélicas, podiam eles comunicar-se com qualquer ser fora do planeta. A coragem deles enfraquecia-se aos poucos, os seus espíritos abatiam-se e algumas vezes a fé quase se lhes faltava.

75:1:5 8401 Esse era o verdadeiro quadro de consternação dessas duas almas nobres ao ponderarem sobre as tarefas com que se defrontavam. Ambos estavam altamente conscientes da tarefa descomunal que envolvia a execução da sua missão planetária.

75:1:6 8402 Nenhum, dentre os Filhos Materiais de Nebadon, provavelmente, jamais esteve diante de uma tarefa tão difícil e, aparentemente, tão sem esperança, como a que Adão e Eva enfrentavam por causa da triste situação de Urântia. Se tivessem sido mais perspicazes, todavia, e mais pacientes, eles teriam, em algum momento, logrado êxito. Ambos, especialmente Eva, foram impacientes demais; não estavam dispostos a conformar-se com uma prova tão longa de resistência. Queriam ver alguns resultados imediatos, e eles os viram; mas os resultados conquistados assim revelaram-se os mais desastrosos, para eles próprios e para o seu mundo.

2. A CONSPIRAÇÃO DE CALIGÁSTIA


75:2:1 8403 Caligástia fazia visitas freqüentes ao Jardim e manteve várias conversas com Adão e Eva, mas eles mostraram-se intransigentes diante de todas as suas sugestões de ajustes e de tentativas de atalhos. Eles tinham diante de si o suficiente, em matéria de resultados da rebelião, para que se produzisse neles uma efetiva imunidade contra todas essas propostas insinuantes. E, até mesmo a progênie jovem de Adão permaneceu imune às propostas de Daligástia. E, claro está, nem Caligástia nem o seu parceiro, tinham poder para influenciar qualquer indivíduo contra a sua própria vontade, e menos ainda para persuadir os filhos de Adão a fazerem o mal.

75:2:2 8404 Deve ser lembrado que Caligástia era ainda o Príncipe Planetário titular de Urântia, um Filho desviado, entretanto ainda elevado, do universo local. Ele não foi deposto definitivamente senão na época de Cristo Michael em Urântia.

75:2:3 8405 E o Príncipe caído era persistente e determinado. Finalmente, ele desistiu de persuadir Adão e decidiu tentar um ardiloso ataque em flanco contra Eva. O maligno concluiu que a única esperança de sucesso repousava em um aproveitamento hábil das pessoas certas que pertenciam ao substrato superior do grupo nodita, os descendentes dos companheiros do seu antigo grupo de assessores corpóreo. E assim foram urdidos os planos para que a mãe da raça violeta caísse na cilada.

75:2:4 8406 Nada mais longe da intenção de Eva do que fazer qualquer coisa que desservisse aos planos de Adão ou que colocasse em perigo o seu cargo de confiança planetária. Conhecendo a tendência da mulher, de buscar resultados imediatos, mais do que de planejar com previdência para atingir efeitos de mais longo alcance, os Melquisedeques, antes de partirem, haviam especialmente colocado Eva em guarda contra os perigos peculiares que ameaçavam a posição isolada deles no planeta, e haviam-na advertido em especial, para que nunca se afastasse do lado do seu companheiro, isto é, que não tentasse nenhum método pessoal ou secreto para fazer avançar os empreendimentos comuns. Eva havia seguido essas instruções muito criteriosamente, por mais de cem anos, e não lhe ocorreu que qualquer perigo pudesse estar vinculado às conversas, crescentemente privadas e confidenciais, que ela estava desfrutando com um certo líder nodita chamado Serapatátia. Todo o caso desenvolvia-se tão gradual e naturalmente que ela foi pega desprevenida.

75:2:5 8407 Os moradores do Jardim haviam estado em contato com os noditas desde os primeiros dias do Éden. Desses descendentes miscigenados, dos membros desviados do corpo de assessores de Caligástia, eles receberam muita ajuda e cooperação de valia e, por meio deles, o regime Edênico estava agora para encontrar a completa ruína e a sua destruição final.

3. A TENTAÇÃO DE EVA


75:3:1 8411 Adão havia acabado de completar os seus primeiros cem anos na Terra, quando Serapatátia chegou à liderança da confederação ocidental, ou síria, das tribos noditas com a morte do seu pai. Serapatátia era um homem de pele morena, um brilhante descendente do ex-chefe da comissão de saúde da Dalamátia, que se casara com uma das mulheres dotadas de uma mente superior, da raça azul, daqueles dias distantes. Essa linhagem vinha mantendo a autoridade durante muitas gerações e exercia grande influência sobre as tribos noditas ocidentais.

75:3:2 8412 Serapatátia fizera muitas visitas ao Jardim e ficara profundamente impressionado com a retidão da causa de Adão. E, pouco depois de assumir a liderança dos noditas sírios, ele anunciou a sua intenção de estabelecer uma associação com o trabalho de Adão e Eva no Jardim. A maioria do seu povo uniu-se a ele nesse programa, e Adão estava reconfortado com a nova de que a mais poderosa e mais inteligente de todas as tribos vizinhas havia, quase em bloco, apoiado o programa de elevação mundial; era decididamente encorajador. E, pouco depois desse grande acontecimento, Serapatátia e o seu novo corpo de assessores foram recebidos por Adão e Eva na sua própria casa.

75:3:3 8413 Serapatátia tornou-se um dos mais capazes e eficientes de todos os colaboradores de Adão. Ele era totalmente honesto e completamente sincero em todas as suas atividades; e nunca percebeu, nem mesmo mais tarde, que estava sendo usado, pelo astuto Caligástia, como uma arma circunstancial.

75:3:4 8414 Em breve, Serapatátia tornou-se o vice-presidente da comissão edênica de relações tribais e muitos planos foram feitos para uma continuidade mais vigorosa do trabalho de conquistar as tribos longínquas para a causa do Jardim.

75:3:5 8415 Ele teve muitas conferências com Adão e Eva – especialmente com Eva – e eles conversaram sobre muitos projetos para aperfeiçoar os seus métodos. Um dia, durante uma conversa com Eva, ocorreu a Serapatátia que seria de muita ajuda, enquanto esperavam pelo recrutamento de um grande número da raça violeta, se algo pudesse ser feito, nesse meio tempo, para o aprimoramento imediato das tribos necessitadas que permaneciam à espera. Serapatátia sustentava que, se os noditas, como a raça de maior progresso e grau de cooperação, pudessem ter um líder nascido deles, mas, com origem parcial de sangue violeta, iria isso se constituir em um vínculo poderoso que uniria esses povos mais estreitamente ao Jardim. E tudo isso foi magnífica e honestamente considerado como sendo para o bem do mundo, já que essa criança, a ser criada e educada no Jardim, exerceria para sempre uma grande influência sobre o povo do seu pai.

75:3:6 8416 Novamente deve ser enfatizado que Serapatátia era de todo honesto e totalmente sincero em tudo o que propunha. Nem por uma vez sequer ele suspeitou de que estava fazendo o jogo de Caligástia e Daligástia. Serapatátia era inteiramente leal ao plano de construir uma reserva forte da raça violeta, antes de tentar a elevação mundial dos confusos povos de Urântia. Todavia, isso requereria centenas de anos para se consumar, e ele era impaciente; ele queria ver resultados imediatos – algo durante a sua própria vida. E deixou claro, para Eva, que Adão algumas vezes ficava desanimado com o pouco que fora realizado no sentido de elevar o mundo.

75:3:7 8417 Por mais de cinco anos, esses planos amadureceram secretamente. Afinal desenvolveram-se até o ponto em que Eva consentiu em ter um encontro secreto com Cano, a mente mais brilhante e o mais ativo líder da colônia vizinha de noditas amistosos. Cano tinha muita simpatia pelo regime Adâmico; de fato, ele era o líder espiritual sincero daqueles noditas vizinhos que eram favoráveis às relações amigáveis com o Jardim.

75:3:8 8421 A reunião fatal ocorreu durante o crepúsculo de uma tarde de outono, não muito longe da casa de Adão. Eva nunca antes havia visto o belo e entusiasmado Cano – e ele era um magnífico espécime, com a herança do físico superior e do intelecto destacado dos seus progenitores remotos do corpo de assessores do Príncipe. E Cano também acreditava profundamente na retidão do projeto de Serapatátia. (Fora do Jardim, a poligamia era uma prática comum. )

75:3:9 8422 Influenciada pelos elogios, pelo entusiasmo e uma grande persuasão pessoal, Eva, ali e então, consentiu em embarcar no empreendimento tão discutido, em acrescentar o seu próprio pequeno esquema de salvação do mundo ao plano divino maior e de alcance mais abrangente. Antes que ela compreendesse realmente o que acontecia, o passo fatal já fora dado. Estava feito.

4. A COMPREENSÃO DA FALTA


75:4:1 8423 A vida celeste do planeta ficou em tumulto. Adão reconheceu que algo estava errado, e pediu a Eva para ficar a sós com ele no Jardim. E agora, pela primeira vez, Adão ouviu toda a história do plano longamente alimentado para acelerar a elevação do mundo, operando simultaneamente em duas direções: a consecução do plano divino, concomitantemente com a execução do plano de Serapatátia.

75:4:2 8424 E, enquanto o Filho e a Filha Materiais comungavam assim no Jardim sob a luz da lua, “a voz do Jardim” reprovou-os pela desobediência. E aquela voz não era senão o meu próprio anúncio, ao par edênico, de que eles haviam transgredido o pacto do Jardim; que eles haviam desobedecido às instruções dos Melquisedeques; que eles haviam cometido uma falta na execução dos seus juramentos de fidelidade ao Soberano do universo.

75:4:3 8425 Eva havia consentido em participar da prática do bem e do mal. O bem é o cumprimento dos planos divinos; o pecado é uma transgressão deliberada da vontade divina; o mal é a falha na adaptação dos planos e o desajuste das técnicas, resultando na desarmonia do universo e na confusão planetária.

75:4:4 8426 Todas as vezes que o par do Jardim comera do fruto da árvore da vida, o arcanjo guardião havia-lhes avisado de que era preciso abster-se de ceder às sugestões de Caligástia de combinar o bem e o mal. Eles tinham sido assim prevenidos: “No dia em que misturardes o bem e o mal, vós certamente vos tornareis como os mortais do reino; vós certamente morrereis”.

75:4:5 8427 Eva, na ocasião fatal do seu encontro secreto com Cano, contou-lhe sobre essa advertência, muitas vezes repetida, mas Cano, não sabendo da importância, nem da significação dessas admoestações, assegurou-lhe que os homens e as mulheres com bons motivos e intenções sinceras não podiam fazer o mal; que ela certamente não morreria, mas, em vez disso, renasceria na pessoa da progênie deles, que cresceria para abençoar e estabilizar o mundo.

75:4:6 8428 Esse projeto de modificação do plano divino, mesmo havendo sido concebido e executado com toda a sinceridade e apenas com os mais elevados motivos para o bem-estar do mundo, se constituiu no mal, porque representava o caminho errado de se alcançar fins probos, pois se distanciava do caminho certo, o plano divino.

75:4:7 8431 Bem verdade é que Eva havia achado Cano agradável à vista, e compreendeu tudo o que o seu sedutor tinha prometido por meio “de um novo e maior conhecimento dos assuntos humanos e de uma compreensão mais vivificada da natureza humana como complemento para a compreensão da natureza Adâmica”.

75:4:8 8432 Naquela noite, eu falei ao pai e à mãe da raça violeta no Jardim, tal como se tornou o meu dever nessas tristes circunstâncias. Eu escutei o recital de tudo o que levou a Mãe Eva à falta, e dei a ambos o conselho e a orientação a respeito da situação imediata. Alguns desses conselhos eles seguiram, outros eles desconsideraram. Essa conversa aparece assim nos vossos registros: “o Senhor Deus, chamando Adão e Eva no Jardim e perguntando: ‘onde estais vós?’” As gerações posteriores tiveram por hábito atribuir tudo o que fosse inusitado e extraordinário, fosse natural ou espiritual, à intervenção direta e pessoal dos Deuses.

5. AS REPERCUSSÕES DA FALTA


75:5:1 8433 A desilusão de Eva foi verdadeiramente patética. Adão discerniu toda a conjuntura infeliz e, apesar do abatimento e do coração alquebrado, não manifestou senão piedade e compaixão pela sua companheira em erro.

75:5:2 8434 No desespero da compreensão do fracasso, Adão, no dia seguinte ao passo errado de Eva, procurou Laota, a brilhante mulher nodita que dirigia as escolas ocidentais do Jardim, e, com premeditação, cometeu a mesma loucura que Eva. Mas não entendais mal: Adão não foi seduzido; ele sabia exatamente o que fazia; deliberadamente, ele escolheu compartilhar do destino de Eva. Ele amava a sua companheira com uma afeição supramortal, e o pensamento da possibilidade de uma vigília solitária em Urântia, sem ela, era muito mais do que ele podia suportar.

75:5:3 8435 Quando souberam o que acontecera a Eva, os habitantes enfurecidos do Jardim ficaram furiosos e desgovernados; declararam guerra ao assentamento nodita vizinho. Saíram dos portões do Éden e precipitaram-se sobre aquele povo despreparado, destruindo-o – nem homem, mulher ou criança foram poupados. E Cano, o pai de Caim, ainda por nascer, também pereceu.

75:5:4 8436 Quando compreendeu claramente o que havia acontecido, Serapatátia foi vencido pela consternação e ficou fora de si, de medo e de remorso, e, no dia seguinte, afogou-se no grande rio.

75:5:5 8437 Os filhos de Adão procuraram confortar a sua mãe perturbada, enquanto o seu pai vagou, em solidão, durante trinta dias. Ao fim desse tempo, o bom senso voltou, e Adão retornou para a sua casa e começou a planejar a linha futura de conduta.

75:5:6 8438 As conseqüências das loucuras cometidas por pais mal orientados são partilhadas pelos filhos inocentes muito freqüentemente. Justos e nobres, os filhos e as filhas de Adão e Eva ficaram abatidos e em uma tristeza inexplicável, por causa da inacreditável tragédia que havia caído tão súbita e brutalmente sobre eles. Nem em cinqüenta anos o mais velho desses filhos recuperar-se-ia da tristeza e da dor desses dias trágicos, especialmente do terror daquele período de trinta dias, durante o qual o seu pai esteve ausente de casa e enquanto a sua mãe permanecera, enlouquecida, na mais completa ignorância sobre o paradeiro ou o destino dele.

75:5:7 8439 E esses trinta dias foram, para Eva, como anos longos de tristeza e de sofrimento. Nunca essa nobre alma recuperou-se totalmente dos efeitos desse período atroz de sofrimento mental e de dor espiritual. Nenhum aspecto das suas privações seguintes, e das dificuldades materiais, pode comparar-se, na memória de Eva, a esses terríveis dias e noites horrorosas de solidão e de incerteza insuportável. Ela soube do ato irrefletido de Serapatátia, e não sabia se, por tristeza, o seu companheiro tinha destruído a si próprio ou se tinha sido retirado do mundo em punição pelo erro dela. E quando Adão voltou, Eva teve uma tal satisfação de júbilo e gratidão, que nunca mais se apagou, durante toda a longa e difícil associação de vida e do árduo serviço deles.

75:5:8 8441 O tempo passou, mas Adão não estava certo sobre a natureza da ofensa que haviam cometido, até setenta dias depois da falta de Eva, quando os administradores Melquisedeques retornaram a Urântia e assumiram a jurisdição dos assuntos do mundo. E só então Adão soube que eles haviam fracassado.

75:5:9 8442 Contudo, outros problemas ainda se preparavam: as notícias do aniquilamento da colônia nodita vizinha do Éden não demoraram a alcançar as tribos de origem de Serapatátia ao norte e, em breve, um grande exército estava sendo reunido para marchar sobre o Jardim. E isso foi o começo de uma guerra longa e amarga entre os adamitas e os noditas, pois essas hostilidades prolongaram-se até muito tempo depois de Adão e os seus seguidores haverem emigrado para o segundo jardim, no vale do Eufrates. Houve uma intensa e prolongada “inimizade entre aquele homem e a mulher, entre a sua semente e a semente dela”.

6. ADÃO E EVA DEIXAM O JARDIM


75:6:1 8443 Quando soube que os noditas estavam em marcha, Adão procurou o conselho dos Melquisedeques, mas eles recusaram-se a lhe dar orientação. Disseram apenas que ele fizesse como achasse melhor, mas lhe prometeram sua cooperação amistosa, naquilo que fosse possível, qualquer que fosse a decisão que ele tomasse. Os Melquisedeques haviam sido proibidos de interferir nos planos pessoais de Adão e Eva.

75:6:2 8444 Adão sabia que Eva e ele haviam fracassado; a presença dos administradores Melquisedeques evidenciava isso, embora ele ainda não soubesse nada sobre o status pessoal deles, nem sobre o seu destino futuro. Durante uma noite inteira, ele teve uma reunião com alguns dos mil e duzentos seguidores leais que propunham seguir o seu líder e, no dia seguinte, ao meio-dia, esses peregrinos saíram do Éden em busca de novos lares. Adão não tinha nenhum gosto pela guerra e, assim sendo, sem fazer oposição, escolheu deixar o primeiro jardim para os noditas.

75:6:3 8445 Ao terceiro dia depois da sua partida do Jardim, a caravana Edênica foi detida pela chegada de transportes seráficos de Jerusém. E, pela primeira vez, Adão e Eva foram informados sobre o que seria dos seus filhos. Enquanto os transportes permaneciam à espera, àqueles filhos que tinham chegado à idade da escolha (os vinte anos) foi dada a opção de permanecerem em Urântia com os seus pais ou tornarem-se pupilos dos Altíssimos de Norlatiadeque. Dois terços escolheram ir para Edêntia; cerca de um terço escolheu permanecer com os seus pais. Todas as crianças que não tinham idade para escolher foram levadas para Edêntia. Ninguém poderia ter assistido à dolorosa separação desse Filho Material e dessa Filha Material dos seus filhos, sem compreender quão difícil é o caminho do transgressor. Essa progênie de Adão e Eva agora está em Edêntia; e não sabemos o que deverá acontecer a eles.

75:6:4 8446 E foi uma caravana muito triste a que se preparou para continuar a sua viagem. Poderia ter havido algo mais trágico? Terem vindo a um mundo com as esperanças mais elevadas, terem sido tão auspiciosamente recebidos e, então, sair do Éden em desgraça, e ainda perder mais de três quartos dos seus filhos, antes mesmo de encontrar uma nova residência?

7. A DEGRADAÇÃO DE ADÃO E EVA


75:7:1 8451 Enquanto a caravana edênica estava parada, Adão e Eva foram informados da natureza das suas transgressões e avisados a respeito do seu destino. Gabriel apareceu para pronunciar o julgamento. E este foi o veredicto: o Adão e a Eva Planetários de Urântia são julgados em falta; eles violaram o pacto da sua missão de confiança como governantes deste mundo habitado.

75:7:2 8452 Ainda que abatidos pelo sentimento de culpa, Adão e Eva ficaram bastante reconfortados pelo anúncio de que os juízes deles, em Salvington, haviam-nos absolvido de todas acusações de terem “desrespeitado o governo do universo”. Eles não tinham sido considerados culpados de rebelião.

75:7:3 8453 O par Edênico foi informado de que eles se tinham degradado ao status de mortais do reino; e que eles deviam então se conduzir, daí por diante, como um homem e uma mulher de Urântia, encarando o futuro das raças do mundo como o seu próprio futuro.

75:7:4 8454 Muito antes de Adão e Eva deixarem Jerusém, os seus instrutores haviam explicado inteiramente a eles sobre as conseqüências de qualquer desvio vital dos planos divinos. Pessoalmente, e por repetidas vezes, tanto antes quanto depois de haverem eles chegado a Urântia, eu havia prevenido a ambos que a redução ao status de carne mortal seria, certamente, o resultado, a penalidade certa, que infalivelmente sucederia a uma falta na execução da missão planetária deles. Contudo, uma compreensão do status de imortalidade da ordem da Filiação Material é essencial para que se compreenda claramente as conseqüências resultantes da falta de Adão e Eva:

75:7:5 8455 1. Adão e Eva, como os seus semelhantes de Jerusém, mantinham o status de imortais por intermédio da associação intelectual ao circuito de gravidade da mente do Espírito. Quando essa sustentação vital é interrompida, pela disjunção mental, então, a despeito do nível espiritual de existência da criatura, o status de imortalidade é perdido. O status mortal, seguido da dissolução física, era a conseqüência inevitável da falta intelectual de Adão e Eva.

75:7:6 8456 2. O Filho e a Filha Materiais de Urântia, sendo também personalizados à semelhança da carne mortal deste mundo, eram, pois, dependentes da manutenção de um sistema circulatório dual: um, derivado das suas naturezas físicas, e, outro, da superenergia armazenada no fruto da árvore da vida. E, sempre, o arcanjo custódio da árvore havia prevenido a Adão e a Eva de que a falta cometida contra a confiança neles depositada culminaria na degradação do status deles, e que, pois, o acesso a essa fonte de energia seria negado a eles em seguida à sua falta.

75:7:7 8457 Caligástia tivera êxito na armadilha feita para Adão e Eva, mas não realizou o seu propósito de levá-los à rebelião aberta contra o governo do universo. Eles haviam feito algo de mal, no entanto, eles jamais foram culpados de desrespeito à verdade, nem de se alistarem conscientemente na rebelião contra o governo probo do Pai Universal e do seu Filho Criador.

8. A SUPOSTA QUEDA DO HOMEM


75:8:1 8458 Adão e Eva realmente caíram do seu elevado estado de filiação material, até o status inferior de homem mortal. Mas isso não foi uma queda do homem. A raça humana tem sido elevada, a despeito das conseqüências imediatas da falta Adâmica. Embora o plano divino de doar a raça violeta aos povos de Urântia haja malogrado, as raças mortais têm tirado um imenso proveito da contribuição limitada que Adão e a sua descendência deram às raças de Urântia.

75:8:2 8461 Não houve uma “queda do homem”. A história da raça humana é de evolução progressiva, e a outorga Adâmica deixou os povos do mundo enormemente aprimorados em relação à sua condição biológica anterior. As linhagens superiores de Urântia agora trazem em si fatores de herança derivados de nada menos que quatro fontes separadas: a andonita, a sangique, a nodita e a Adâmica.

75:8:3 8462 Adão não deveria ser considerado como a causa de uma maldição sobre a raça humana. Conquanto haja falhado em levar adiante o plano divino, conquanto haja transgredido o seu pacto com a Deidade, conquanto ele e a sua companheira hajam sido, sem dúvida, degradados, no seu status, como criaturas, não obstante tudo isso, a sua contribuição para a raça humana em muito colaborou para avançar a civilização de Urântia.

75:8:4 8463 Ao estimar os resultados da missão Adâmica no vosso mundo, a justiça exige que se reconheça a condição do planeta. Adão foi colocado diante de uma tarefa quase impossível, quando, junto com a sua bela companheira, foi transportado de Jerusém para este planeta escuro e confuso. Todavia, houvessem eles se guiado pelos conselhos dos Melquisedeques e dos seus colaboradores, e houvessem eles sido mais pacientes, no final teriam tido êxito. Mas Eva escutou a propaganda insidiosa da liberdade pessoal e planetária de ação. E foi levada a experimentar com o plasma da vida, da ordem material de filiação, no sentido de permitir que a comenda de vida fosse, prematuramente, misturada com aquela da ordem então miscigenada do projeto original dos Portadores da Vida, que fora previamente combinada à dos seres reprodutores outrora ligados ao corpo de assessores do Príncipe Planetário.

75:8:5 8464 Nunca, em toda a vossa ascensão ao Paraíso, ireis ganhar qualquer coisa se usardes o meio de intentar impacientemente esquivar-vos do plano estabelecido e divino, por meio de atalhos, invenções pessoais ou outros expedientes para melhorar o caminho da perfeição, para a perfeição e em prol da perfeição eterna.

75:8:6 8465 Em tudo e por tudo, provavelmente, nunca houve, em nenhum planeta de todo o Nebadon, um extravio tão desencorajador da sabedoria; mas não é surpreendente que esses passos em falso ocorram nos assuntos dos universos evolucionários. Somos parte de uma criação gigantesca e, portanto, não é estranho que tudo acabe não trabalhando na perfeição; o nosso universo não foi criado na perfeição. A perfeição é a nossa meta eterna, não a nossa origem.

75:8:7 8466 Se esse fosse um universo mecanicista, se a Primeira Grande Fonte e Centro fosse apenas uma força e não também uma personalidade, se toda a criação fosse uma vasta agregação de matéria física dominada por leis precisas, caracterizadas por ações energéticas invariáveis, então, a perfeição poderia predominar, a despeito mesmo do status incompleto do universo. Não haveria nenhum desacordo; não haveria nenhum atrito. Mas, no nosso universo em evolução, de perfeição relativa e de imperfeição, nós nos rejubilamos de que sejam possíveis o desacordo e o desentendimento, pois são a evidência do fato e do ato da personalidade no universo. E, se a nossa criação é uma existência dominada pela personalidade, vós podeis estar seguros das possibilidades da sobrevivência da personalidade, do seu avanço e da sua realização; podemos estar confiantes no crescimento da personalidade, na experiência e na aventura da personalidade. Quão glorioso é este universo, que é pessoal e que é progressivo, e não meramente mecânico, nem mesmo passivamente perfeito!

75:8:8 8467 [Apresentado por Solônia, a seráfica “voz do Jardim”.]

DOCUMENTO 76

O SEGUNDO JARDIM
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Quando, sem opor resistência, Adão escolheu deixar o primeiro Jardim entregue aos noditas, ele e os seus seguidores não podiam ir para o oeste, pois os edenitas não tinham barcos adequados para tal aventura marinha. Não podiam ir para o norte, porque os noditas do norte estavam já em marcha na direção do Éden. Eles temiam ir para o sul, pois as colinas daquela região estavam infestadas de tribos hostis. O único caminho aberto era o do leste e, assim, foram nessa direção para as então agradáveis regiões entre os rios Tigre e Eufrates. E muitos daqueles que foram deixados para trás, mais tarde viajaram para o leste a fim de juntarem-se aos adamitas no vale que era o seu novo lar.

76:0:2 8472 Caim e Sansa nasceram, ambos, antes que a caravana Adâmica tivesse alcançado o seu destino, entre os rios na Mesopotâmia. Laotta, a mãe de Sansa, morreu no nascimento da sua filha; Eva sofreu muito, mas sobreviveu, devido à sua força superior. Eva amamentou Sansa, a criança de Laotta, e ela foi criada junto com Caim. Sansa cresceu e transformou-se em uma mulher de grande capacidade. Tornou-se a mulher de Sargan, o chefe das raças azuis do norte; e contribuiu para o avanço dos homens azuis daqueles tempos.

1. OS EDENITAS ENTRAM NA MESOPOTÂMIA


76:1:1 8473 Quase um ano inteiro foi necessário para que a caravana de Adão alcançasse o rio Eufrates. Encontrando-o na enchente, eles permaneceram acampados nas planícies a oeste da corrente, durante quase seis semanas, até tomarem o caminho da terra, entre os rios, que se transformaria no segundo jardim.

76:1:2 8474 Quando chegou a notícia aos habitantes originais da terra do segundo jardim, de que o rei e alto sacerdote do Jardim do Éden estava marchando na direção deles, eles fugiram apressados para as montanhas do leste. Adão encontrou todo o território desejado vago, quando chegou. E ali, nessa nova localização, Adão e os seus colaboradores estabeleceram-se para trabalhar na construção de novas casas e estabelecer um novo centro de cultura e religião.

76:1:3 8475 Esse local era conhecido por Adão como sendo uma das três opções originais do comitê designado para escolher as localizações possíveis, para o Jardim, propostas por Van e Amadon. Os dois rios, em si mesmos, eram uma boa defesa natural naqueles dias, e a uma pequena distância para o norte, do segundo jardim, o Eufrates e o Tigre aproximavam-se de tal modo que um muro de defesa, estendendo-se por noventa quilômetros, poderia ser construído para proteger o território ao sul e entre os rios.

76:1:4 8476 Após instalarem-se no novo Éden, tornou-se necessário adotar métodos rudimentares de vida; parecia inteiramente verdadeiro que a terra houvesse sido amaldiçoada. A natureza, uma vez mais, seguia livre o seu curso. E agora os adamitas eram compelidos a arrancar a subsistência do solo despreparado e enfrentar as realidades da vida, em meio às hostilidades e incompatibilidades naturais da existência mortal. Eles encontraram o primeiro Jardim parcialmente preparado para eles, mas o segundo tinha de ser criado pelo trabalho das suas próprias mãos e com o “suor dos seus rostos”.

2. CAIM E ABEL


76:2:1 8481 Menos de dois anos depois do nascimento de Caim, nasceu Abel, o primeiro filho de Adão e Eva a nascer no segundo jardim. Quando Abel chegou à idade de doze anos, escolheu ser um pastor; Caim havia escolhido seguir a agricultura.

76:2:2 8482 Ora, naqueles dias, era costume fazer-se, aos sacerdotes, oferendas das coisas que estavam disponíveis. Os pastores dariam dos seus rebanhos; os agricultores, os frutos dos campos; e, de acordo com esse costume, Caim e Abel também faziam oferendas periódicas aos sacerdotes. Os dois meninos, por muitas vezes, haviam debatido sobre os méritos relativos das suas vocações, e Abel não demorou a perceber a preferência que era dada aos seus sacrifícios de animais. Em vão, Caim apelou para as tradições do primeiro Éden, para a preferência anterior dada aos frutos dos campos. Mas Abel não admitia isso, e escarnecia do desapontamento do irmão mais velho.

76:2:3 8483 Nos dias do primeiro Éden, de fato, Adão tinha tentado desencorajar as oferendas com sacrifícios animais, de modo que Caim tinha um precedente a justificar os seus argumentos. Foi difícil, contudo, organizar a vida religiosa do segundo Éden. Adão estava sobrecarregado com mil e um detalhes ligados ao trabalho de construção, defesa e agricultura. Estando muito deprimido espiritualmente, ele confiou a organização da adoração e da educação àqueles que, sendo de origem nodita, haviam servido nessas funções no primeiro Jardim; e, mesmo nesse tempo tão curto, os sacerdotes noditas que oficiavam estavam voltando aos padrões e regras dos tempos pré-Adâmicos.

76:2:4 8484 Os dois garotos nunca se deram muito bem, e essa questão dos sacrifícios contribuiu ainda mais para que entre eles crescesse um certo ódio. Abel sabia que era filho de Adão e de Eva, e nunca deixara de ressaltar, para Caim, que Adão não era o pai dele. Caim não era de raça violeta pura, pois o seu pai era da raça nodita, também misturada à linhagem azul e vermelha e ao sangue andônico aborígine. E, tudo isso, e mais a herança belicosa de Caim levaram-no a nutrir um ódio sempre crescente pelo seu irmão mais jovem.

76:2:5 8485 Os rapazes tinham respectivamente dezoito e vinte anos de idade, quando a tensão entre eles foi finalmente resolvida; um dia, quando os sarcasmos de Abel enfureceram tanto o seu belicoso irmão, a ponto de Caim fazer voltar a sua ira contra ele matando-o.

76:2:6 8486 Uma observação da conduta de Abel estabelece o valor do meio ambiente e da educação como fatores do desenvolvimento do caráter. Abel tinha uma herança ideal, e a hereditariedade forma a base de todo o caráter; mas a influência de um ambiente inferior virtualmente neutralizou essa herança magnífica. Abel, especialmente durante os seus anos mais tenros, foi muito influenciado pelo meio ambiente desfavorável. Ele ter-se-ia tornado uma pessoa inteiramente diferente, caso tivesse vivido até os vinte e cinco ou trinta anos; a sua herança superior ter-se-ia então evidenciado. Conquanto um bom ambiente possa não contribuir muito para realmente superar os defeitos do caráter de uma hereditariedade vil, um mau ambiente pode muito efetivamente estragar uma hereditariedade excelente, ao menos durante os primeiros anos da vida. O bom ambiente social e a educação adequada são um solo e uma atmosfera indispensáveis para se obter o máximo de uma boa herança.

76:2:7 8491 Da morte de Abel, os seus pais ficaram sabendo quando os seus cachorros trouxeram o rebanho para casa sem o amo. Para Adão e Eva, Caim estava-se convertendo na sombria lembrança da sua loucura, e eles o encorajaram na sua decisão de deixar o jardim.

76:2:8 8492 A vida de Caim na Mesopotâmia não foi exatamente feliz, pois ele, de um modo tão singular, tornara-se o símbolo da falta Adâmica. Não que os seus companheiros fossem indelicados com ele, mas ele não era inconsciente do ressentimento que todos tinham da sua presença. Mas, já que não trazia uma marca tribal, Caim sabia que seria morto pela primeira tribo vizinha que tivesse a chance de encontrá-lo. O medo e algum remorso levaram-no ao arrependimento. Caim nunca havia sido habitado por um Ajustador, tinha sempre desafiado a disciplina da família e sempre tratara a religião do seu pai com desdém. Mas agora ele chegara até Eva, a sua mãe, e pedia a ajuda espiritual e os guiamentos dela, e, quando ele buscou honestamente a assistência divina, um Ajustador veio para residir nele. E esse Ajustador, que residiu nele e que olhava para fora, deu a Caim uma vantagem evidente de superioridade que o colocou na categoria da muito temida tribo de Adão.

76:2:9 8493 E, então, Caim partiu para a terra de Nod, a leste do segundo Éden. Tornou-se um grande líder de um grupo do povo do seu pai e, em uma certa medida, cumpriu as predições de Serapatátia, pois promoveu a paz dentro dessa divisão entre os noditas e os adamitas, durante o período da sua vida. Caim casou-se com Remona, prima distante sua, e o primeiro filho deles, Enoch, tornou-se o chefe dos noditas elamitas. E, durante centenas de anos, os elamitas e os adamitas continuaram vivendo em paz.

3. A VIDA NA MESOPOTÂMIA


76:3:1 8494 À medida que o tempo passava, evidenciavam-se, no segundo jardim, cada vez mais as conseqüências da falta. Adão e Eva sentiam muita saudade do seu lar anterior de beleza e de tranqüilidade, bem como dos seus filhos que haviam sido deportados para Edêntia. Era, de fato, patético observar esse casal magnífico reduzido ao status da carne comum do reino; mas eles suportaram com graça e coragem aquela diminuição no seu status.

76:3:2 8495 Adão sabiamente passava a maior parte do tempo ensinando administração civil, métodos educacionais e devoções religiosas aos seus filhos e companheiros. Não fora essa previdência sua, e um pandemônio haveria irrompido, quando da sua morte. E desse modo, a morte de Adão em pouco afetou a condução dos assuntos do seu povo. Contudo, muito antes de Adão e Eva morrerem, eles reconheceram que os seus filhos e os seus seguidores haviam gradualmente aprendido a esquecer os dias da sua glória no Éden. E foi melhor, para a maioria dos seus seguidores, que houvessem esquecido a grandeza do Éden, pois assim eles teriam menos possibilidades de sentir um descontentamento injustificado com o seu meio ambiente menos favorecido.

76:3:3 8496 Os governantes civis dos adamitas saíram hereditariamente dos filhos do primeiro jardim. O primeiro filho de Adão, Adamson (Adão ben Adão), fundou um centro secundário da raça violeta, ao norte do segundo Éden. O segundo filho de Adão, Evason, tornou-se um dirigente e um administrador magistral; ele foi um grande colaborador do seu pai. Evason não viveu tanto tempo quanto Adão, e o seu filho mais velho, Jansad, foi o sucessor de Adão na chefia das tribos adamitas.

76:3:4 8497 Os governantes religiosos, ou o sacerdócio, originaram-se de Set, o filho sobrevivente mais velho de Adão e Eva, nascido no segundo jardim. Ele nasceu cento e vinte e nove anos depois da chegada de Adão em Urântia. Set ficou absorvido pelo trabalho de aperfeiçoar o status espiritual do povo do seu pai, tornando-se o dirigente do novo sacerdócio do segundo jardim. O seu filho, Enos, fundou a nova ordem de adoração, e o seu neto, Kenan, instituiu o serviço exterior de missionários para as tribos vizinhas, próximas e distantes.

76:3:5 8501 O sacerdócio setita foi uma missão tríplice, abrangendo religião, saúde e educação. Os sacerdotes dessa ordem eram treinados para oficiar em cerimônias religiosas, para servir como médicos e inspetores sanitários e para atuar como professores nas escolas do jardim.

76:3:6 8502 A caravana de Adão trouxera consigo, para a terra entre os rios, as sementes e os bulbos de centenas de plantas e de cereais do primeiro Jardim; e, também, havia trazido consigo vastos rebanhos e alguns animais domesticados. Por causa disso, tiveram grandes vantagens sobre as tribos vizinhas. Eles desfrutavam de muitos dos benefícios da cultura anterior, do Jardim original.

76:3:7 8503 Até a época em que deixaram o primeiro Jardim, Adão e a sua família sempre haviam sobrevivido comendo frutas, cereais e nozes. A caminho da Mesopotâmia, pela primeira vez, tinham comido ervas e hortaliças. Logo se introduziu a prática de se comer carne, no segundo jardim, mas Adão e Eva nunca comeram carne como parte da sua dieta regular. E também Adamson e Evason, bem como os outros filhos da primeira geração do primeiro Jardim, nunca se tornaram carnívoros.

76:3:8 8504 Os adamitas superavam, em muito, os povos vizinhos nas realizações culturais e no desenvolvimento intelectual. Eles criaram um terceiro alfabeto e, de outras formas, lançaram as fundações de grande parte das coisas que foram as precursoras da arte moderna, da ciência e da literatura. Nas terras entre o Tigre e o Eufrates, eles mantiveram as artes da escrita, os trabalhos em metal, a cerâmica, a tecelagem e produziram um tipo de arquitetura que não chegou a ser superada durante milhares de anos.

76:3:9 8505 A vida no lar dos povos violetas era a ideal, para a sua época e idade. As crianças eram submetidas a cursos de aperfeiçoamento na agricultura, no artesanato e na criação de animais, ou então eram educadas para desempenharem os deveres tríplices de um setita: ser um sacerdote, um médico e um professor.

76:3:10 8506 E, quando pensardes no sacerdócio setita, não confundais esses mestres da saúde e da religião, de mente elevada e nobre, de verdadeiros educadores, com os sacerdócios adulterados e comercializados das tribos posteriores e das nações vizinhas. Os conceitos religiosos de Deidade e do universo que eles possuíam eram avançados e mais ou menos precisos, as suas regras de saúde eram excelentes para a sua época, e os seus métodos de educação jamais foram superados.

4. A RAÇA VIOLETA


76:4:1 8507 Adão e Eva são os fundadores da raça violeta de homens, a nona raça humana a aparecer em Urântia. Adão e a sua progênie tinham olhos azuis e os povos violetas eram caracterizados pela pele clara e as cores claras de cabelos – amarelo, ruivo e castanho.

76:4:2 8508 Eva não sofria de dor durante o parto; nem a sentiam as raças evolucionárias primitivas. Apenas as raças misturadas, produzidas pela união do homem evolucionário com os noditas e, mais tarde, com os adamitas, é que passaram a sofrer as dores violentas do nascimento dos bebês.

76:4:3 8511 Adão e Eva, como os seus irmãos em Jerusém, eram energizados por uma nutrição dual, subsistindo tanto do alimento quanto da luz, suplementados por certas energias suprafísicas, não reveladas em Urântia. A sua progênie de Urântia não herdou o dom de absorver a energia, nem o da circulação da luz. Eles tinham uma única circulação, o tipo humano de sustentação pelo sangue. E eram mortais por natureza, mas, ainda que tivessem vidas de longa duração, a longevidade teve a tendência de assumir a normalidade humana, em cada geração que se sucedeu.

76:4:4 8512 Adão e Eva e a sua primeira geração de filhos não usavam a carne de animais como alimento. Eles subsistiam integralmente dos “frutos das árvores”. Depois da primeira geração, todos os descendentes de Adão começaram a comer os produtos do leite, mas muitos deles continuaram a seguir uma dieta sem carne. Muitas das tribos do sul, às quais se uniram posteriormente, também não comiam carne. Mais tarde, a maior parte dessas tribos vegetarianas migrou para o leste e sobreviveu tal como estão todas agora, miscigenadas com os povos da Índia.

76:4:5 8513 Tanto a visão física quanto a espiritual de Adão e Eva eram muito superiores àquelas dos povos atuais. Os seus sentidos especiais eram muito mais aguçados, e eles eram capazes de ver as criaturas intermediárias e as hostes angélicas, os Melquisedeques e Caligástia, o Príncipe caído, que muitas vezes veio conversar com o seu nobre sucessor. Eles mantiveram essa capacidade de ver os seres celestes por mais de cem anos, depois da falta. Esses sentidos especiais não estavam assim tão agudamente presentes nos seus filhos e tendiam a diminuir a cada geração que se sucedia.

76:4:6 8514 Os filhos Adâmicos geralmente eram resididos por um Ajustador, pois todos eles possuíam uma capacidade indubitável de sobrevivência após a morte. Essa progênie superior não era tão sujeita ao medo quanto o são as crianças da evolução. Tanto temor ainda perdura nas raças atuais de Urântia, porque os vossos ancestrais pouquíssimo receberam do plasma vital de Adão, devido ao desvio prematuro dos planos para a elevação física racial.

76:4:7 8515 As células do corpo dos Filhos Materiais e da sua progênie são muito mais resistentes à doença do que as dos seres evolucionários naturais do planeta. As células do corpo, nas raças nativas, são afins daquelas dos organismos microscópicos e ultramicroscópicos causadores das doenças do reino. Esses fatos explicam por que os povos de Urântia têm de fazer tanto, por meio de esforços científicos, para resistir às inúmeras desordens físicas. Vós seríeis muito mais resistentes às doenças, se as vossas raças carregassem em si mais do plasma da vida Adâmica.

76:4:8 8516 Depois de se estabelecerem no segundo jardim, no Eufrates, Adão optou por deixar atrás de si o máximo possível do seu plasma de vida, para beneficiar o mundo depois da sua morte. E, desse modo, Eva tornou-se a chefe de uma comissão de doze, para o aperfeiçoamento da raça, e, antes de Adão morrer, essa comissão havia selecionado 1 682 exemplares do tipo mais elevado de mulheres de Urântia, sendo essas mulheres impregnadas com o plasma da vida Adâmica. Os seus filhos, todos, cresceram até a maturidade, exceto 112 deles, e o mundo, desse modo, foi beneficiado pelo acréscimo de 1 570 homens e mulheres superiores. Embora essas candidatas a mãe houvessem sido escolhidas de todas as tribos vizinhas e representassem a maioria das raças da Terra, a maioria foi escolhida da linhagem mais elevada dos noditas, e elas constituíram os primórdios da poderosa raça andita. As crianças nasceram e foram criadas nos ambientes tribais das suas respectivas mães.

5. A MORTE DE ADÃO E EVA


76:5:1 8517 Não muito depois do estabelecimento do segundo Éden, Adão e Eva foram devidamente informados de que o seu arrependimento era aceitável e que, embora estivessem condenados a sofrer o destino dos mortais do seu mundo, eles deveriam certamente tornar-se aptos para serem admitidos nas fileiras dos sobreviventes adormecidos de Urântia. Eles acreditaram plenamente nessa palavra de ressurreição e de reabilitação, que os Melquisedeques, de um modo tão tocante, proclamaram a eles. A sua transgressão tinha sido um erro de julgamento e não um pecado de rebelião consciente e deliberada.

76:5:2 8521 Adão e Eva, como cidadãos de Jerusém, não possuíam Ajustadores do Pensamento, nem eram resididos por Ajustadores quando funcionaram em Urântia, no primeiro jardim. Todavia, pouco depois da sua redução ao status de mortais, eles tornaram-se conscientes de uma nova presença dentro deles e despertaram para a compreensão de que o status humano, combinado com o arrependimento sincero, havia tornado possível aos Ajustadores residir neles. Foi esse conhecimento, o de serem resididos pelos Ajustadores, que, em grande parte, animou a Adão e Eva durante o restante das suas vidas; eles sabiam que haviam falhado como Filhos Materiais de Satânia, mas sabiam também que a carreira do Paraíso ainda estava aberta para eles, como filhos ascendentes do universo.

76:5:3 8522 Adão sabia sobre a ressurreição dispensacional que ocorrera simultaneamente com a sua chegada no planeta, e acreditava que a sua companheira e ele, provavelmente, iriam ser repersonalizados quando da vinda de uma nova ordem de filiação. Ele não sabia que Michael, o soberano desse universo, devia muito em breve aparecer em Urântia; e acreditava que o próximo Filho a chegar fosse da ordem Avonal. Mesmo assim, e apesar de que fosse um tanto difícil que compreendessem, foi sempre um conforto para Adão e Eva meditarem sobre a única mensagem pessoal que eles receberam de Michael. Essa mensagem, entre outras expressões de amizade e de conforto, dizia: “Eu considerei as circunstâncias da vossa falta, lembrei-me do desejo dos vossos corações, de serem sempre leais à vontade do meu Pai, e vós sereis chamados do abraço do sono mortal, quando eu vier a Urântia, caso os Filhos subordinados do meu Reino não vos buscarem antes dessa época”.

76:5:4 8523 E isso se constituiu em um grande mistério para Adão e Eva. Eles puderam compreender a promessa velada de uma possível ressurreição especial nessa mensagem, e essa possibilidade animou-os consideravelmente; todavia, eles não podiam captar o significado da notificação de que eles descansariam até o momento de uma ressurreição associada à vinda pessoal de Michael a Urântia. E assim, o par Edênico proclamou sempre que um Filho de Deus viria, em algum tempo, e transmitiu aos seus entes queridos a crença, ou, pelo menos, a esperança ardente, de que o mundo dos seus desatinos e tristezas poderia possivelmente ser o reino em que o governante desse universo iria escolher para exercer a função de Filho auto-outorgado do Paraíso. Parecia bom demais para ser verdade, mas Adão alimentou o pensamento de que a Urântia transtornada pelas lutas poderia, afinal, vir a ser o mundo mais afortunado do sistema de Satânia, o planeta invejado por todo o Nebadon.

76:5:5 8524 Adão viveu 530 anos; morreu do que se poderia chamar de velhice. O seu mecanismo físico simplesmente desgastou-se; o processo de desintegração gradualmente venceu o processo de reposição, e veio o fim inevitável. Eva morrera dezenove anos antes, por causa de um coração enfraquecido. Ambos foram enterrados no centro do templo do serviço divino, que havia sido construído de acordo com os seus planos, logo depois de o muro da colônia haver sido completado. E essa foi a origem da prática de enterrar os homens e mulheres notáveis e pios sob os pisos dos locais de adoração.

76:5:6 8525 O governo supramaterial de Urântia, sob a direção dos Melquisedeques, continuou, mas o contato físico direto com as raças fora rompido. Desde os dias longínquos da chegada dos assessores corpóreos do Príncipe Planetário, até os tempos de Van e Amadon, e depois, até a chegada de Adão e Eva, representantes físicos do governo do universo tinham estado sediados no planeta. Todavia, com a falta Adâmica, esse regime, que se estendeu durante um período de mais de quatrocentos e cinqüenta mil anos, chegou ao fim. Nas esferas espirituais, os ajudantes angélicos continuaram a lutar em conjunção com os Ajustadores do Pensamento, trabalhando ambos heroicamente para a salvação do indivíduo; mas nenhum plano abrangente para o bem-estar mundial, em longo alcance, foi promulgado, para os mortais da Terra, até a chegada, nos tempos de Abraão, de Maquiventa Melquisedeque, que, com o poder, paciência e autoridade de um Filho de Deus, lançou as fundações para uma nova elevação e uma reabilitação espiritual da desafortunada Urântia.

76:5:7 8531 O infortúnio, contudo, não foi o único destino de Urântia; este planeta foi também o mais afortunado no universo local de Nebadon. Os urantianos deveriam considerar tudo isso, afinal, como um benefício, pois, se os erros dos seus ancestrais e se as faltas dos seus primeiros governantes mundiais mergulharam o planeta em um estado de confusão sem esperança, deixando-o ainda mais confundido e em meio ao mal e ao pecado, foi esse mesmo passado de obscuridade que serviria de apelo a Michael de Nebadon e, de um modo tal, que o fez escolher este mundo como a arena onde ele revelaria a personalidade amorosa do Pai nos céus. Não que Urântia necessitasse de um Filho Criador para colocar em ordem os seus assuntos embaraçados; mas antes porque o mal e o pecado, em Urântia, proporcionariam ao Filho Criador um panorama de fundo mais contrastante contra o qual revelar o incomparável amor, misericórdia e paciência do Pai do Paraíso.

6. A SOBREVIVÊNCIA DE ADÃO E EVA


76:6:1 8532 Adão e Eva entraram no seu descanso mortal com uma forte fé nas promessas feitas pelos Melquisedeques de que eles iriam, em algum tempo, despertar do sono da morte, para reassumir a vida nos mundos das mansões, tão familiares a eles nos dias que precederam à sua missão na carne material da raça violeta em Urântia.

76:6:2 8533 Eles não permaneceram por muito tempo descansando no esquecimento do sono inconsciente dos mortais do reino. Ao terceiro dia, depois da morte de Adão, o segundo depois do seu enterro reverente, as ordens de Lanaforge, confirmadas pelos Altíssimos em exercício de Edêntia e ratificadas pelos Uniões dos Dias em Salvington, agindo em nome de Michael, foram colocadas nas mãos de Gabriel, comandando que se fizesse o chamado especial dos distinguidos sobreviventes da falta Adâmica em Urântia. E, de acordo com esse mandato de ressurreição especial, o de número vinte e seis da série de Urântia, Adão e Eva foram repersonalizados e reconstituídos nas salas de ressurreição dos mundos das mansões de Satânia, junto com 1 316 dos seus companheiros na experiência do primeiro Jardim. Muitas outras almas leais já haviam sido transladadas à época da chegada de Adão, que foi acompanhada por um julgamento dispensacional, tanto dos sobreviventes adormecidos, quanto dos seres ascendentes qualificados vivos.

76:6:3 8534 Adão e Eva passaram rapidamente pelos mundos de ascensão progressiva até alcançarem a cidadania de Jerusém para, uma vez mais, serem residentes do planeta da sua origem, mas, desta vez, como membros de uma ordem diferente de personalidades do universo. Eles deixaram Jerusém como cidadãos permanentes – Filhos de Deus – e voltaram como cidadãos ascendentes – filhos do homem. Eles foram imediatamente designados para o serviço de Urântia, na capital do sistema e, mais tarde, foi atribuída a eles a condição de membros entre os vinte e quatro conselheiros que constituem o corpo atual de controle consultor de Urântia.

76:6:4 8541 E assim termina a história do Adão e Eva Planetários de Urântia, uma história de provações, tragédia e triunfo; um triunfo ao menos pessoal, para os vossos bem-intencionados, mas iludidos, Filho e Filha Materiais; indubitavelmente, uma história de triunfo final para o mundo deles e para os seus habitantes abalados pela rebelião e assaltados pelo mal. Considerando-se tudo isso, Adão e Eva deram uma contribuição poderosa para acelerar a civilização e para o progresso biológico da raça humana. Eles deixaram uma grande cultura na Terra, mas não foi possível que uma civilização, de tal modo avançada, sobrevivesse, por causa da diluição prematura e do desaparecimento ulterior da herança Adâmica. É o povo que faz uma civilização; a civilização não faz o povo.

76:6:5 8542 [Apresentado por Solônia, a seráfica “voz do Jardim”.]

DOCUMENTO 77

AS CRIATURAS INTERMEDIÁRIAS
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A maioria dos mundos habitados de Nebadon abriga um ou mais grupos de seres únicos que existem em um nível de operação vital, que é intermediário entre o dos mortais dos reinos e o das ordens angélicas; e por isso eles são chamados de criaturas ou seres intermediários. Elas parecem ser um acidente do tempo, mas são encontradas em um âmbito tão vasto e são de uma ajuda tão preciosa que, há muito, nós as aceitamos como uma das ordens essenciais à nossa ministração planetária combinada.

77:0:2 8552 Em Urântia, duas ordens distintas de seres intermediários estão em função: o corpo primário ou o sênior, que veio à existência nos dias passados da Dalamátia, e o corpo secundário ou mais jovem, cuja origem data dos tempos de Adão.

1. OS SERES INTERMEDIÁRIOS PRIMÁRIOS


77:1:1 8553 Os seres intermediários primários têm a sua origem em uma interligação única entre o material e o espiritual, em Urântia. Sabemos da existência de criaturas semelhantes em outros mundos e outros sistemas, mas elas originaram-se sob técnicas diferentes.

77:1:2 8554 É conveniente ter-se sempre em mente que as auto-outorgas sucessivas dos Filhos de Deus, em um planeta em evolução, produzem mudanças acentuadas na economia espiritual daquele reino e que, algumas vezes, modificam os trabalhos de interação das agências espirituais e materiais, em um planeta, e criam situações que são, de fato, difíceis de serem compreendidas. O status dos cem membros corpóreos da assessoria do Príncipe Caligástia ilustra, com precisão, esta interassociação única: como cidadãos moronciais ascendentes de Jerusém, eles eram criaturas supramateriais, sem as prerrogativas da reprodução. Como ministros planetários descendentes, em Urântia, eles eram criaturas materiais sexuadas, capazes de gerar uma progênie material (como alguns o fizeram mais tarde). O que não podemos explicar satisfatoriamente é como essas cem pessoas puderam funcionar no papel de progenitores, em um nível supramaterial, mas isso foi exatamente o que aconteceu. Um enlace supramaterial (não sexual) entre um membro masculino e um feminino da assessoria corpórea resultou no aparecimento dos primogênitos entre as criaturas intermediárias primárias.

77:1:3 8555 Imediatamente foi descoberto que as criaturas dessa ordem, a meio caminho entre o nível mortal e o angélico, seriam de grande utilidade no serviço dos assuntos da sede central do Príncipe, e então cada par da assessoria corpórea recebeu a autorização para gerar um ser semelhante. Esse esforço resultou no primeiro grupo de cinqüenta criaturas intermediárias.

77:1:4 8556 Depois de um ano de observação do trabalho desse grupo único, o Príncipe Planetário autorizou a reprodução de seres intermediários sem restrição. Esse plano foi levado adiante enquanto perdurou o poder de criar, e o corpo original de 50 000 criaturas nasceu desse modo.

77:1:5 8561 Um período de meio ano interpunha-se entre a produção de um ser intermediário e o próximo e, quando um milhar desses seres havia nascido, de cada casal, não se criava mais nenhum. E não há explicação alguma disponível quanto ao porquê da exaustão desse poder, depois que a progênie atingia o número de mil. Todas as tentativas seguintes sempre resultaram em fracassos.

77:1:6 8562 Essas criaturas constituíram o corpo de informação da administração do Príncipe. Elas percorriam todos os lugares, estudando e observando as raças do mundo e prestando outros serviços inestimáveis ao Príncipe e ao seu corpo de assessores, na tarefa de influenciar a sociedade humana em áreas distantes da sede planetária.

77:1:7 8563 Esse regime continuou até os dias trágicos da rebelião planetária, que fez com que caíssem mais de quatro quintos das criaturas intermediárias primárias. O corpo leal aderiu ao serviço dos administradores Melquisedeques, funcionando sob a liderança titular de Van, até os dias de Adão.

2. A RAÇA NODITA


77:2:1 8564 Embora esta narrativa seja sobre a origem, natureza e função das criaturas intermediárias de Urântia, o parentesco entre as duas ordens – a primária e a secundária – torna necessário que se interrompa a história das criaturas intermediárias primárias, neste ponto, para acompanhar-se a linhagem da descendência dos membros rebeldes do grupo de assessores corpóreos do Príncipe Caligástia, desde os dias da rebelião planetária até a época de Adão. Foi essa linhagem hereditária que, nos dias iniciais do segundo jardim, forneceu a metade da ascendência para as ordens secundárias de criaturas intermediárias.

77:2:2 8565 Os membros físicos da assessoria do Príncipe haviam sido formados como criaturas sexuadas com o propósito de participarem do plano de procriação de uma descendência que incorporasse as qualidades combinadas, da sua ordem especial aliadas àquelas da linhagem selecionada das tribos de Andon, e tudo isso em antecipação ao aparecimento posterior de Adão. Os Portadores da Vida haviam planejado um novo tipo de ser mortal que englobava a união da progênie conjunta da assessoria do Príncipe com a primeira geração da progênie de Adão e Eva. Haviam elaborado, assim, um plano que previa uma nova ordem de criaturas planetárias, as quais, eles esperavam, constituíssem os governantes e mestres da sociedade humana. Esses seres estavam destinados à soberania social, não à soberania civil. No entanto, já que esse projeto malogrou quase completamente, nunca saberemos de que tipos de aristocracia, de liderança benigna e de cultura ímpar, Urântia ficou privada desse modo. Com efeito, a assessoria corpórea reproduziu-se depois da rebelião e, portanto, após haver sido privada da sua conexão com as correntes vitais do sistema.

77:2:3 8566 A era posterior à rebelião em Urântia presenciou muitos acontecimentos inusitados. Uma grande civilização – a cultura da Dalamátia – estava desmoronando. “Os Nefilins (Noditas) estavam na Terra naqueles tempos e, quando esses filhos dos deuses foram até as filhas dos homens e elas conceberam deles, os seus filhos formaram os ‘poderosos homens de outrora’, os ‘homens de renome’”. Ainda que dificilmente fossem “filhos dos deuses”, os assessores do Príncipe e os seus primeiros descendentes eram considerados como tais pelos mortais evolucionários daqueles dias distantes; mesmo a sua estatura veio a ser aumentada pela tradição. Essa, então, é a origem das lendas de um folclore quase universal, de deuses que desceram à Terra e que conceberam com as filhas dos homens uma antiga raça de heróis. E toda essa lenda foi ainda mais confundida com as misturas das raças dos adamitas, que apareceram mais tarde, no segundo jardim.

77:2:4 8571 Como os cem membros corpóreos da assessoria do Príncipe traziam o plasma do germe das linhagens humanas andônicas, seria naturalmente esperado que, se eles praticassem a reprodução sexual, a sua progênie em muito assemelhar-se-ia à progênie dos outros pais andonitas. Contudo, quando os sessenta rebeldes do corpo de assessoria do Príncipe, os seguidores de Nod, empenharam-se, de fato, na reprodução sexual, os seus filhos provaram ser muito superiores, em quase todos os sentidos, aos povos andonitas, e também superiores aos sangiques. Essa excelência inesperada não era caracterizada apenas por qualidades físicas e intelectuais, mas também por capacidades espirituais.

77:2:5 8572 Esses traços mutantes, que apareceram na primeira geração dos noditas, resultaram de certas mudanças que haviam sido infundidas na configuração e nos constituintes químicos dos fatores hereditários do plasma do germe andônico. Essas mudanças foram causadas pela presença, nos corpos dos membros da assessoria do Príncipe, de circuitos poderosos de manutenção da vida do sistema de Satânia. Esses circuitos de vida fizeram com que os cromossomas do modelo especializado urantiano se reorganizassem mais segundo os modelos padronizados do tipo de especialização de Satânia, da manifestação de vida ordenada de Nebadon. A técnica de metamorfose desse plasma do germe da vida, por meio da ação das correntes vitais do sistema, não é de todo diferente dos procedimentos por meio dos quais os cientistas de Urântia modificam os plasmas do germe das plantas e dos animais, pelo uso dos raios X.

77:2:6 8573 Assim, os povos noditas surgiram a partir de certas modificações peculiares e inesperadas que ocorreram no plasma da vida, que os cirurgiões de Avalon haviam transferido dos corpos dos contribuidores andonitas para os dos membros do corpo de assessores corpóreos do Príncipe.

77:2:7 8574 Deveis recordar-vos de que os cem andonitas contribuidores do plasma do germe converteram-se, por sua vez, em possuidores do complemento orgânico da árvore da vida, de um modo tal que as correntes da vida de Satânia também fizeram parte dos seus corpos. Os quarenta e quatro andonitas modificados que aderiram ao corpo de assessores do Príncipe, na rebelião, também procriaram entre si e prestaram uma grande contribuição para melhorar a linhagem do povo nodita.

77:2:8 8575 Esses dois grupos, abrangendo 104 indivíduos, que traziam em si o plasma do germe andonita modificado, constituem os ancestrais dos noditas, a oitava raça a aparecer em Urântia. E essa nova característica da vida humana, em Urântia, representa uma outra fase da execução do plano original de se utilizar este planeta como um mundo de modificação de vida, não obstante haja sido esse um dos desenvolvimentos não previstos.

77:2:9 8576 Os noditas de linhagem pura foram uma raça magnífica, mas, gradativamente, eles misturaram-se aos povos evolucionários da Terra, e não demorou muito para que ocorresse uma grande deterioração. Dez mil anos depois da rebelião, eles haviam perdido terreno até um ponto em que o seu tempo médio de vida chegou a ser apenas um pouco maior do que o das raças evolucionárias.

77:2:10 8577 Quando os arqueólogos desenterraram os blocos de argila com os registros dos sumérios, os mais recentes descendentes dos noditas, eles descobriram listas de reis sumérios que remontam a vários milhares de anos atrás; e à medida que esses registros recuam no tempo, os reinados individuais desses reis têm a duração de vinte e cinco ou trinta anos, até cento e cinqüenta anos ou mais. Essa duração maior dos reinados dos reis mais antigos significa que alguns dos governantes noditas (descendentes imediatos do corpo de assessores do Príncipe) viveram mais tempo do que os seus sucessores mais recentes e também indica um esforço de remontar as suas dinastias até a época da Dalamátia.

77:2:11 8578 O registro de vidas individuais tão prolongadas é devido também à confusão entre os meses e os anos como medidas de tempo. Isso pode ser também observado na genealogia bíblica de Abraão e nos primeiros registros dos chineses. A confusão do mês de vinte e oito dias, ou estação, com o ano de mais de trezentos e cinqüenta dias, introduzido posteriormente, é responsável pelas versões das tradições de vidas humanas tão longas. Há registros de um homem que viveu por mais de novecentos “anos”. Esse período representa setenta anos incompletos, e essas vidas foram consideradas como muito longas durante muito tempo, e posteriormente esse ciclo de vida foi definido como “três vintenas mais dez”.

77:2:12 8581 A medição do tempo pelo mês de vinte e oito dias perdurou até muito tempo depois de Adão. Quando, porém, os egípcios fizeram a reforma do calendário, há aproximadamente sete mil anos, eles o fizeram com uma grande precisão, introduzindo o ano de 365 dias.

3. A TORRE DE BABEL


77:3:1 8582 Depois da submersão da Dalamátia, os noditas trasladaram-se para o norte e para o leste, e logo fundaram a nova cidade de Dilmum, como o seu centro racial e cultural. E cerca de cinqüenta mil anos depois da morte de Nod, quando a progênie do corpo de assessores do Príncipe se havia tornado numerosa demais para subsistir nas terras imediatamente vizinhas da sua nova cidade de Dilmum, e depois de se haverem estendido além de seus limites para realizar matrimônios com as tribos andonitas e sangiques vizinhas das suas fronteiras, ocorreu aos seus líderes que algo deveria ser feito para preservar a sua unidade racial. Conseqüentemente, um conselho das tribos foi convocado e, depois de muito deliberar, adotou-se o plano de Bablot, um descendente de Nod.

77:3:2 8583 Bablot propôs edificar um templo pretensioso de glorificação racial no centro do território então ocupado por eles. Esse templo devia ter uma torre nunca vista em todo o mundo. Devia ser um memorial monumental da sua grandiosidade momentânea. Havia muitos que queriam esse monumento erigido em Dilmum, mas outros argumentavam que uma estrutura tão grande deveria ser colocada a uma distância segura dos perigos do mar, lembrando-se das tradições da submersão da sua primeira capital, Dalamátia.

77:3:3 8584 Bablot planejou os novos edifícios como sendo o núcleo do futuro centro da cultura e da civilização noditas. O seu conselho finalmente prevaleceu e a construção teve início de acordo com os seus planos. A nova cidade chamar-se-ia Bablot, em honra ao arquiteto e construtor da torre. Esse local posteriormente ficaria conhecido como Bablod e finalmente como Babel.

77:3:4 8585 Mas, de algum modo, os noditas estavam ainda divididos quanto aos sentimentos em relação aos planos e propósitos desse empreendimento. Nem os seus líderes estavam todos de acordo a respeito dos planos de construção, nem sobre a finalidade das edificações depois que estivessem prontas. Após quatro anos e meio de trabalho, adveio uma grande disputa a respeito do objetivo e do motivo pelos quais se construía a torre. As contendas tornaram-se tão amargas que todo o trabalho parou. Os carregadores de comida espalharam as novas sobre as discussões e um grande número de tribos começou a amontoar-se no local da construção. Três pontos de vista diferentes foram propostos sobre o propósito da construção da torre:

77:3:5 8586 1. O grupo maior, de quase a metade, desejava ver a torre construída como um memorial da história nodita e da sua superioridade racial. Eles achavam que devia ser uma estrutura grande e imponente, que devia suscitar a admiração de todas as gerações futuras.

77:3:6 8587 2. A segunda maior facção queria que a torre fosse destinada a comemorar a cultura Dilmum. Eles previam que Bablot viesse a ser um grande centro de comércio, de arte e de manufatura.

77:3:7 8591 3. O contingente menor e minoritário sustentava que a edificação da torre representava uma oportunidade de redimir o desatino dos seus progenitores, por haverem participado da rebelião de Caligástia. Eles sustentavam que a torre deveria ser dedicada à adoração do Pai de todos, e que todo o propósito da nova cidade deveria ser o de substituir a Dalamátia – de funcionar como o centro cultural e religioso para os povos bárbaros vizinhos.

77:3:8 8592 O grupo religioso foi logo derrotado na votação. A maioria rejeitou a doutrina de que os seus antepassados haviam sido culpados de rebeldia; esse estigma racial ofendia-os. Havendo eliminado um dos três ângulos da disputa e não havendo conseguido decidir-se entre os outros dois, por debate, eles entraram em luta. Os religiosos, não combatentes, fugiram para as suas casas no sul, ao passo que os seus companheiros lutaram até quase se aniquilar.

77:3:9 8593 Há cerca de doze mil anos, foi feita uma segunda tentativa de erigir a torre de Babel. As raças miscigenadas dos anditas (os noditas e os adamitas) propuseram-se levantar um novo templo sobre as ruínas da primeira estrutura, mas não houve respaldo suficiente para o empreendimento; ele veio abaixo com o peso da própria pretensão. Durante muito tempo, essa região ficou conhecida como a terra de Babel.

4. OS CENTROS DA CIVILIZAÇÃO NODITA


77:4:1 8594 A dispersão dos noditas foi um resultado imediato dos conflitos internos a respeito da torre de Babel. Essa guerra interna reduziu, em grande parte, o número dos noditas mais puros e foi, sob muitos aspectos, responsável pelo fracasso que tiveram em estabelecer uma grande civilização pré-Adâmica. Dessa época em diante, a cultura nodita caiu em declínio, por mais de cento e vinte mil anos, até que foi elevada pela infusão Adâmica. Todavia, mesmo nos tempos de Adão, os noditas eram ainda um povo muito capaz. Grande parte dos seus descendentes de sangue misto estava entre os construtores do Jardim, e vários capitães do grupo de Van eram noditas. Algumas das mentes mais capazes a serviço da assessoria de Adão eram dessa raça.

77:4:2 8595 Três dos quatro grandes centros noditas foram estabelecidos imediatamente depois do conflito de Bablot:

77:4:3 8596 1. Os noditas ocidentais, ou sírios. Os remanescentes do grupo nacionalista, ou os memorialistas raciais, dirigiram-se para o norte, unindo-se aos andonitas para fundar os centros ulteriores noditas, a noroeste da Mesopotâmia. Esse foi o maior grupo de noditas em dispersão, que contribuiu muito para a aparição posterior da linhagem assíria.

77:4:4 8597 2. Os noditas orientais, ou elamitas. Os partidários da cultura e do comércio migraram em grandes números para o leste até Elam e ali se uniram com as tribos sangiques miscigenadas. Os elamitas de trinta ou quarenta mil anos atrás, em grande parte, haviam adquirido a natureza sangique, se bem que houvessem continuado a manter uma civilização superior à dos bárbaros das vizinhanças.

77:4:5 8598 Depois do estabelecimento do segundo jardim, era costumeiro aludir-se a essa colônia nodita vizinha como “a terra de Nod”; e, durante o longo período de paz relativa entre esse grupo nodita e os adamitas, as duas raças ficaram altamente fundidas, pois mais e mais passou a ser um costume que os Filhos de Deus (os adamitas) se casassem com as filhas dos homens (as noditas).

77:4:6 8601 3. Os noditas centrais, ou pré-sumérios. Um grupo pequeno, na embocadura dos rios Tigre e Eufrates, conservou, mais que outros, a sua integridade racial. Eles subsistiram por milhares de anos, e afinal deram origem à descendência nodita que, misturada aos adamitas, fundou os povos sumérios dos tempos históricos.

77:4:7 8602 E tudo isso explica como os sumérios apareceram tão súbita e misteriosamente no cenário da Mesopotâmia. Os pesquisadores nunca serão capazes de determinar a origem dessas tribos remontando ao princípio dos sumérios, que tiveram a sua origem duzentos mil anos antes da submersão da Dalamátia. Sem nenhum vestígio da sua origem em outro lugar no mundo, essas tribos antigas subitamente se apresentam no horizonte da civilização com uma cultura plenamente desenvolvida e superior, abrangendo templos, trabalhos em metal, agricultura, animais, cerâmica, tecelagem, leis comerciais, códigos civis, cerimonial religioso, e um sistema de escrita antigo. No começo da era histórica, já tinham, havia muito, perdido o alfabeto da Dalamátia, tendo adotado o sistema peculiar da escrita originada em Dilmum. A língua suméria, ainda que virtualmente perdida para o mundo, não era semítica; tinha muito em comum com as chamadas línguas arianas.

77:4:8 8603 Os registros, bem elaborados, deixados pelos sumérios descrevem o local de uma notável colônia que se situava no golfo Pérsico, próximo da antiga cidade de Dilmum. Os egípcios chamavam de Dimat essa cidade de glória antiga, enquanto, mais tarde, os sumérios adamizados confundiram a primeira e a segunda cidade nodita com a Dalamátia e chamaram todas as três de Dilmum. E os arqueólogos já encontraram as antigas placas de argila suméria que falam desse paraíso terreno “onde os Deuses pela primeira vez abençoaram a humanidade, com o exemplo de uma vida civilizada e cultural”. E essas placas, descritivas de Dilmum, o paraíso dos homens e de Deus, estão agora silenciosamente guardadas nas prateleiras empoeiradas de muitos museus.

77:4:9 8604 Os sumérios bem sabiam do primeiro e do segundo Éden, mas, a despeito de casamentos extensivos entre eles e os adamitas, continuaram a considerar os residentes do norte do jardim como sendo uma raça estrangeira. O orgulho dos sumérios, por serem da cultura andita mais antiga, levou-os a ignorar essas novas perspectivas de glória, em favor da grandeza e da tradição paradisíaca da cidade de Dilmum.

77:4:10 8605 4. Os noditas do norte e os amadonitas – os vanitas. Esse grupo surgiu antes do conflito de Bablot. Esses noditas mais setentrionais eram descendentes daqueles que haviam abandonado a liderança de Nod, e dos seus sucessores, para ligar-se a Van e a Amadon.

77:4:11 8606 Alguns dos primeiros colaboradores de Van estabeleceram-se, posteriormente, em locais próximos das margens do lago que ainda leva o seu nome, e as suas tradições cresceram em torno dessa localidade. Ararat tornou-se a sua montanha sagrada, tendo, para os vanitas dos tempos posteriores, um significado análogo ao que o monte Sinai teve para os hebreus. Há dez mil anos os vanitas, ancestrais dos assírios, ensinavam que a sua lei moral, de sete mandamentos, havia sido dada pelos Deuses a Van, no monte Ararat. Eles acreditavam firmemente que Van e o seu companheiro Amadon foram levados vivos, para fora do planeta, enquanto estavam no topo da montanha, absortos na adoração.

77:4:12 8607 O monte Ararat era a montanha sagrada da Mesopotâmia do norte e, posto que grande parte das vossas tradições desses tempos antigos foi adquirida por meio da história da enchente da Babilônia, não é nenhuma surpresa que o monte Ararat e a sua região fossem posteriormente imbricados com as histórias mais recentes dos judeus sobre Noé e o dilúvio universal.

77:4:13 8608 Por volta de 35 000 a. C. , Adamson visitou uma das antigas colônias mais orientais dos antigos vanitas, e ali fundou o seu centro de civilização.

5. ADAMSON E RATTA


77:5:1 8611 Havendo delineado os antecedentes noditas da linhagem dos seres intermediários secundários, esta narrativa deveria agora considerar a metade Adâmica dos seus ancestrais, pois os seres intermediários secundários são também netos de Adamson, o primogênito da raça violeta de Urântia.

77:5:2 8612 Adamson fez parte daquele grupo, de filhos de Adão e Eva, que escolheu permanecer na Terra com o seu pai e sua mãe. E esse primogênito de Adão tinha ouvido Van e Amadon falarem várias vezes na história do seu lar, nos planaltos do norte e, algum tempo depois do estabelecimento do segundo jardim, ele decidiu partir em busca daquelas terras dos sonhos da sua juventude.

77:5:3 8613 Adamson tinha 120 anos de idade, nessa época, e era pai de trinta e dois filhos da pura linhagem do primeiro Jardim. Ele queria permanecer com os seus pais e ajudá-los a edificar o segundo jardim, mas estava muito perturbado pela perda da sua companheira e dos seus filhos, todos os quais tinham escolhido ir para Edêntia junto com as outras crianças Adâmicas, preferindo tornar-se pupilos dos Altíssimos.

77:5:4 8614 Adamson não queria abandonar os seus pais em Urântia, não estava inclinado a fugir das provações nem dos perigos, mas achava o ambiente do segundo jardim longe de satisfatório. E muito fez para adiantar as atividades iniciais de defesa e de construção, mas decidiu ir para o norte, na primeira oportunidade. E, se bem que a sua partida tenha sido totalmente amigável, Adão e Eva lamentaram muito ter de perder o seu filho mais velho, de vê-lo ir para um mundo estranho e hostil de onde, temiam, ele nunca fosse voltar.

77:5:5 8615 Uma companhia de vinte e sete membros foi com Adamson para o norte, em busca do povo das suas fantasias de infância. De fato, em pouco mais de três anos, o grupo de Adamson encontrou o objeto da sua aventura e, entre os desse povo, ele descobriu uma jovem maravilhosa e bonita de vinte e três anos, que dizia ser a última descendente de linhagem pura do corpo de assessores do Príncipe. Essa mulher, Ratta, dizia que os seus ancestrais eram todos descendentes de dois membros caídos do corpo de assessores do Príncipe. Ela era a última da sua raça, não tendo irmãos nem irmãs vivos. Ela já havia decidido não se casar, havia acabado de decidir não deixar nenhuma progênie, mas entregou o seu coração ao majestoso Adamson. E quando ouviu a história do Éden, de como as predições de Van e de Amadon haviam realmente acontecido, e, quando ficou sabendo da falta cometida no Jardim, ela ficou possuída por um único pensamento – desposar esse filho e herdeiro de Adão. E rapidamente a mesma idéia tomou conta de Adamson e, em pouco mais de três meses, eles estavam casados.

77:5:6 8616 Adamson e Ratta tiveram uma família de sessenta e sete crianças. Deram origem a uma grande linhagem de dirigentes do mundo, mas fizeram algo mais. Deve ser relembrado que esses dois seres eram ambos realmente supra-humanos. Dos filhos que tiveram, a cada quatro que nascia, o quarto era um ser de uma ordem excepcional. Muitas vezes era invisível. Nunca, na história do mundo, havia acontecido tal coisa. Ratta ficou bastante impressionada – e até mesmo supersticiosa –, mas Adamson sabia muito bem da existência das criaturas intermediárias primárias e concluiu que alguma coisa semelhante devia estar acontecendo diante dos seus olhos. Quando veio o segundo ser de comportamento estranho, ele decidiu que os dois deviam acasalar-se, pois que um era masculino e o outro feminino; e essa é a origem da ordem secundária de seres intermediários. Dentro de cem anos, antes que esse fenômeno tivesse o seu fim, quase dois mil seres foram trazidos à existência.

77:5:7 8621 Adamson viveu por 396 anos. Muitas vezes ele voltou para visitar o seu pai e a sua mãe. A cada sete anos, ele e Ratta viajavam para o sul, até o segundo jardim e, nesse meio tempo, as criaturas intermediárias o mantinham informado a respeito do bem-estar do seu povo. Durante a vida de Adamson, elas prestaram um grande serviço, com a edificação de um novo centro mundial independente, para a verdade e a retidão.

77:5:8 8622 Adamson e Ratta assim tiveram, sob o seu comando, esse corpo maravilhoso de ajudantes, que trabalhou com eles durante as suas longas vidas, ajudando-os na propagação da verdade avançada e na disseminação de padrões espirituais, intelectuais e físicos mais elevados de vida. E os resultados desse esforço de melhorar o mundo nunca foram totalmente eclipsados pelos retrocessos posteriores.

77:5:9 8623 Os adamsonitas mantiveram uma cultura elevada por quase sete mil anos depois da época de Adamson e Ratta. Mais tarde, eles miscigenaram-se com os vizinhos noditas e andonitas e foram igualmente incluídos entre os “poderosos homens de outrora”. E alguns dos avanços daquela idade perduraram até tornar-se uma parte latente do potencial cultural que mais tarde floresceu, resultando na civilização européia.

77:5:10 8624 Esse centro de civilização estava situado na região a leste da extremidade sulina do mar Cáspio, perto do Kopet Dagh. A uma baixa altitude, nos contrafortes do Turquestão, estão os vestígios daquilo que certa vez foi a sede adamsonita da raça violeta. Nesses locais dos planaltos situados em uma antiga faixa estreita de fertilidade, que se estende na parte baixa dos contrafortes da cadeia do Kopet, quatro culturas diversas surgiram, em vários períodos, fomentadas por quatro grupos diferentes de descendentes de Adamson. Foi o segundo desses grupos que migrou para o oeste, até a Grécia e as ilhas do Mediterrâneo. O restante dos descendentes de Adamson migrou para o norte e para o oeste, trazendo para a Europa as raças mistas da última onda de linhagem andita que veio da Mesopotâmia, e que estão também enumeradas entre os anditas-arianos invasores da Índia.

6. AS CRIATURAS INTERMEDIÁRIAS SECUNDÁRIAS


77:6:1 8625 Enquanto as criaturas intermediárias primárias tiveram uma origem supra-humana, a ordem secundária é uma progênie de linhagem Adâmica pura unida a um descendente humanizado de ancestrais comuns do corpo primário.

77:6:2 8626 Entre os filhos de Adamson, houve apenas dezesseis desses progenitores peculiares de criaturas intermediárias secundárias. Esses filhos excepcionais eram igualmente divididos quanto ao sexo, e cada casal era capaz de produzir uma criatura intermediária secundária, a cada setenta dias, por meio de uma técnica combinada de ligação sexual e não sexual. E esse fenômeno nunca tinha sido possível na Terra antes daquela época, e não mais aconteceu desde então.

77:6:3 8627 Esses dezesseis filhos viveram e morreram como mortais do reino (exceto pelas suas peculiaridades), mas a sua progênie eletricamente energizada vive indefinidamente, não estando sujeita às limitações da carne mortal.

77:6:4 8628 Cada um dos oito casais finalmente produziu 248 criaturas intermediárias e, assim, o corpo secundário original – em um total de 1 984 – veio à existência. Há oito subgrupos de criaturas intermediárias secundárias. Elas são designadas como A-B-C, a primeira, a segunda, a terceira e assim por diante. E depois há as D-E-F, a primeira, a segunda e assim por diante.

77:6:5 8629 Depois da falta de Adão, as criaturas intermediárias primárias retornaram para o serviço dos administradores Melquisedeques, enquanto as do grupo secundário permaneceram ligadas ao centro de Adamson até a morte dele. Trinta e três dessas criaturas intermediárias secundárias, chefes da sua organização, quando da morte de Adamson, tentaram mudar toda a ordem, levando-a para o serviço dos Melquisedeques, efetivando, assim, uma ligação com as do corpo primário. Mas não tendo conseguido efetivar isso, desertaram do restante dos seus companheiros e passaram em bloco ao serviço dos administradores planetários.

77:6:6 8631 Depois da morte de Adamson, o remanescente das criaturas intermediárias secundárias tornou-se uma influência estranha, desorganizada e independente, em Urântia. Daquela época aos dias de Maquiventa Melquisedeque, elas levaram uma existência irregular e não organizada. Foram parcialmente recolocadas sob controle por esse Melquisedeque, mas ainda eram uma fonte de muitas confusões até os dias de Cristo Michael. E, durante a permanência Dele na Terra, todas elas tomaram as suas decisões finais quanto ao seu destino futuro; a maioria leal alistou-se, então, sob a liderança das criaturas intermediárias primárias.

7. AS CRIATURAS INTERMEDIÁRIAS REBELDES


77:7:1 8632 A maioria das criaturas intermediárias primárias entrou em pecado na época da rebelião de Lúcifer. Quando foi feito um balanço da devastação da rebelião planetária, entre outras perdas, foi descoberto que das 50 000 originais, 40 119 criaturas estavam ligadas à secessão de Caligástia.

77:7:2 8633 O número original das criaturas intermediárias secundárias era de 1 984 e, destas, 873 não se alinharam com a direção de Michael e foram devidamente recolhidas e internadas quando do juízo planetário de Urântia no dia de Pentecostes. Ninguém pode prever o futuro dessas criaturas caídas.

77:7:3 8634 Os dois grupos de criaturas intermediárias rebeldes estão agora mantidos em custódia, aguardando o julgamento final dos assuntos da rebelião do sistema. Mas elas fizeram muitas coisas estranhas na Terra, antes da inauguração da presente dispensação planetária.

77:7:4 8635 Essas criaturas intermediárias desleais eram capazes de revelarem a si próprias aos olhos mortais, sob certas circunstâncias. Isso foi especialmente verdadeiro no caso dos parceiros de Belzebu, líder das criaturas intermediárias secundárias apóstatas. Contudo, essas criaturas únicas não devem ser confundidas com certos querubins e serafins rebeldes que também estavam na Terra até a época da morte e da ressurreição de Cristo. Alguns dos escritores da antiguidade designaram essas criaturas intermediárias rebeldes como espíritos do mal e como demônios, e os serafins e querubins apóstatas como anjos maus.

77:7:5 8636 Em nenhum mundo, os espíritos do mal podem possuir a mente de qualquer mortal, depois da vida outorgada de um Filho do Paraíso. Mas antes dos dias de Cristo Michael em Urântia – antes da vinda universal dos Ajustadores do Pensamento e da efusão do espírito do Mestre sobre toda a carne –, essas criaturas intermediárias rebeldes tornaram-se de fato capazes de influenciar as mentes de certos mortais inferiores e, de um certo modo, de controlar as suas ações. Isso era realizado de um modo muito semelhante àquele pelo qual as criaturas intermediárias leais funcionam quando elas servem eficientemente como guardiãs de contato das mentes humanas, dos membros do corpo de reserva do destino de Urântia, naqueles momentos em que o Ajustador está, com efeito, destacado da personalidade durante uma sessão de contato com inteligências supra-humanas.

77:7:6 8637 Não é mera figura de retórica quando os registros afirmam: “E trouxeram a Ele toda a sorte de pessoas doentes, aqueles que estavam possuídos por diabos e aqueles que eram lunáticos”. Jesus sabia reconhecer a diferença entre a insanidade e a possessão demoníaca, embora esses estados fossem bastante confundidos nas mentes daqueles que viveram naqueles dias e naquela geração.

77:7:7 8638 Mesmo antes de Pentecostes, nenhum espírito rebelde podia dominar uma mente humana normal, mas, desde aquele dia, mesmo as mentes fracas de mortais inferiores estão livres de tais possibilidades. Desde a vinda do Espírito da Verdade, a suposta expulsão de diabos tem sido uma questão de confusão, da crença na possessão demoníaca, com a histeria, a insanidade e a debilidade mental. No entanto, apenas porque a auto-outorga de Michael tenha, para sempre, libertado todas as mentes humanas em Urântia da possibilidade de possessão demoníaca, não deveis imaginar que isso não pudesse ter sido um risco, em idades anteriores.

77:7:8 8641 Todo o grupo de criaturas intermediárias rebeldes está, no presente, mantido prisioneiro por ordem dos Altíssimos de Edêntia. Elas não mais perambulam por este mundo, cometendo o mal. Independentemente da presença dos Ajustadores do Pensamento, a efusão do Espírito da Verdade sobre toda a carne tornou para sempre impossível aos espíritos desleais, de qualquer espécie ou descrição, que invadam, novamente, até mesmo a mais fraca das mentes humanas. Desde o dia de Pentecostes nunca mais pôde acontecer qualquer coisa parecida com a possessão demoníaca.

8. AS CRIATURAS INTERMEDIÁRIAS UNIDAS


77:8:1 8642 No último julgamento deste mundo, quando Michael transferiu daqui os sobreviventes adormecidos do tempo, as criaturas intermediárias foram deixadas para trás, nos seus lugares, para ajudar no trabalho espiritual e semi-espiritual no planeta. Agora elas operam como um corpo único, abrangendo ambas as ordens, em um total de 10 992 criaturas. Formam As Criaturas Intermediárias Unidas de Urântia, que atualmente são dirigidas alternadamente pelos membros mais antigos de cada ordem. Esse regime tem prevalecido desde a sua união, em um grupo único, pouco depois de Pentecostes.

77:8:2 8643 Os membros da ordem mais antiga, ou primária, são geralmente conhecidos por números; em geral recebem nomes tais como 1-2-3, a primeira, 4-5-6, a primeira, e assim por diante. Em Urântia, as criaturas intermediárias Adâmicas são designadas alfabeticamente, para que sejam distinguidas das designações numéricas das criaturas intermediárias primárias.

77:8:3 8644 Ambas as ordens são de seres não materiais, no que diz respeito à nutrição e à absorção de energia, mas elas compartilham de muitos aspectos humanos e são capazes de desfrutar e de entender o vosso humor, tanto quanto a vossa adoração. Quando ligadas aos mortais, elas entram no espírito do trabalho humano, do descanso e da diversão. Mas as criaturas intermediárias não dormem, nem possuem poderes de procriação. Num certo sentido, as criaturas do grupo secundário são diferenciadas segundo as linhas de masculinidade e de feminilidade, freqüentemente sendo chamadas de “ele” ou de “ela”. Trabalham quase sempre juntas, em duplas ou casais.

77:8:4 8645 As criaturas intermediárias não são homens nem são anjos, mas as criaturas secundárias, pela sua natureza, estão mais próximas do homem do que do anjo; são, de um certo modo, das vossas raças e, portanto, muito compreensivas e compassivas no seu contato com os seres humanos; são de um valor inestimável para os serafins, no seu trabalho com as várias raças da humanidade, e para essas raças, e ambas as ordens são indispensáveis aos serafins que servem como guardiães pessoais dos mortais.

77:8:5 8646 As Criaturas Intermediárias Unidas de Urântia estão organizadas para o serviço com os serafins planetários, de acordo com os dons inatos e as habilidades adquiridas, nos grupos seguintes:

77:8:6 8647 1. As Criaturas Intermediárias Mensageiras. Este grupo tem nomes; formam um corpo pequeno e prestam grande ajuda, em um mundo evolucionário, no serviço da comunicação pessoal rápida e de confiança.

77:8:7 8648 2. As Sentinelas Planetárias. As criaturas intermediárias são guardiãs, são as sentinelas dos mundos do espaço. Elas executam tarefas importantes como observadoras para todos os numerosos fenômenos e tipos de comunicação que sejam de importância para os seres sobrenaturais do reino. Elas patrulham o Reino invisível espiritual do planeta.

77:8:8 8651 3. As Personalidades de Contato. Nos contatos feitos com os seres mortais dos mundos materiais, tais como os que foram feitos com o sujeito por meio de quem essas comunicações foram transmitidas, as criaturas intermediárias são sempre utilizadas. Elas são um fator essencial nessas ligações entre o nível espiritual e o material.

77:8:9 8652 4. Os Ajudantes do Progresso. Estas são as mais espirituais das criaturas intermediárias, e estão distribuídas como assistentes das várias ordens de serafins que funcionam em grupos especiais no planeta.

77:8:10 8653 As criaturas intermediárias variam muito nas suas habilidades de fazer contato com os serafins, acima delas, e com os seus primos humanos, abaixo. É bastante difícil, por exemplo, para as criaturas intermediárias primárias fazer contato direto com agências materiais. Elas estão consideravelmente mais próximas do tipo angélico de ser e são, portanto, usualmente designadas para trabalhar e para ministrar, junto com as forças espirituais residentes no planeta. Elas atuam como companhia e guia para os visitantes celestes e os hóspedes estudantes, enquanto as criaturas secundárias ficam quase que exclusivamente ligadas à ministração aos seres materiais do reino.

77:8:11 8654 As 1 111 criaturas intermediárias secundárias leais estão engajadas em missões importantes na Terra. Se comparadas às suas companheiras primárias, elas são decididamente materiais. Existem exatamente fora do campo da visão mortal e possuem latitude suficiente de adaptação para fazer, à vontade, contato físico com o que os humanos chamam de “coisas materiais”. Essas criaturas únicas têm certos poderes definidos sobre as coisas do tempo e do espaço, como também sobre os animais do reino.

77:8:12 8655 Muitos dos fenômenos materiais atribuídos aos anjos têm sido realizados pelas criaturas intermediárias secundárias. Quando os primeiros instrutores do evangelho de Jesus foram jogados dentro das prisões pelos líderes religiosos ignorantes daquela época, um verdadeiro “anjo do Senhor” “abriu as portas da prisão à noite e os conduziu para fora”. Mas no caso da libertação de Pedro, depois da execução de Tiago, por ordem de Herodes, foi uma criatura intermediária secundária quem executou o trabalho atribuído a um anjo.

77:8:13 8656 O principal trabalho delas, hoje, é o de serem as colaboradoras invisíveis na ligação pessoal daqueles homens e mulheres que constituem o corpo da reserva planetária de destino. Foi o trabalho desse grupo secundário, competentemente auxiliado por algumas criaturas do corpo primário, que provocou a coordenação das personalidades e das circunstâncias, em Urântia, que finalmente induziram os supervisores celestes planetários a iniciar aquelas petições que resultaram na concessão dos mandatos que tornaram possíveis as séries de revelações, das quais esta apresentação é uma parte. Deve ficar claro, porém, que as criaturas intermediárias não estão envolvidas com os espetáculos sórdidos que são executados sob a designação geral de “espiritismo”. As criaturas intermediárias que atualmente estão em Urântia, todas as quais têm um status honorável, de modo nenhum, estão ligadas aos fenômenos da chamada “mediunidade”; e ordinariamente não permitem aos humanos presenciar as suas atividades físicas e outros contatos com o mundo material, algumas vezes necessários, como seriam percebidos pelos sentidos humanos.

9. OS CIDADÃOS PERMANENTES DE URÂNTIA


77:9:1 8657 As criaturas intermediárias podem ser consideradas como o primeiro grupo de habitantes permanentes a ser encontrado nas várias ordens de mundos nos universos, em contraste com os ascendentes evolucionários, tais como as criaturas mortais e as hostes angélicas. Esses cidadãos permanentes são encontrados em vários pontos na ascensão ao Paraíso.

77:9:2 8661 De modo contrário às várias ordens de seres celestes, que estão destinadas a ministrar em um planeta, as criaturas intermediárias vivem em um mundo habitado. Os serafins vêm e vão, mas as criaturas intermediárias permanecem e permanecerão e, por serem do planeta, além de se prestarem como ministradoras, elas asseguram o único regime de continuidade que harmoniza e conecta as administrações sempre mutantes das hostes seráficas.

77:9:3 8662 Como cidadãos de fato de Urântia, as criaturas intermediárias, ou os intermediários, têm um interesse íntimo quanto ao destino desta esfera. Elas formam uma associação resoluta, trabalhando persistentemente para o progresso do seu planeta de nascimento. A sua determinação é sugerida no lema da sua ordem: “Tudo o que as Criaturas Intermediárias Unidas querem fazer, as Criaturas Intermediárias Unidas o fazem”.

77:9:4 8663 Ainda que a sua capacidade de ultrapassar os circuitos de energia permita que a partida do planeta seja factível para qualquer criatura intermediária, elas comprometeram-se individualmente a não abandonar o planeta antes que sejam liberadas pelas autoridades do universo, algum dia. As criaturas intermediárias ficam ancoradas em um planeta até que cheguem as idades estabelecidas de luz e vida. À exceção de 1-2-3, a primeira, nenhuma criatura intermediária leal jamais partiu de Urântia.

77:9:5 8664 1-2-3, a primeira, a primogênita da ordem primária, foi liberada dos deveres planetários imediatos pouco depois de Pentecostes. Essa intermediária nobre permaneceu firme junto com Van e Amadon durante os dias trágicos da rebelião planetária, e a sua liderança destemida foi um forte instrumento na redução das baixas da sua ordem. Atualmente, ela serve em Jerusém como membro do conselho dos vinte e quatro, tendo já uma vez funcionado como governadora geral de Urântia, depois de Pentecostes.

77:9:6 8665 As criaturas intermediárias estão vinculadas ao planeta, mas, do mesmo modo que os mortais conversam com os viajantes de longe e assim aprendem a respeito dos locais distantes do planeta, as criaturas intermediárias conversam com os viajantes celestes para aprenderem sobre os locais longínquos do universo. Assim elas tornam-se familiarizadas com este sistema e com este universo, e mesmo com Orvonton e as suas criações irmãs e, desse modo, elas preparam-se para a cidadania em níveis mais elevados de existência como criaturas.

77:9:7 8666 Embora as criaturas intermediárias hajam sido trazidas à existência já plenamente desenvolvidas – não experienciando nenhum período de crescimento, nem desenvolvimento a partir da imaturidade –, elas nunca cessam de crescer em sabedoria e em experiência. Como os mortais, são criaturas evolucionárias e têm uma cultura que é uma verdadeira conquista evolucionária. Há muitas grandes mentes e espíritos poderosos no corpo das criaturas intermediárias de Urântia.

77:9:8 8667 De um ponto de vista mais amplo, a civilização de Urântia é o produto conjunto dos mortais de Urântia e das criaturas intermediárias de Urântia, e isso é verdadeiro a despeito das diferenças factuais entre os dois níveis de cultura, diferenças estas que não serão compensadas antes das idades de luz e vida.

77:9:9 8668 A cultura das criaturas intermediárias, sendo o produto de uma cidadania planetária imortal, é relativamente imune àquelas vicissitudes temporais que assaltam a civilização humana. As gerações de homens esquecem; o corpo das criaturas intermediárias relembra, e essa memória é a sede do tesouro das tradições do vosso mundo habitado. Assim, a cultura de um planeta permanece sempre presente naquele planeta e, sob as circunstâncias apropriadas, esse tesouro de memória de acontecimentos passados torna-se disponível, do mesmo modo que a história da vida e dos ensinamentos de Jesus foi dada, pelas criaturas intermediárias de Urântia, aos seus primos na carne.

77:9:10 8671 As criaturas intermediárias são os ministros hábeis que compensam a lacuna entre os assuntos materiais e os espirituais de Urântia, lacuna que surgiu com a morte de Adão e Eva. Elas são igualmente as vossas irmãs mais velhas, camaradas na longa luta para atingir um status estabelecido de luz e vida em Urântia. As Criaturas Intermediárias Unidas são um corpo testado contra rebeliões, e elas irão fielmente cumprir a sua parte na evolução planetária até que este mundo atinja a meta das idades; até aquele dia distante em que, de fato, a paz reinar na Terra, e houver, de verdade, boa vontade nos corações dos homens.

77:9:11 8672 Devido ao valioso trabalho executado por essas criaturas, concluímos que elas são uma parte verdadeiramente essencial da economia espiritual dos reinos. E, nos locais em que a rebelião não desfigurou os assuntos planetários, elas são de ajuda ainda maior para os serafins.

77:9:12 8673 Toda a organização dos espíritos elevados, das hostes angélicas, e das companheiras intermediárias está devotada entusiasticamente a realizar o plano do Paraíso, para a ascensão progressiva e a realização da perfeição dos mortais evolucionários, um dos assuntos supernos do universo – o magnífico plano de sobrevivência, de trazer Deus até o homem e então, por uma espécie sublime de associação, de elevar o homem até Deus e, mais adiante ainda, até a eternidade de serviço e de alcance da divindade – tanto para os mortais quanto para as criaturas intermediárias.

77:9:13 8674 [Apresentado por um Arcanjo de Nebadon.]

DOCUMENTO 78

A RAÇA VIOLETA DEPOIS DOS DIAS DE ADÃO
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O segundo Éden foi o berço da civilização durante quase trinta mil anos. Os povos Adâmicos mantiveram-se na Mesopotâmia, enviando de lá os seus descendentes para os confins da Terra e, mais tarde, miscigenados já com as tribos noditas e sangiques, ficaram conhecidos como anditas. Dessa região, partiram os homens e mulheres que iniciaram os feitos dos tempos históricos, e que tão enormemente aceleraram o progresso cultural em Urântia.

78:0:2 8682 Este documento descreve a história planetária da raça violeta, começando logo após a falta de Adão, por volta de 35 000 a. C. , perdurando até a miscigenação dessa raça com as raças nodita e sangique, por volta de 15 000 a. C. , para formar os povos anditas, até que desaparecessem finalmente das suas terras natais na Mesopotâmia, por volta de 2 000 a. C.

1. A DISTRIBUIÇÃO RACIAL E CULTURAL


78:1:1 8683 Embora as mentes e a moral das raças estivessem em um nível bastante baixo na época da chegada de Adão, a sua evolução física teve continuidade, não tendo sido afetada pelas premências da rebelião de Caligástia. A contribuição de Adão para o status biológico das raças, não obstante um fracasso parcial do empreendimento, elevou enormemente os povos de Urântia.

78:1:2 8684 Adão e Eva também contribuíram muito para tudo o que tinha valor para o progresso social, moral e intelectual da humanidade; a civilização foi imensamente estimulada pela presença da sua progênie. Contudo, há trinta e cinco mil anos, o mundo, em geral, possuía pouquíssima cultura. Alguns centros de civilização existiram aqui e ali, mas a maior parte de Urântia permanecia mergulhada na selvageria. A distribuição racial e cultural era a seguinte:

78:1:3 8685 1. A raça violeta – os adamitas e os adamsonitas. O centro principal da cultura adamita estava localizado no segundo jardim, no triângulo formado pelos rios Tigre e Eufrates, que foi, de fato, o berço das civilizações ocidental e indiana. O centro secundário da raça violeta, ao norte, era a sede central dos adamsonitas, situada a leste da margem sulina do mar Cáspio, perto das montanhas de Kopet. Desses dois centros, a cultura e o plasma de vida dessa raça expandiram-se para as terras vizinhas, o que estimulou imediatamente todas as raças.

78:1:4 8686 2. Os pré-sumérios e outros noditas. Na Mesopotâmia, estavam também presentes, perto da embocadura dos rios, os remanescentes da antiga cultura dos dias da Dalamátia. Com o passar dos milênios, esse grupo tornou-se plenamente miscigenado com os adamitas ao norte, mas nunca perdeu inteiramente as suas tradições noditas. Vários outros grupos noditas, que se haviam estabelecido no Levante, foram, em geral, absorvidos pela raça violeta no curso da sua expansão posterior.

78:1:5 8691 3. Os andonitas mantiveram cinco ou seis colônias bastante representativas ao norte e a leste da sede central dos adamsonitas. E, também, se espalharam pelo Turquestão, enquanto algumas ilhas isoladas deles persistiram em toda a Eurásia, especialmente nas regiões montanhosas. Esses aborígines ocuparam, ainda, a parte norte do continente eurasiano, junto com a Islândia e a Groenlândia, mas, havia muito, tinham sido expulsos das planícies da Europa pelos homens azuis, e dos vales dos rios mais longínquos da Ásia, pela raça amarela que se expandia.

78:1:6 8692 4. Os homens vermelhos ocuparam as Américas, tendo sido expulsos da Ásia mais de cinqüenta mil anos antes da chegada de Adão.

78:1:7 8693 5. A raça amarela. Os povos chineses estavam bem estabelecidos no controle da Ásia Oriental. As suas colônias mais avançadas estavam situadas a nordeste da China moderna, nas regiões fronteiriças com o Tibete.

78:1:8 8694 6. A raça azul. Os homens azuis estavam espalhados por toda a Europa, mas os seus melhores centros de cultura estavam situados nos vales, então férteis, da bacia do Mediterrâneo, e no noroeste da Europa. A absorção do homem de Neandertal retardou, em grande parte, a cultura dos homens azuis, mas, por outro lado, eles eram os mais agressivos, aventureiros e os mais exploradores de todos os povos evolucionários da Eurásia.

78:1:9 8695 7. A Índia pré-dravidiana. A complexa mistura de raças na Índia – abrangendo todas as raças da Terra e, especialmente, a verde, a alaranjada e a negra – manteve uma cultura ligeiramente acima daquela das regiões limítrofes.

78:1:10 8696 8. A civilização do Saara. Os elementos superiores da raça índigo tiveram as suas colônias de maior progresso nas terras que agora formam o grande deserto do Saara. Esse grupo negro-índigo trazia extensivamente as linhagens das raças alaranjada e verde que submergiram.

78:1:11 8697 9. A bacia do Mediterrâneo. A raça mais altamente miscigenada, fora da Índia, ocupava o que é agora a bacia do Mediterrâneo. Ali, os homens azuis do norte e os saarianos do sul encontraram-se e miscigenaram-se com os noditas e os adamitas do oriente.

78:1:12 8698 Esse era o panorama do mundo antes do início das grandes expansões da raça violeta, por volta de vinte e cinco mil anos atrás. A esperança futura de civilização repousava no segundo jardim, entre os rios da Mesopotâmia. No sudoeste da Ásia existia o potencial de uma grande civilização, a possibilidade da propagação, para o mundo, de idéias e de ideais que haviam sido salvos dos dias da Dalamátia e dos tempos do Éden.

78:1:13 8699 Adão e Eva haviam deixado atrás de si uma progênie limitada, mas poderosa, e os observadores celestes, em Urântia, aguardavam ansiosamente para descobrir como se comportariam esses descendentes do Filho e da Filha Materiais faltosos.

2. OS ADAMITAS NO SEGUNDO JARDIM


78:2:1 86910 Durante milhares de anos, os filhos de Adão trabalharam ao longo dos rios da Mesopotâmia, resolvendo ali os problemas de irrigação e de controle de inundações ao sul, aperfeiçoando as suas defesas ao norte, e tentando preservar as suas tradições de glória do primeiro Éden.

78:2:2 86911 O heroísmo demonstrado na liderança do segundo jardim constitui um dos épicos mais extraordinários e inspiradores da história de Urântia. Essas almas esplêndidas nunca perderam completamente de vista o propósito da missão Adâmica e, por isso, rechaçaram com valentia as influências das tribos vizinhas inferiores e, ao mesmo tempo, enviaram voluntariamente, em um fluxo constante, seus filhos e filhas mais dotados como emissários, às raças da Terra. Algumas vezes, essa expansão esgotava a sua própria cultura, mas esses povos superiores sempre conseguiam reabilitar-se.

78:2:3 8701 O status da civilização, da sociedade e da cultura dos adamitas estava muito acima do nível geral das raças evolucionárias de Urântia. Apenas entre as antigas colônias de Van e de Amadon, e entre os adamsonitas, havia uma civilização equiparável, de algum modo. No entanto, a civilização do segundo Éden foi uma estrutura artificial – não havia passado pela evolução – e estava, portanto, fadada a deteriorar-se até alcançar um nível natural de evolução.

78:2:4 8702 Adão deixou uma grande cultura intelectual e espiritual atrás de si, mas ela não era adiantada quanto a instrumentos mecânicos, pois toda civilização é limitada pelos recursos naturais disponíveis, pela genialidade inata e por um lazer suficiente para assegurar que a inventividade dê frutos. A civilização da raça violeta teve como fundamento a presença de Adão e as tradições do primeiro Éden. Depois da morte de Adão, e à medida que essas tradições enfraqueceram, com o passar dos milênios, o nível cultural dos adamitas deteriorou-se sem cessar, até atingir um estado de equilíbrio, balanceado com o status dos povos vizinhos e com as capacidades naturais de evolução cultural da raça violeta.

78:2:5 8703 Contudo, os adamitas constituíam uma nação verdadeira, por volta de 19 000 a. C. , contando com quatro milhões e meio de integrantes, e eles já tinham espalhado milhões de descendentes seus pelos povos vizinhos.

3. AS PRIMEIRAS EXPANSÕES DOS ADAMITAS


78:3:1 8704 Durante muitos milênios, a raça violeta conservou as tradições pacíficas do Éden; o que explica a sua demora em efetivar conquistas territoriais. Quando sofreram a pressão do excesso de população, em vez de gerarem guerras para assegurar mais território, eles enviaram o excesso de habitantes como instrutores para as outras raças. Os efeitos culturais dessas primeiras migrações não perduraram, mas a absorção dos educadores, dos comerciantes e dos exploradores adamitas foi biologicamente revigorante para os povos vizinhos.

78:3:2 8705 Alguns dos adamitas logo viajaram para oeste até o vale do Nilo, outros penetraram a leste na Ásia, mas estes últimos eram uma minoria. O movimento maciço das épocas posteriores foi mais para o norte e dali para o oeste. No conjunto, foi uma leva gradual, mas incessante; a maior parte indo para o norte e, depois, contornando o mar Cáspio, indo para oeste e penetrando na Europa.

78:3:3 8706 Há cerca de vinte e cinco mil anos, um grande número de adamitas mais puros estava adiantado na sua rota para o norte. E, à medida que penetravam na direção norte, eles tornavam-se cada vez menos Adâmicos, até que, na época em que ocuparam o Turquestão, eles já estavam completamente misturados a outras raças, particularmente aos noditas. Pouquíssimos da linhagem pura dos povos violetas chegaram a penetrar as terras remotas da Europa ou da Ásia.

78:3:4 8707 Entre 30 000 e 10 000 a. C. , as misturas raciais, que marcaram época, estavam acontecendo no Sudoeste da Ásia. Os habitantes dos planaltos do Turquestão eram um povo viril e vigoroso. No noroeste da Índia, persistia uma boa parte da cultura dos dias de Van. E, ainda, ao norte dessas colônias, o melhor dos andonitas primitivos havia sido conservado. E essas duas raças, de cultura e caráter superiores, foram absorvidas pelos adamitas que se deslocavam para o norte. Essa amalgamação levou à adoção de muitas idéias novas, facilitou o progresso da civilização e fez avançar, em muito, todas as manifestações da arte, da ciência e da cultura social.

78:3:5 8711 Quando terminou o período das primeiras migrações Adâmicas, por volta de 15 000 a. C. , já havia mais descendentes de Adão na Europa e na Ásia Central do que em qualquer outro local do mundo, mais mesmo do que na Mesopotâmia. As raças azuis européias haviam sofrido amplas impregnações. As terras agora denominadas Rússia e Turquestão foram ocupadas, em toda a sua extensão sul, por uma grande reserva de adamitas misturados com noditas, andonitas e sangiques vermelhos e amarelos. A Europa do sul e a faixa mediterrânea foram ocupadas por uma raça mista de andonitas e de povos sangiques – alaranjados, verdes e índigos – com um toque da linhagem adamita. A Ásia Menor e as terras da Europa Central do leste foram ocupadas por tribos predominantemente andonitas.

78:3:6 8712 Uma raça de cores combinadas, bastante reforçada, nessa época, por elementos que vinham da Mesopotâmia, estabeleceu-se no Egito e preparou-se para assumir a cultura em desaparecimento do vale do Eufrates. Os povos negros mudaram-se mais para o sul da África e, do mesmo modo que a raça vermelha, ficaram virtualmente isolados.

78:3:7 8713 A civilização do Saara tinha sido dissipada pela seca; e a da bacia do Mediterrâneo, pelas enchentes. As raças azuis não tinham ainda tido êxito em desenvolver uma cultura avançada. Os andonitas ainda estavam dispersos nas regiões árticas e da Ásia Central. As raças verde e alaranjada haviam sido exterminadas como tais. A raça índigo estava indo para o sul da África, para começar lá a sua lenta, longa e contínua deterioração racial.

78:3:8 8714 Os povos da Índia permaneceram estagnados, em uma civilização que não estava progredindo, os homens amarelos estavam consolidando as suas posições na Ásia Central; o homem moreno ainda não havia iniciado a sua civilização nas ilhas próximas do oceano Pacífico.

78:3:9 8715 Essas distribuições raciais, associadas às mudanças climáticas abrangentes, prepararam o mundo para a inauguração da era andita da civilização de Urântia. Essas migrações primitivas prolongaram-se por um período de dez mil anos, desde 25 000 a 15 000 a. C. As migrações posteriores ou anditas aconteceram no período entre 15 000 e 6 000 a. C.

78:3:10 8716 Tanto tempo demorou para que as primeiras levas de adamitas atravessassem a Eurásia, que a sua cultura foi, em muito, perdida no trânsito. Só os anditas que vieram mais tarde se deslocaram com velocidade suficiente para levar a cultura edênica a grandes distâncias da Mesopotâmia.

4. OS ANDITAS


78:4:1 8717 As raças anditas foram a mistura primária da raça violeta, de linhagem pura, com os noditas, acrescidos dos povos evolucionários. Em geral, deve-se considerar os anditas como tendo uma percentagem muito maior de sangue Adâmico do que as raças modernas. No conjunto, o termo andita é usado para designar aqueles povos cuja herança racial violeta é de um oitavo a um sexto. Os urantianos modernos, e mesmo as raças brancas nórdicas, contêm muito menos do que essa percentagem do sangue de Adão.

78:4:2 8718 Os primeiros povos anditas tiveram origem nas regiões adjacentes à Mesopotâmia, há mais de vinte e cinco mil anos, e consistiam em uma combinação de adamitas e de noditas. O segundo jardim estava cercado, em círculos concêntricos, pelo sangue violeta decrescente e foi na periferia desse foco de fusão racial que a raça andita nasceu. Mais tarde, quando os adamitas e os noditas, em migração, entraram nas regiões, então férteis, do Turquestão, eles logo se misturaram aos habitantes superiores, e a mistura racial resultante levou o tipo andita mais para o norte.

78:4:3 8721 Sob todos os pontos de vista, os anditas foram a melhor raça humana a surgir em Urântia, desde os dias dos povos violetas de linhagem pura. Eles englobavam a maior parte dos tipos superiores dos remanescentes, que sobreviveram, das raças adamitas e noditas e, mais tarde, de algumas das melhores linhagens de homens amarelos, azuis e verdes.

78:4:4 8722 Esses anditas primitivos não eram arianos, eles eram pré-arianos. Eles não eram brancos, eles eram pré-brancos. Eles não eram nem um povo ocidental, nem oriental. É a herança andita, todavia, que confere à mistura poliglota, das chamadas raças brancas, aquela homogeneidade generalizada que tem sido chamada caucasóide.

78:4:5 8723 As linhagens mais puras da raça violeta traziam consigo a tradição Adâmica da busca da paz, o que explica por que os primeiros deslocamentos das raças haviam sido migrações de natureza mais pacífica. À medida, porém, que os adamitas se uniram com as raças noditas, que, nessa época, eram raças beligerantes, os seus descendentes anditas tornaram-se, para a sua época, os mais hábeis e sagazes militaristas que jamais viveram em Urântia. Os deslocamentos que os mesopotâmios fizeram, a partir daí, tinham, cada vez mais, características militares e tornaram-se mais semelhantes às verdadeiras conquistas.

78:4:6 8724 Esses anditas eram aventureiros; tinham uma natureza nômade. Um aumento do sangue sangique ou andonita tendia a estabilizá-los. Contudo, ainda assim, os seus descendentes mais recentes nunca descansaram até que houvessem circunavegado o globo e descoberto o último dos continentes remotos.

5. AS MIGRAÇÕES ANDITAS


78:5:1 8725 A cultura do segundo jardim perdurou por vinte mil anos, mas experimentou um declínio contínuo até cerca do ano 15 000 a. C. , quando o renascimento do sacerdócio setita e a liderança de Amosad inauguraram uma era brilhante. As ondas maciças de civilização que mais tarde se espalharam pela Eurásia seguiram, imediatamente, a grande renascença do Jardim, conseqüente das numerosas uniões dos adamitas com os noditas misturados dos arredores, para formar os anditas.

78:5:2 8726 Esses anditas inauguraram novos avanços em toda a Eurásia e no norte da África. Da Mesopotâmia até o Sinquiang, a cultura andita era dominante, e a contínua migração para a Europa era constantemente reposta pelas novas levas chegadas da Mesopotâmia. Não seria correto, porém, falar dos anditas, na Mesopotâmia, como uma raça propriamente dita, antes do começo das migrações finais dos descendentes mistos de Adão. Nessa época, mesmo as raças do segundo jardim haviam-se tornado tão misturadas que não mais podiam ser consideradas adamitas.

78:5:3 8727 A civilização do Turquestão estava sendo constantemente vivificada e renovada por levas recém-chegadas da Mesopotâmia, especialmente de cavaleiros anditas mais recentes. A língua mãe, chamada ariana, estava em processo de formação, nos planaltos do Turquestão; era uma mistura do dialeto andônico daquela região com a língua dos adamsonitas e dos anditas posteriores. Muitas das línguas modernas são derivadas da fala primitiva dessas tribos da Ásia Central que conquistaram a Europa, a Índia, e a parte de cima das planícies da Mesopotâmia. Essa língua antiga emprestou aos idiomas ocidentais toda aquela similaridade que os faz serem chamados todos de arianos.

78:5:4 8728 Por volta de 12 000 a. C. , três quartos das raças anditas do mundo residiam no norte e no leste da Europa e, quando aconteceu o êxodo posterior final da Mesopotâmia, sessenta e cinco por cento dessas últimas ondas de emigração entraram na Europa.

78:5:5 8731 Os anditas não apenas migraram para a Europa, como para o norte da China e da Índia, e muitos grupos penetraram nos confins da Terra, como missionários, educadores e comerciantes. Eles levaram uma contribuição considerável aos grupos de povos sangiques, no norte do Saara. Entretanto, apenas uns poucos educadores e comerciantes conseguiram penetrar na África mais ao sul da cabeceira do Nilo. Mais tarde, indivíduos miscigenados anditas e egípcios seguiram, descendo para as costas leste e oeste da África, até abaixo do equador, mas não chegaram a Madagáscar.

78:5:6 8732 Esses anditas foram os conquistadores da Índia, chamados dravidianos e, mais tarde, arianos; e a sua presença na Ásia Central elevou grandemente os ancestrais dos turanianos. Dessa raça, muitos viajaram para a China, tanto pelo Sinquiang, quanto pelo Tibete, e acrescentaram qualidades apreciáveis às posteriores raças chinesas. De tempos em tempos, pequenos grupos chegavam até o Japão, Formosa, Índias Orientais e China do sul, se bem que poucos houvessem entrado na parte sulina da China pela via costeira.

78:5:7 8733 Cento e trinta e dois membros dessa raça, embarcados em uma frota de barcos pequenos vindos do Japão, finalmente alcançaram a América do Sul e, por meio de casamentos com os nativos dos Andes, deram nascimento aos ancestrais dos governantes posteriores dos Incas. Eles cruzaram o oceano Pacífico por etapas curtas, permanecendo nas muitas ilhas que achavam pelo caminho. As ilhas do grupo da Polinésia eram mais numerosas e maiores do que agora, e esses navegadores anditas, junto com alguns dos que os seguiram modificaram biologicamente os grupos nativos durante o seu trânsito. Muitos centros de civilização florescentes surgiram nessas que agora são terras submersas, como resultado da penetração andita. A ilha de Páscoa, há muito, havia sido um centro administrativo e religioso de um desses grupos perdidos. Contudo, dos anditas que navegaram o Pacífico, de muito tempo atrás, apenas cento e trinta e dois chegaram às terras continentais das Américas.

78:5:8 8734 As conquistas migratórias dos anditas continuaram até a sua dispersão final, entre 8 000 e 6 000 a. C. À medida que saíam da Mesopotâmia, eles esgotavam continuamente as reservas biológicas da sua origem e fortaleciam visivelmente os povos vizinhos. E, em cada nação para onde viajaram, eles contribuíram com o humor, a arte, a aventura, a música e os manufaturados. Eles eram hábeis domesticadores de animais e especialistas em agricultura. Pelo menos naquela época, geralmente, a presença deles melhorava as crenças religiosas e as práticas morais das raças mais antigas. E, assim, a cultura da Mesopotâmia espalhou-se calmamente pela Europa, Índia, China, norte da África e pelas Ilhas do Pacífico.

6. AS ÚLTIMAS DISPERSÕES ANDITAS


78:6:1 8735 As três últimas ondas de anditas deixaram a Mesopotâmia entre 8 000 e 6 000 a. C. Essas três grandes ondas de cultura saíram de um modo forçado da Mesopotâmia, pela pressão das tribos das colinas, no sentido leste, e da hostilidade dos homens das planícies do oeste. Os habitantes do vale do Eufrates e territórios adjacentes fizeram o seu êxodo final em várias direções:

78:6:2 8736 Sessenta e cinco por cento deles entraram na Europa pelo caminho do mar Cáspio, para conquistar as raças brancas recém-surgidas – em uma combinação dos homens azuis e dos anditas primitivos – e para amalgamar-se com elas.

78:6:3 8737 Dez por cento, incluindo um grupo grande de sacerdotes setitas, mudoram-se para o leste, atravessando os planaltos elamitas e indo até o planalto iraniano e o Turquestão. Muitos dos seus descendentes, mais tarde, encaminharam-se para a Índia junto com os seus irmãos arianos das regiões mais setentrionais.

78:6:4 8741 Dez por cento dos mesopotâmios voltaram-se para o leste, durante a sua trajetória para o norte, entrando em Sinquiang, onde se fundiram com os habitantes anditas amarelos. A maioria da progênie, bem-dotada, dessa união racial entrou, mais tarde, na China e contribuiu muito para o melhoramento imediato do ramo nortista da raça amarela.

78:6:5 8742 Dez por cento desses anditas em fuga encaminharam-se para a Arábia e entraram no Egito.

78:6:6 8743 Cinco por cento dos anditas da cultura mais elevada do distrito costeiro junto às embocaduras do Tigre e do Eufrates, os quais não se haviam misturado com as tribos inferiores vizinhas, recusaram-se a deixar a sua terra natal. Esse grupo representou a sobrevivência de muitas linhagens superiores de noditas e de adamitas.

78:6:7 8744 Os anditas haviam evacuado quase inteiramente essa região, por volta de 6 000 a. C. , embora os seus descendentes, amplamente miscigenados com as raças sangiques vizinhas e com os andonitas da Ásia Menor, estivessem ali para batalhar contra os invasores do norte e do leste, em uma época posterior.

78:6:8 8745 A idade cultural do segundo jardim terminou por causa da infiltração crescente das linhagens inferiores vizinhas. A civilização mudou-se para o oeste, no Nilo, e para as ilhas do Mediterrâneo, onde continuou a progredir e a avançar até muito depois da deterioração da sua fonte de origem, na Mesopotâmia. E esse afluxo descontrolado de povos inferiores preparou o caminho para as futuras conquistas, de toda a Mesopotâmia, pelos bárbaros do norte, que deram fim à linhagem residual de maior capacidade. Mesmo em anos posteriores, os resíduos culturais ainda ressentiam-se da presença desses invasores toscos e ignorantes.

7. AS ENCHENTES NA MESOPOTÂMIA


78:7:1 8746 Os moradores ribeirinhos estavam acostumados a inundações nas margens dos rios em certas estações; essas enchentes periódicas eram acontecimentos anuais nas suas vidas. Contudo, perigos novos ameaçavam o vale da Mesopotâmia, por causa das alterações geológicas progressivas no norte.

78:7:2 8747 Por milhares de anos, depois que o primeiro Éden submergira, as montanhas na costa leste do Mediterrâneo e aquelas a noroeste e a nordeste da Mesopotâmia continuaram a elevar-se. Essa elevação dos planaltos foi bastante acelerada por volta de 5 000 a. C. , e isso, junto com o aumento da precipitação de neve nas montanhas ao norte, causou enchentes sem precedentes em todas as primaveras, em todo o vale do Eufrates. Essas enchentes das primaveras tornaram-se cada vez piores, até que finalmente os habitantes das regiões ribeirinhas tiveram de mudar-se para os planaltos a leste. Por quase mil anos, dezenas de cidades ficaram praticamente desertas por causa desses dilúvios.

78:7:3 8748 Quase cinco mil anos depois, quando os sacerdotes hebreus, em cativeiro na Babilônia, buscaram ligar a Adão a origem do povo judeu, encontraram uma grande dificuldade em reconstituir a história. Então ocorreu a um deles abandonar esse esforço, deixar que o mundo inteiro afundasse na própria perversidade, à época da enchente de Noé, e ficar, assim, em uma posição melhor para atribuir a origem de Abraão a um dos três filhos sobreviventes de Noé.

78:7:4 8751 As tradições de uma época em que a água cobria toda a superfície da Terra são universais. Muitas raças alimentam a história de uma enchente de amplidão mundial, em alguma época das idades passadas. A história bíblica de Noé, da arca e da enchente é uma invenção do sacerdócio hebreu, durante o seu cativeiro na Babilônia. Nunca houve uma enchente universal, desde que a vida foi estabelecida em Urântia. A única época em que a superfície da Terra esteve completamente coberta pela água foi durante as idades arqueozóicas, antes que as terras começassem a aparecer.

78:7:5 8752 Entretanto, realmente Noé existiu; ele foi um fabricante de vinho em Aram, uma colônia junto ao rio, perto de Erec. Ele mantinha um registro escrito dos dias de alta do rio, ano após ano. Chegou a ser bastante ridicularizado, quando subia e descia o vale do rio, advogando que todas as casas devessem ser feitas de madeira, no feitio de barcos, e que os animais da família fossem colocados a bordo todas as noites, quando se aproximasse a estação das enchentes. Todos os anos, ele ia às colônias ribeirinhas da vizinhança, prevenir que, dentro de alguns dias, as enchentes chegariam. Finalmente, veio um ano no qual as enchentes anuais aumentaram bastante, por causa de uma chuva anormalmente pesada, de modo que a súbita elevação das águas levou toda a aldeia; apenas Noé e os mais próximos, na sua família, salvaram-se na sua casa flutuante.

78:7:6 8753 Essas enchentes completaram a dissolução da civilização andita. Ao fim desse período de dilúvio, o segundo jardim não existia mais. Apenas no sul, e entre os sumérios, alguns vestígios da glória anterior prevaleceram.

78:7:7 8754 Os remanescentes dessa civilização, uma das mais antigas, podem ser encontrados nessas regiões da Mesopotâmia, bem como a nordeste e a noroeste delas. Contudo, vestígios ainda mais antigos dos dias da Dalamátia existem sob as águas do golfo Pérsico; e o primeiro Éden está submerso na extremidade leste do mar Mediterrâneo.

8. OS SUMÉRIOS – OS ÚLTIMOS DOS ANDITAS


78:8:1 8755 Quando a última dispersão andita alquebrou a espinha dorsal biológica da civilização da Mesopotâmia, uma pequena minoria dessa raça superior permaneceu, na sua região natal, próxima das embocaduras dos rios. Esses foram os sumérios e, por volta de 6 000 a. C. , eles haviam-se tornado uma descendência amplamente andita, embora a sua cultura tivesse um caráter mais exclusivamente nodita e eles se ativessem às antigas tradições da Dalamátia. Esses sumérios das regiões da costa, entretanto, eram os últimos anditas na Mesopotâmia. Contudo, as raças da Mesopotâmia já estavam intensamente mescladas nessa época, como fica evidenciado pelos tipos de crânios encontrados nos túmulos dessa era.

78:8:2 8756 Foi durante a época das enchentes que Susa prosperou intensamente. A primeira cidade, de altitude menos elevada, foi inundada, de modo tal que o segundo núcleo, ou o mais alto, sucedeu à parte baixa como sede do artesanato, bastante peculiar, daqueles dias. Com a diminuição posterior das enchentes, Ur tornou-se o centro da indústria de cerâmica. Por volta de sete mil anos atrás, Ur localizava-se no golfo Pérsico; as aluviões fluviais que se depositaram ali elevaram, desde então, as terras até os seus limites atuais. Essas colônias sofreram menos durante as enchentes por causa das obras de proteção e controle e por causa da maior abertura na embocadura dos rios.

78:8:3 8757 Os pacíficos cultivadores de grãos dos vales do Eufrates e do Tigre há muito vinham sendo fustigados pelas incursões dos bárbaros do Turquestão e do planalto iraniano. Agora, porém, uma invasão planejada do vale do Eufrates era provocada pelo aumento da seca nos pastos dos planaltos. E essa invasão foi ainda mais séria porque os pastores e os caçadores dos arredores possuíam muitos cavalos domados. Foi a posse dos cavalos que lhes deu uma grande vantagem militar sobre os seus ricos vizinhos do sul. Em pouco tempo eles invadiram toda a Mesopotâmia, expulsando as últimas ondas de cultura, as quais se espalharam por toda a Europa, pelo oeste da Ásia e pelo norte da África.

78:8:4 8761 Esses conquistadores da Mesopotâmia levavam, nas suas fileiras, muitas das melhores linhagens anditas das raças miscigenadas do norte do Turquestão, incluindo algumas das linhagens de Adamson. Essas tribos menos avançadas, mas mais vigorosas, do norte, rapidamente, e com grande disposição, assimilaram os resíduos da civilização da Mesopotâmia. E logo formaram aqueles povos híbridos encontrados no vale do Eufrates, no começo dos anais da história. Elas logo reviveram muitas fases da civilização moribunda da Mesopotâmia, incorporando as artes das tribos do vale e grande parte da cultura dos sumérios. Intentaram até mesmo construir a terceira torre de Babel e, mais tarde, adotaram o termo como nome para a sua nação.

78:8:5 8762 Quando esses cavaleiros bárbaros do nordeste invadiram todo o vale do Eufrates, eles não conquistaram os remanescentes dos anditas que habitavam as cercanias da embocadura do rio, no golfo Pérsico. Por causa da sua inteligência superior, esses sumérios foram capazes de defender-se com armas melhores e com o seu amplo sistema de canais militares, o qual era um complemento do esquema de irrigação, feito por meio de tanques de intercomunicação. Era um povo unido, porque tinha uma religião grupal única. Assim foram capazes de manter a sua integridade racial e nacional, até muito tempo depois de os seus vizinhos do noroeste haverem sido fragmentados, em cidades-estados isoladas. Nenhum desses grupos de cidades foi capaz de superar os sumérios unificados.

78:8:6 8763 E os invasores do norte logo aprenderam a confiar neles, e a dar valor a esses sumérios amantes da paz, por serem educadores e administradores hábeis. Eles eram muito respeitados e procurados como instrutores de arte e de trabalhos industriais, como diretores comerciais e como governantes civis, por todos os povos do norte e do Egito, a oeste, até a Índia, a leste.

78:8:7 8764 Após a queda da primeira confederação suméria, as cidades-estados posteriores foram governadas pelos descendentes apóstatas dos sacerdotes setitas. E só depois de conquistarem as cidades da vizinhança é que esses sacerdotes denominaram-se reis. Os reis posteriores das cidades não conseguiram formar uma confederação poderosa antes dos dias de Sargon, por causa dos ciúmes de uns pelas deidades dos outros. Cada cidade acreditava que o seu deus municipal era superior a todos os outros deuses e, conseqüentemente, recusava subordinar-se a qualquer liderança comum.

78:8:8 8765 Esse longo período de governo fraco dos sacerdotes citadinos terminou com Sargon, o sacerdote de Kish, que se proclamou rei e iniciou a conquista de toda a Mesopotâmia e das terras adjacentes. E, durante um certo período, isso acabou com as cidades-estados, governadas e tiranizadas por sacerdotes; cada cidade tendo o seu próprio deus municipal e práticas cerimoniais próprias.

78:8:9 8766 Após o rompimento dessa confederação Kish, seguiu-se um período longo de guerras constantes entre essas cidades dos vales, na disputa da supremacia, que se alternou entre Sumer, Akad, Kish, Erec, Ur e Susa.

78:8:10 8767 Por volta de 2 500 a. C. , os sumérios sofreram sérios reveses nas mãos dos suítas e guitas do norte. Lagash, a capital suméria construída sobre as terras das aluviões das enchentes, caiu. Erec manteve-se por trinta anos após a queda de Akad. Na época do estabelecimento do governo de Hamurabi, os sumérios haviam sido absorvidos pelas fileiras dos semitas do norte, e os anditas da Mesopotâmia foram apagados das páginas da história.

78:8:11 8771 De 2 500 até 2 000 a. C. , os nômades andaram fazendo estragos desde o oceano Atlântico até o Pacífico. Foi com os neritas que se deu a investida final do grupo do mar Cáspio, dos descendentes mesopotâmios das raças anditas e andonitas miscigenadas. Tudo aquilo que os bárbaros deixaram de arruinar na Mesopotâmia, as mudanças climáticas subseqüentes fizeram-no com êxito.

78:8:12 8772 E essa é a história da raça violeta, depois dos dias de Adão, e do destino que teve a sua terra natal, entre o Tigre e o Eufrates. A sua antiga civilização finalmente caiu, devido à emigração dos povos superiores e da imigração de seus vizinhos inferiores. Contudo, muito antes que as cavalarias bárbaras houvessem conquistado o vale, grande parte da cultura do Jardim já se havia propagado até a Ásia, a África e a Europa, para ali produzir os fermentos que resultaram na civilização do século vinte de Urântia.

78:8:13 8773 [Apresentado por um Arcanjo de Nebadon.]

DOCUMENTO 79

A EXPANSÃO ANDITA NO ORIENTE
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A Ásia é o berço da raça humana. Foi em uma península do sul desse continente que Andon e Fonta nasceram; nos planaltos daquilo que agora é o Afeganistão, os seus descendentes badonan fundaram um centro primitivo de cultura que subsistiu por mais de meio milhão de anos. Nesse foco oriental da raça humana, os povos sangiques diferenciaram-se da linhagem andônica, e a Ásia foi o seu primeiro lar, o seu primeiro território de caça, o seu primeiro campo de batalha. A parte sudoeste da Ásia testemunhou as civilizações dos dalamatianos, dos noditas, dos adamitas e dos anditas sucederem-se; partindo dessas regiões, o potencial da civilização moderna espalhou-se pelo mundo.

1. OS ANDITAS DO TURQUESTÃO


79:1:1 8782 Por mais de vinte e cinco mil anos, até quase 2000 a. C. , o centro da Eurásia era predominantemente andita, embora isso estivesse diminuindo. Nas terras baixas do Turquestão, os anditas voltaram-se para o oeste, contornando os lagos interiores na direção da Europa e, partindo dos planaltos dessa região, eles infiltraram-se na direção leste. O Turquestão oriental (o Sinkiang) e, em uma extensão menor, o Tibete foram as entradas antigas através das quais esses povos da Mesopotâmia penetraram nas montanhas, indo até as terras setentrionais dos homens amarelos. A infiltração andita na Índia veio dos planaltos do Turquestão, até o Punjab, e dos pastos iranianos, passando através do Beluchistão. Essas primeiras migrações não foram conquistas, em nenhum sentido, mas, antes, a corrente contínua das tribos anditas indo para a Índia ocidental e para a China.

79:1:2 8783 Durante quase quinze mil anos, os centros de cultura mista andita perduraram na bacia do rio Tarim, no Sinkiang e, para o sul, nas regiões dos planaltos do Tibete, onde os anditas e os andonitas miscigenaram-se extensamente. O vale do Tarim era, a leste, o posto fronteiriço da verdadeira cultura andita. Ali eles construíram as suas colônias e mantiveram relações de comércio com os chineses desenvolvidos, a leste, e com os andonitas, ao norte. Naquela época, a região do Tarim tinha uma terra fértil; as chuvas eram abundantes. A leste, o Gobi era uma terra de gramagens abertas, onde os pastores estavam gradativamente voltando-se para a agricultura. Essa civilização pereceu quando os ventos chuvosos passaram a soprar para o sudoeste, todavia, nos seus bons dias, ela rivalizava com a própria Mesopotâmia.

79:1:3 8784 Por volta de 8000 a. C. , a aridez vagarosamente crescente das regiões dos planaltos da Ásia Central começou a expulsar os anditas para os fundos dos vales e para as costas marítimas. Essa seca crescente não apenas os levou para os vales do Nilo, do Eufrates, dos rios Indo e Amarelo, como também provocou um novo desenvolvimento na civilização andita. Uma nova espécie de homens, os comerciantes, começou a aparecer em grande quantidade.

79:1:4 8791 Quando as condições climáticas tornaram a caça desvantajosa para os anditas migrantes, eles não seguiram o curso evolucionário das raças mais antigas, tornando-se pastores. O comércio e a vida urbana surgiram. Do Egito, através da Mesopotâmia e do Turquestão, até os rios da China e da Índia, as tribos mais altamente civilizadas começaram a concentrar-se nas cidades consagradas à manufatura e ao comércio. Adônia, localizada perto da atual cidade de Askabad, tornou-se a metrópole comercial da Ásia Central. O comércio de pedras, metal, madeira e cerâmica acelerou-se tanto por via terrestre quanto pela fluvial.

79:1:5 8792 Contudo, a seca sempre crescente gradualmente trouxe um grande êxodo andita das terras do sul e do leste do mar Cáspio. A maré de migração começou a mudar da direção norte para o sul, e os cavaleiros da Babilônia começaram a invadir a Mesopotâmia.

79:1:6 8793 A aridez crescente na Ásia Central colaborou ainda mais para reduzir a população e para tornar esse povo menos guerreiro; e, quando as chuvas decrescentes, ao norte, forçaram os andonitas nômades a irem para o sul, houve um êxodo prodigioso de anditas do Turquestão. Esse foi o movimento final, dos chamados arianos, para o levante e para a Índia. Esse movimento marcou o ápice daquela longa dispersão dos descendentes miscigenados de Adão, durante a qual todos os povos asiáticos e a maioria dos povos das ilhas do Pacífico foram, em uma certa medida, aperfeiçoados por essas raças superiores.

79:1:7 8794 Assim, ao dispersarem-se no hemisfério oriental, os anditas ficaram desprovidos das suas terras originais na Mesopotâmia e no Turquestão, pois foi esse movimento abrangente dos andonitas para o sul que diluiu os anditas na Ásia Central quase até o ponto do seu desaparecimento.

79:1:8 8795 Contudo, ainda no século vinte depois de Cristo, há traços de sangue andita entre os povos turanianos e tibetanos, como é testemunhado pelos tipos louros que ocasionalmente são encontráveis nessas regiões. Os anais primitivos dos chineses registram a presença de nômades de cabelos vermelhos ao norte das pacíficas colônias do rio Amarelo, e ainda há pinturas que registram fielmente a presença tanto do tipo andita louro quanto dos tipos mongóis morenos na bacia do Tarim de muito tempo atrás.

79:1:9 8796 A última grande manifestação do gênio militar, que desapareceu dos anditas da Ásia Central ocorreu em 1200 d. C. , quando os mongóis, sob o comando de Gengis Khan, começaram a conquista da maior parte do continente asiático. E, como os anditas do passado, esses guerreiros proclamavam a existência de “um só Deus no céu”. A dissolução prematura do seu império retardou em muito o intercâmbio cultural, entre o Ocidente e o Oriente, e foi um grande obstáculo ao crescimento do co2nceito monoteísta na Ásia.

2. A CONQUISTA ANDITA DA ÍNDIA


79:2:1 8797 A Índia é o único local em que todas as raças de Urântia foram miscigenadas, a invasão andita trazendo a última contribuição. Nos planaltos a noroeste da Índia, as raças sangiques vieram à existência e, sem exceção, os membros de cada raça penetraram no subcontinente da Índia, nos seus primórdios, deixando atrás de si a mais heterogênea mistura de raças que existe em Urântia. A Índia antiga atuou como uma bacia coletora para as raças em migração. A base da península foi anteriormente um pouco mais estreita do que é agora, grande parte dos deltas do Ganges e do Indo sendo um trabalho dos últimos cinqüenta mil anos.

79:2:2 8798 As mais antigas misturas de raças na Índia formam uma combinação de raças vermelhas e amarelas migratórias com os andonitas aborígines. Esse grupo foi enfraquecido, mais tarde, ao absorver a maior porção dos extintos povos verdes do leste, bem como um grande número da raça laranja. O grupo foi ligeiramente aperfeiçoado por meio de uma miscigenação limitada com os homens azuis, mas sofreu excessivamente com a assimilação de grande número de membros da raça índigo. Todavia, os chamados aborígines da Índia dificilmente são representativos desse povo primitivo; eles são, antes, a facção sulina, inferior e oriental, que nunca foi plenamente absorvida pelos anditas primitivos, nem pelos seus primos arianos que apareceram mais tarde.

79:2:3 8801 Por volta de 20 000 a. C. , a população da parte ocidental da Índia já se havia tornado matizada pelo sangue Adâmico, e nunca na história de Urântia qualquer povo combinou tantas raças diferentes. Infelizmente, porém, as linhagens sangiques secundárias predominaram, e foi uma verdadeira calamidade que as raças azul e vermelha estivessem tão amplamente ausentes dessa fusão racial do passado longínquo. Se tivesse havido mais linhagens sangiques primárias, elas teriam contribuído muito para o engrandecimento do que poderia ter sido uma civilização ainda mais desenvolvida. A situação desenvolveu-se assim: o homem vermelho foi destruindo a si próprio nas Américas, o homem azul espalhava-se pela Europa, e os descendentes primitivos de Adão (e a maioria dos posteriores) demonstravam pouco desejo de miscigenação com os povos de cores mais escuras, fosse na Índia, África ou outros lugares.

79:2:4 8802 Por volta de 15 000 a. C. , o impulso de uma população crescente no Turquestão e no Irã ocasionou o primeiro movimento andita realmente extenso na direção da Índia. Durante quase quinze séculos, esses povos superiores afluíram para os planaltos do Beluchistão, espalhando-se pelos vales do Indo e do Ganges, indo vagarosamente para o sul, pelo Decã adentro. Essa pressão andita do noroeste levou muitas das linhagens inferiores do sul e do leste para a Birmânia e para o sul da China, mas não o suficiente para salvar os invasores da obliteração racial.

79:2:5 8803 A Índia não teve êxito em conseguir a hegemonia da Eurásia, em boa medida por uma questão quase que de topografia; a pressão da população vinda do norte apenas levou a maioria do povo para o sul, para o território decrescente do Decã, cercado pelo mar de todos os lados. Se houvessem existido terras adjacentes para a emigração, as raças inferiores teriam sido expulsas para todas as direções, e as linhagens superiores teriam alcançado uma civilização mais elevada.

79:2:6 8804 O que ocorreu foi que esses conquistadores anditas primitivos fizeram um esforço desesperado para preservar a sua identidade e para estancar a maré de engolfamento racial, com o estabelecimento de restrições rígidas para os casamentos inter-raciais. Entretanto, por volta de 10 000 a. C, os anditas haviam sido absorvidos, mas toda a massa do povo havia sido amplamente aperfeiçoada por essa absorção.

79:2:7 8805 A mistura das raças é sempre vantajosa, pelo favorecimento da versatilidade da cultura e pela contribuição para uma civilização mais desenvolvida, entretanto, se predominarem os elementos inferiores das linhagens raciais, essas realizações não duram muito tempo. Uma cultura poliglota pode ser preservada apenas se as linhagens superiores se reproduzirem com uma margem suficiente de segurança sobre a inferior. A multiplicação irrestrita dos inferiores é infalivelmente suicida para a civilização cultural, se a reprodução dos superiores for decrescente.

79:2:8 8806 Se os conquistadores houvessem ultrapassado em três vezes o próprio número, ou se eles houvessem expulsado ou destruído a terça parte menos desejável dos habitantes alaranjado-verde-índigos, então a Índia ter-se-ia tornado um dos principais centros mundiais de civilização cultural e teria, indubitavelmente, atraído mais das ondas posteriores dos mesopotâmios que fluíram para o Turquestão e dali para o norte, até a Europa.

3. A ÍNDIA DRAVIDIANA


79:3:1 8811 A mesclagem dos conquistadores anditas da Índia com as raças nativas resultou, finalmente, naquele povo misturado que tem sido chamado de dravidiano. Os dravidianos mais primitivos e mais puros possuíam uma capacidade grande para conquistas culturais, a qual foi continuamente enfraquecida à medida que a sua herança andita tornou-se cada vez mais atenuada. E foi isso o que condenou essa civilização embrionária da Índia há quase doze mil anos. Todavia, a infusão do sangue de Adão, mesmo em pequena quantidade, produziu uma aceleração bem marcada no desenvolvimento social. Essa linhagem composta imediatamente produziu, então, a mais versátil civilização na Terra.

79:3:2 8812 Não muito depois de conquistar a Índia, os anditas dravidianos perderam o contato racial e cultural com a Mesopotâmia, mas a abertura posterior de linhas marítimas e rotas, para as caravanas, restabeleceram tais conexões; em nenhum momento, dentro dos últimos dez mil anos, a Índia esteve inteiramente fora de contato com a Mesopotâmia, a oeste, e com a China, a leste, embora as barreiras das montanhas houvessem favorecido grandemente as relações com o oeste.

79:3:3 8813 A cultura e os ensinamentos religiosos superiores dos povos da Índia datam dos primeiros tempos do domínio dravidiano e são devidos, em parte, ao fato de que tantos sacerdotes setitas entraram na Índia, tanto na invasão inicial dos anditas quanto na invasão posterior ariana. O fio do monoteísmo que atravessa a história religiosa da Índia vem, então, dos ensinamentos dos adamitas no segundo jardim.

79:3:4 8814 Desde 16 000 a. C. , um grupo de cem sacerdotes setitas entrou na Índia e quase conquistou religiosamente a metade oeste daquele povo poliglota, mas a sua religião não perdurou. Depois de cinco mil anos, as suas doutrinas da Trindade do Paraíso haviam-se degenerado no símbolo trino do deus do fogo.

79:3:5 8815 Todavia, durante mais de sete mil anos, até o fim das migrações anditas, o status religioso dos habitantes da Índia esteve muito acima do do resto do mundo em geral. Durante esses tempos, a Índia prometia produzir a civilização cultural, religiosa, filosófica e comercial líder do mundo. E não fora pela completa absorção dos anditas pelos povos do sul, esse destino provavelmente ter-se-ia realizado.

79:3:6 8816 Os centros dravidianos de cultura localizavam-se nos vales dos rios, principalmente do Indo e do Ganges e, no Decã, ao longo dos três grandes rios que fluem através dos Gates orientais, até o mar. As colônias ao longo da costa marítima dos Gates ocidentais deviam a sua proeminência às relações marítimas com a Suméria.

79:3:7 8817 Os dravidianos estavam entre os primeiros povos a construírem cidades e a entrarem extensivamente no negócio de exportação e importação, por terra e mar. Por volta de 7000 a. C. , caravanas de camelos estavam fazendo viagens regulares à distante Mesopotâmia e os navios dos dravidianos avançaram pela costa, atravessando o mar da Arábia, até as cidades sumérias do golfo Pérsico, e aventurando-se pelas águas da baía de Bengala até as Índias Orientais. Um alfabeto, junto com a arte de escrever, foi importado da Suméria por esses navegantes e mercadores.

79:3:8 8818 Essas relações comerciais contribuíram grandemente para a maior diversificação de uma cultura cosmopolita, resultando no primeiro aparecimento de muitos refinamentos e mesmo dos luxos da vida urbana. Quando os arianos que vieram depois entraram na Índia, eles não reconheceram, nos dravidianos, os seus primos anditas submergidos nas raças sangiques, mas encontraram uma civilização bem avançada. Apesar das limitações biológicas, os dravidianos fundaram uma civilização superior, que foi bem difundida por toda a Índia e sobreviveu, no Decã, até os tempos modernos.

4. A INVASÃO ARIANA DA ÍNDIA


79:4:1 8821 A segunda penetração andita na Índia foi a invasão ariana durante um período de quase quinhentos anos, no meio do terceiro milênio antes de Cristo. Essa migração marcou o êxodo terminal dos anditas das suas terras natais no Turquestão.

79:4:2 8822 Os centros arianos iniciais estavam espalhados pela metade norte da Índia, notadamente a noroeste. Esses invasores nunca completaram a conquista do país, e a sua negligência causou o seu fracasso posterior. Por serem em menor número, eles tornaram-se vulneráveis e foram absorvidos pelos dravidianos do sul, que se espalharam, mais tarde, por toda a península, exceto as províncias do Himalaia.

79:4:3 8823 Os arianos exerceram pouca influência racial sobre a Índia, exceto nas províncias do norte. No Decã, a sua influência foi mais cultural e religiosa do que racial. A maior persistência do chamado sangue ariano no norte da Índia não é devida apenas à sua presença em maior número nessas regiões, mas também ao fato de que eles foram reforçados, ulteriormente, por novos conquistadores, comerciantes e missionários. Até o primeiro século antes de Cristo, havia uma infiltração contínua de sangue ariano no Punjab, sendo que o último influxo acompanhou as campanhas dos povos helênicos.

79:4:4 8824 Na planície do Ganges, os arianos e os dravidianos finalmente misturaram-se, produzindo uma cultura elevada, sendo esse centro reforçado por contribuições do nordeste, vindas da China.

79:4:5 8825 Na Índia, muitos tipos de organizações sociais floresceram, de tempos em tempos, indo dos sistemas semidemocráticos dos arianos às formas despóticas e monárquicas de governo. Todavia, o aspecto mais característico dessa sociedade foi a persistência de grandes castas sociais, que foram instituídas pelos arianos em um esforço para perpetuar a identidade racial. Esse sistema elaborado de castas tem sido preservado até a época presente.

79:4:6 8826 Das quatro grandes castas, afora a primeira, foram todas estabelecidas em um esforço, de antemão condenado ao fracasso, para impedir a amalgamação social dos conquistadores arianos com os seus súditos inferiores. Contudo, a primeira casta, a dos instrutores-sacerdotes, provém dos setitas; os brâmanes do século vinte da era cristã são descendentes culturais, em linha direta, dos sacerdotes do segundo jardim, embora os seus ensinamentos em muito difiram daqueles dos seus ilustres predecessores.

79:4:7 8827 Quando os arianos entraram na Índia, eles trouxeram consigo os seus conceitos de Deidade, como haviam sido preservados nas tradições remanescentes da religião do segundo jardim. Os sacerdotes brâmanes, porém, jamais foram capazes de resistir à força viva do paganismo que surgiu do contato súbito com as religiões inferiores do Decã, após a obliteração racial dos arianos. Desse modo, a vasta maioria da população caiu nos laços das superstições escravizantes das religiões inferiores; e foi assim que a Índia não conseguiu produzir a alta civilização antevista nos tempos mais antigos.

79:4:8 8828 O despertar espiritual do sexto século antes de Cristo não perdurou na Índia, tendo morrido antes mesmo da invasão muçulmana. Algum dia, porém, um Gautama ainda maior pode surgir para liderar toda a Índia, na procura do Deus vivo, e então o mundo observará a fruição das potencialidades culturais de um povo versátil, que, por tanto tempo, permaneceu entorpecido sob o efeito de uma visão espiritual estagnada.

79:4:9 8831 A cultura apóia-se em uma base biológica, mas um sistema de castas por si só não podia perpetuar a cultura ariana, pois a religião, a verdadeira religião, é a fonte indispensável da energia mais elevada que leva os homens a estabelecer uma civilização superior, baseada na fraternidade humana.

5. O HOMEM VERMELHO E O HOMEM AMARELO


79:5:1 8832 Enquanto a história da Índia é aquela da conquista andita e da sua absorção final por outros povos evolucionários, a história da Ásia oriental é mais propriamente a dos sangiques primários, particularmente a do homem vermelho e do homem amarelo. Essas duas raças escaparam em larga medida da miscigenação com a decadente linhagem de Neandertal, que retardou tanto o homem azul na Europa, preservando, assim, o potencial superior do tipo sangique primário.

79:5:2 8833 Enquanto os primeiros homens de Neandertal espalharam-se por toda a extensão da Eurásia, a sua asa oriental foi a mais contaminada pelas linhagens animais mais degradadas. Esses tipos subumanos foram impelidos para o sul pelo quinto período glacial, a mesma camada de gelo que bloqueou, durante tanto tempo, a migração sangique para a Ásia oriental. E, quando o homem vermelho caminhou para o norte, pelos planaltos da Índia, ele encontrou o nordeste da Ásia isento desses tipos subumanos. A organização tribal das raças vermelhas formou-se antes do que a de quaisquer outros povos, e eles foram os primeiros a migrar do foco sangique da Ásia central. As linhagens Neandertal inferiores foram destruídas ou expulsas das terras firmes pelas migrações posteriores das tribos amarelas. Todavia, o homem vermelho reinara absoluto na Ásia oriental por quase cem mil anos, antes que as tribos amarelas chegassem.

79:5:3 8834 Há mais de trezentos mil anos, o corpo principal da raça amarela entrou na China, vindo do sul numa migração costeira. A cada milênio, eles penetravam mais profundamente no interior do continente, e não fizeram contato com os seus irmãos que emigravam do Tibete até tempos relativamente recentes.

79:5:4 8835 A pressão crescente da população levou a raça amarela, que se movia para o norte, a começar a invadir as terras de caça do homem vermelho. Essas intromissões, combinadas com antagonismos raciais naturais, culminaram em um aumento das hostilidades, e assim, teve início a luta crucial pelas terras férteis da Ásia longínqua.

79:5:5 8836 A história dessa disputa milenar entre as raças vermelha e amarela é um épico da história de Urântia. Por mais de duzentos mil anos, essas duas raças superiores travaram guerras amargas e contínuas. Nas lutas iniciais, os homens vermelhos foram mais bem-sucedidos em geral: as suas expedições espalhavam a devastação nas colônias amarelas. Todavia, o homem amarelo era bom aluno na arte da guerra e logo manifestou uma habilidade especial de conviver pacificamente com os seus compatriotas; os chineses foram os primeiros a aprender que na união está a força. As tribos vermelhas continuaram com os seus conflitos de destruição mútua e, logo, começaram a sofrer derrotas repetidas nas mãos agressivas dos implacáveis chineses, que continuaram a sua marcha inexorável para o norte.

79:5:6 8837 Há cem mil anos, as tribos dizimadas da raça vermelha lutavam, acuadas pelo gelo da última era glacial que diminuía, e, quando a passagem de terra para o Oriente, sobre o estreito de Bering, tornou-se atravessável, essas tribos não demoraram a abandonar as margens inóspitas do continente asiático. Oitenta e cinco mil anos passaram-se desde que os últimos homens vermelhos puros partiram da Ásia, mas a longa luta deixou a sua marca genética sobre a raça amarela vitoriosa. Os povos chineses do norte, junto com os siberianos andonitas, assimilaram muito da linhagem vermelha e, com isso, foram consideravelmente beneficiados.

79:5:7 8841 Os índios norte-americanos nunca tiveram contato real com a progênie andita de Adão e Eva, tendo sido expulsos das suas terras natais asiáticas cerca de cinqüenta mil anos antes da chegada de Adão. Durante a idade das migrações anditas, as linhagens puras estavam-se espalhando pela América do Norte como tribos nômades, caçadores que praticavam a agricultura apenas em uma pequena proporção. Essas raças e os grupos culturais permaneceram quase completamente isolados do restante do mundo, desde a sua chegada às Américas até o primeiro milênio da era cristã, quando foram descobertos pelas raças brancas da Europa. Até aquela época, os esquimós eram o mais próximo da raça branca, que as tribos de homens vermelhos do norte jamais haviam visto.

79:5:8 8842 A raça vermelha e a amarela são as únicas linhagens humanas que alcançaram um alto grau de civilização, longe das influências dos anditas. A cultura ameríndia mais antiga foi o centro Onamonalonton, na Califórnia, mas que desapareceu em 35 000 a. C despareceu. No México, na América Central e nas montanhas da América do Sul, as civilizações posteriores, mais duradouras, foram fundadas por uma raça predominantemente vermelha, mas contendo uma mistura considerável das raças amarela, alaranjada e azul.

79:5:9 8843 Essas civilizações foram produtos evolucionários dos sangiques, ainda que traços de sangue andita houvessem alcançado o Peru. Excetuando-se os esquimós, na América do Norte, e uns poucos anditas polinésios na América do Sul, os povos do hemisfério ocidental não tiveram nenhum contato com o resto do mundo até o fim do primeiro milênio depois de Cristo. No plano Melquisedeque original para o aperfeiçoamento das raças de Urântia, havia sido estipulado que um milhão dos descendentes da pura linha de Adão deveriam elevar os homens vermelhos das Américas.

6. O ALVORECER DA CIVILIZAÇÃO CHINESA


79:6:1 8844 Algum tempo após haverem afugentado o homem vermelho para a América do Norte, os chineses em expansão expulsaram os andonitas dos vales dos rios da Ásia oriental, empurrando-os, ao norte, para a Sibéria e, a oeste, para o Turquestão, onde eles iriam, dentro em pouco, entrar em contato com a cultura superior dos anditas.

79:6:2 8845 Na Birmânia e na península da Indochina, as culturas da Índia e da China misturaram-se e fundiram-se para produzir as civilizações sucessivas daquelas regiões. A raça verde, já desaparecida, perdurou nessa região em uma proporção maior do que em qualquer outro lugar do mundo.

79:6:3 8846 Muitas raças diferentes ocuparam as ilhas do Pacífico. Em geral, as ilhas do sul, que eram então maiores, eram ocupadas pelos povos portadores de uma alta percentagem de sangue das raças verde e índigo. As ilhas do norte foram ocupadas pelos andonitas e, mais tarde, por raças que tinham proporções elevadas das linhagens amarelas e vermelhas. Os ancestrais do povo japonês não foram expulsos do continente antes de 12 000 a. C. , quando eles foram desalojados por um vigoroso avanço em direção ao litoral sul, da parte das tribos chinesas do norte. O seu êxodo final não foi devido tanto à pressão populacional quanto à iniciativa de um chefe a quem eles vieram a considerar como um personagem divino.

79:6:4 8851 Como os povos da Índia e do Levante, tribos vitoriosas de homens amarelos estabeleceram os seus primeiros centros ao longo da costa e rio acima. As colônias costeiras encontraram dificuldades nos anos seguintes, pois as inundações crescentes e os cursos mutantes dos rios tornaram insustentável a situação das cidades nas planícies.

79:6:5 8852 Há vinte mil anos, os ancestrais dos chineses haviam construído uma dúzia de grandes centros de ensinamento e cultura primitiva, especialmente ao longo do rio Amarelo e do Yangtze. Esses centros começaram logo a ser reforçados, com a chegada de uma corrente firme de povos mistos superiores vindos do Sinkiang e do Tibete. A migração do Tibete para o vale do Yangtze não foi tão extensiva como no norte, nem os centros tibetanos foram tão avançados como aqueles da bacia do Tarim, mas ambos os movimentos tinham uma certa quantidade de sangue andita no lado oriental das colônias ribeirinhas.

79:6:6 8853 A superioridade da antiga raça amarela era devida a quatro grandes fatores:

79:6:7 8854 1 . Genético. Diferentemente dos seus primos azuis na Europa, as raças vermelha e amarela haviam escapado grandemente da mistura com linhagens humanas degradadas. Os chineses do norte, reforçados já por quantidades pequenas das estirpes superiores vermelhas e andônicas, iriam em breve beneficiar-se de um considerável influxo de sangue andita. Os chineses do sul não tiveram tanto sucesso nesse sentido, e padeciam, já havia muito, da absorção da raça verde, enquanto, mais tarde, iriam ser ainda mais enfraquecidos pela infiltração das multidões dos povos inferiores expulsos da Índia pela invasão dravidiano-andita. Existe hoje, na China, uma diferença definida entre as raças do norte e do sul.

79:6:8 8855 2. Social. A raça amarela aprendeu logo o valor da paz entre si mesmos. O pacifismo interno contribuiu muito para o crescimento demográfico, bem como para assegurar a disseminação da sua civilização entre muitos milhões de indivíduos. Entre 25 000 e 5 000 a. C, a mais densa massa de civilização em Urântia encontrava-se na China Central e do norte. O homem amarelo foi o primeiro a realizar a solidariedade racial – o primeiro a alcançar uma civilização social, cultural e política em larga escala.

79:6:9 8856 Os chineses de 15 000 a. C eram militaristas agressivos; eles não se haviam enfraquecido devido a uma reverência excessiva ao passado. Formavam um corpo compacto de pouco menos de doze milhões de homens, que falavam a mesma língua. Nessa época, eles construíram uma verdadeira nação, muito mais unida e homogênea do que as uniões políticas de tempos históricos.

79:6:10 8857 3. Espiritual. Durante a era das migrações anditas, os chineses estavam entre os povos mais espirituais da Terra. Uma longa adesão à adoração da Verdade Única, proclamada por Singlangton manteve-os à frente da maioria das outras raças. O estímulo de uma religião desenvolvida e avançada, muitas vezes, é um fator decisivo no desenvolvimento cultural; à medida que a Índia definhava, a China ia à frente, sob o estímulo revigorante de uma religião para a qual a verdade era colocada em um relicário, como se fora a Deidade suprema.

79:6:11 8858 Essa adoração da verdade provocou uma pesquisa e uma investigação destemida das leis da natureza e dos potenciais da humanidade. Os chineses de seis mil anos atrás eram, outrossim, estudantes ardorosos e empenhados na sua busca da verdade.

79:6:12 8859 4. Geográfico. A China é protegida pelas montanhas a oeste e pelo oceano Pacífico, a leste. Apenas ao norte fica aberto o caminho para a invasão e, desde a época do homem vermelho até a vinda dos descendentes posteriores dos anditas, o norte não foi ocupado por nenhuma raça agressiva.

79:6:13 8861 E, não fora a barreira das montanhas, e mais tarde o declínio da sua cultura espiritual, a raça amarela teria atraído para si, sem dúvida, a maior parte das migrações anditas que foram para o Turquestão e teria, inquestionável e rapidamente, dominado a civilização do mundo.

7. THE ANDITES ENTER CHINA




79:7:1 8862 Há cerca de quinze mil anos, os anditas, em número considerável, atravessaram a garganta de Ti Tao e espalharam-se pelo vale superior do rio Amarelo, entre as colônias chinesas de Kansu. E, em breve, penetraram na direção leste, no Honan, onde estavam situadas as colônias de maior progresso. Essa infiltração do oeste era meio andonita e meio andita.

79:7:2 8863 Os centros de cultura do norte, ao longo do rio Amarelo, haviam sempre sido mais desenvolvidos que as colônias do sul, no Yangtze. Dentro de poucos milhares de anos depois da chegada, mesmo em pequenos números, desses mortais superiores, as colônias ao longo do rio Amarelo haviam-se distanciado das aldeias Yangtze e alcançado uma posição avançada sobre os seus irmãos do sul, a qual foi mantida desde então.

79:7:3 8864 Não é que houvesse tantos anditas, nem que a sua cultura fosse tão superior, mas a miscigenação deles produziu uma raça mais versátil. Os chineses do norte receberam uma quantidade suficiente de sangue andita para estimular moderadamente as suas mentes inatamente dotadas, mas não tanto que as inflamasse com a curiosidade exploradora tão característica das raças brancas do norte. Essa infusão mais limitada de herança andita foi menos perturbadora da estabilidade inata do tipo sangique.

79:7:4 8865 As ondas posteriores de anditas trouxeram com eles alguns dos avanços culturais da Mesopotâmia; isso é especialmente verdadeiro a respeito das últimas ondas de migração vindas do Ocidente. Elas melhoraram, em muito, as práticas econômicas e educacionais dos chineses do norte; e, embora a sua influência sobre a cultura religiosa da raça amarela haja sido pouco duradoura, os seus descendentes posteriores contribuíram muito para um despertar espiritual subseqüente. As tradições anditas da beleza do Éden e da Dalamátia, contudo, influenciaram as tradições chinesas; as lendas chinesas primitivas situam “a terra dos deuses” no Ocidente.

79:7:5 8866 O povo chinês só começou a construir cidades e a engajar-se na manufatura depois de 10 000 a. C. , posteriormente às alterações climáticas no Turquestão e à chegada dos últimos imigrantes anditas. A infusão desse novo sangue não acrescentou tanto à civilização do homem amarelo, mas estimulou um desenvolvimento posterior rápido das tendências latentes das raças chinesas superiores. De Honan a Shensi, os potenciais de uma civilização avançada estavam dando frutos. A metalurgia e todas as artes da manufatura datam dessa época.

79:7:6 8867 As semelhanças entre alguns dos métodos primitivos chineses e mesopotâmios no cálculo do tempo, na astronomia e na administração do governo eram devidas às relações comerciais entre esses dois centros bastante distantes. Os mercadores chineses viajavam pelas rotas terrestres, atravessando o Turquestão e a Mesopotâmia, mesmo nos tempos dos sumérios. E essas trocas não eram unilaterais, pois o vale do Eufrates beneficiava-se consideravelmente delas, tanto quanto os povos das planícies do Ganges; porém as alterações climáticas e as invasões nômades do terceiro milênio antes de Cristo reduziram grandemente o volume de comércio que passava pelas rotas de caravanas da Ásia Central.

8. A CIVILIZAÇÃO CHINESA POSTERIOR


79:8:1 8871 Conquanto o homem vermelho haja sofrido excessivamente pelas guerras, não é de todo impróprio dizer que o desenvolvimento do Estado, em meio aos chineses, haja sido retardado pelo cuidado da sua conquista da Ásia. Eles tinham um grande potencial de solidariedade racial que, no entanto, deixou de desenvolver-se apropriadamente por causa da ausência do estímulo contínuo da presença do perigo de agressão externa.

79:8:2 8872 Com a realização da conquista completa da Ásia Oriental, o antigo estado militar gradualmente desintegrou-se – as guerras passadas foram esquecidas. Da luta épica com a raça vermelha, apenas perdurou a tradição vaga de uma disputa antiga, com os povos arqueiros. Os chineses logo se voltaram para a agricultura, o que acentuou ainda mais as suas tendências pacíficas. Ao mesmo tempo, a população indicava uma relação homem-solo bem abaixo do ponto de saturação agrícola, e isso veio contribuir ainda mais para a vida pacífica do país.

79:8:3 8873 A consciência de realizações do passado (um tanto reduzidas no presente), o conservadorismo de um povo, em sua maioria de agricultores, e uma vida familiar bem desenvolvida deram nascimento à veneração dos ancestrais, culminando no costume de honrar os homens do passado quase até a adoração. Uma atitude bastante semelhante prevaleceu entre as raças brancas na Europa, durante cerca de quinhentos anos depois da queda da civilização greco-romana.

79:8:4 8874 A crença e a adoração da “Verdade Única” , como ensinada por Singlangton, nunca deixou de existir inteiramente; mas, com o passar do tempo, a busca de uma verdade nova e mais elevada foi obscurecida pela tendência crescente de venerar aquilo que já fora estabelecido. Lentamente, o gênio da raça amarela desviou-se da busca do desconhecido e voltou-se para a preservação do conhecido. E essa é a razão para a estagnação daquela que havia sido a civilização que mais rapidamente progredira no mundo.

79:8:5 8875 Entre 4 000 e 500 a. C, a reunificação política da raça amarela foi consumada, mas a união cultural dos centros dos rios Yangtze e Amarelo havia já sido efetuada. Essa reunificação política dos grupos tribais mais recentes não foi feita sem conflito, mas a estima que a sociedade tinha pela guerra permaneceu baixa; a adoração dos ancestrais, a multiplicação dos dialetos e nenhum apelo para a ação militar, durante milhares e milhares de anos, haviam tornado esse povo ultrapacífico.

79:8:6 8876 A despeito do fracasso em cumprir a promessa do desenvolvimento rápido até um estado avançado, a raça amarela avançou, progressivamente, para uma realização nas artes da civilização, sobretudo nos domínios da agricultura e da horticultura. Os problemas hidráulicos enfrentados pelos agricultores em Shensi e em Honan demandaram uma cooperação grupal, para que fossem solucionados. Essa irrigação e as dificuldades para a conservação do solo contribuíram, em grande medida, para o desenvolvimento da interdependência dos grupos de agricultores, com a conseqüente promoção da paz entre eles.

79:8:7 8877 Os desenvolvimentos precoces na escrita, junto com o estabelecimento de escolas, logo contribuíram para a disseminação do conhecimento em uma escala nunca antes igualada, mas a natureza enfadonha do sistema da escrita ideográfica colocou um limite numérico nas classes instruídas, a despeito do aparecimento, logo a seguir, da imprensa. Acima de tudo, o processo de padronização social e de dogmatização religioso-filosófica continuou crescente. O desenvolvimento religioso da veneração dos ancestrais tornou-se ainda mais complexo, por um influxo de superstições envolvendo a natureza do culto, mas os vestígios prolongados de um conceito real de Deus ficaram preservados no culto imperial de Shang-ti.

79:8:8 8881 A grande fraqueza da veneração dos ancestrais é que ela promove a filosofia do retrógrado. Por mais sábio que seja recolher a sabedoria do passado, é insano considerá-lo como uma fonte exclusiva de verdade. A verdade é relativa e está em expansão; ela vive sempre no presente, alcançando uma nova expressão em cada geração de homens – e mesmo em cada vida humana.

79:8:9 8882 A grande força de uma veneração dos ancestrais é o valor que tal atitude dá à família. A estabilidade espantosa e a persistência da cultura chinesa são uma conseqüência da preponderância da posição dada à família, pois a civilização é diretamente dependente de um funcionamento eficiente da família; e, na China, a família alcançou uma importância social e até mesmo um significado religioso que poucos povos atingiram.

79:8:10 8883 A devoção filial e a lealdade familiar, exigidas no culto crescente dos ancestrais, asseguraram a edificação de relações familiares superiores e de grupos familiares duradouros, o que facilitou a preservação da civilização, por causa dos fatores que se seguem:

8884 1. A conservação da propriedade e das riquezas.

8885 2. A comunhão da experiência de mais de uma geração.

8886 3. A educação eficiente das crianças nas artes e nas ciências do passado.

8887 4. O desenvolvimento de um forte senso do dever, a elevação da moralidade e a ampliação da sensibilidade ética.

79:8:11 8888 O período formativo da civilização chinesa, iniciado com a vinda dos anditas, continua até o grande despertar ético, moral e semi-religioso do sexto século antes de Cristo. E a tradição chinesa mantém um registro de lembrança do passado evolucionário: a transição da família matriarcal para a família patriarcal, o estabelecimento da agricultura, o desenvolvimento da arquitetura, a iniciação da indústria – todas essas etapas são narradas sucessivamente. E essa história apresenta, com uma precisão maior do que qualquer outra narrativa semelhante, um quadro da ascensão magnífica de um povo superior, desde os níveis da barbárie. Durante esse tempo, os chineses passaram, de uma sociedade agrícola primitiva para uma organização social mais elevada, abrangendo as cidades, as manufaturas, a metalurgia, as trocas comerciais, o governo, a escrita, a matemática, a arte, a ciência e a imprensa.

79:8:12 8889 A civilização antiga da raça amarela perdurou, assim, através dos séculos. Já se passaram quase quarenta mil anos desde que os primeiros avanços importantes foram feitos na cultura chinesa e, embora tenha havido muitos retrocessos, a civilização dos filhos de Han está mais próxima de apresentar um quadro contínuo de progresso até o século vinte. Os desenvolvimentos mecânico e religioso das raças brancas têm sido de ordem elevada, mas nunca ultrapassaram os chineses na lealdade familiar, na ética grupal, nem na moralidade pessoal.

79:8:13 88810 Essa cultura antiga contribuiu muito para a felicidade humana; milhões de seres humanos têm vivido e morrido abençoados pelas suas realizações. Durante séculos, essa grande civilização descansou sobre os louros do passado, entretanto está redespertando ainda agora, para visualizar novamente, as metas transcendentes da existência mortal, para retomar a luta incessante por um progresso sem fim.

79:8:14 88811 [Apresentado por um Arcanjo de Nebadon.]

DOCUMENTO 80

A EXPANSÃO ANDITA NO OCIDENTE
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Embora o homem azul europeu não haja alcançado, por si próprio, uma grande civilização cultural, ele proveu uma base biológica que, quando as suas raças de sangue adamizado mesclaram-se com os últimos invasores anditas, produziu uma das raças mais fortes e capazes de atingir uma civilização dinâmica a surgir em Urântia desde a época da raça violeta e dos seus sucessores anditas.

80:0:2 8892 Os povos brancos modernos incorporaram as linhagens sobreviventes de sangue Adâmico, tornando-se misturados às raças sangiques, com um pouco da raça vermelha e da amarela, porém mais especialmente da azul. Há uma percentagem considerável da linhagem andonita original em todas as raças brancas e mais ainda das raças noditas iniciais.

1. OS ADAMITAS ENTRAM NA EUROPA


80:1:1 8893 Antes de os últimos anditas serem expulsos do vale do Eufrates, muitos dos seus irmãos haviam penetrado na Europa como aventureiros, professores, comerciantes e guerreiros. Durante os primeiros tempos da raça violeta, a bacia do Mediterrâneo era protegida pelo istmo de Gibraltar e pela ponte siciliana de terra. Certos comércios marítimos bem primitivos do homem foram estabelecidos nesses lagos interiores, nos quais os homens azuis do norte e os homens do Saara, vindos do sul, encontraram os noditas e os adamitas vindos do Oriente.

80:1:2 8894 Na parte oriental da bacia do Mediterrâneo, os noditas haviam estabelecido uma das mais vastas culturas e, a partir dos centros delas, eles haviam penetrado, em uma certa medida, na Europa do sul, e mais especialmente na África do norte. Os sírios noditas-andonitas, de cabeças avantajadas, introduziram, muito cedo, a cerâmica e a agricultura nas suas colônias, no delta do Nilo, um rio cujo nível subia vagarosamente. Eles também importaram ovelhas, cabras, bovinos e outros animais domésticos, e trouxeram métodos bastante aperfeiçoados de metalurgia, pois a Síria de então era o centro dessa indústria.

80:1:3 8895 Durante mais de trinta mil anos, o Egito recebeu um fluxo contínuo de mesopotâmios, que trouxeram consigo a sua arte e a sua cultura para enriquecer as do vale do Nilo. Todavia, o ingresso de grandes números de povos do Saara deteriorou grandemente a civilização primitiva ao longo do Nilo, de tal forma que o Egito atingiu o seu nível cultural mais baixo há cerca de quinze mil anos.

80:1:4 8896 Contudo, durante tempos anteriores, pouco houve que impedisse a migração dos adamitas para o oeste. O Saara era um pasto aberto repleto de pastores e de agricultores. Esses povos do Saara nunca se empenharam na manufatura, nem eram construtores de cidades. Eles eram um grupo negro-índigo que trazia uma linhagem muito extensa das raças verde e alaranjada extintas. Eles receberam, porém, uma quantidade muito limitada de herança violeta, antes que o deslocamento, para cima, das terras e a mudança na direção dos ventos úmidos houvessem dispersado os remanescentes dessa civilização próspera e pacífica.

80:1:5 8901 O sangue de Adão foi compartilhado com a maioria das raças humanas, mas algumas delas asseguraram para si mais do que outras. As raças miscigenadas da Índia e os povos mais escuros da África não apresentavam atrativos para os adamitas. Eles ter-se-iam miscigenado livremente com a raça vermelha, não estivesse ela tão distante nas Américas, e eles estavam amigavelmente dispostos a miscigenar-se com a raça amarela, mas essa raça, do mesmo modo, era de difícil acesso, pois estava na distante Ásia. E, portanto, quando impulsionados pela aventura, ou pelo altruísmo, ou quando expulsos do vale do Eufrates, muito naturalmente eles optaram pela união com as raças azuis da Europa.

80:1:6 8902 Os homens azuis, então dominantes na Europa, não tinham práticas religiosas que fossem repulsivas aos primeiros imigrantes adamitas, e havia uma grande atração sexual entre as raças violeta e azul. O melhor dentre aqueles da raça azul considerava uma alta honraria que lhe fosse permitido acasalar com os adamitas. Os homens azuis alimentavam a ambição de tornar-se hábeis e artísticos suficientemente a ponto de ganhar a afeição de alguma mulher adamita, e a mais alta aspiração de uma mulher azul superior era receber as atenções de um adamita.

80:1:7 8903 Lentamente, esses filhos migrantes do Éden uniram-se com os tipos mais elevados da raça azul, revigorando as suas práticas culturais e, ao mesmo tempo, exterminando, sem piedade, os traços residuais do sangue Neandertal. Essa técnica de mistura racial, combinada com a eliminação das linhagens inferiores, produziu uma dúzia, ou mais, de grupos viris e progressistas de homens azuis superiores, uma das quais vós denominastes os Cro-Magnons.

80:1:8 8904 As primeiras ondas da cultura mesopotâmia tomaram, por essas e por outras razões, das quais a menos importante foi o trajeto mais favorável de imigração, quase que exclusivamente, o caminho da Europa. E foram essas circunstâncias que determinaram os antecedentes da moderna civilização européia.

2. AS MUDANÇAS CLIMÁTICAS E GEOLÓGICAS


80:2:1 8905 A expansão inicial da raça violeta para a Europa foi interrompida por certas mudanças climáticas e geológicas bastante súbitas. Com o recuo dos campos de gelo ao norte, os ventos que trazem as chuvas do oeste voltaram-se para o norte, gradualmente transformando as grandes regiões de pasto aberto do Saara em um deserto estéril. Essa seca dispersou os habitantes do grande platô do Saara, que eram morenos e de baixa estatura, de olhos escuros, mas de cabeças alongadas.

80:2:2 8906 Os elementos índigos mais puros mudaram-se para o sul, para as florestas da África Central, onde, desde então, permaneceram. Os grupos mais miscigenados espalharam-se em três direções: as tribos superiores do oeste migraram para a Espanha e dali foram para as partes adjacentes da Europa, formando os núcleos das posteriores raças morenas de crânios longos do Mediterrâneo. A divisão menos progressista do leste do platô do Saara migrou para a Arábia e, de lá, atravessou o norte da Mesopotâmia e da Índia, indo para o distante Ceilão. O grupo central foi para o norte e para o leste, para o vale do Nilo e para dentro da Palestina.

80:2:3 8907 É esse substrato secundário da raça sangique que sugere um certo grau de parentesco com os povos modernos espalhados desde o Decã e o Irã, à Mesopotâmia, e ao longo de ambas as margens do mar Mediterrâneo.

80:2:4 8908 Por volta da época dessas alterações climáticas, na África, a Inglaterra separou-se do continente, e a Dinamarca emergiu do mar, enquanto o istmo de Gibraltar, protegendo a bacia oeste do Mediterrâneo, deu caminho, em conseqüência de um terremoto, ao levantamento rápido, desse lago interior, até o nível do oceano Atlântico. Em breve, a ponte de terra da Sicília submergiu, fazendo do Mediterrâneo um mar e ligando-o com o oceano Atlântico. Esse cataclismo da natureza alagou muitas colônias de humanos e ocasionou a maior perda de vida pela enchente, em toda a história do mundo.

80:2:5 8911 Esse engolfamento da bacia do Mediterrâneo restringiu imediatamente os movimentos dos adamitas para o oeste, enquanto o grande influxo dos saarianos levou-os a buscar saídas para as populações crescentes ao norte e a leste do Éden. À medida que os descendentes de Adão deixaram os vales do Tigre e do Eufrates, indo para o norte, eles encontraram barreiras montanhosas e o mar Cáspio, então expandido. E, por muitas gerações, os adamitas caçaram, pastorearam e cultivaram o solo nas vizinhanças das suas colônias espalhadas pelo Turquestão. Vagarosamente, esse povo magnífico ampliou o seu território na Europa. No entanto, agora os adamitas entravam na Europa vindos do leste, e encontraram a cultura do homem azul milhares de anos atrasada em relação àquela da Ásia; pois essa região havia estado quase que inteiramente fora de contato com a Mesopotâmia.

3. O HOMEM AZUL CRO-MAGNON


80:3:1 8912 Os centros antigos de cultura do homem azul eram localizados ao longo de todos os rios da Europa, mas apenas o Somme agora corre no mesmo canal que fluía durante os tempos pré-glaciais.

80:3:2 8913 Ao referirmo-nos ao homem azul como tendo permeado o continente europeu, verificamos que havia dezenas de tipos raciais. Mesmo há trinta e cinco mil anos, as raças azuis européias já eram um povo altamente miscigenado, que trazia em si linhagens de sangue tanto vermelho quanto amarelo, enquanto, nas terras costeiras do Atlântico e nas regiões da Rússia atual, eles haviam absorvido uma considerável parcela de sangue andonita e, ao sul, eles estiveram em contato com os povos do Saara. Seria vão, contudo, tentar enumerar os vários grupos raciais.

80:3:3 8914 A civilização européia desse período inicial pós-Adâmico foi uma combinação única do vigor e da arte dos homens azuis com a imaginação criativa dos adamitas. Os homens azuis foram uma raça de grande vigor, mas eles deterioraram em muito o status cultural e espiritual dos adamitas. Foi muito difícil para estes últimos imprimir aos cromagnonianos a sua religião, por causa da tendência de muitos deles de trapacear e de corromper as jovens virgens. Por dez mil anos, a religião na Europa esteve em um nível baixo, se comparada aos desenvolvimentos realizados na Índia e no Egito.

80:3:4 8915 Os homens azuis eram perfeitamente honestos em tudo o que faziam e eram totalmente isentos dos vícios sexuais dos adamitas miscigenados. Eles respeitavam a virgindade, apenas praticando a poligamia quando a guerra gerava carência de homens.

80:3:5 8916 Esses povos cromagnonianos eram uma raça valente e previdente. Eles mantinham um sistema eficiente de educação das crianças. Ambos os progenitores participavam desses trabalhos, e os serviços das crianças mais velhas eram plenamente utilizados. Cada criança era cuidadosamente treinada no trato da arte, no trabalho com o sílex e na vigilância e cuidado das cavernas. Numa tenra idade, as mulheres já estavam versadas nas artes domésticas e nos rudimentos da agricultura, enquanto os homens eram já hábeis caçadores e guerreiros corajosos.

80:3:6 8917 Os homens foram caçadores, pescadores e coletores de alimentos; foram hábeis construtores de barcos. Faziam machados de pedra, cortavam árvores, erigiam abrigos de toras, parcialmente sob a terra e com telhados de peles. E há povos que ainda fazem abrigos semelhantes na Sibéria. Os Cro-Magnons do sul, em geral, viviam em cavernas e nas grutas.

80:3:7 8921 Não era incomum, durante os rigores do inverno, que as sentinelas montando guarda, de pé à noite, à entrada das cavernas, congelassem até a morte. Eles tinham coragem, mas, acima de tudo, eram artistas; a mesclagem Adâmica acelerou subitamente a imaginação criativa. O auge da arte do homem azul aconteceu há cerca de quinze mil anos, antes dos dias em que as raças de pele mais escura tivessem vindo da África para o norte através da Espanha.

80:3:8 8922 Por volta de quinze mil anos atrás, as florestas dos Alpes estavam-se espalhando extensamente. Os caçadores europeus estavam sendo conduzidos para os vales dos rios e para a beira-mar, pela mesma coerção climática que havia transformado as afortunadas terras de caça do mundo em desertos secos e estéreis. Ao mesmo tempo em que os ventos de chuva mudaram-se para o norte, os grandes pastos abertos da Europa ficaram cobertos de florestas. Essas modificações climáticas grandes e relativamente súbitas levaram as raças de caçadores do espaço aberto, da Europa, a transformar-se em pastores e, em uma certa medida, em pescadores e em cultivadores do solo.

80:3:9 8923 Essas mudanças, se bem que resultando em avanços culturais, produziram algumas regressões biológicas. Durante a era anterior de caça, as tribos superiores haviam-se casado com os tipos mais elevados de prisioneiros de guerra e haviam destruído, invariavelmente, os que consideravam inferiores. Contudo, quando começaram a estabelecer-se em colônias e a engajar-se na agricultura e no comércio, eles passaram a poupar a vida de muitos dos presos medíocres, mantendo-os como escravos. E foi a progênie desses escravos que, subseqüentemente, deteriorou bastante todo o tipo cromagnoniano. Esse retrocesso cultural continuou até receber um impulso novo do Oriente, quando a invasão final e maciça dos mesopotâmios varreu a Europa, absorvendo rapidamente o tipo e a cultura Cro-Magnon e iniciando a civilização das raças brancas.

4. AS INVASÕES ANDITAS NA EUROPA


80:4:1 8924 Enquanto os anditas espalharam-se na Europa, em um fluxo contínuo, houve sete invasões maiores, os últimos a chegarem vindo em cavalos, em três grandes levas. Alguns entraram na Europa pelo caminho das ilhas do mar Egeu e subindo o vale do Danúbio, mas a maioria das primeiras linhagens, e as mais puras, migraram para o noroeste da Europa pelas rotas do norte, atravessando as terras de pastos dos rios Volga e Don.

80:4:2 8925 Entre a terceira e a quarta invasão, uma horda de andonitas entrou na Europa vinda do norte, tendo vindo da Sibéria pelo caminho dos rios russos e pelo Báltico. Eles foram assimilados imediatamente pelas tribos anditas do norte.

80:4:3 8926 As primeiras expansões da raça violeta mais pura foram muito mais pacíficas do que as dos seus descendentes anditas posteriores, semimilitarizados e amantes das conquistas. Os adamitas eram pacíficos; os noditas beligerantes. A união dessas raças, mais tarde misturadas às raças sangiques, produziu os competentes e ativos anditas, que fizeram verdadeiras conquistas militares.

80:4:4 8927 Mas o cavalo foi o fator evolucionário que determinou o domínio dos anditas no Ocidente. O cavalo deu aos dispersivos anditas a vantagem até então inexistente da mobilidade, capacitando os últimos grupos de cavaleiros anditas a progredirem rapidamente pelo mar Cáspio, para invadir toda a Europa. Todas as ondas anteriores de anditas haviam-se movimentado tão vagarosamente que tinham a tendência de desagregar-se quando a uma grande distância da Mesopotâmia. Todavia, essas últimas levas moviam-se tão rapidamente que alcançaram a Europa em grupos coesos, ainda conservando, em alguma medida, a mais alta cultura.

80:4:5 8931 Todo o mundo habitado, afora a China e a região do Eufrates, havia feito um progresso cultural muito limitado durante dez mil anos, quando os rudes e rápidos cavaleiros anditas surgiram no sétimo e no sexto milênio antes de Cristo. À medida que avançaram para o Ocidente, através das planícies russas, absorvendo o que de melhor havia do homem azul e exterminando o pior, as raças se amalgamaram em um único povo. Esses foram os ancestrais das chamadas raças nórdicas, os antepassados dos povos escandinavos, alemães e anglo-saxões.

80:4:6 8932 Não tardou muito para que as raças azuis superiores tivessem sido totalmente absorvidas pelos anditas, em todo o norte da Europa. Apenas na Lapônia (e na Bretanha, em uma certa medida) os andonitas mais antigos conservaram algo semelhante a uma identidade.

5. A CONQUISTA ANDITA DO NORTE DA EUROPA


80:5:1 8933 As tribos do norte da Europa estavam sendo continuamente reforçadas e elevadas pela firme onda de migração da Mesopotâmia através das regiões russas do sul do Turquestão. e, quando as últimas ondas da cavalaria andita varreram a Europa, já havia mais homens com herança andita naquela região do que seriam encontrados em todo o resto do mundo.

80:5:2 8934 Durante três mil anos, as sedes militares dos anditas do norte foram mudadas para a Dinamarca. Desse ponto central, saíram as sucessivas ondas de conquistas, que se tornaram cada vez menos anditas e cada vez mais brancas, pois o passar dos séculos testemunhou a miscigenação final dos conquistadores mesopotâmios com os povos conquistados.

80:5:3 8935 Enquanto o homem azul havia sido absorvido no norte, e finalmente havia sucumbido aos ataques da cavalaria branca que penetrou no sul, as tribos da raça branca misturada, que avançavam, encontraram uma resistência obstinada e prolongada dos Cro-Magnons, mas a sua inteligência superior e as suas sempre crescentes reservas biológicas capacitaram-nos a extinguir completamente a raça mais antiga.

80:5:4 8936 Lutas decisivas entre o homem branco e o homem azul foram travadas no vale do Somme. Ali, a flor da raça azul, enfrentou, amarga e renhidamente, os anditas que progrediam na direção sul e, por mais de quinhentos anos, esses cromagnonianos defenderam com êxito os seus territórios, antes de sucumbir à estratégia militar superior dos invasores brancos. Tor, o comandante vitorioso dos exércitos do norte, na batalha final do Somme, tornou-se o herói das tribos brancas do norte e, mais tarde, foi reverenciado como um deus por alguns deles.

80:5:5 8937 As fortalezas do homem azul, que perduraram por mais tempo, estavam no sul da França, mas a última grande resistência militar foi vencida ao longo do Somme. A conquista seguinte progrediu por meio da penetração comercial, pela pressão populacional ao longo dos rios, e por meio de um contínuo intercurso matrimonial com os superiores, combinado à exterminação implacável dos inferiores.

80:5:6 8938 Quando o conselho tribal dos anciães anditas determinava que um prisioneiro inferior era incapaz, ele era, por meio de uma cerimônia elaborada, entregue aos sacerdotes Xamãs, que o acompanhavam ao rio e ministravam os ritos da iniciação aos “felizes territórios de caça” – ao afogamento letal. Desse modo, os invasores brancos da Europa exterminaram todos os povos que encontravam, e que não eram rapidamente absorvidos pelas suas próprias fileiras, e assim os homens azuis chegaram ao extermínio – e rapidamente.

80:5:7 8939 O homem azul cromagnoniano constituiu a base biológica para as raças européias modernas, mas eles sobreviveram apenas depois de absorvidos por estes últimos vigorosos conquistadores da sua terra natal. A linhagem azul trouxe muita robustez e muito vigor físico às raças brancas da Europa, mas o humor e a imaginação das raças híbridas dos povos europeus derivaram dos anditas. Essa união do andita com o homem azul, resultando nas raças brancas do norte, produziu uma queda imediata da civilização andita, um atraso de natureza transitória. Finalmente, a superioridade latente desses bárbaros do norte manifestou-se e culminou na civilização européia atual.

80:5:8 8941 Por volta de 5 000 a. C. , as raças brancas em evolução eram predominantes em todo o norte da Europa, incluindo a Alemanha do norte, o norte da França e as Ilhas Britânicas. A Europa Central, durante algum tempo, foi controlada pelo homem azul e pelos andonitas de cabeça redonda. Estes últimos habitavam principalmente o vale do Danúbio e nunca foram, em realidade, inteiramente desalojados pelos anditas.

6. OS ANDITAS AO LONGO DO NILO


80:6:1 8942 Desde os tempos das últimas migrações anditas, a cultura esteve em declínio no vale do Eufrates e o centro imediato da civilização deslocou-se para o vale do Nilo. O Egito tornou-se o sucessor da Mesopotâmia como sede do grupo mais avançado da Terra.

80:6:2 8943 O vale do Nilo começou a sofrer de inundações um pouco antes dos Vales da Mesopotâmia, entretanto saiu-se muito melhor. Esses contratempos iniciais foram mais do que compensados pela corrente contínua de imigrantes anditas e, assim, a cultura do Egito, embora seja derivada realmente da região do Eufrates, pareceu ir adiante. Contudo, por volta de 5 000 a. C. , durante o período das inundações na Mesopotâmia, havia sete grupos distintos de seres humanos no Egito; todos eles, exceto um, haviam vindo da Mesopotâmia.

80:6:3 8944 Quando ocorreu o último êxodo do vale do Eufrates, o Egito foi afortunado em receber muitos entre os mais hábeis artistas e artesãos. Esses artesãos anditas sentiram-se bastante em casa, pois estavam profundamente acostumados às inundações, irrigações e estações secas da vida ribeirinha. Apreciaram a posição protegida do vale do Nilo, onde ficariam bastante menos sujeitos a ataques e invasões hostis do que ao longo do Eufrates. E acrescentaram muito à habilidade dos egípcios com a metalurgia. Ali, eles trabalhavam os minérios de ferro vindos do monte Sinai, em vez dos vindos das regiões do mar Negro.

80:6:4 8945 Os egípcios reuniram, muito cedo, as deidades municipais em um elaborado sistema nacional de deuses. Desenvolveram uma teologia extensa e possuíam um sacerdócio igualmente extenso, mas opressivo. Vários líderes diferentes buscaram reviver os remanescentes dos primeiros ensinamentos religiosos dos setitas, mas esses esforços tiveram duração curta. Os anditas construíram as primeiras estruturas de pedra no Egito. A primeira e a mais bela das pirâmides de pedra foi erigida por Imhotep, um gênio da arquitetura andita, quando serviu como primeiro ministro. As edificações anteriores haviam sido feitas com tijolos e, embora muitas estruturas de pedra houvessem sido erigidas em partes diferentes do mundo, essa era a primeira no Egito. Todavia, a arte de construir decaiu fortemente desde os dias desse grande arquiteto.

80:6:5 8946 Essa época brilhante de cultura foi interrompida bruscamente por guerras internas ao longo do Nilo, e o país foi logo invadido, como o fora a Mesopotâmia, pelas tribos inferiores da inóspita Arábia e pelos negros do sul. E, em resultado disso, o progresso social esteve em contínuo declínio durante mais de quinhentos anos.

7. OS ANDITAS DAS ILHAS DO MEDITERRÂNEO


80:7:1 8951 Durante o declínio da cultura na Mesopotâmia, uma civilização superior perdurou por algum tempo nas ilhas do leste do Mediterrâneo.

80:7:2 8952 Aproximadamente em 12 000 a. C. , uma brilhante tribo andita migrou para Creta. Essa foi a única ilha colonizada tão prematuramente por esse grupo superior e passaram-se quase dois mil anos antes que os descendentes desses marinheiros se espalhassem pelas ilhas vizinhas. Esse grupo era composto de anditas de crânio estreito e de pequena estatura, que se haviam mesclado, por casamento, com a divisão vanita dos noditas do norte. Todos tinham estaturas abaixo de um metro e oitenta e haviam sido literalmente expulsos do continente pelos seus companheiros maiores e inferiores. Esses imigrantes de Creta eram altamente hábeis na arte da tecelagem, na metalurgia, na cerâmica, nos encanamentos e no uso da pedra como material de construção. Eles faziam uso da escrita e continuaram como pastores e agricultores.

80:7:3 8953 Quase dois mil anos depois da colonização de Creta, um grupo dos descendentes de Adamson, de estatura elevada, chegou à Grécia pelas ilhas do norte, vindo quase que diretamente do seu lar nos planaltos da Mesopotâmia. Esses progenitores dos gregos foram levados para o Ocidente por Sato, um descendente direto de Adamson e de Ratta.

80:7:4 8954 O grupo que finalmente se estabeleceu na Grécia consistia de trezentos e setenta e cinco dos povos selecionados e superiores, que faziam parte do fim da segunda civilização dos Adamsonitas. Esses filhos mais recentes de Adamson traziam as linhagens, então mais valiosas, das raças brancas emergentes. De uma ordem intelectual elevada, eles eram, fisicamente, considerados os mais belos dos homens desde os dias do primeiro Éden.

80:7:5 8955 Dentro de pouco tempo, a Grécia e a região das ilhas do mar Egeu sucederam à Mesopotâmia e ao Egito, como centro ocidental de comércio, arte e cultura. Como no Egito, porém, de novo praticamente toda arte e ciência do mundo Egeu vinha da Mesopotâmia, exceto pela cultura dos ancestrais Adamsonitas dos gregos. Toda arte e todo gênio desses povos ulteriores são um legado direto à posteridade de Adamson, o primeiro filho de Adão e Eva, e da sua extraordinária segunda esposa, uma filha descendente direta da assessoria nodita pura do Príncipe Caligástia. Não é de admirar-se que, pelas suas tradições mitológicas, eles descendam diretamente dos deuses e de seres supra-humanos.

80:7:6 8956 A região do Egeu passou por cinco estágios culturais distintos, cada um menos espiritualizado do que o precedente, e, em breve, a última era gloriosa da arte pereceu sob o peso dos medíocres descendentes, rapidamente multiplicados, dos escravos danubianos que haviam sido importados pelas gerações posteriores de gregos.

80:7:7 8957 Durante essa idade, em Creta, o culto da mãe entre os descendentes de Caim atingiu o seu auge. Esse culto glorificava Eva, na adoração da “grande mãe”. As imagens de Eva estavam em toda parte. Milhares de santuários públicos foram erigidos em toda a Creta e na Ásia Menor. E esse culto da mãe perdurou até os tempos de Cristo; mais tarde se tornando incorporado à primitiva religião do cristianismo, sob a forma da glorificação e adoração de Maria, a mãe terrena de Jesus.

80:7:8 8958 Por volta de 6 500 a. C. , já havia ocorrido um grande declínio na herança espiritual dos anditas. Os descendentes de Adão estavam extremamente dispersados e haviam sido virtualmente engolfados pelas raças humanas mais antigas e mais numerosas. E essa decadência da civilização andita, junto com o desaparecimento dos seus padrões religiosos, deixou em condições deploráveis as raças espiritualmente empobrecidas do mundo.

80:7:9 8961 Por volta de 5 000 a. C. , as três linhagens mais puras dos descendentes de Adão estavam na Suméria, na parte norte da Europa e na Grécia. Toda a Mesopotâmia deteriorava-se, vagarosamente, pela afluência de raças misturadas e mais escuras que se infiltravam, vindas da Arábia. E a vinda desses povos inferiores contribuiu ainda para que os resíduos biológicos e culturais dos anditas se espalhassem mais. Partindo de todo o crescente fértil, os povos mais aventureiros foram para o oeste, até as ilhas. Esses imigrantes cultivavam tanto os grãos quanto os legumes, e trouxeram consigo animais domesticados.

80:7:10 8962 Por volta de 5 000 a. C. , uma hoste poderosa de mesopotâmios progressistas saiu do vale do Eufrates e estabeleceu-se na ilha de Chipre; essa civilização foi eliminada cerca de uns dois mil anos depois, pelas hordas dos bárbaros vindas do norte.

80:7:11 8963 Outra grande colônia estabeleceu-se no Mediterrâneo, perto do local onde ulteriormente Cartago formar-se-ia. E, do norte da África, grandes números de anditas entraram na Espanha e, mais tarde, mesclaram-se, na Suíça, aos seus irmãos que haviam ido para a Itália, anteriormente, vindos das ilhas do mar Egeu.

80:7:12 8964 Quando o Egito seguiu a Mesopotâmia, em declínio cultural, muitas das famílias mais capacitadas e avançadas fugiram para Creta, incrementando assim grandemente essa civilização já avançada. Mais tarde, a chegada de grupos inferiores do Egito ameaçou a civilização de Creta, e as famílias de maior cultura mudaram-se para o oeste, indo para a Grécia.

80:7:13 8965 Os gregos não eram apenas grandes instrutores e artistas, eles eram também os maiores comerciantes e colonizadores do mundo. Antes de sucumbir à maré enchente de coisas inferiores que finalmente engolfaram a sua arte e o seu comércio, eles tiveram êxito em implantar tantos postos adiantados de cultura, a oeste, que uma grande parte dos avanços na civilização grega primitiva perdurou junto aos povos posteriores do sul da Europa, e muitos dos descendentes miscigenados desses Adamsonitas tornaram-se incorporados às tribos das terras continentais adjacentes.

8. OS ANDONITAS DANUBIANOS


80:8:1 8966 Os povos anditas do vale do Eufrates migraram para o norte, até a Europa, onde se misturaram aos homens azuis, e para o oeste, para as regiões do Mediterrâneo, onde se misturaram com os remanescentes dos já misturados saarianos e com os homens azuis do sul. E esses dois ramos da raça branca estiveram, e ainda estão, bastante separados pelos sobreviventes braquicéfalos das montanhas das tribos andonitas anteriores, que havia muito tinham habitado essas regiões centrais.

80:8:2 8967 Esses descendentes de Andon estavam dispersos pela maior parte das regiões montanhosas da Europa central e sudeste. Eles foram freqüentemente reforçados por aqueles que chegavam da Ásia Menor, região essa que eles ocuparam com uma força considerável. Os antigos hititas eram originários diretamente da linhagem andonita; as suas peles pálidas e as cabeças amplas eram típicas daquela raça. Os ancestrais de Abraão tinham essa linhagem, e ela contribuiu muito para a aparência fisionômica característica dos seus descendentes judeus posteriores que, ainda que tendo uma cultura e uma religião derivada dos anditas, falavam uma língua muito diferente. A sua língua era claramente andonita.

80:8:3 8971 As tribos que moravam em casas erigidas sobre pilotis ou em pranchas de troncos, sobre os lagos da Itália, da Suíça, e do sul da Europa, eram os postos avançados das migrações africanas, egeanas e, mais especialmente, danubianas.

80:8:4 8972 Os danubianos eram andonitas, lavradores e pastores que haviam chegado à Europa, passando pela península balcânica, e que se deslocaram lentamente na direção norte no vale do Danúbio. Eles faziam cerâmica e cultivavam a terra, preferindo viver nos vales. A colônia, mais ao norte, dos danubianos, foi a de Liège, na Bélgica. Essas tribos deterioraram-se rapidamente, ao afastar-se do centro e da fonte da sua cultura. Um produto dessas primeiras colônias é uma cerâmica da melhor qualidade.

80:8:5 8973 Os danubianos tornaram-se adoradores da mãe por causa do trabalho dos missionários de Creta. Essas tribos amalgamaram-se posteriormente com grupos de marinheiros andonitas, que vieram em barcos, da costa da Ásia Menor, e que também eram adoradores da mãe. Grande parte da Europa central estava, assim, logo colonizada por esses tipos mistos de raças de braquicéfalos brancos, que praticavam a adoração materna e o rito religioso de cremar os mortos, pois era hábito desses adoradores da mãe queimar os seus mortos em cabanas de pedra.

9. AS TRÊS RAÇAS BRANCAS


80:9:1 8974 As combinações raciais na Europa, ao final das migrações anditas, podem ser generalizadas nas três raças brancas seguintes:

80:9:2 8975 1. A raça branca do norte. Essa raça, chamada nórdica, consistiu primariamente do homem azul mais o andita, mas também trazia uma quantidade considerável de sangue andonita e, junto, quantidades menores do sangue dos sangiques vermelhos e amarelos. A raça branca do norte, assim, incorporou essas quatro das linhagens humanas mais desejáveis. Contudo, a sua herança maior veio do homem azul. O nórdico típico primitivo era dolicocéfalo, alto e louro. Contudo, já há muito tempo, essa raça tornou-se profundamente misturada com todas as ramificações dos povos brancos.

80:9:3 8976 A cultura primitiva da Europa, que foi encontrada pelos invasores nórdicos, era a dos danubianos, em retrocesso, misturados ao homem azul. As culturas nórdico-dinamarquesa e danubiano-andonita encontraram-se no Reno e amalgamaram-se ali, como é testemunhado pela existência de dois grupos raciais na Alemanha, hoje.

80:9:4 8977 Os nórdicos deram continuidade ao comércio do âmbar da costa báltica, fazendo um grande comércio com os braquicéfalos do vale do Danúbio, através da passagem de Brenner. Esse contato extenso com os danubianos conduziu os nórdicos ao culto da mãe e, durante vários milhares de anos, a cremação dos mortos foi quase universal na Escandinávia. Isso explica por que os restos mortais das raças brancas mais primitivas, embora enterrados em toda a Europa, não são encontráveis – apenas o são as suas cinzas em urnas de pedra e de argila. Esses homens brancos também construíam habitações; eles nunca viveram em cavernas. E, novamente, isso explica por que há tão pouca evidência da cultura primitiva do homem branco, embora a do tipo cromagnoniano, antecedente dele, esteja bem conservada nas cavernas e grutas, onde ficou seguramente selada. De qualquer modo, houve no norte da Europa, algum dia, uma cultura primitiva dos retrógrados danubianos e do homem azul e, em seguida, daquela que era a de um homem branco, o qual apareceu subitamente e era bastante superior.

80:9:5 8978 2. A raça branca central. Embora esse grupo inclua o sangue do homem azul, do amarelo e dos anditas, é predominantemente andonita. Esse povo é braquicéfalo, moreno e atarracado. Eles estão colocados como uma cunha entre as raças nórdicas e as mediterrâneas: a ampla base dessa cunha repousa na Ásia, com o vértice penetrando o leste da França.

80:9:6 8981 Durante quase vinte mil anos, os andonitas haviam sido empurrados cada vez mais para o norte da Ásia Central pelos anditas. Por volta de 3 000 a. C. , uma aridez crescente estava conduzindo esses andonitas de volta ao Turquestão. Esse empurrão recebido pelos andonitas, para a direção sul, continuou por mais de mil anos e, dividindo-se ao redor dos mares Cáspio e Negro, eles penetraram na Europa pelos caminhos dos Balcãs e da Ucrânia. Essa invasão incluiu os grupos restantes dos descendentes de Adamson e, durante a metade posterior do seu período, a invasão levou consigo um número considerável de anditas iranianos, bem como muitos dos descendentes dos sacerdotes setitas.

80:9:7 8982 Por volta de 2 500 a. C. , o curso para o oeste, que empurrava os andonitas, alcançou a Europa. E essa invasão, de toda a Mesopotâmia, da Ásia Menor e da base do Danúbio, pelos bárbaros das montanhas do Turquestão, constituiu o mais sério e prolongado de todos os retrocessos culturais até aquela época. Esses invasores definitivamente andonizaram o caráter das raças centro-européias, as quais permaneceram, desde então, caracteristicamente alpinas.

80:9:8 8983 3. A raça branca do sul. Essa raça morena mediterrânea consistiu em uma combinação dos anditas com o homem azul, com um pouco menos de sangue andonita do que a do norte. Esse grupo também absorveu uma considerável quantidade de sangue sangique secundário, por intermédio dos saarianos. Em épocas posteriores, essa divisão sulina da raça branca recebeu uma infusão de fortes elementos anditas vindos do leste do Mediterrâneo.

80:9:9 8984 As regiões costeiras do Mediterrâneo, todavia, não foram permeadas pelos anditas até os tempos das grandes invasões nômades de 2 500 a. C. O comércio e o tráfego por terra foram quase suspensos durante esses séculos da invasão dos nômades às regiões mediterrâneas do leste. Essa interferência nas viagens terrestres trouxe a grande expansão do tráfego e do comércio marítimo. O comércio no Mediterrâneo, por via marítima, estava em plena atividade, há cerca de quatro mil e quinhentos anos. E esse desenvolvimento do tráfego marítimo resultou em uma expansão súbita dos descendentes dos anditas por todo o território costeiro da bacia do Mediterrâneo.

80:9:10 8985 Essas misturas raciais constituíram a base da raça do sul da Europa, a mais miscigenada de todas. E, desde essa época, essa raça tem sido submetida ainda a outras miscigenações, sobretudo com os povos anditas azul-amarelos da Arábia. Essa raça mediterrânea é, na realidade, tão livremente mesclada com os povos vizinhos, a ponto de ser virtualmente indiscernível como um tipo separado, mas os seus membros, em geral, são de estatura baixa, de cabeça alongada, e morenos.

80:9:11 8986 No norte, os anditas suprimiram os homens azuis por meio da guerra e do casamento, mas, no sul, eles sobreviveram em maior número. Os bascos e os bérberes representam a sobrevivência de dois ramos dessa raça, mas mesmo esses povos miscigenaram-se profundamente com os saarianos.

80:9:12 8987 Esse foi o quadro da miscigenação racial apresentado na Europa central, por volta de 3 000 a. C. Apesar da falta Adâmica parcial, os tipos mais elevados miscigenaram-se.

80:9:13 8988 Esses foram os tempos da Nova Idade da Pedra, que se sobrepôs à posterior Idade do Bronze. Na Escandinávia, era já a Idade do Bronze, associada ao culto da mãe. No sul da França e na Espanha, era a Nova Idade da Pedra, associada à adoração do sol. Essa foi a época da edificação de templos circulares e sem teto, para o sol. As raças brancas européias eram de construtores de muita atividade, que se deliciavam em levantar grandes pedras como memoriais ao sol, como o fizeram, posteriormente, os seus descendentes, em Stonehenge. A voga da adoração ao sol indica que esse foi um grande período para a agricultura, no sul da Europa.

80:9:14 8991 As superstições dessa era de adoração do sol, relativamente recente, ainda perduram junto aos povos da Bretanha. Embora já tenham sido cristianizados, há mais de mil e quinhentos anos, esses bretões ainda conservam os amuletos da Nova Idade da Pedra para afastar o mau-olhado. Eles ainda conservam os aerólitos, nas chaminés, como proteção contra os relâmpagos. Os bretões nunca se mesclaram com os nórdicos escandinavos. Eles são sobreviventes dos habitantes andonitas originais da Europa ocidental, misturados ao sangue mediterrâneo.

80:9:15 8992 Todavia, é uma falácia presumir classificar os povos brancos como sendo nórdicos, alpinos e mediterrâneos. Houve uma mesclagem geral, forte e intensa demais, para permitir tais agrupamentos. Em um dado momento, houve uma divisão bastante bem definida da raça branca nesses tipos, mas, desde então, ocorreu uma intermiscigenação bastante propagada, passando a não ser mais possível identificar essas diferenciações com qualquer clareza. Mesmo em 3 000 a. C. , os antigos grupos sociais já não eram de só uma raça, não mais do que os atuais habitantes da América do Norte.

80:9:16 8993 Essa cultura européia, durante cinco mil anos, continuou expandindo-se e, em uma certa medida, intermesclando-se. A barreira da língua, entretanto, impediu a reciprocidade plena entre as várias nações ocidentais. Durante o último século, essas culturas vêm tendo uma oportunidade melhor, de combinação, na população cosmopolita da América do Norte; e o futuro desse continente será determinado pela qualidade dos fatores raciais com os quais lhe é permitido compor as suas populações atuais e futuras; bem como pelo nível mantido na sua cultura social.

80:9:17 8994 [Apresentado por um Arcanjo de Nebadon.]

DOCUMENTO 81

O DESENVOLVIMENTO DA CIVILIZAÇÃO MODERNA
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Apesar da inconstância e do malogro nos planos de aprimoramento do mundo, projetados para as missões de Caligástia e de Adão, a evolução orgânica básica da espécie humana continuou a levar as raças adiante, na escala do progresso humano e do desenvolvimento racial. A evolução pode ser retardada, mas não pode ser detida.

81:0:2 9002 A influência da raça violeta, embora em números inferiores aos que haviam sido planejados, desde os dias de Adão, produziu um avanço na civilização que ultrapassou em muito o progresso alcançado pela humanidade durante toda a sua existência anterior, de quase um milhão de anos.

1. O BERÇO DA CIVILIZAÇÃO


81:1:1 9003 Durante cerca de trinta e cinco mil anos depois dos dias de Adão, o berço da civilização foi o sudoeste da Ásia, estendendo-se desde o leste do vale do Nilo e ligeiramente para o norte, através do norte da Arábia, pela Mesopotâmia e pelo Turquestão. E o clima foi o fator decisivo para o estabelecimento da civilização naquela área.

81:1:2 9004 Foram as grandes mudanças climáticas e geológicas no norte da África e no oeste da Ásia que puseram fim às primeiras migrações dos adamitas, impedindo-os de chegarem à Europa pelo Mediterrâneo expandido e desviando a corrente de migração ao norte e ao leste, para dentro do Turquestão. Na época em que essas elevações das terras e suas mudanças climáticas associadas se completaram, por volta de 15 000 a. C. , a civilização estava em um estado de paralisação mundial, exceto pelos fermentos culturais e pelas reservas biológicas dos anditas, ainda confinados a leste pelas montanhas, na Ásia, e a oeste, pelas florestas em expansão da Europa.

81:1:3 9005 A evolução climática agora está para realizar aquilo em que todos os outros esforços falharam, isto é, compelir o homem eurasiano a abandonar a caça, fazendo-o atender aos apelos mais avançados do pastoreio e da agricultura. A evolução pode ser lenta, mas é extremamente eficaz.

81:1:4 9006 Posto que os agricultores primitivos empregassem tão generalizadamente os escravos, o agricultor, outrora, era de um certo modo menosprezado, tanto pelos caçadores quanto pelos pastores. Durante idades, cultivar o solo foi considerado inferior; e daí vem a idéia de que o trabalho com o solo é uma maldição, enquanto, na verdade, é a maior de todas as bênçãos. Mesmo nos dias de Caim e Abel, os sacrifícios feitos pela vida pastoral eram tidos em uma estima maior do que as oferendas dos agricultores.

81:1:5 9007 Em geral o homem evoluiu até a condição de agricultor, vindo da condição de caçador e passando pelo período de transição da era do pastoreio, e isso foi verdadeiro também entre os anditas; contudo mais freqüentemente a coerção evolucionária da necessidade climática levaria tribos inteiras a passar diretamente da condição de caçadores para a de agricultores de êxito. Esse fenômeno, todavia, da passagem imediata da caça à agricultura ocorreu apenas naquelas regiões em que havia um grau elevado de mistura racial com a linhagem violeta.

81:1:6 9011 Os povos evolucionários (notadamente os chineses) aprenderam logo a plantar as sementes, e a cultivar as colheitas, mediante a observação do crescimento das sementes acidentalmente umedecidas ou que haviam sido colocadas nas sepulturas, como alimento para os falecidos. Contudo, em todo o sudoeste da Ásia, ao longo dos leitos férteis dos rios e das planícies adjacentes, os anditas estavam levando adiante as técnicas avançadas de agricultura, herdadas dos seus ancestrais que haviam feito da agricultura e da jardinagem os seus trabalhos principais, dentro das fronteiras do segundo jardim.

81:1:7 9012 Durante milhares de anos, os descendentes de Adão haviam cultivado o trigo e a cevada, tais como haviam sido aperfeiçoados no Jardim, nos planaltos da fronteira superior da Mesopotâmia. Os descendentes de Adão e de Adamson encontraram-se ali, fizeram comércio e inter-relacionaram-se socialmente.

81:1:8 9013 Foram essas mudanças forçadas nas condições de vida que levaram uma parte tão grande da raça humana a tornar-se onívora nas suas práticas de dieta. E a combinação de trigo, arroz e legumes com a carne dos rebanhos na dieta marcou um grande passo adiante na saúde e no vigor desses povos antigos.

2. OS UTENSÍLIOS DA CIVILIZAÇÃO


81:2:1 9014 O crescimento da cultura baseia-se no desenvolvimento dos utensílios da civilização. E os instrumentos que o homem utilizou na sua ascensão da selvageria foram eficazes apenas na medida em que liberaram a energia do homem para a realização de tarefas mais elevadas.

81:2:2 9015 Vós, que viveis agora em meio às cenas atuais da cultura que brota e do progresso inicial nos assuntos sociais, e que tendes algum tempo livre no qual pensar de fato sobre a sociedade e a civilização, não deveis negligenciar o fato de que os vossos primeiros ancestrais tinham pouco ou nenhum tempo para um lazer que pudesse ser dedicado à reflexão cuidadosa e ao pensamento social.

81:2:3 9016 Os primeiros quatro grandes avanços na civilização humana foram:

9017 1. O domínio do fogo.

9018 2. A domesticação de animais.

9019 3. A escravização dos prisioneiros.

90110 4. A propriedade privada.

81:2:4 90111 Embora o fogo, a primeira grande descoberta, finalmente haja descerrado as portas do mundo científico, foi, nesse sentido, de pouca valia para o homem primitivo. Pois se recusava ele a reconhecer as causas naturais como sendo as explicações para os fenômenos comuns.

81:2:5 90112 Na indagação sobre a origem do fogo, a história simples de Andon e da pedra foi logo substituída pela lenda de como um certo Prometeu tê-lo-ia roubado do céu. Os antigos buscavam uma explicação sobrenatural para todos os fenômenos naturais que não estavam dentro do alcance da sua compreensão pessoal; e muitos povos modernos continuam fazendo isso. A despersonalização dos fenômenos chamados naturais tem durado idades, e ainda não se completou. No entanto, a busca franca, honesta e destemida das causas verdadeiras deu origem à ciência moderna: transformou a astrologia na astronomia, a alquimia na química e a magia na medicina.

81:2:6 90113 Na idade da pré-máquina, o único modo pelo qual o homem podia realizar um trabalho, sem que ele próprio o fizesse, era usando um animal. A domesticação de animais colocou, nas suas mãos, instrumentos vivos, cujo uso inteligente preparou o caminho para a agricultura e para o transporte. E, sem esses animais, o homem não poderia ter avançado do seu estado primitivo até os níveis subseqüentes da civilização.

81:2:7 9021 A maior parte dos animais adequados para a domesticação era encontrada na Ásia, especialmente nas regiões central e sudoeste. Essa foi uma razão pela qual a civilização progrediu mais rapidamente naquele local, do que em outras partes do mundo. Muitos desses animais haviam sido domesticados por duas vezes anteriormente e, na idade andita, eles o foram mais uma vez. O cão, entretanto, havia permanecido com os caçadores desde então, sendo adotado pelo homem azul bastante tempo antes.

81:2:8 9022 Os anditas do Turquestão foram os primeiros povos a domesticar o cavalo de um modo completo, e essa é outra razão pela qual a sua cultura foi predominante durante tanto tempo. Por volta de 5 000 a. C. , os agricultores da Mesopotâmia, do Turquestão e da China haviam iniciado a criação de ovelhas, cabras, vacas, camelos, cavalos, aves e elefantes. E empregaram, como bestas de carga, o touro, o camelo, o cavalo e o boi do Tibete, o iaque. O homem havia sido, ele próprio, durante uma certa época, a besta de carga. Um dos dirigentes da raça azul chegou a ter, certa vez, cem mil homens na sua colônia de carregadores forçados.

81:2:9 9023 As instituições da escravidão e da propriedade privada de terras surgiram com a agricultura. A escravidão elevou o padrão de vida e proporcionou mais lazer para a cultura social.

81:2:10 9024 O selvagem é um escravo da natureza, mas a civilização científica está conferindo vagarosamente uma liberdade crescente à humanidade. Por meio de animais, do fogo, do vento, da água, da eletricidade e de outras fontes não descobertas de energia, o homem tem-se libertado, e continuará a libertar-se da necessidade de trabalhar incansavelmente. A despeito dos problemas transitórios produzidos pela invenção prolífica de máquinas, os benefícios finais que se derivarão dessas invenções mecânicas são inestimáveis. A civilização não pode jamais florescer, e muito menos se estabelecer, antes que o homem tenha tempo de lazer para pensar, planejar e imaginar novos e melhores modos de fazer as coisas.

81:2:11 9025 O homem primeiro simplesmente apoderou-se do seu abrigo, viveu sob as saliências de rochas ou residiu em cavernas. Em seguida, ele adaptou os materiais naturais, como a madeira e a pedra, para criar cabanas para a família. E, finalmente ele entrou no estágio criativo de construir a sua casa, aprendeu a manufaturar tijolos e outros materiais de construção.

81:2:12 9026 Os povos dos planaltos do Turquestão foram os primeiros das raças mais modernas a construir as suas casas de madeira, casas não muito diferentes das primitivas cabanas de troncos dos colonos pioneiros americanos. Nas planícies, as habitações humanas eram feitas de tijolos; mais tarde, de tijolos queimados.

81:2:13 9027 As raças fluviais mais antigas faziam as suas cabanas colocando troncos altos no chão, circularmente; os topos eram então colocados juntos e eram entrelaçados com juncos transversais formando o esqueleto da cabana e toda essa invenção assemelhando-se a uma imensa cesta invertida. Essa estrutura podia então ser emplastrada com argila e, depois de secar ao sol, resultaria em uma habitação muito útil à prova de água.

81:2:14 9028 Foi dessas cabanas primitivas que se originou, de modo independente, a idéia subseqüente de fabricar várias espécies de cestas. Dentro de um desses grupos, surgiu a idéia de fazer a cerâmica, depois que se observaram os efeitos de emplastrar essas molduras de mastros com a argila umedecida. A prática de endurecer a cerâmica assando-a foi descoberta quando uma dessas cabanas primitivas cobertas de argila acidentalmente queimou-se. As artes dos dias antigos muitas vezes derivavam de ocorrências acidentais resultantes da vida cotidiana dos povos primitivos. Ao menos isso foi quase totalmente verdadeiro no que concerne ao progresso evolucionário da humanidade, até a vinda de Adão.

81:2:15 9031 Enquanto a cerâmica fora inicialmente introduzida pela assessoria do Príncipe, há cerca de meio milhão de anos, a elaboração de vasilhames de cerâmica havia praticamente cessado durante mais de cento e cinqüenta mil anos. Apenas os noditas pré-sumérios da costa do golfo continuavam fabricando vasilhames de argila. A arte da cerâmica foi revivida durante a época de Adão. A disseminação dessa arte foi simultânea com a ampliação das áreas desérticas da África, da Arábia e da Ásia Central; e espalhou-se, em ondas sucessivas de aprimoramento de técnica, desde a Mesopotâmia até o hemisfério oriental.

81:2:16 9032 Essas civilizações da idade andita nem sempre podem ser descobertas pelos estágios da sua cerâmica ou de outras artes. O curso regular da evolução humana foi tremendamente complicado pelos regimes tanto da Dalamátia, quanto do Éden. Ocorre, com freqüência, que os vasos e os implementos mais recentes sejam inferiores aos produtos iniciais dos povos anditas mais puros.

3. CIDADES, MANUFATURA E COMÉRCIO


81:3:1 9033 A destruição feita pelo clima das pradarias abertas e ricas de caça do Turquestão, começando por volta de 12 000 a. C. , compeliu os homens daquelas regiões a recorrerem a novas formas de indústria e de manufatura bruta. Alguns se voltaram para o cultivo de rebanhos domesticados, outros se tornaram agricultores ou coletores dos alimentos nascidos na água, mas o tipo mais elevado do intelecto andita escolheu engajar-se no comércio e na manufatura. E tornou-se mesmo um costume de tribos inteiras o de dedicar-se ao desenvolvimento de uma única indústria. Do vale do Nilo ao Hindo Kush e do Ganges até o rio Amarelo, o principal negócio das tribos superiores tornou-se o cultivo do solo, com o comércio como uma segunda atividade.

81:3:2 9034 O crescimento do comércio e da manufatura de materiais crus, para vários artigos de comércio, foi diretamente útil na produção daquelas comunidades primitivas e semipacíficas que tiveram tanta influência na disseminação da cultura e das artes da civilização. Antes da era do comércio mundial amplo, as comunidades sociais eram tribais – grupos familiares expandidos. O comércio trouxe o relacionamento de tipos diferentes de seres humanos, contribuindo, assim, para um intercâmbio mais rápido entre as culturas.

81:3:3 9035 Há cerca de doze mil anos, a era das cidades independentes estava surgindo. E essas cidades primitivas de comércio e de manufatura eram sempre cercadas de zonas de agricultura e de criação de gado. Se bem que seja verdade que a indústria foi impulsionada pela elevação dos padrões de vida, não deveríeis ter idéias errôneas sobre os refinamentos na vida urbana primitiva. As raças iniciais não eram excessivamente ordenadas, nem limpas, e a comunidade primitiva mediana ficava mais alta, entre trinta e sessenta centímetros, a cada vinte e cinco anos, por causa da mera acumulação de sujeira e de lixo. Algumas dessas antigas cidades também subiam em relação ao terreno vizinho rapidamente, porque as suas cabanas de barro não cozido duravam pouco e era costume construir novas habitações diretamente sobre as ruínas das antigas.

81:3:4 9036 O uso difundido de metais era uma das características dessa era das primeiras cidades industriais e comerciais. Vós já encontrastes uma cultura do bronze no Turquestão, que é anterior a 9 000 a. C. , e os anditas muito cedo aprenderam a trabalhar com o ferro, o ouro e também com o cobre. Todavia, as condições longe dos centros mais avançados da civilização eram muito diferentes. Não houve períodos distintos, como as idades da pedra, do bronze e do ferro; todas as três existiram ao mesmo tempo, em localidades diferentes.

81:3:5 9041 O ouro foi o primeiro metal a ser procurado pelo homem: era fácil de trabalhar e, inicialmente, era usado apenas como ornamento. O cobre foi o próximo a ser empregado, entretanto, não de um modo mais amplo, antes de misturado ao estanho para fazer o bronze, de maior dureza. A descoberta da mistura do cobre e do estanho, para fazer o bronze, foi feita por um dos adamsonitas do Turquestão, cuja mina de cobre, nos planaltos, estava localizada perto de uma jazida de estanho.

81:3:6 9042 Com o aparecimento da manufatura rudimentar e com o começo da indústria, o comércio rapidamente tornou-se uma influência mais forte para a disseminação da civilização cultural. A abertura dos canais de comércio por terra e por mar facilitou grandemente as viagens e a combinação das culturas, bem como a fusão das civilizações. Por volta de 5 000 a. C. , o cavalo teve o seu uso generalizado nas terras civilizadas e semicivilizadas. Essas raças posteriores não apenas tinham o cavalo domesticado, mas também várias espécies de carroças e de carruagens. Idades antes, a roda havia sido usada, agora, todavia, os veículos equipados com elas tornavam-se universalmente empregados no comércio e na guerra.

81:3:7 9043 O comerciante que viajava e o explorador errante fizeram mais para o avanço da civilização histórica do que todas as outras influências combinadas. As conquistas militares, a colonização e as empresas missionárias, fomentadas pelas religiões posteriores, também foram fatores na disseminação da cultura; mas todos esses foram fatores secundários para as relações de comércio, as quais foram mais aceleradas ainda pelas artes, em rápido desenvolvimento, e pelas ciências da indústria.

81:3:8 9044 A infusão do sangue Adâmico nas raças humanas não apenas acelerou o ritmo da civilização, como estimulou também, grandemente, as suas tendências para a aventura e para a exploração, a tal ponto que a maior parte da Eurásia e do norte da África, em breve, estaria ocupada pelos descendentes miscigenados dos anditas em rápida multiplicação.

4. AS RAÇAS MISCIGENADAS


81:4:1 9045 No momento em que se fez o contato com o alvorecer dos tempos históricos, toda a Eurásia, o norte da África e as Ilhas do Pacífico estavam povoados com as raças compostas da humanidade. E essas raças de hoje resultaram da combinação e da recombinação dos cinco sangues humanos básicos de Urântia.

81:4:2 9046 Cada uma das raças de Urântia foi identificada por certas características físicas distintas. Os adamitas e os noditas tinham a cabeça longa; os andonitas tinham a cabeça larga. As raças sangiques tinham cabeças de tamanho mediano, os homens amarelos e os azuis tendendo a ter cabeças largas. As raças azuis, quando combinadas com a linhagem andonita, decididamente ficavam com as cabeças grandes. Os sangiques secundários tinham a cabeça de tamanho mediano ou longo.

81:4:3 9047 Embora essas dimensões do crânio ajudem a decifrar as origens raciais, o esqueleto inteiro torna-se bem mais confiável. No desenvolvimento inicial das raças de Urântia, havia originalmente cinco tipos distintos de estrutura do esqueleto:

9048 1. A andônica, a dos aborígines de Urântia.

9049 2. A dos sangiques primários, vermelhos, amarelos e azuis.

90410 3. A dos sangiques secundários, alaranjados, verdes e índigos.

90411 4. A dos noditas, descendentes dos dalamatianos.

90412 5. A dos adamitas, a raça violeta.

81:4:4 90413 Posto que esses cinco grandes grupos raciais se intermesclaram amplamente, a combinação contínua tendeu a obscurecer o tipo andonita, por meio da dominância da hereditariedade sangique. Os lapônios e os esquimós são combinações das raças andonitas e sangiques azuis. A estrutura do esqueleto de ambas é a que mais se aproxima de haver preservado o tipo andônico aborígene. Todavia, os adamitas e os noditas tornaram-se tão miscigenados com as outras raças que eles podem ser detectados apenas como uma ordem caucasóide generalizada.

81:4:5 9051 Em geral, por conseguinte, à medida que são desenterrados os remanescentes humanos dos últimos vinte mil anos, será impossível distinguir claramente os cinco tipos originais. O estudo dessas estruturas ósseas revelará que a humanidade está agora dividida em aproximadamente três classes:

81:4:6 9052 1. A caucasóide – a mistura andita das linhagens noditas e Adâmicas, modificadas posteriormente pela mistura com os sangiques primários e (alguns) secundários e por um cruzamento andônico considerável. As raças brancas ocidentais, junto com alguns povos indianos e turanianos, estão incluídas nesse grupo. O fator de unificação dessa divisão é a maior ou menor proporção da herança andita.

81:4:7 9053 2. A mongolóide – o tipo sangique primário, incluindo as raças originais vermelha, amarela e azul. Os chineses e os ameríndios pertencem a este grupo. Na Europa, o tipo mongolóide foi modificado pela mistura com os sangiques secundários e pela mistura andônica; e mais ainda pela infusão de sangue andita. Os povos malaios e outros povos indonésios estão incluídos nessa classificação, embora contenham uma alta percentagem de sangue sangique secundário.

81:4:8 9054 3. A negróide – o tipo sangique secundário, que, originalmente, incluía a raça alaranjada, a verde e a índigo. Esse tipo é mais bem ilustrado pela raça negra, e será encontrado na África, na Índia e na Indonésia, nos locais em que as raças sangiques secundárias estiverem localizadas.

81:4:9 9055 No norte da China, há uma certa combinação dos tipos caucasóide e mongolóide; no Levante, os caucasóides e os negróides intermesclaram-se; na Índia, como na América do Sul, todos os três tipos estão representados. E as características dos esqueletos dos três tipos que sobrevivem, ainda perduram e ajudam a identificar os ancestrais mais recentes das raças humanas dos dias atuais.

5. A SOCIEDADE CULTURAL


81:5:1 9056 A evolução biológica e a civilização cultural não estão necessariamente correlacionadas; a evolução orgânica pode continuar desembaraçadamente em qualquer idade, em meio até mesmo à decadência cultural. Todavia, quando períodos longos da história humana são pesquisados, será observado que, finalmente, a evolução e a cultura tornam-se relacionadas como causa e efeito. A evolução pode avançar na ausência da cultura, mas a civilização cultural não floresce sem um respaldo adequado de progresso racial anterior. Adão e Eva não introduziram nenhuma arte de civilização estranha ao progresso da sociedade humana, mas o sangue Adâmico aumentou a capacidade inerente às raças e fez acelerar o ritmo do desenvolvimento econômico e o progresso industrial. A dádiva de Adão aprimorou o poder cerebral das raças, acelerando grandemente, com isso, os processos da evolução natural.

81:5:2 9057 Mediante a agricultura, a domesticação dos animais e o aprimoramento da arquitetura, a humanidade gradualmente escapou da pior fase da luta incessante pela sobrevivência e começou a busca para descobrir como tornar mais doce o processo da vida; e isso foi o começo dos esforços para atingir padrões cada vez mais altos de conforto material. Por meio da manufatura e da indústria, o homem está gradativamente aumentando o conteúdo de prazer da vida mortal.

81:5:3 9061 A sociedade cultural não é, contudo, nenhum grande clube beneficente, de privilégios herdados, no qual todos os homens já nascem com acesso livre e em total igualdade. Ela é mais como uma corporação exaltada, de trabalhadores das terras, sempre em avanço, admitindo nas suas fileiras apenas a nobreza daqueles trabalhadores que lutam para fazer do mundo um lugar melhor onde os seus filhos, e os filhos dos seus filhos, possam viver e avançar em idades subseqüentes. E essa agremiação da civilização cobra caras taxas de admissão, impõe disciplinas estritas e rigorosas, pune com pesadas penalidades a todos os dissidentes e não conformistas, ao mesmo tempo em que confere poucas licenças pessoais ou privilégios, a não ser os da alta segurança contra os perigos comuns e as ameaças raciais.

81:5:4 9062 A comunidade social é uma forma de seguro de sobrevivência, que os seres humanos aprenderam poder ser proveitosa; conseqüentemente, a maior parte dos indivíduos está disposta a pagar o custo desse seguro com o auto-sacrifício e com a redução da liberdade pessoal, que a sociedade cobra dos seus membros em troca dessa alta proteção grupal. Em resumo, o mecanismo social dos dias atuais é um plano de seguro baseado na tentativa e no erro, destinado a proporcionar algum grau de segurança e de proteção contra um retorno às condições terríveis e anti-sociais que caracterizaram as experiências iniciais da raça humana.

81:5:5 9063 A sociedade torna-se, assim, um esquema cooperativo para assegurar a liberdade civil por intermédio de instituições, a liberdade econômica por meio do capital e da invenção, a liberdade social por meio da cultura, e a liberdade da violência por meio da regulamentação policial.

81:5:6 9064 O poder da força não gera o direito, mas impõe os direitos comumente reconhecidos de cada geração que se sucede. A missão primeira do governo é a definição do direito, da regulamentação justa e equânime das diferenças de classe, e a imposição da igualdade de oportunidades sob as regras da lei. Todo direito humano está associado a um dever social; o privilégio grupal é um mecanismo de segurança que infalivelmente demanda o pagamento total dos custos rigorosos do serviço grupal. E os direitos grupais, bem como os do indivíduo, devem ser protegidos, incluindo-se a regulamentação das propensões sexuais.

81:5:7 9065 A liberdade sujeita à regulamentação grupal é a meta legítima da evolução social. A liberdade sem restrições é um sonho vão e fantasioso das mentes humanas instáveis e volúveis.

6. A MANUTENÇÃO DA CIVILIZAÇÃO


81:6:1 9066 Conquanto a evolução biológica haja sempre prosseguido adiante, muito da evolução cultural saiu do vale do Eufrates, em ondas que se foram sucessivamente enfraquecendo, com o passar do tempo, até que, finalmente, toda a posteridade de pura linhagem Adâmica havia saído para enriquecer as civilizações da Ásia e da Europa. As raças não se misturaram totalmente, as suas civilizações, contudo, combinaram-se em uma medida considerável. A cultura espalhou-se lentamente por todo o mundo. E essa civilização deve ser mantida e fomentada, pois não existem hoje novas fontes de cultura, nem anditas para revigorar e estimular o lento progresso da evolução da civilização.

81:6:2 9067 A civilização, agora se desenvolvendo em Urântia, nasceu e baseou-se nos fatores seguintes:

81:6:3 9068 1. As circunstâncias naturais. A natureza e a extensão da civilização material é, em grande medida, determinada pelos recursos naturais disponíveis. O clima, as condições meteorológicas e as numerosas condições físicas são fatores na evolução da cultura.

81:6:4 9071 Quando da abertura da era andita, havia apenas duas áreas extensas e férteis de caça livre em todo o mundo. Uma, na América do Norte, totalmente ocupada pelos ameríndios; a outra, ao norte do Turquestão, parcialmente ocupada por uma raça andônico-amarela. Os fatores decisivos para a evolução de uma cultura superior, no sudoeste da Ásia, foram a raça e o clima. Os anditas eram um grande povo, mas o fator crucial na determinação do curso da sua civilização foi a aridez crescente do Irã, do Turquestão e do Sinkiang, e isso os forçou a inventar e adotar métodos novos e avançados para arrancar a sobrevivência das suas terras cada vez menos férteis.

81:6:5 9072 A configuração dos continentes e de outras situações de arranjos das terras tem uma grande influência na determinação da paz ou da guerra. Pouquíssimos urantianos já tiveram uma oportunidade tão favorável para um desenvolvimento contínuo e sem perturbações, como o que foi desfrutado pelos povos da América do Norte – protegidos praticamente de todos os lados por vastos oceanos.

81:6:6 9073 2. Os bens capitais. A cultura nunca se desenvolve sob condições de pobreza; o lazer é essencial ao progresso da civilização. O caráter individual de valor moral e espiritual pode ser adquirido na ausência da riqueza material, mas uma civilização cultural apenas deriva-se das condições de prosperidade material que fomentam o lazer combinando-o com a ambição.

81:6:7 9074 Durante os tempos primitivos, a vida em Urântia era uma questão séria e sombria. E foi para escapar dessa luta incessante e desse trabalho interminável que a humanidade adotou a tendência constante de deslocar-se para os climas salubres dos trópicos. Ainda que essas zonas mais quentes de habitação proporcionassem algum alívio na luta intensa pela existência, as raças e as tribos que assim buscaram a sua comodidade raramente utilizaram o seu tempo livre, imerecido, para o avanço da civilização. O progresso social tem invariavelmente surgido dos pensamentos e planos daquelas raças que têm aprendido, mediante o seu trabalho inteligente, como conseguir viver da terra com menos esforço e com dias mais curtos de trabalho, ficando assim capazes de desfrutar de uma margem bem merecida e proveitosa de lazer.

81:6:8 9075 3. O conhecimento científico. Os aspectos materiais da civilização devem sempre aguardar a acumulação de dados científicos. Depois da descoberta do arco, da flecha e da utilização da força animal, muito tempo passou até que o homem aprendesse a aproveitar o vento e a água, vindo em seguida o emprego do vapor e da eletricidade. Lentamente, contudo, as ferramentas da civilização se aprimoraram. A tecelagem, a cerâmica, a domesticação dos animais e a metalurgia foram seguidas pela idade da escrita e da imprensa.

81:6:9 9076 Conhecimento é poder. A invenção sempre precede à aceleração do desenvolvimento cultural, em uma escala mundial. A ciência e a invenção beneficiaram-se, mais do que tudo, da imprensa escrita; e a interação de todas essas atividades culturais e inventivas acelerou enormemente o ritmo do avanço cultural.

81:6:10 9077 A ciência ensina o homem a falar a linguagem nova da matemática e adestra o seu modo de pensar em linhas de precisão exatas. E a ciência também estabiliza a filosofia por meio da eliminação do erro: enquanto purifica a religião, ao exterminar a superstição.

81:6:11 9078 4. Os recursos humanos. A força de trabalho do homem é indispensável à disseminação da civilização. Em condições de igualdade, um povo numeroso dominará a civilização de uma raça menos numerosa. E daí, uma nação que fracassa no crescimento da sua população impede, até certo ponto, a plena realização do destino nacional, mas há um ponto a partir do qual um crescimento maior da população torna-se suicida. A multiplicação até números além da proporção ótima homem-terra normal tem de significar ou um rebaixamento nos padrões de vida ou uma expansão imediata das fronteiras territoriais, por meio da penetração pacífica ou da conquista militar ou ocupação forçada.

81:6:12 9081 Vós vos espantais, algumas vezes, com as devastações da guerra, mas devíeis reconhecer a necessidade da produção de mortais, em grandes quantidades, de modo a proporcionar ampla oportunidade para o desenvolvimento social e moral; com tal fertilidade planetária, o problema sério da superpopulação logo ocorre. Os mundos habitados são pequenos, na sua maior parte. Urântia está dentro da média, talvez seja ligeiramente menor. A estabilização ótima para a população nacional eleva a cultura e impede a guerra. E sábia é a nação que sabe quando cessar o crescimento.

81:6:13 9082 Entretanto, o continente mais rico em depósitos naturais e mais avançado em equipamentos mecânicos terá pouco progresso se a inteligência do seu povo estiver em declínio. O conhecimento pode ser alcançado com a educação, mas a sabedoria indispensável à verdadeira cultura apenas pode ser assegurada por meio da experiência e por homens e mulheres inatamente inteligentes. Um povo assim é capaz de aprender da experiência; e pode tornar-se verdadeiramente sábio.

81:6:14 9083 5. A eficácia dos recursos materiais. Muitas coisas dependem da sabedoria, na utilização dos recursos naturais, do conhecimento científico, dos bens de capital e dos potenciais humanos. O fator principal na civilização primitiva foi a força exercida pelos senhores sociais sábios; o homem primitivo tinha a civilização literalmente imposta a ele pelos seus contemporâneos superiores. As minorias bem organizadas e superiores têm governado amplamente este mundo.

81:6:15 9084 O poder da força não gera o direito, mas a força gera tudo o que tem acontecido, e tudo o que é, na história. Só recentemente Urântia alcançou o ponto em que a sociedade está disposta a debater a ética do poder e do direito.

81:6:16 9085 6. A eficácia do idioma. A disseminação da civilização deve resultar da língua. As línguas vivas, e em crescimento, asseguram a expansão do pensamento e do planejamento civilizados. Durante as idades iniciais, avanços importantes foram feitos na língua. Hoje, há uma grande necessidade de maiores desenvolvimentos lingüísticos, para facilitar a expressão do pensamento que evolui.

81:6:17 9086 As línguas evoluíram a partir de associações grupais, cada grupo local desenvolvendo o seu próprio sistema de troca por meio das palavras. As línguas cresceram por intermédio dos gestos, sinais, gritos, sons imitativos, entonação e acentos na vocalização dos alfabetos subseqüentes. O idioma é a ferramenta mais importante para o homem, e mais útil ao pensamento, mas nunca floresceu antes que grupos sociais conquistassem algum tempo de lazer. A tendência de brincar com as palavras desenvolve novas palavras – a gíria. Se a maioria adota a gíria, então o seu uso integra-a na língua. A origem dos dialetos é ilustrada pela indulgência para com o “linguajar infantil” em um grupo familiar.

81:6:18 9087 As diferenças entre as línguas têm sido sempre a grande barreira à expansão da paz. A conquista de dialetos deve preceder à disseminação de uma cultura, para a raça, o continente ou o mundo inteiro. Uma língua universal promove a paz, assegura a cultura e aumenta a felicidade. Mesmo quando os idiomas de um mundo ficam reduzidos a uns poucos, a mestria desses idiomas pelos povos de liderança cultural influencia poderosamente a realização de uma paz e de uma prosperidade de alcance mundial.

81:6:19 9088 Embora pouquíssimo progresso tenha sido conseguido em Urântia, no sentido de desenvolver um idioma internacional, muito tem sido realizado pelo estabelecimento das trocas no comércio internacional. E essas relações internacionais deveriam ser fomentadas, todas, pois elas envolvem os idiomas, o comércio, a arte, a ciência, os jogos competitivos ou a religião.

81:6:20 9091 7. A eficácia dos equipamentos mecânicos. O progresso da civilização está relacionado diretamente ao desenvolvimento e à posse de equipamentos, máquinas e canais de distribuição. Os equipamentos aperfeiçoados, as máquinas engenhosas e eficientes determinam a sobrevivência dos grupos que competem na arena da civilização em avanço.

81:6:21 9092 Nos tempos iniciais, a única energia aplicada ao cultivo da terra era a energia humana. Foi uma luta renhida a de substituir os homens pelos bois, já que isso deixa os homens sem emprego. Ultimamente, as máquinas começaram a deslocar os homens, e cada avanço desses contribui diretamente para o progresso da sociedade, pois libera a energia humana para realizar tarefas mais valiosas.

81:6:22 9093 A ciência, guiada pela sabedoria, pode tornar-se a grande liberadora social do homem. Uma idade mecânica pode tornar-se desastrosa apenas para uma nação cujo nível intelectual é baixo demais para que se descubram os métodos sábios, e as técnicas confiáveis, ao êxito do ajustamento às dificuldades da transição que advém da perda súbita do emprego por parte de grandes populações, em conseqüência da invenção rápida demais de novos tipos de maquinário que economizam mão-de-obra.

81:6:23 9094 8. O caráter da vanguarda que porta o archote. A herança social capacita o homem a ficar de pé nos ombros de todos aqueles que o precederam e que contribuíram com algo para a soma da cultura e do conhecimento. Nessa tarefa de passar o archote cultural para a próxima geração, o lar será sempre a instituição básica. Em seguida, vêm a vida social e os jogos, com a escola vindo por último, sendo igualmente indispensável, entretanto, em uma sociedade complexa e altamente organizada.

81:6:24 9095 Os insetos nascem totalmente educados e equipados para a vida – de fato levam uma existência estreita e puramente instintiva. O bebê humano nasce sem uma educação; por conseguinte, o homem possui o poder, pelo controle educacional da geração mais recente, de modificar grandemente o curso evolucionário da civilização.

81:6:25 9096 No século vinte, as influências que mais contribuem para o avanço da civilização e da cultura são o crescimento marcante na mobilidade mundial do homem e o aprimoramento, sem paralelos, dos meios de comunicação. Contudo, o aprimoramento da educação não se manteve à altura da estrutura social em expansão; nem a valoração moderna da ética desenvolveu-se à altura do crescimento feito em direções mais puramente intelectuais e científicas. E a civilização moderna está estagnada quanto ao desenvolvimento espiritual, bem como quanto à salvaguarda da instituição do lar.

81:6:26 9097 9. Os ideais raciais. Os ideais de uma geração esculpem os canais do destino da posteridade imediata. A qualidade da vanguarda social, porta-archotes, determinará se a civilização vai para a frente ou se vai para trás. Os lares, as igrejas e as escolas de uma geração predeterminam a tendência do caráter da geração subseqüente. O impulso moral e espiritual de uma raça, ou de uma nação, determina amplamente a velocidade cultural dessa civilização.

81:6:27 9098 Os ideais elevam a fonte do curso social. E nenhum curso elevar-se-á a uma altura maior do que a da sua fonte, não importa a técnica de pressão ou de controle direcional empregada. O poder impulsor, mesmo dos aspectos mais materiais de uma civilização cultural, reside nas realizações menos materiais da sociedade. A inteligência pode controlar o mecanismo da civilização, a sabedoria pode dirigi-lo, mas o idealismo espiritual é a energia que realmente eleva e faz avançar a cultura humana de um nível de realização a outro.

81:6:28 9101 A princípio, a vida era uma luta pela existência; agora, por um padrão de vida; em seguida, a luta será pela qualidade do pensamento, que é a próxima meta terrena da existência humana.

81:6:29 9102 10. A coordenação dos especialistas. A civilização tem avançado enormemente devido a uma divisão inicial do trabalho e devido ao seu posterior corolário, o da especialização. A civilização agora depende da coordenação eficaz dos especialistas. À medida que a sociedade se expande, deve ser encontrado algum método de reagrupar os vários especialistas.

81:6:30 9103 Os especialistas sociais, artísticos, técnicos e industriais continuarão a multiplicar-se e a aumentar as suas habilidades e a sua destreza. A diversificação da habilidade e a diversidade do seu emprego, finalmente, irão enfraquecer e desintegrar a sociedade humana, caso não sejam desenvolvidos meios eficazes de coordenação e de cooperação. A inteligência, que é capaz de tal inventividade e de tal especialização, entretanto, deveria ser totalmente competente para entabular métodos adequados de controle e de ajuste de todos os problemas que resultam do crescimento rápido da invenção e do ritmo acelerado da expansão cultural.

81:6:31 9104 11. Os mecanismos para encontrar os empregos. A próxima idade, do desenvolvimento social, estará incorporada a uma cooperatividade e a uma coordenação melhores e mais efetivas da especialização sempre crescente e em expansão. E como o trabalho se diversifica cada vez mais, algumas técnicas para encaminhar os indivíduos ao emprego adequado devem ser delineadas. O maquinário não é a única causa do desemprego em meio aos povos civilizados de Urântia. A complexidade econômica e o aumento constante da especialização industrial e profissional aumentam os problemas de colocação do trabalhador.

81:6:32 9105 Não é suficiente treinar os homens para o trabalho; em uma sociedade complexa, devem ser providos também os métodos eficazes para encontrar os seus locais de trabalho. Antes de treinar os cidadãos nas técnicas altamente especializadas de como ganhar para sobreviver, eles deveriam ser treinados em um ou mais métodos de trabalho comum, de comércio ou de ocupações, que lhes permitissem ser empregados quando estivessem transitoriamente desempregados nos seus trabalhos especializados. Nenhuma civilização pode sobreviver sustentando, por muito tempo, grandes grupos de desempregados. Com o tempo, até mesmo os melhores cidadãos tornar-se-ão corrompidos e desmoralizados por aceitar o sustento do tesouro público. Mesmo a caridade privada torna-se perniciosa, quando aplicada por muito tempo a cidadãos sãos e capazes.

81:6:33 9106 Uma sociedade a tal ponto especializada não considerará com simpatia as antigas práticas comunais e feudais dos povos antigos. É bem verdade que muitos serviços comuns podem ser socializados de um modo aceitável e proveitoso, mas os seres humanos altamente treinados e ultra-especializados podem ser mais bem gerenciados por alguma técnica de cooperação inteligente. A coordenação modernizada e a regulamentação fraternal produzirão uma cooperação mais durável do que os métodos mais antigos e mais primitivos de comunismo ou de instituições reguladoras ditatoriais, baseadas na força.

81:6:34 9107 12. A disposição de cooperar. Um dos grandes obstáculos ao progresso da sociedade humana é o conflito entre os interesses e o bem-estar dos grupos humanos maiores e mais socializados, e o das associações humanas menores, de mente opositora e associal, para não mencionar os indivíduos isolados e de mentalidade anti-social.

81:6:35 9108 Nenhuma civilização nacional perdura, a menos que os seus métodos educacionais e os seus ideais religiosos inspirem um tipo elevado de patriotismo inteligente e de devoção nacional. Sem essa espécie de patriotismo inteligente e de solidariedade cultural, todas as nações tendem a desintegrar-se devido aos ciúmes provincianos e aos interesses egoístas locais.

81:6:36 9111 Para que a civilização mundial seja mantida, depende-se de que os seres humanos aprendam a viver juntos, em paz e fraternidade. Sem uma coordenação eficiente, a civilização industrial fica submetida às ameaças dos perigos da ultra-especialização: a monotonia, a limitação e a propensão para a provocação de desconfiança e de ciúme.

81:6:37 9112 13. Uma liderança eficiente e sábia. Na civilização, muito, muitíssimo mesmo, depende de um espírito entusiasta e que constitua uma liderança poderosa. Dez homens são de pouco mais valia do que um só, para levantar um grande peso, a menos que eles o levantem juntos – todos ao mesmo tempo. E tal trabalho de equipe – a cooperação social – depende de uma liderança. As civilizações culturais do passado e do presente têm-se baseado na cooperação inteligente dos cidadãos para com líderes sábios e progressistas; e até que o homem evolua até níveis mais elevados, a civilização continuará a depender de uma liderança sábia e vigorosa.

81:6:38 9113 As grandes civilizações nascem de uma correlação sagaz entre a riqueza material, a grandeza intelectual, o valor moral, a astúcia social e o discernimento cósmico.

81:6:39 9114 14. As mudanças sociais. A sociedade não é uma instituição divina; é um fenômeno da evolução progressiva; e o progresso da civilização é sempre retardado, quando os seus líderes são lentos em fazer as mudanças, na organização social, essenciais para que seja acompanhado o ritmo dos desenvolvimentos científicos da época. Por tudo isso, as coisas não devem ser desprezadas apenas porque sejam velhas, nem uma idéia deveria ser incondicionalmente adotada apenas porque é original e nova.

81:6:40 9115 O homem deveria ser destemido para fazer experimentos com os mecanismos da sociedade. Sempre, porém, essas aventuras de ajuste cultural deveriam ser controladas pelos que estão plenamente familiarizados com a história da evolução social; e esses inovadores deveriam sempre ser aconselhados pela sabedoria daqueles que tiveram experiência prática no domínio do experimento social ou econômico em pauta. Nenhuma grande mudança social ou econômica deveria ser realizada subitamente. O tempo é essencial a todos os tipos de ajuste humano – físico, social ou econômico. Apenas os ajustes morais e espirituais podem ser feitos no impulso do momento, e mesmo estes requerem o passar do tempo para que ocorra a manifestação plena das suas repercussões materiais e sociais. Os ideais da raça são o apoio e a segurança maiores durante os tempos críticos em que a civilização estiver na transição de um nível para o outro.

81:6:41 9116 15. A prevenção do colapso na transição. A sociedade é fruto de idades após idades de tentativa e de erro; é aquilo que sobreviveu aos ajustes e reajustes seletivos, nos estágios sucessivos da longa elevação da humanidade, desde os níveis animais até os níveis humanos, em todo o planeta. O grande perigo para qualquer civilização – em qualquer momento – é a ameaça de colapso, durante a época de transição dos métodos estabelecidos do passado para os procedimentos novos e melhores do futuro, os quais, todavia, não estão ainda testados.

81:6:42 9117 A liderança é vital para o progresso. A sabedoria, o discernimento interior e a previsão são indispensáveis para que as nações perdurem. A civilização só está realmente em perigo quando a liderança capaz começa a desaparecer. E a quantidade dessa liderança sábia nunca excedeu a um por cento da população.

81:6:43 9118 E foi por esses degraus fortes da escada evolucionária que a civilização escalou até o ponto em que tiveram início essas influências poderosas a culminarem na cultura de expansão rápida do século vinte. E apenas mediante a sua adesão a esses fatores essenciais é que o homem pode esperar manter as suas civilizações atuais, contribuindo, ao mesmo tempo, para o desenvolvimento contínuo e a sobrevivência segura delas.

81:6:44 9121 Essa é a essência da luta longuíssima dos povos da Terra para implantar a civilização, desde a idade de Adão. A cultura dos dias atuais é o resultado líquido dessa evolução ardorosa. Antes da invenção da imprensa, o progresso era relativamente lento, pois uma geração não podia tão rapidamente beneficiar-se das realizações dos seus predecessores. Agora, todavia, a sociedade humana está saltando para a frente sob a força do momentum acumulado de todas as idades pelas quais a civilização tem lutado.

81:6:45 9122 [Promovido por um Arcanjo de Nebadon.]

DOCUMENTO 82

A EVOLUÇÃO DO MATRIMÔNIO
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O matrimônio – o acasalamento – advém da bissexualidade. O casamento é o ajuste reacional do homem a essa bissexualidade, enquanto a vida familiar é a soma total resultante de todos os ajustes e adequações evolucionárias. O matrimônio é duradouro, não é inerente à evolução biológica; todavia, ele é a base de toda evolução social e tem, conseqüentemente, assegurada a continuação da sua existência, de alguma forma. O casamento deu o lar à humanidade, e o lar é a glória que coroa toda a longa e renhida luta evolucionária.

82:0:2 9132 Se bem que as instituições religiosas, sociais e educacionais sejam todas essenciais à sobrevivência da civilização cultural, a família é a mestra civilizadora. Uma criança aprende a maior parte das coisas essenciais da vida com a sua família e com os vizinhos.

82:0:3 9133 Os humanos dos tempos antigos não possuíam uma civilização social muito rica, mas, fiel e eficientemente, eles passaram a que tiveram à próxima geração. E vós deveríeis reconhecer que a maioria das civilizações do passado continuou a evoluir com um mínimo de outras influências institucionais, porque o lar funcionava efetivamente. Hoje, a raça humana possui uma rica herança social e cultural, que deveria ser, sábia e eficientemente, passada às gerações subseqüentes. A família, como uma instituição educacional, deve ser mantida.

1. O INSTINTO DO ACASALAMENTO


82:1:1 9134 Apesar do abismo que separa a personalidade dos homens e a das mulheres, o impulso do sexo é suficiente para assegurar que eles se ajuntem para a reprodução das espécies. Esse instinto já atuava com eficácia muito antes de os humanos experimentarem aquilo que foi posteriormente chamado de amor, de devoção e de lealdade matrimonial. O acasalamento é uma tendência inata, e o matrimônio é a sua repercussão evolucionária social.

82:1:2 9135 O interesse e o desejo sexual não foram paixões dominantes para os povos primitivos; eles simplesmente os aceitavam. A experiência reprodutiva estava toda isenta de belezas imaginativas. A paixão sexual todo-absorvente dos povos mais altamente civilizados é devida principalmente às misturas das raças, especialmente naquilo em que a natureza evolucionária foi estimulada pela imaginação associativa e pela valoração da beleza entre os noditas e os adamitas. Essa herança andita, contudo, foi absorvida pelas raças evolucionárias em quantidades de tal modo limitadas que deixaram de prover um autocontrole suficiente para as paixões animais, excitadas desse modo e estimuladas pela dotação de uma consciência sexual mais aguda e de desejos mais fortes de acasalamento. Dentre as raças evolucionárias, o homem vermelho tinha o código sexual mais elevado.

82:1:3 9136 A regulamentação do sexo em relação ao casamento indica:

82:1:4 9137 1. O progresso relativo da civilização. A civilização tem demandado que o sexo seja gratificado, crescentemente, segundo os canais da sua utilidade e de acordo com os costumes.

82:1:5 9141 2. O teor de sangue andita em qualquer povo. Entre tais grupos, o sexo tornou-se a expressão tanto da natureza mais elevada quanto da mais baixa, não apenas fisicamente, mas também emocionalmente.

82:1:6 9142 As raças sangiques tinham paixões animais normais, porém elas demonstravam pouca imaginação ou uma apreciação baixa da beleza e da atração física exercida pelo sexo oposto. Aquilo que é chamado de atração do sexo é virtualmente ausente até mesmo nas raças primitivas dos dias atuais; esses povos não miscigenados têm um instinto de acasalamento definido, mas têm uma atração sexual insuficiente para gerar problemas sérios que requeiram um controle social.

82:1:7 9143 O instinto de acasalamento é uma das forças físicas impulsoras dominantes dos seres humanos; é a emoção que, sob o disfarce de uma gratificação individual, ilude efetivamente o homem egoísta, levando-o a colocar o bem-estar da raça e a perpetuação muito acima do sossego individual e da liberdade pessoal de escapar das responsabilidades.

82:1:8 9144 Como instituição, o matrimônio, desde os seus primórdios até os tempos modernos, ilustra a evolução social da tendência biológica da autoperpetuação. A perpetuação da espécie humana em evolução é assegurada pela presença desse impulso racial de acasalamento, uma premência que é, em geral, chamada de atração sexual. Essa grande necessidade biológica torna-se o impulso motor de todas as espécies de instintos, de emoções e de costumes associados a ela – físicos, intelectuais, morais e sociais.

82:1:9 9145 Entre os selvagens, o suprimento da alimentação era a motivação impulsora, todavia, quando a civilização assegura uma alimentação suficiente, o instinto do sexo muitas vezes torna-se um impulso predominante e, conseqüentemente, sempre se coloca como necessitando de uma regulamentação social. Com os animais, a periodicidade instintiva controla a tendência ao acasalamento, o homem, entretanto, sendo muito amplamente um ser que se autocontrola, o desejo sexual não é de todo periódico, e por isso torna-se necessário que a sociedade imponha um autocontrole ao indivíduo.

82:1:10 9146 Nenhuma emoção ou impulso humano, quando não controlado e quando tolerado nos excessos, pode produzir tantos danos e pesares quanto esse poderoso impulso sexual. A submissão inteligente desse impulso a regras da sociedade é o teste supremo para a realização de qualquer civilização. O autocontrole, e mais um autocontrole maior, é a exigência sempre crescente para a humanidade que avança. A reserva, a insinceridade e a hipocrisia podem velar os problemas sexuais, mas não dão soluções, nem servem para fazer progressos éticos.

2. OS TABUS RESTRITIVOS


82:2:1 9147 A história da evolução do matrimônio é simplesmente a história da contenção sexual por meio da pressão das restrições sociais, religiosas e civis. A natureza dificilmente reconhece indivíduos; não toma conhecimento da chamada moralidade; ela está interessada única e exclusivamente na reprodução da espécie. A natureza insiste compulsivamente na reprodução, mas, com indiferença, deixa as conseqüências problemáticas para serem resolvidas pela sociedade, criando, assim, um problema maior e sempre presente, para a humanidade evolucionária. Esse conflito social consiste na guerra infindável entre os instintos básicos e a ética em evolução.

82:2:2 9148 Entre as raças primitivas, havia pouca ou nenhuma regulamentação para as relações dos sexos. E, por causa dessa licença sexual, não existia a prostituição. Hoje, os pigmeus e outros grupos retrógrados não têm nenhuma instituição de matrimônio; um estudo desses povos revela costumes simples de acasalamento, como os usados pelas raças primitivas. Todos os povos antigos deveriam, contudo, ser sempre estudados e julgados à luz dos padrões morais dos costumes da sua própria época.

82:2:3 9151 O amor livre, contudo, nunca foi bem visto entre os povos que já haviam superado o estado de total selvageria. No momento em que grupos societários começaram a formar-se, teve início o desenvolvimento dos códigos do matrimônio e das restrições maritais. O acasalamento, assim, progrediu por intermédio de um sem número de transições, desde um estado quase que de licença sexual completa até os padrões do século vinte, com uma restritividade sexual relativamente completa.

82:2:4 9152 Nos estágios primitivos do desenvolvimento tribal, os costumes e os tabus restritivos eram muito grosseiros; no entanto, eles mantinham os sexos separados – o que favorecia a tranqüilidade, a ordem e a industriosidade –, e a longa evolução do matrimônio e do lar havia-se iniciado. Os costumes sexuais do vestir, dos adornos e das práticas religiosas tiveram a sua origem nesses tabus primitivos, que definiram o alcance das liberdades sexuais e, assim, finalmente, geraram os conceitos do vício, do crime e do pecado. Há muito, porém, a prática era suspender todas as regulamentações para o sexo nos dias de festividades importantes, especialmente no Primeiro de Maio.

82:2:5 9153 As mulheres foram sempre sujeitas a tabus mais restritivos do que os homens. Os costumes primitivos concediam, às mulheres não casadas e aos homens, o mesmo grau de liberdade sexual, contudo, das esposas sempre foi exigido que fossem fiéis aos seus maridos. O casamento primitivo não restringia em muito as liberdades sexuais do homem, mas ampliou os tabus quanto à licença sexual da esposa. As mulheres casadas sempre portaram alguma marca que as colocava à parte, como uma classe separada, fosse o penteado, a roupa, o véu, o recato, os adornos ou os anéis.

3. OS COSTUMES PRIMITIVOS DO MATRIMÔNIO


82:3:1 9154 O matrimônio é a resposta institucional do organismo social à tensão biológica sempre presente do impulso ininterrupto de reprodução – a autopropagação. O acasalamento é universalmente natural e, a sociedade tendo evoluído do simples para o complexo, houve uma evolução correspondente nos costumes do acasalamento, que é a gênese da instituição matrimonial. Onde quer que a evolução social haja progredido até o estágio em que os costumes são gerados, o matrimônio será encontrado como uma instituição em evolução.

82:3:2 9155 Sempre houve e sempre haverá dois âmbitos distintos do matrimônio: os costumes, as leis que regem os aspectos externos do acasalamento e, por outro lado, as relações secretas e pessoais entre os homens e as mulheres. O indivíduo sempre foi rebelde contra as regras sexuais impostas pela sociedade; e esta é a razão desse problema sexual milenar: a autopreservação é individual, mas é exercida pelo grupo; a autoperpetuação é social, mas é assegurada pelo impulso individual.

82:3:3 9156 Os costumes, quando respeitados, têm amplo poder para restringir e controlar o impulso sexual, como tem sido demonstrado entre todas as raças. Os padrões do matrimônio têm sido sempre um indicador verdadeiro do poder corrente dos costumes e da integridade funcional do governo civil. Todavia, os primitivos costumes sexuais e de acasalamento eram uma massa de regras inconsistentes e grosseiras. Os pais, os filhos, os parentes e a sociedade, todos tinham interesses conflitantes na regulamentação do matrimônio. A despeito de tudo isso, porém, as raças que exaltaram e praticaram o matrimônio evoluíram naturalmente até níveis mais elevados, e sobreviveram em números crescentes.

82:3:4 9157 Nos tempos primitivos, o matrimônio era o preço da posição social; a posse de uma esposa era um emblema de distinção. O selvagem encarava o dia do seu casamento como se marcasse o seu ingresso na responsabilidade e no estado adulto. Em uma época, o matrimônio foi encarado como um dever social; em uma outra como uma obrigação religiosa; e em outra, ainda, como um quesito político para prover cidadãos para o estado.

82:3:5 9161 Muitas tribos primitivas exigiam façanhas de roubos como qualificação para o matrimônio; mais tarde, os povos substituíram essas pilhagens por competições atléticas e jogos competitivos. Aos vencedores, nessas competições, era concedido o primeiro prêmio – a escolha de uma das noivas da estação. Entre os caçadores de cabeças, um jovem não podia casar-se antes que tivesse ao menos uma cabeça, se bem que algumas vezes esses crânios pudessem ser comprados. Quando a compra das esposas decaiu, elas passaram a ser ganhas em torneios de adivinhações, práticas essas que ainda sobrevivem entre muitos grupos de homens negros.

82:3:6 9162 Com o avanço da civilização, certas tribos colocaram nas mãos das mulheres as severas provas de resistência masculina, condições que eram do matrimônio; assim elas eram capazes de favorecer os homens da sua escolha. Essas provas abrangiam a habilidade para a caça, a luta e a capacidade de provimento para uma família. Exigiu-se do noivo, durante muito tempo, que ele entrasse para a família da noiva por um ano, ao menos, para trabalhar, viver e provar ser digno da esposa que almejava.

82:3:7 9163 As qualificações de uma esposa eram a habilidade de executar o trabalho pesado e de gerar filhos. Era exigido que ela executasse uma certa tarefa de trabalho na agricultura, dentro de um tempo determinado. E se ela tivesse tido um filho antes do casamento, era ainda mais valiosa, pois a sua fertilidade ficava assegurada.

82:3:8 9164 O fato de que os povos antigos consideravam uma desgraça, ou mesmo um pecado, não se casar, explica a origem de casamentos entre crianças; já que se devia ser casado, quanto mais cedo, melhor. Era também uma crença generalizada a de que as pessoas solteiras não podiam entrar na terra dos espíritos, e isso era outro incentivo para o casamento entre crianças, mesmo no momento do nascimento e algumas vezes antes do nascimento, dependendo do sexo. Os antigos acreditavam que mesmo os mortos deviam casar-se. Os casamenteiros originais foram empregados para negociar os matrimônios para os indivíduos mortos. Um pai arranjaria para que esses intermediários efetuassem o matrimônio de um filho morto com uma filha morta de outra família.

82:3:9 9165 Em meio aos povos mais recentes, a puberdade era a idade comum do matrimônio, o que, no entanto, avançou na proporção direta do progresso da civilização. Muito cedo, na evolução social, ordens peculiares e celibatárias de homens e de mulheres surgiram, e foram iniciadas e mantidas por indivíduos que, em um grau maior ou menor, careciam do impulso sexual normal.

82:3:10 9166 Muitas tribos permitiam aos membros do grupo governante ter relações sexuais com a noiva um pouco antes que ela fosse dada ao seu marido. Cada um desses homens daria à moça um presente, e essa foi a origem do costume de dar presentes de casamento. Em meio a alguns grupos, esperava-se que uma jovem mulher ganhasse o seu dote, o que consistia nos presentes recebidos em recompensa pelo serviço sexual no salão de exibição da noiva.

82:3:11 9167 Algumas tribos casavam os homens jovens com as viúvas e mulheres mais velhas e, então, quando subseqüentemente tornavam-se viúvos, permitir-se-ia a eles casar-se com as garotas jovens, assegurando, assim, tal como esperavam, que ambos os pais não fossem feitos de tolos, pois eles julgavam que seria esse o caso se se permitisse que dois jovens se casassem. Outras tribos limitavam o acasalamento a grupos de idades semelhantes. Foi a limitação do matrimônio a grupos de uma certa idade que inicialmente deu origem às idéias de incesto (na Índia, ainda hoje, não existem restrições de idade para o matrimônio).

82:3:12 9168 Segundo certos costumes, a viuvez devia ser muito temida, então se mandava matar as viúvas ou se permitia que cometessem suicídio nas covas dos seus maridos, pois se supunha que elas deveriam ir para a terra dos espíritos junto com os seus esposos. A viúva que sobrevivia levava, quase que invariavelmente, a culpa pela morte do seu marido. Algumas tribos queimavam-nas vivas. Se uma viúva continuava a viver, a sua vida era de luto contínuo e de restrições sociais insuportáveis, pois um novo casamento em geral era desaprovado.

82:3:13 9171 Nos tempos de outrora, muitas práticas, agora consideradas imorais, foram encorajadas. Não era infreqüente que as esposas primitivas sentissem um grande orgulho das relações dos seus maridos com outras mulheres. A castidade nas donzelas era um grande obstáculo para o matrimônio; conceber um filho antes do matrimônio aumentava em grande parte os atrativos da mulher como esposa, já que o homem ficava certo de ter uma companheira fértil.

82:3:14 9172 Muitas tribos primitivas sancionaram o matrimônio experimental até que a mulher ficasse grávida, quando, então, a cerimônia regular de casamento teria lugar; entre outros grupos, as bodas não eram celebradas até que o primeiro filho nascesse. Se uma esposa fosse estéril, ela deveria ser retomada pelos seus pais, e o casamento era anulado. Os costumes exigiam que todos os casais tivessem filhos.

82:3:15 9173 Esses matrimônios experimentais primitivos eram inteiramente livres de qualquer semelhança com a licenciosidade; eram simplesmente testes sinceros de fecundidade. Os indivíduos que contraíam o matrimônio faziam-no de forma permanente, assim que a fertilidade fosse estabelecida. Quando os casais modernos casam-se com o pensamento da conveniência de um divórcio, no fundo das suas mentes, se não ficarem totalmente contentes com a sua vida de casados, na realidade, estarão adotando uma forma de matrimônio experimental, forma esta muito abaixo do status das aventuras honestas dos seus ancestrais menos civilizados.

4. O MATRIMÔNIO SOB A PRÁTICA DA PROPRIEDADE PRIVADA


82:4:1 9174 O matrimônio tem estado sempre ligado, muito de perto, tanto à propriedade quanto à religião. A propriedade tem sido o estabilizador do matrimônio; a religião, o moralizador.

82:4:2 9175 O casamento primitivo era um investimento, uma especulação econômica; era mais uma questão de negócio do que um caso de namoro. Os antigos contraíam o matrimônio pela vantagem e pelo bem-estar do grupo; por essa razão, os seus matrimônios eram planejados e arranjados pelo grupo, pelos seus pais e pelos mais velhos. E, se os costumes da propriedade privada eram eficazes na estabilização da instituição do matrimônio, isso nasceu do fato de que o casamento era mais permanente entre as tribos primitivas do que o é entre muitos povos modernos.

82:4:3 9176 À medida que a civilização avançou e a propriedade privada ganhou maior reconhecimento dos costumes, o roubo passou a ser o grande crime. O adultério era reconhecido como uma forma de roubo, uma infração contra os direitos de propriedade do marido; e, por isso, não está especificamente mencionado nos códigos e costumes mais primitivos. A mulher começou como propriedade do seu pai, o qual transferia o seu título ao marido da filha, e todas as relações sexuais legalizadas surgiram desses direitos preexistentes de propriedade. O Antigo Testamento trata as mulheres como uma forma de propriedade; o Alcorão ensina a sua inferioridade. O homem tinha o direito de emprestar a sua mulher a um amigo ou convidado, e esse costume ainda persiste entre alguns povos.

82:4:4 9177 O ciúme sexual moderno não é inato; é um produto da evolução dos costumes. O homem primitivo não era ciumento da sua esposa; ele estava apenas resguardando a sua propriedade. A razão de se manter a esposa sob limitações sexuais mais restritas do que aquelas impostas ao marido era devido ao fato de que a infidelidade marital dela envolveria a descendência e a herança. Muito cedo, na marcha da civilização, o filho ilegítimo teve má reputação. A princípio, apenas a mulher era punida pelo adultério; posteriormente, os costumes também decretaram a punição do seu parceiro e, durante um longo tempo, o marido ofendido, ou o pai protetor, tinha o direito pleno de matar o invasor masculino. Os povos modernos mantêm esses costumes, que toleram os crimes chamados de honra, sob uma lei tácita.

82:4:5 9178 Desde que o tabu da castidade teve a sua origem como uma fase dos costumes que regem a propriedade, ele aplicou-se inicialmente às mulheres casadas, mas não às moças solteiras. Anos mais tarde, a castidade era mais exigida pelo pai do que pelo pretendente; uma virgem era um bem mais comercial para o pai, pois acarretava um preço mais alto. Como a castidade passou a ser mais exigida, a prática era pagar ao pai da noiva um preço em reconhecimento do serviço de educar apropriadamente a noiva, de um modo casto, para o futuro marido. Uma vez surgida, essa idéia da castidade da mulher arraigou-se tanto entre as raças que se tornou prática enjaular literalmente as moças, prendendo-as de fato durante anos a fim de assegurar a sua virgindade. E, desse modo, os padrões mais recentes e as provas da virgindade deram origem automaticamente à classe das prostitutas profissionais; elas eram as noivas rejeitadas, aquelas mulheres que as mães dos noivos verificaram não serem mais virgens.

5. A ENDOGAMIA E A EXOGAMIA


82:5:1 9181 Muito cedo, os selvagens observaram que a mistura racial aprimorava a qualidade da progênie. Não que a consangüinidade fosse sempre má, mas que a exogamia resultava sempre melhor, comparativamente; e, pois, os costumes tenderam a cristalizar a restrição das relações sexuais entre os parentes próximos. Era reconhecido que a exogamia aumentava grandemente a oportunidade seletiva de variação evolucionária e de avanço. Os indivíduos produtos da exogamia eram mais versáteis e tinham mais habilidade para sobreviver em um mundo hostil; os indivíduos produzidos pela endogamia, junto com os seus costumes, gradualmente desapareceram. Este foi um desenvolvimento lento; os selvagens não pensaram conscientemente nessas questões. Contudo, os povos mais recentes e adiantados fizeram-no, e eles também observaram que uma fraqueza geral algumas vezes era o resultado de uma endogamia excessiva.

82:5:2 9182 Ainda que a endogamia, na boa linhagem, algumas vezes haja produzido tribos fortes, os casos espetaculares de maus resultados, devidos a defeitos hereditários da endogamia, impressionaram mais fortemente a mente do homem, e o resultado foi que os costumes, em constante avanço, formularam mais e mais tabus contra os matrimônios entre parentes próximos.

82:5:3 9183 Há muito, a religião tem sido uma barreira efetiva contra a exogamia; muitos ensinamentos religiosos têm proscrito o casamento fora da fé. A mulher geralmente tem favorecido a prática da endogamia; o homem, a da exogamia. A propriedade sempre influenciou o matrimônio, e algumas vezes, em um esforço para conservar a propriedade dentro de um clã, têm surgido costumes que obrigam as mulheres a escolher maridos dentro das tribos dos seus pais. Esse tipo de legislação levou a uma grande multiplicação de matrimônios entre primos. A endogamia foi também praticada em um esforço para preservar os segredos artesanais; os artesãos mais hábeis procuravam manter o conhecimento da sua arte dentro da família.

82:5:4 9184 Os grupos superiores, quando isolados, sempre voltavam ao acasalamento consangüíneo. Durante mais de cento e cinqüenta mil anos, os noditas foram um dos maiores grupos endogâmicos. Os costumes endogâmicos mais recentes foram influenciados enormemente pela tradição da raça violeta, segundo a qual, no início, os acasalamentos eram feitos, forçosamente, entre irmão e irmã. E os matrimônios entre irmão e irmã eram comuns no Egito, na Síria e na Mesopotâmia primitivos, e nas terras uma vez ocupadas pelos anditas. Os egípcios praticaram, durante muito tempo, o matrimônio entre irmão e irmã, em um esforço de manter puro o sangue real; e esse costume perdurou por mais tempo ainda na Pérsia. Entre os mesopotâmios, antes dos dias de Abraão, os matrimônios entre primos eram obrigatórios; os primos tinham direitos de prioridade para casarem entre si. O próprio Abraão casou-se com uma meio-irmã, mas essas uniões não eram permitidas pelos costumes mais recentes dos judeus.

82:5:5 9191 O primeiro passo contra os matrimônios entre irmãos foram dados em meio aos costumes da pluralidade de esposas, porque a esposa-irmã arrogantemente dominava as outras esposas. Alguns costumes tribais proibiram o matrimônio com a viúva de um irmão morto, mas exigiam que o irmão vivo gerasse filhos no lugar do seu irmão morto. Não existem instintos biológicos contra qualquer grau de endogamia; essas restrições são inteiramente uma questão de tabu.

82:5:6 9192 A exogamia finalmente dominou porque foi preferida pelo homem, pois conseguir uma esposa de fora assegurava maior liberdade em relação aos sogros. A familiaridade gera o desprezo; assim, à medida que o elemento da livre escolha individual começou a dominar o acasalamento, tornou-se um hábito escolher parceiros de fora da tribo.

82:5:7 9193 Muitas tribos finalmente proibiram os matrimônios dentro do clã; outras limitaram o acasalamento a certas classes. O tabu, contra o matrimônio com uma mulher do próprio totem, deu força aos costumes de raptar as mulheres das tribos vizinhas. Posteriormente, os matrimônios passaram a ser regulamentados mais de acordo com o território de residência do que pelo parentesco. Muitos passos foram acontecendo na evolução do matrimônio endogâmico, até a prática moderna da exogamia. Mesmo depois de estabelecido o tabu da endogamia entre as pessoas comuns, ainda era permitido, aos chefes e aos reis, casarem-se com os parentes próximos, no intuito de manter o sangue real concentrado e puro. Os costumes geralmente têm permitido aos soberanos algumas licenças nas questões sexuais.

82:5:8 9194 A existência dos povos anditas mais recentes muito tem a ver com o aumento do desejo das raças sangiques de acasalar-se fora das próprias tribos. Todavia, não foi possível à exogamia prevalecer antes que os grupos vizinhos houvessem aprendido a viver juntos, em uma paz relativa.

82:5:9 9195 A exogamia, em si própria, foi uma promotora da paz; os matrimônios entre as tribos reduziam as hostilidades. A exogamia levou à coordenação tribal e às alianças militares; e tornou-se predominante, porque trazia maior força; foi uma edificadora de nações. A exogamia foi também bastante favorecida pelos contratos de comércio em profusão; a aventura e a exploração contribuíram para a ampliação dos limites de acasalamento e facilitaram grandemente a fertilização intermesclada das culturas raciais.

82:5:10 9196 As inconsistências, inexplicáveis de outro modo, dos costumes do matrimônio racial são devidas, na sua maior parte, a esse hábito de exogamia, com os seus respectivos raptos e compras de esposas das tribos vizinhas, resultando tudo em uma combinação dos diferentes costumes tribais. Que esses tabus relativos à endogamia foram sociológicos, e não biológicos, é bastante bem ilustrado pelos tabus que envolvem os matrimônios entre contraparentes, que abrangiam muitos graus de relações entre parentes, casos que não representavam absolutamente nenhuma relação de sangue.

6. AS MISTURAS RACIAIS


82:6:1 9197 Hoje não há raças puras no mundo. Os povos evolucionários primitivos e originais de cor têm apenas duas raças representativas que perduram neste mundo: o homem amarelo e o homem negro. E, mesmo essas duas raças, estão muito misturadas aos extintos povos de cor. Ao mesmo tempo em que a chamada raça branca descende predominantemente do antigo homem azul, ela é mais ou menos misturada com todas as outras raças, tanto quanto o é o homem vermelho das Américas.

82:6:2 9198 Das seis raças sangiques coloridas, três eram primárias e três eram secundárias. Embora as raças primárias – a azul, a vermelha e a amarela – fossem superiores, sob muitos aspectos, aos três povos secundários, deve-se lembrar que essas raças secundárias tinham muitos traços desejáveis os quais teriam elevado consideravelmente os povos primários, caso as suas melhores linhagens pudessem ter sido absorvidas.

82:6:3 9201 O preconceito atual contra os “híbridos”, os “mestiços” e os “de meia-casta” surge porque a miscigenação racial moderna acontece, na sua maior parte, entre as linhagens grosseiramente inferiores das raças envolvidas. Também uma progênie insatisfatória advém quando se misturam linhagens degeneradas da mesma raça.

82:6:4 9202 Se as raças atuais de Urântia pudessem livrar-se da maldição dos seus substratos mais baixos, de espécimes deteriorados, anti-sociais, debilitados mentalmente e párias, haveria pouca objeção a uma amalgamação racial limitada. E, se tais misturas raciais pudessem acontecer entre os tipos mais elevados das várias raças, haveria menos objeções ainda.

82:6:5 9203 A hibridação nas linhagens superiores e dissimilares é o segredo da criação de linhagens novas e mais vigorosas. E isso é verdadeiro sobre as plantas, sobre os animais, e sobre a espécie humana. A hibridação aumenta o vigor e amplia a fertilidade. As misturas raciais dos substratos medianos ou superiores de vários povos incrementam grandemente o potencial criativo, como é mostrado na população atual dos Estados Unidos da América do Norte. Quando tais acasalamentos acontecem entre os substratos mais baixos ou inferiores, a criatividade diminui, como é mostrado pelos povos atuais do sul da Índia.

82:6:6 9204 A combinação das raças contribui grandemente para o surgimento súbito de novas características e, se tal hibridação advém da união de linhagens superiores, então essas novas características também serão traços superiores.

82:6:7 9205 Enquanto as raças atuais estiverem tão sobrecarregadas de linhagens inferiores e degeneradas, a mesclagem das raças em uma escala ampla, seria altamente prejudicial, mas a maior parte das objeções a tais experimentos repousa nos preconceitos sociais e culturais mais do que em análises biológicas. Mesmo entre as linhagens inferiores, os híbridos geralmente representam um aperfeiçoamento dos seus ancestrais. A hibridação colabora para o aprimoramento das raças, devido ao papel dos genes dominantes. A mesclagem inter-racial aumenta a probabilidade de que um número maior dos genes dominantes desejáveis esteja presente no resultado híbrido.

82:6:8 9206 Durante os últimos cem anos, tem havido mais hibridação racial em Urântia do que ocorreu em milhares de anos. O perigo de desarmonias grosseiras resultantes da fecundação cruzada de sangues humanos foi bastante exagerado. Os maiores problemas da “mestiçagem” são devidos a preconceitos sociais.

82:6:9 9207 A experiência Pitcairn, de mesclar a raça branca e a raça polinésia, deu resultados bastante bons, porque os homens brancos e as mulheres polinésias eram de linhagens raciais relativamente boas. A mesclagem entre os mais elevados tipos da raça branca, da raça vermelha e da raça amarela traria imediatamente à existência muitas características novas e biologicamente eficazes. Esses três povos pertencem às raças sangiques primárias. Misturas da raça branca e da raça negra não são tão desejáveis pelos seus resultados imediatos, nem essa progênie mulata é tão digna de objeções como o querem fazer parecer os preconceitos sociais e raciais. Fisicamente, tais produtos híbridos de brancos e negros são espécimes excelentes de seres humanos, não obstante a sua ligeira inferioridade quanto a alguns outros aspectos.

82:6:10 9208 Quando uma raça primária sangique combina-se com uma raça sangique secundária, a última é aprimorada consideravelmente às custas da primeira. E em uma escala menor – estendendo-se por períodos longos de tempo – pode haver poucas objeções sérias a essa contribuição sacrificada, feita pelas raças primárias para o aprimoramento dos grupos secundários. Considerando-se biologicamente, os sangiques secundários, sob alguns pontos de vista, eram superiores às raças primárias.

82:6:11 9211 Afinal, o verdadeiro perigo para a espécie humana deverá estar na multiplicação sem restrições das linhagens inferiores e degeneradas dos vários povos civilizados, mais do que qualquer perigo suposto advindo das misturas raciais em si.

82:6:12 9212 [Apresentado pelo Comandante dos Serafins estacionado em Urântia.]

DOCUMENTO 83

A INSTITUIÇÃO DO MATRIMÔNIO
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Esta é a narração dos primórdios da instituição do matrimônio. Ele progrediu firme, partindo dos acasalamentos desobrigados e promíscuos do populacho, por intermédio de muitas variações e adaptações, até o aparecimento daquele casamento padrão que, finalmente, culminou na realização de acasalamentos de pares, a união de um homem e de uma mulher, para estabelecer um lar da ordem social mais elevada.

83:0:2 9222 O matrimônio tem estado muitas vezes em perigo, e os costumes do matrimônio têm apelado violentamente tanto para a propriedade quanto para a religião, como apoio; a influência real, contudo – que, para sempre, salvaguarda o matrimônio e a família resultante –, é o fato biológico simples e inato de que os homens e as mulheres positivamente não viverão uns sem os outros, sejam eles os selvagens mais primitivos ou os mortais mais cultos.

83:0:3 9223 É por causa do impulso sexual que o homem egoísta é seduzido a fazer de si algo melhor do que um animal. A relação sexual satisfaz o corpo e gratifica o amor-próprio, entretanto acarreta certas conseqüências de abnegação e assegura que se assumam numerosos deveres altruístas e responsabilidades para com o lar, que beneficiam a raça. Nisso, o sexo tem sido um civilizador, não reconhecido e insuspeito, para o selvagem, pois esse mesmo impulso do sexo automática e inequivocamente obriga o homem a pensar e, finalmente, leva-o a amar.

1. O MATRIMÔNIO COMO UMA INSTITUIÇÃO DA SOCIEDADE


83:1:1 9224 O matrimônio é o mecanismo da sociedade destinado a regular e a controlar aquelas tantas relações humanas que surgem do fato físico da bissexualidade. Como uma instituição, assim, o casamento funciona em duas direções:

9225 1. Para regular as relações sexuais pessoais.

9226 2. Para regular a descendência, a herança, a sucessão e a ordem social; sendo esta a sua função mais antiga e original.

83:1:2 9227 A família que cresce no matrimônio é, em si mesma, um estabilizador da instituição do casamento, junto com os costumes da propriedade. Outros fatores poderosos para a estabilidade do matrimônio são o orgulho, a vaidade, o cavalheirismo, o dever e as convicções religiosas. Todavia, conquanto os casamentos possam ser aprovados ou desaprovados do alto, dificilmente eles são feitos no céu. A família humana é uma instituição muito claramente humana, um desenvolvimento evolucionário. O matrimônio é uma instituição da sociedade, não um departamento da igreja. Bem verdade é que a religião deveria influenciá-lo poderosamente, mas não deveria encarregar-se unicamente de controlá-lo e regulá-lo.

83:1:3 9228 O matrimônio primitivo foi industrial, primariamente; e, mesmo nos tempos modernos, é freqüentemente um assunto social ou de negócios. Por intermédio da influência da mistura do sangue andita e, como resultado dos costumes da civilização em adiantamento, o matrimônio está-se tornando lentamente mútuo, romântico, paternal, poético, afetuoso, ético e mesmo idealista. A seleção e o chamado amor romântico, contudo, mínimos no casamento primitivo. Durante as épocas primitivas, o marido e a esposa não viviam muito juntos; eles nem mesmo comiam juntos com muita freqüência. Entre os antigos, porém, o afeto pessoal não era ligado fortemente à atração sexual; eles passavam a gostar um do outro em grande parte porque viviam e trabalhavam juntos.

2. A CORTE E O NOIVADO


83:2:1 9231 Os casamentos primitivos eram sempre planejados pelos pais do rapaz e da moça. O estágio de transição entre esse costume e os tempos da escolha livre foi ocupado pelos agentes matrimoniais, ou seja, os casamenteiros profissionais. Esses casamenteiros a princípio eram os barbeiros; mais tarde, os sacerdotes. O matrimônio, originalmente, era um assunto grupal; depois, uma questão de família; apenas recentemente ele tornou-se uma aventura individual.

83:2:2 9232 A coerção, não a atração, foi o caminho de acesso ao matrimônio primitivo. Nos tempos primitivos, a mulher não tinha indiferença sexual, apenas inferioridade sexual, inculcada pelos costumes. Assim como o saque precedeu ao comércio, o matrimônio pelo rapto precedeu ao matrimônio por contrato. Algumas mulheres eram coniventes com o rapto, para escapar à dominação dos homens mais velhos da sua tribo; elas preferiam cair nas mãos dos homens de outras tribos, mas da mesma idade delas. Essa falsa fuga foi o estágio de transição entre o rapto forçado e a subseqüente corte pela sedução.

83:2:3 9233 Um tipo primitivo de cerimônia de casamento foi uma encenação de um rapto, uma espécie de ensaio de fuga que foi certa vez a prática comum. Mais tarde, o rapto simulado tornou-se uma parte da cerimônia normal de casamento. As pretensões de uma moça moderna de resistir ao “rapto”, de ser reticente quanto ao casamento, são todas remanescentes dos costumes antigos. Carregar a mulher através do limiar da porta é uma reminiscência das inúmeras práticas antigas, entre outras, dos dias dos raptos de esposas.

83:2:4 9234 Durante muito tempo, foi negada à mulher a plena liberdade de dispor de si própria no casamento, mas as mulheres mais inteligentes têm sido sempre capazes de contornar essa restrição, mediante o exercício sagaz da sua perspicácia. O homem comumente tem tomado a iniciativa da corte, mas nem sempre. A mulher, algumas vezes, tanto abertamente quanto de um modo encoberto, toma a iniciativa. E, à medida que a civilização tem progredido, as mulheres têm tido uma participação crescente em todas as fases da corte e do matrimônio.

83:2:5 9235 O amor cada vez maior, o romance e a escolha pessoal na corte pré-marital são uma contribuição dos anditas às raças do mundo. As relações entre os sexos estão evoluindo favoravelmente; muitos povos em avanço estão gradativamente substituindo aqueles motivos mais antigos, de utilidade e de propriedade, pelo conceito, de algum modo idealizado, da atração sexual. O impulso sexual e os sentimentos de afeto estão começando a substituir o frio cálculo na escolha dos parceiros.

83:2:6 9236 O compromisso originalmente era equivalente ao matrimônio; e, em meio aos povos primitivos, as relações sexuais eram parte da convenção durante o compromisso. Em tempos mais recentes, a religião estabeleceu um tabu sexual no período entre o compromisso e o matrimônio.

3. A COMPRA E O DOTE


83:3:1 9237 Os antigos não confiavam no amor, nem nas promessas; eles julgavam que as uniões perduráveis deviam ser garantidas por alguma segurança tangível como a propriedade. Por essa razão, o preço de compra de uma noiva era considerado como um penhor ou um depósito que o marido estava condenado a perder, em caso de divórcio ou deserção. Uma vez pago o preço de compra de uma noiva, muitas tribos permitiam que a marca-a-ferro-quente do marido fosse feita nela. Os africanos ainda compram as suas esposas. Uma esposa por amor, ou a esposa de um homem branco, eles a comparam a um gato, porque ela não custa nada.

83:3:2 9241 As exibições de noivas eram ocasiões para vestir e ornar as filhas para exibição pública, com a idéia de elevar os seus preços como esposas. Todavia, elas não eram vendidas como animais – entre as tribos mais recentes, a esposa não era transferível. Nem a sua compra era, sempre, uma transação fria ligada ao dinheiro; o serviço era equivalente a dinheiro vivo, na compra de uma esposa. Se um candidato, desejável por outros motivos, não pudesse pagar pela sua esposa, ele poderia ser adotado como filho pelo pai da moça e então casar-se. E, se um homem pobre buscasse uma esposa e não pudesse arcar com o preço pedido por um pai ambicioso, os anciães da tribo freqüentemente faziam pressão para que o pai modificasse as suas exigências, ou então poderia haver uma fuga.

83:3:3 9242 À medida que a civilização progrediu, os pais não gostavam de parecer estarem vendendo as suas filhas, e assim, se bem que continuando a aceitar o preço de compra da noiva, eles iniciaram o costume de dar aos noivos presentes valiosos que se igualavam quase ao preço da compra. E, com a descontinuidade posterior do pagamento pela noiva, esses presentes tornaram-se o seu dote.

83:3:4 9243 A idéia de um dote era para dar a impressão da independência da noiva, para sugerir um grande adiantamento em relação aos tempos das esposas-escravas e das companheiras que eram uma propriedade. Um homem não poderia divorciar-se de uma esposa com dote sem que este fosse devolvido integralmente. Em meio a algumas tribos, um depósito mútuo era feito com os pais, tanto da noiva quanto do noivo, para ser resgatado no caso em que algum deles abandonasse o outro; isso, na realidade, era um contrato de casamento. Durante o período de transição entre a compra e o dote, se a esposa fosse comprada, as crianças pertenciam ao pai; se não, pertenciam à família da esposa.

4. A CERIMÔNIA NUPCIAL


83:4:1 9244 A cerimônia de casamento nasceu do fato de que o matrimônio era originalmente um assunto da comunidade, não uma simples culminância de uma decisão de dois indivíduos. O acasalamento era tanto uma preocupação do grupo quanto uma função pessoal.

83:4:2 9245 A magia, o ritual e a cerimônia cercavam toda a vida dos antigos, e o matrimônio não era uma exceção. À medida que a civilização avançou e à medida que o matrimônio passou a ser considerado mais seriamente, a cerimônia de casamento tornou-se cada vez mais pretensiosa. O casamento primitivo tinha um papel no direit o das propriedades, como o é hoje, e, portanto, exigia uma cerimônia legal, enquanto o status social das crianças que adviessem, requeria a maior publicidade possível. O homem primitivo não tinha registros; a cerimônia do matrimônio devia, pois, ser testemunhada por muitas pessoas.

83:4:3 9246 A princípio, a cerimônia de casamento foi mais da ordem de um compromisso e consistia apenas na notificação pública da intenção de viver junto; mais tarde, consistiu em um compartilhar formal da comida. Em algumas tribos, os pais simplesmente levavam as suas filhas até o marido; em outros casos a única cerimônia era uma troca formal de presentes, depois da qual o pai da noiva a apresentaria ao noivo. Entre muitos povos levantinos, o costume era dispensar todas as formalidades, o matrimônio sendo consumado pelas relações sexuais. O homem vermelho foi o primeiro a desenvolver uma celebração mais elaborada dos matrimônios.

83:4:4 9247 A infecundidade era bastante temida e, posto que a esterilidade fosse atribuída a maquinações do espírito, os esforços para assegurar a fecundidade também levaram à associação do matrimônio a certos cerimoniais mágicos ou religiosos. E, nesse esforço para assegurar um matrimônio feliz e fértil, muitos amuletos eram empregados; até os astrólogos eram consultados para averiguar as estrelas da fecundidade para as partes contratantes. Houve uma época em que o sacrifício humano era um traço regular de todos os casamentos entre as pessoas abastadas.

83:4:5 9251 Os dias de sorte eram buscados. A quinta-feira era vista muito favoravelmente, e os casamentos celebrados na lua cheia eram considerados como excepcionalmente afortunados. Era costume de muitos povos do Oriente Próximo jogar grãos nos recém-casados; isso era um rito mágico que supostamente assegurava a fecundidade. Alguns povos orientais usavam o arroz para esse fim.

83:4:6 9252 O fogo e a água foram sempre considerados os melhores meios de resistir aos fantasmas e aos maus espíritos; e daí os fogos no altar e as velas acesas, bem como a aspersão com água benta, no batismo, estiveram comumente em evidência nos matrimônios. Por um longo tempo, era costumeiro estabelecer um dia falso para o casamento e então adiar subitamente o evento, de modo a tirar do caminho os fantasmas e os espíritos.

83:4:7 9253 As brincadeiras feitas com os recém-casados e as traquinagens feitas na lua-de-mel são, todas elas, reminiscências daqueles dias longínquos em que se pensava ser melhor parecer infeliz e doente aos olhos dos espíritos, para evitar despertar a sua inveja. O uso do véu é uma reminiscência dos tempos em que era considerado necessário disfarçar a noiva para que os fantasmas não a pudessem reconhecer, e também para esconder a sua beleza do olhar fixo de outros espíritos que pudessem ficar ciumentos e invejosos. Os pés da noiva não deviam nunca tocar o chão, pouco antes da cerimônia. Mesmo no século vinte é ainda usual, sob os costumes cristãos, esticar tapetes desde o carro até o altar da igreja.

83:4:8 9254 Uma das formas mais antigas da cerimônia de casamento era que um sacerdote abençoasse o leito nupcial para assegurar a fertilidade da união; isso era feito muito antes que fosse estabelecido qualquer ritual formal de casamento. Durante esse período, na evolução dos costumes do matrimônio, esperava-se que os convidados se enfileirassem no quarto nupcial à noite, constituindo-se assim as testemunhas legais da consumação do matrimônio.

83:4:9 9255 O elemento de sorte que, a despeito de todos os testes pré-maritais, fazia com que alguns casamentos não tivessem êxito levou o homem primitivo a buscar a proteção de seguro contra o fracasso no casamento; levou-o a sair em busca dos sacerdotes e da magia. E esse movimento culminou diretamente nos casamentos modernos nas igrejas. No entanto, por um longo período, o matrimônio foi em geral reconhecido como consistindo nas decisões dos pais que o contratavam – e, mais tarde, nas do casal –, enquanto nos últimos quinhentos anos a igreja e o estado assumiram a jurisdição e agora presumem fazer os pronunciamentos de matrimônio.

5. OS MATRIMÔNIOS PLURAIS


83:5:1 9256 Na história inicial do matrimônio, as mulheres não casadas pertenciam aos homens da tribo. Mais tarde, uma mulher tinha apenas um marido por vez. Essa prática de um homem por vez foi o primeiro passo para sair da promiscuidade da tribo. Se bem que não fosse permitido a uma mulher senão ter um homem, o seu marido poderia romper esse relacionamento temporário segundo a sua vontade. Todavia, essas ligações vagamente regulamentadas foram o primeiro passo no sentido de uma vida de casal, em contraste com a vida no rebanho. Nesse estágio do desenvolvimento do matrimônio, os filhos em geral pertenciam à mãe.

83:5:2 9257 O próximo passo na evolução do acasalamento foi o casamento grupal. Essa fase comunitária do casamento teve de interpor-se no desenvolvimento da vida familiar, porque os costumes do matrimônio não estavam ainda fortes o suficiente para fazer com que as ligações dos casais fossem permanentes. Os casamentos entre irmão e irmã pertenceram a esse grupo; cinco irmãos de uma família casar-se-iam com cinco irmãs de uma outra. Em todo o mundo, as formas mais vagas de casamentos comunitários gradualmente evoluíram para vários tipos de casamento grupal. E essas associações grupais eram amplamente regulamentadas pelos costumes do totem. A vida familiar desenvolveu-se lenta e seguramente, porque a regulamentação do sexo e do matrimônio favoreceu a sobrevivência da própria tribo, assegurando a sobrevivência de um maior número de crianças.

83:5:3 9261 Os casamentos grupais gradativamente cederam caminho diante das práticas emergentes da poligamia – da poligenia e da poliandria – entre as tribos mais avançadas. A poliandria, porém, nunca foi geral, sendo limitada usualmente a rainhas e mulheres ricas; ademais, uma esposa para vários irmãos era costumeiramente um assunto de família. As restrições de castas e de economia algumas vezes fizeram tornar-se necessário que vários homens se contentassem com uma esposa. Mesmo então a mulher casar-se-ia apenas com um deles, os outros sendo vagamente tolerados como “tios” da progênie conjunta.

83:5:4 9262 O costume judeu exigindo que um homem se consorciasse com a viúva do seu irmão falecido, com o propósito de “fazer crescer uma semente para o seu irmão”, era um costume de mais da metade do mundo antigo. Essa era uma reminiscência do tempo em que o matrimônio era uma questão da família, mais do que uma ligação individual.

83:5:5 9263 A instituição da poligenia reconheceu, em várias épocas, quatro espécies de esposas:

9264 1. As esposas cerimoniais ou legais.

9265 2. As esposas por afeição e permissão.

9266 3. As concubinas, esposas contratuais.

9267 4. As esposas escravas.

83:5:6 9268 A verdadeira poligenia, na qual todas as esposas têm um status igual e todos os filhos são iguais, tem sido bastante rara. Geralmente, mesmo nos casamentos plurais, o lar era dominado pela esposa principal, a companheira estatutária. Apenas ela teve as cerimônias das bodas rituais, e apenas os filhos dessa esposa comprada ou recebida, com um dote, poderiam herdar, a menos que houvesse um arranjo especial com a esposa estatutária.

83:5:7 9269 A esposa estatutária não era necessariamente a esposa pelo amor; nos tempos primitivos, em geral, não era. A esposa amada, ou a mais querida, não apareceu até que as raças estivessem consideravelmente avançadas, mais particularmente depois da miscigenação das tribos evolucionárias com os noditas e os adamitas.

83:5:8 92610 A esposa tabu – uma esposa de status legal – gerou os costumes de concubinato. Sob esses costumes, um homem poderia ter apenas uma esposa, mas ele poderia manter relações sexuais com qualquer número de concubinas. O concubinato foi o trampolim para a monogamia, o primeiro passo de afastamento da poligenia. As concubinas dos judeus, dos romanos e dos chineses eram muito freqüentemente as servas da esposa. Mais tarde, como entre os judeus, a esposa legal era encarada como a mãe de todos os filhos nascidos do marido.

83:5:9 92611 Os tabus antigos sobre as relações sexuais com uma esposa grávida ou em amamentação tinham a tendência de fomentar grandemente a poligenia. As mulheres primitivas envelheciam muito cedo, por causa dos partos freqüentes e do trabalho pesado. (Essas esposas sobrecarregadas conseguiam existir apenas em virtude do fato de que eram colocadas em isolamento durante uma semana por mês, quando elas não estavam grávidas. ) Tal esposa freqüentemente ficava cansada de conceber filhos e pedia ao seu marido para tomar uma segunda esposa, mais jovem, e que fosse capaz de ajudar tanto na concepção de filhos quanto no trabalho doméstico. As novas esposas eram, pois, geralmente acolhidas com alegria pelas esposas mais velhas; nada existia que fosse da ordem do ciúme sexual.

83:5:10 92612 O número de esposas era limitado apenas pela capacidade que o homem tinha de sustentá-las. Os homens abastados e capazes queriam um grande número de filhos e, posto que a mortalidade infantil era muito alta, era necessário um grupo de esposas para ter-se uma grande família. Muitas dessas múltiplas esposas eram meras trabalhadoras, esposas escravas.

83:5:11 9271 Os costumes humanos evoluem, mas muito lentamente. O propósito de um harém era construir um corpo forte e numeroso de famílias de sangue, para ser o suporte do trono. Um certo chefe foi, certa vez, convencido de que não devia ter um harém, de que deveria contentar-se com uma só esposa e, assim, prontamente desfez o seu harém. As esposas insatisfeitas foram para as suas casas e os seus parentes ofendidos caíram irados em cima do chefe e mataram-no ali, no mesmo instante.

6. A MONOGAMIA DE FATO – O MATRIMÔNIO DE UM CASAL


83:6:1 9272 A monogamia é um monopólio; é boa para aqueles que alcançam esse estado desejável, mas ela tende a impor uma privação biológica àqueles que não são tão afortunados. A despeito, porém, do efeito sobre o indivíduo, a monogamia é decididamente melhor para os filhos.

83:6:2 9273 As primeiras monogamias foram devidas à força das circunstâncias, à pobreza. A monogamia é cultural e social, artificial e não natural, isto é, não-natural para o homem evolucionário. Ela foi totalmente natural para os noditas e os adamitas mais puros e tem sido de grande valor cultural para todas as raças avançadas.

83:6:3 9274 As tribos caldéias reconheciam o direito que a esposa tem de impor uma promessa pré-matrimonial, de que o seu esposo não tomaria uma segunda esposa ou concubina; tanto os gregos quanto os romanos favoreceram o casamento monogâmico. A adoração dos ancestrais tem sempre fomentado a monogamia, como o tem o cristianismo no seu erro ao considerar o matrimônio como um sacramento. Mesmo a elevação do padrão de vida tem militado consistentemente contra a pluralidade de esposas. Na época do advento de Michael em Urântia, praticamente todo o mundo civilizado havia atingido o nível da monogamia teórica. Contudo, essa monogamia passiva não significou que a humanidade se tivesse tornado habituada à prática do matrimônio composto de um verdadeiro casal.

83:6:4 9275 Ao perseguir o objetivo monogâmico do matrimônio ideal de um casal, o que é, afinal, algo como uma associação sexual monopolizadora, a sociedade não deve omitir-se sobre a situação não invejável daqueles homens e mulheres desafortunados que não conseguem encontrar um lugar nessa nova e melhor ordem social, ainda que tendo dado o melhor de si para cooperar com ela e para corresponder aos seus requisitos. O fracasso em conseguir um companheiro na arena social da competição pode ser devido a dificuldades insuperáveis ou a múltiplas restrições que os costumes correntes hajam imposto. Verdadeiramente, a monogamia é ideal para aqueles que se mantêm nela, mas deve inevitavelmente representar uma grande dificuldade para aqueles que são deixados fora, no frio da existência solitária.

83:6:5 9276 Sempre uns poucos desafortunados tiveram que sofrer para que a maioria pudesse avançar sob o desenvolvimento dos costumes na civilização em evolução; mas a maioria favorecida deveria sempre olhar com ternura e consideração os seus semelhantes menos afortunados, que devem pagar o preço da impossibilidade de encontrar um lugar nas fileiras daquelas ligações sexuais ideais que permitem a satisfação de todos os seus impulsos biológicos, sob a aprovação dos costumes mais elevados da evolução social adiantada.

83:6:6 9277 A monogamia tem sempre sido, é agora, e para sempre será a meta idealista da evolução sexual humana. Esse ideal de um verdadeiro matrimônio, em um só par, compreende o auto-sacrifício e, portanto, tão freqüentemente fracassa exatamente porque uma ou ambas as partes contratantes são deficientes naquilo que é o ápice de todas as virtudes humanas: um autocontrole rigoroso.

83:6:7 9278 A monogamia é a unidade de medida do avanço da civilização social, como pode ser diferenciada da evolução puramente biológica. A monogamia não é necessariamente biológica ou natural, mas é indispensável à manutenção imediata e ao desenvolvimento posterior da civilização social. Ela contribui para uma delicadeza de sentimentos, para um refinamento do caráter moral e para um crescimento espiritual, que são completamente impossíveis na poligamia. Uma mulher nunca poderá tornar-se uma mãe ideal, quando fica, todo o tempo, obrigada a entrar em rivalidades na busca do afeto do seu marido.

83:6:8 9281 O matrimônio de um único par, favorece e fomenta a compreensão íntima e a cooperação efetiva que são melhores para a felicidade dos pais, para o bem-estar dos filhos e para a eficiência social. O matrimônio, iniciado na coerção crua, está gradativamente evoluindo para uma magnífica instituição de autocultivo, autocontrole, auto-expressão e autoperpetuação.

7. A DISSOLUÇÃO DO VÍNCULO MATRIMONIAL


83:7:1 9282 Na evolução inicial dos costumes maritais, o matrimônio era uma união vaga que podia terminar à vontade, e os filhos sempre seguiam a mãe; os laços entre mãe e filho são instintivos e têm funcionado independentemente do estágio do desenvolvimento dos costumes.

83:7:2 9283 Em meio aos povos primitivos, apenas cerca da metade dos casamentos mostrou-se satisfatória. A mais freqüente causa da separação era a esterilidade, que era sempre atribuída à esposa; e acreditava-se que as esposas sem filhos transformar-se-iam em cobras, no mundo do espírito. Sob os costumes mais primitivos, o divórcio era obtido por opção apenas do homem, e esses padrões perduraram até o século vinte em meio a alguns povos.

83:7:3 9284 À medida que evoluíram os costumes, algumas tribos desenvolveram duas formas de matrimônio: a comum, que permitia o divórcio, e o casamento sacerdotal, que não permitia a separação. A inauguração da compra e do dote da esposa com a introdução de uma penalidade de propriedade, em caso de fracasso do matrimônio, fizeram muito para reduzir a separação. E, de fato, muitas uniões modernas são estabilizadas por esse antigo fator de propriedade.

83:7:4 9285 A pressão social do status na comunidade e os privilégios de propriedade têm sempre sido potentes na manutenção dos costumes e dos tabus do matrimônio. Através das idades, o matrimônio fez um firme progresso e está em uma posição avançada no mundo moderno, não obstante ser atacado ameaçadoramente por uma insatisfação muito difundida entre aqueles povos para os quais a escolha individual – uma nova liberdade – afigura-se como mais importante. Ainda que esses transtornos no ajustamento apareçam entre as raças mais progressistas, como resultado da evolução social subitamente acelerada entre os povos menos avançados, o matrimônio continua florescendo e melhorando lentamente sob a orientação dos costumes mais antigos.

83:7:5 9286 A nova e súbita substituição do motivo do amor, mais ideal, mas extremamente individualista, no matrimônio, em lugar do motivo da propriedade, mais antigo e mais estabelecido, levou a instituição do matrimônio a tornar-se, de forma inevitável, temporariamente instável. Os motivos do homem para o casamento têm, de longe, transcendido sempre à moral factual do matrimônio e, nos séculos dezenove e vinte, o ideal ocidental de matrimônio subitamente ultrapassou, em muito, os impulsos sexuais das raças, autocentrados e autocontrolados apenas parcialmente. A presença de um grande número de pessoas não casadas, em qualquer sociedade, indica uma ruptura temporária dos costumes ou uma transição deles.

83:7:6 9287 A prova verdadeira para o matrimônio, ao longo de todas as idades, tem sido aquela intimidade contínua da qual nenhuma vida familiar pode escapar. Dois jovens, superprotegidos e estragados pelos mimos, educados na expectativa de todas as indulgências e das gratificações plenas da sua vaidade e do seu ego, dificilmente podem esperar um grande êxito no casamento e na edificação de um lar – uma associação vitalícia de auto-anulação, de compromisso, de devoção e de dedicação altruísta à criação de filhos.

83:7:7 9291 O alto grau de imaginação e de romance fantástico que entra nos namoros é amplamente responsável pelas tendências crescentes ao divórcio entre os povos modernos ocidentais, e tudo isto ainda se torna mais complicado pela maior liberdade pessoal da mulher e pelo aumento da sua liberdade econômica. O divórcio facilmente obtido, resultado da falta de autocontrole ou do fracasso no ajuste normal entre as personalidades, conduz apenas diretamente de volta àqueles estágios rudes da sociedade dos quais o homem emergiu só muito recentemente, e como resultado de muita angústia pessoal e de sofrimento racial.

83:7:8 9292 Todavia, enquanto a sociedade falha em educar apropriadamente as crianças e os jovens, enquanto a ordem social deixa de prover a educação pré-marital adequada e enquanto o idealismo juvenil pouco sábio e imaturo for o árbitro para o ingresso no matrimônio, nessa mesma medida, o divórcio continuará prevalecendo. E enquanto o grupo social deixar de prover a preparação dos jovens para o casamento, nessa extensão, o divórcio deverá funcionar como a válvula de segurança social a impedir situações ainda piores durante as idades de rápido avanço dos costumes em evolução.

83:7:9 9293 Parece que os antigos hajam levado o matrimônio tão a sério quanto alguns povos dos dias atuais o fazem. E não parece que muitos dos casamentos apressados e mal-sucedidos dos tempos modernos representem qualquer aperfeiçoamento das práticas antigas para qualificar os jovens rapazes e moças para o acasalamento. A grande inconsistência da sociedade moderna é exaltar o amor e idealizar o matrimônio, ao mesmo tempo em que desaprova um exame mais completo de ambos.

8. A IDEALIZAÇÃO DO MATRIMÔNIO


83:8:1 9294 O matrimônio que culmina no lar é de fato a instituição mais elevada do homem. Contudo, é essencialmente humana e não deveria nunca ter sido chamada de sacramento. Os sacerdotes setitas fizeram do matrimônio um ritual religioso; mas, por milhares de anos, depois do Éden, o acasalamento continuou como uma instituição puramente social e civil.

83:8:2 9295 A assimilação feita das ligações humanas às ligações divinas é bastante infeliz. A união de marido e esposa em um relacionamento matrimônio-lar é uma função material para os mortais dos mundos evolucionários. De fato, é verdade que muito progresso espiritual pode advir como conseqüência dos esforços humanos sinceros do marido e da esposa, para progredir, mas isso não significa que o matrimônio seja necessariamente sagrado. O progresso espiritual acompanha o esforço sincero aplicado a outros campos da atividade humana.

83:8:3 9296 Nem pode o matrimônio ser verdadeiramente comparado à relação do Ajustador com o homem, nem com a fraternidade entre Cristo Michael e os seus irmãos humanos. Em quase nenhum ponto, tais relações podem ser comparadas à associação entre marido e esposa. E é bastante impróprio que a concepção humana errônea desses relacionamentos haja gerado tanta confusão quanto ao status do matrimônio.

83:8:4 9297 Também infeliz é que alguns grupos de mortais hajam concebido o matrimônio como sendo consumado pela ação divina. Tais crenças levam diretamente ao conceito da indissolubilidade do estado marital, independentemente das circunstâncias ou dos desejos das partes contratantes. Mas o fato mesmo da dissolução do casamento por si indica que a Deidade não é uma parte conjunta de tais uniões. Uma vez que Deus tenha unido quaisquer duas coisas ou duas pessoas, elas permanecerão assim unidas até a época em que a vontade divina decrete a sua separação. Todavia, no que concerne ao matrimônio, que é uma instituição humana, quem irá presumir julgar, e dizer, quais casamentos são as uniões que podem ser aprovadas pelos supervisores do universo e quais delas, ao contrário, são puramente humanas em natureza e origem?

83:8:5 9301 Entretanto, existe um ideal de matrimônio nas esferas do alto. Na capital de cada sistema local, os Filhos e Filhas Materiais de Deus retratam o ponto máximo dos ideais da união, do homem com a mulher, nos laços do matrimônio, e com o propósito de procriar e de educar uma progênie. Afinal, o matrimônio mortal ideal é humanamente sagrado.

83:8:6 9302 O matrimônio sempre tem sido e ainda é o sonho supremo da idealidade temporal do homem. Embora esse belo sonho raramente seja realizado integralmente, ele permanece como um ideal glorioso, levando sempre a humanidade em progresso a esforços maiores na direção da felicidade humana. Contudo, alguma coisa das realidades do casamento deveria ser ensinada aos jovens rapazes e moças, antes que eles se lancem nas exigências severas das interassociações da vida familiar; a idealização juvenil deveria ser temperada, em algum grau, pelas desilusões pré-maritais.

83:8:7 9303 A idealização juvenil do matrimônio não deveria, contudo, ser desencorajada; tais sonhos são uma visualização da futura meta da vida familiar. Essa atitude não só é estimulante como é útil, posto que não produza uma insensibilidade à compreensão dos quesitos práticos e comuns do matrimônio e da vida familiar subseqüente.

83:8:8 9304 Os ideais do matrimônio têm feito um grande progresso em tempos recentes; em meio a alguns povos, a mulher desfruta de direitos praticamente iguais aos do seu consorte. Em conceito, ao menos, a família está-se tornando uma parceria leal para criar a prole, acompanhada da fidelidade sexual. Todavia, mesmo essa versão mais nova do matrimônio não precisa presumir ir até o ponto extremo de conferir o monopólio mútuo de toda a personalidade e da individualidade. O matrimônio não é apenas um ideal individualista; é a parceria social, em evolução, entre um homem e uma mulher, existindo e funcionando sob os costumes em vigor, restringidos pelos tabus e compelidos pelas leis e regulamentações da sociedade.

83:8:9 9305 Os matrimônios no século vinte estão em um nível alto em relação ao das idades passadas, não obstante a instituição do lar esteja passando agora por uma prova séria, por causa dos problemas tão subitamente jogados sobre a organização social, pelo aumento precipitado de liberdades da mulher, direitos por tanto tempo a ela negados durante a evolução lenta dos costumes nas gerações passadas.

83:8:10 9306 [Apresentado pelo Comandante dos Serafins estacionados em Urântia.]

DOCUMENTO 84

O MATRIMÔNIO E A VIDA FAMILIAR
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A necessidade material fundou o matrimônio, o apetite sexual embelezou-o, a religião sancionou-o e exaltou-o, o estado exigiu-o e regulamentou-o; e em tempos mais recentes o amor evoluiu e começou até a justificar e glorificar o matrimônio como sendo o ancestral e o criador da instituição mais útil e sublime da civilização: o lar. A edificação do lar deveria, então, ser o centro e a essência de todo esforço educacional.

84:0:2 9312 O acasalamento é, sobretudo, um ato de autoperpetuação associado a vários graus de autogratificação; o matrimônio, com a edificação do lar é, em grande parte, uma questão de automanutenção e implica a evolução da sociedade. A sociedade é, em si mesma, a estrutura que agrega as unidades familiares. Os indivíduos são muito temporários, como fatores planetários – apenas as famílias promovem a continuidade da evolução social. A família é o canal através do qual flui o rio da cultura e do conhecimento, de uma geração a outra.

84:0:3 9313 O lar basicamente é uma instituição sociológica. O matrimônio cresceu da cooperação para a automanutenção e da associação para a autoperpetuação; nele, o elemento da autogratificação sendo bastante incidental. Entretanto, o lar abrange todas as três funções essenciais da existência humana; enquanto a propagação da vida faz dele a instituição humana fundamental, e o sexo torna-o distinto de todas as outras atividades sociais.

1. AS ASSOCIAÇÕES PRIMITIVAS DOS PARES


84:1:1 9314 O matrimônio não se baseou nas relações sexuais; elas foram incidentais a ele. O matrimônio não se fazia necessário ao homem primitivo, pois ele dava ao apetite sexual um curso livre, sem incumbir-se das responsabilidades da esposa, dos filhos e do lar.

84:1:2 9315 Em vista da sua ligação física e emocional com a sua prole, a mulher depende da cooperação do homem, e isso a leva a necessitar da proteção que é o abrigo do matrimônio. Contudo, nenhuma necessidade biológica direta levou o homem ao matrimônio – e menos ainda o manteve nele. Não foi o amor que tornou o casamento atraente para o homem, mas foi a fome de alimento que primeiro atraiu o homem selvagem para a mulher e para o abrigo primitivo, compartilhado com os filhos dela.

84:1:3 9316 O matrimônio não foi gerado nem mesmo pela tomada de consciência das obrigações das relações sexuais. O homem primitivo não compreendia a conexão entre a permissão ao sexo e o subseqüente nascimento de um filho. Outrora, foi crença universal que uma virgem podia tornar-se grávida. O selvagem concebeu muito cedo a idéia de que as crianças fossem geradas na terra dos espíritos; acreditava-se que a gravidez resultava de uma mulher receber um espírito, um fantasma em evolução. Acreditava-se que tanto a dieta quanto o mau-olhado fossem também capazes de levar uma virgem ou uma mulher solteira à gravidez, enquanto as crenças posteriores ligavam o começo da vida à respiração e à luz do sol.

84:1:4 9321 Muitos povos primitivos associavam os fantasmas ao mar e, por isso, as virgens eram muito restringidas nas suas práticas desses banhos; as jovens mulheres tinham muito mais medo de banhos de mar, na maré alta, do que de ter relações sexuais. Bebês prematuros ou deformados eram considerados animaizinhos que encontraram entrada no corpo de uma mulher, em conseqüência de um banho descuidado ou por meio da atividade malevolente de algum espírito. Os selvagens, evidentemente, não se importavam de estrangular essa prole no nascimento.

84:1:5 9322 O primeiro passo de esclarecimento veio com a crença de que as relações sexuais abriam o caminho para o fantasma da gravidez entrar na mulher. Desde então, o homem descobriu que o pai e a mãe contribuem igualmente como fatores da herança da vida que inicia a progênie. Todavia, mesmo no século vinte, muitos pais ainda tentam manter os seus filhos em uma ignorância maior ou menor quanto à origem da vida humana.

84:1:6 9323 Uma espécie simples de família ficava assegurada com o fato de que a função reprodutora requer uma relação entre a mãe e o filho. O amor da mãe é instintivo; não se originou nos costumes, como o matrimônio. O amor maternal é, entre todos os mamíferos, um dom inerente dos espíritos ajudantes da mente do universo local e, em força e em devoção, é sempre diretamente proporcional à duração do período, na infância da espécie, em que há a dependência total.

84:1:7 9324 A relação entre a mãe e o filho é natural, forte, instintiva e, conseqüentemente, é tal que obriga as mulheres primitivas a submeterem-se a muitas condições estranhas e a passarem por provas de uma severidade indescritível. Essa compulsão ao amor materno é a emoção limitadora que sempre tem colocado a mulher em uma desvantagem imensa em todas as suas lutas com o homem. Apesar disso, o instinto materno, na espécie humana, não é irresistível, pois pode ser contrariado pela ambição, pelo egoísmo e pela convicção religiosa.

84:1:8 9325 Ainda que a associação entre a mãe e o filho não seja nem o matrimônio, nem o lar, ela é o núcleo do qual ambos surgiram. O grande avanço na evolução do acasalamento adveio quando essas ligações temporárias duraram o suficiente para criar a progênie resultante, pois nisso estava a formação do lar.

84:1:9 9326 Independentemente dos antagonismos desses casais primitivos e não obstante a inconsistência da ligação deles, as probabilidades de sobrevivência estavam já muito aumentadas por essas associações entre o homem e a mulher. Um homem e uma mulher em cooperação, ainda que fora da família e da progênie, são bastante superiores, em muitos sentidos, a dois homens ou a duas mulheres. Essa combinação dos sexos aumenta a sobrevivência e foi o começo mesmo da sociedade humana. A divisão do trabalho por sexo também colaborou para o conforto e para aumentar a felicidade.

2. O MATRIARCADO PRIMITIVO


84:2:1 9327 A hemorragia periódica da mulher e a conseqüente perda de sangue no parto sugeriu, inicialmente, que o sangue seria o criador da criança (e mesmo o assento da alma) e deu origem ao conceito do vínculo sangüíneo nas relações humanas. Em épocas primitivas, toda a descendência era julgada pela linha feminina, sendo essa a única parte da herança que estava assegurada de qualquer maneira.

84:2:2 9328 A família primitiva que surgia do vínculo sangüíneo biológico instintivo da mãe e do filho, inevitavelmente, era uma família matriarcal; e muitas tribos ativeram-se, por muito tempo, a essa organização. A família matriarcal foi a única transição possível do estágio do matrimônio grupal, na horda, para a vida do lar, posterior e melhorada, das famílias patriarcais poligâmicas e monogâmicas. A família matriarcal era natural e biológica; a família patriarcal é social, econômica e política. A persistência da família matriarcal entre os homens vermelhos da América do Norte é uma das razões principais pelas quais os iroqueses, progressistas em outras coisas, nunca se tornaram um verdadeiro estado.

84:2:3 9331 Sob os costumes da família matriarcal, a mãe da esposa desfrutava de uma autoridade virtualmente suprema no lar; mesmo os irmãos da esposa e os seus filhos eram mais ativos na supervisão da família do que o marido. Os pais, freqüentemente, recebiam um novo nome, o do seu próprio filho.

84:2:4 9332 As raças mais primitivas atribuíram pouco crédito ao pai, considerando o filho como vindo apenas da mãe. Eles acreditavam que os filhos pareciam-se com o pai, em conseqüência da ligação, ou que eles tinham sido “marcados” desse modo, porque a mãe desejava que eles se parecessem com o pai. Mais tarde, quando se passou do matriarcado para o patriarcado, o pai recebia todo o crédito pelo filho, e muitos dos tabus sobre uma mulher grávida foram subseqüentemente estendidos, incluindo o seu marido. O pai em perspectiva parava de trabalhar quando se aproximava a época do parto e, no momento do nascimento, ia ele para a cama, junto com a esposa, permanecendo em resguardo de três a oito dias. A esposa podia levantar-se no dia seguinte e retomar o seu trabalho pesado, mas o marido permanecia na cama para receber os parabéns; e isso foi uma parte dos costumes primitivos destinados a estabelecer o direito que o pai tem ao filho.

84:2:5 9333 A princípio, era costume que o homem fosse para a tribo da sua esposa, contudo, em tempos posteriores, depois de um homem haver pago, ou trabalhado para pagar, o preço da esposa, ele podia levá-la e os filhos de volta ao seu próprio povo. A transição do matriarcalismo para o patriarcalismo explica as proibições, de outro modo sem significado, de alguns tipos de casamentos entre primos, enquanto outros, de parentesco igual, são aprovados.

84:2:6 9334 Com o fim dos costumes dos caçadores, quando o pastoreio deu ao homem o controle do principal suprimento de alimento, o período matriarcal da família chegou rapidamente a um fim. E extinguiu-se, simplesmente porque não poderia competir com êxito com o recente patriarcado. O poder detido pelos homens, parentes da mãe, não podia competir com o poder concentrado no pai e marido. A mulher não estava à altura de fazer frente às tarefas conjuntas de criar os filhos e de exercer a autoridade contínua, com o poder doméstico cada vez maior. As práticas insurgentes do rapto e, em seguida, as da compra da esposa aceleraram o desaparecimento da família matriarcal.

84:2:7 9335 A mudança prodigiosa do matriarcado para o patriarcado é um dos ajustes mais radicais e completos jamais executados pela raça humana. Essa mudança levou imediatamente a maiores expressões sociais e a uma maior aventura familiar.

3. A FAMÍLIA, SOB O DOMÍNIO DO PAI


84:3:1 9336 Ainda que o instinto da maternidade possa ter sido o que levou a mulher ao matrimônio, contudo, foi a maior força do homem, aliada à influência dos costumes, o que a obrigou virtualmente a permanecer na vida conjugal. A vida pastoral tinha a tendência a criar um novo sistema de costumes, o tipo patriarcal de vida familiar; e a base da unidade da família, sob os costumes dos pastores e dos primeiros agricultores, foi a autoridade inquestionável e arbitrária do pai. Toda a sociedade, seja nacional, seja familiar, passou pelo estágio da autoridade autocrática de ordem patriarcal.

84:3:2 9341 A cortesia escassa feita às mulheres, durante a era do Antigo Testamento, é um reflexo verdadeiro dos costumes dos pastores. Os patriarcas hebreus eram todos pastores, como fica testemunhado com o ditado: “O Senhor é meu Pastor”.

84:3:3 9342 Mas não há que se culpar o homem, mais do que à mulher, pelo baixo conceito da mulher durante as idades passadas. Ela não conseguiu o reconhecimento social durante os tempos primitivos, porque não funcionava em uma emergência; ela não era um herói, nem era espetacular, durante uma crise. Na luta pela existência, a maternidade gerava uma incapacidade clara; o amor materno gerava uma desvantagem para as mulheres na defesa tribal.

84:3:4 9343 As mulheres primitivas também criavam, não intencionalmente, a sua dependência do varão, por causa da admiração e do aplauso que davam à sua combatividade e virilidade. Essa exaltação do guerreiro glorificou o ego masculino, ao mesmo tempo em que desvalorizou o ego da mulher e tornou-a mais dependente. Um uniforme militar ainda excita fortemente as emoções femininas.

84:3:5 9344 Entre as raças mais avançadas, as mulheres não são tão grandes nem tão fortes quanto os homens. A mulher, sendo a mais fraca, adquiriu, portanto, mais tato; muito cedo ela aprendeu a negociar com os seus encantos sexuais. Ela tornou-se mais alerta e conservadora do que o homem, embora ligeiramente menos profunda. O homem era superior à mulher no campo de batalha e na caça; mas, em casa, geralmente, a mulher assumia o comando, mesmo entre os mais primitivos dos homens.

84:3:6 9345 Os pastores contavam com os seus rebanhos para o sustento, mas, durante as idades dos pastores, a mulher devia ainda prover o alimento vegetal. O homem primitivo fugia do trabalho com o solo; pois este era de todo muito pacífico, pouco aventuresco. E também havia uma velha superstição de que as mulheres cultivavam as melhores plantas; elas eram mães. Em muitas tribos retrógradas de hoje, os homens cozinham a carne e as mulheres os vegetais e, quando as tribos primitivas da Austrália estão em deslocamento, mulheres nunca vão à caça e um homem nunca pára para extrair uma raiz.

84:3:7 9346 A mulher sempre teve de trabalhar; ao menos até os tempos modernos, a mulher tem sido uma verdadeira produtora. O homem, em geral, escolheu o caminho mais fácil, e essa desigualdade tem existido durante toda a história da raça humana. A mulher tem sempre sido a besta de carga, carregando as propriedades da família e atendendo aos filhos, deixando assim as mãos dos homens livres para lutar e caçar.

84:3:8 9347 A primeira liberação da mulher veio quando o homem consentiu em cultivar o solo, concordando em fazer aquilo que até então havia sido considerado como trabalho da mulher. Um grande passo à frente foi dado quando se deixou de matar prisioneiros masculinos, passando-se a escravizá-los como agricultores. Isso trouxe a liberação da mulher, de um modo tal que ela podia devotar mais do seu tempo às coisas do lar e à educação dos filhos.

84:3:9 9348 A provisão do leite para os pequenos levou a um desmame mais precoce dos bebês e, conseqüentemente, as mães, algumas vezes livres da sua esterilidade temporária, podiam ser levadas à concepção de mais filhos, ao mesmo tempo em que o uso do leite das vacas e das cabras reduziu, em grande parte, a mortalidade infantil. Antes da era pastoral da sociedade. as mães tinham o hábito de amamentar seus filhos até os quatro ou cinco anos de idade.

84:3:10 9349 A redução da freqüência das guerras primitivas diminuiu em muito a disparidade na divisão do trabalho baseada no sexo. As mulheres, entretanto, ainda tinham de fazer o verdadeiro trabalho, enquanto o homem cuidava das tarefas temporárias. Nenhum campo ou vilarejo podia ser deixado sem guarda dia e noite; contudo, mesmo essa tarefa foi aliviada pela domesticação do cão. Em geral, o advento da agricultura aumentou o prestígio da mulher e a sua posição social, ou ao menos isso foi verdadeiro até a época em que o próprio homem se tornou um agricultor. E, tão logo o homem dedicou-se ao cultivo do solo, imediatamente seguiram-se grandes aperfeiçoamentos nos métodos da agricultura, que perduraram por sucessivas gerações. Na caça e na guerra, o homem tinha aprendido a valorizar a organização e introduziu essas técnicas na indústria e, mais tarde, ao assumir muitos dos trabalhos das mulheres, ele aperfeiçoou, em muito, os métodos desregrados nos trabalhos feitos por elas.

4. O STATUS DA MULHER NA SOCIEDADE PRIMITIVA


84:4:1 9351 Geralmente falando, o status da mulher em qualquer idade dá bem a medida do progresso evolucionário do matrimônio como uma instituição social e, nessa mesma medida, o progresso do matrimônio em si é uma forma razoavelmente acurada de registro dos avanços da civilização humana.

84:4:2 9352 O status da mulher tem sempre sido um paradoxo social; ela tem sempre sido uma manipuladora astuta dos homens; tem sempre capitalizado o instinto sexual mais forte do homem, segundo os seus próprios interesses e para o seu próprio avanço. Ao valorizar sutilmente os próprios encantos sexuais, tem sido capaz de exercer freqüentemente um poder dominador sobre o homem, mesmo quando mantida por ele sob uma abjeta escravidão.

84:4:3 9353 A mulher primitiva não era uma amiga para o homem, nem um amor, uma amante ou uma parceira, era antes um objeto de propriedade, uma serva ou uma escrava e, mais tarde, uma sócia econômica, um brinquedo e uma geradora de filhos. Entretanto, relações sexuais convenientes e satisfatórias sempre envolveram o elemento de escolha e de cooperação da parte da mulher, e isso tem sempre dado às mulheres inteligentes uma influência considerável na sua posição imediata pessoal, a despeito da posição social do seu sexo. Mas a desconfiança masculina e a suspeita não foram aliviadas pelo fato de que as mulheres foram sempre obrigadas a recorrer à esperteza, nos seus esforços para minorar a própria escravidão.

84:4:4 9354 Os sexos têm tido grandes dificuldades para compreenderem um ao outro. O homem achou difícil compreender a mulher, considerando-a com uma mistura estranha de desconfiança ignorante e de fascinação amedrontada, na suspeita e no desprezo. Muitas tradições tribais e raciais remontam os problemas a Eva, a Pandora, ou a alguma outra representante da feminilidade. E tais narrativas foram sempre distorcidas de modo a fazer parecer que a mulher trouxe o mal ao homem; e tudo isso indica que a desconfiança que se teve da mulher já foi universal. Entre as razões citadas para sustentar-se um sacerdócio celibatário, a principal foi a baixeza da mulher. O fato de que as supostas bruxas, na sua maioria, eram mulheres, não melhora a antiga reputação desse sexo.

84:4:5 9355 Os homens têm, há muito, considerado as mulheres como peculiares, anormais mesmo. Eles acreditaram até que as mulheres não tivessem almas; e por isso lhes era negado ter nomes. Durante os tempos primitivos existiu um grande medo da primeira relação sexual com uma mulher. Por essa razão, tornou-se costume que um sacerdote tivesse a primeira relação com uma virgem. Até mesmo a sombra de uma mulher era considerada perigosa.

84:4:6 9356 Outrora, considerava-se em geral que a gravidez tornava a mulher perigosa e impura. E muitos costumes tribais ditavam que a mãe devia passar por longas cerimônias de purificação depois do nascimento de um filho. Exceto em grupos nos quais o marido participava do parto, permanecendo deitado, a mãe grávida era evitada e deixada a sós. Os antigos evitavam até mesmo que a criança nascesse na casa. Finalmente, foi permitido que as mulheres mais velhas ajudassem a mãe durante o trabalho de parto; e essa prática deu origem à profissão de parteira. Durante as dores, falava-se e fazia-se um punhado de coisas tolas, no esforço de facilitar o parto. Era costume aspergir água benta no recém-nascido, para impedir a interferência de fantasmas.

84:4:7 9357 Em meio às tribos não miscigenadas, o nascimento de um filho era relativamente simples, tomando apenas duas ou três horas; raramente é tão simples assim, nas raças miscigenadas. Se uma mulher morria no parto, especialmente durante o parto de gêmeos, acreditava-se que ela teria sido culpada de adultério espiritual. Mais tarde, as tribos mais elevadas encaravam a morte no parto como sendo uma vontade do céu; tais mães eram consideradas como tendo perecido por uma causa nobre.

84:4:8 9361 A chamada modéstia das mulheres para vestir-se, evitando mostrar o seu corpo, surgiu do medo mortal de ser observada, durante um período menstrual. Ser surpreendida nesse estado era um pecado grave, era a violação de um tabu. Sob os costumes dos tempos antigos, toda mulher, desde a adolescência até o fim de um período de gravidez, estava sujeita à quarentena familiar e social completa, por uma semana inteira a cada mês. Tudo em que ela tocasse, se assentasse ou sobre a qual deitasse ficava “maculado”. Por muito tempo, foi costume bater brutalmente em uma menina depois de cada período mensal, no esforço para tirar o espírito impuro do seu corpo. Todavia, quando uma mulher passava da idade da concepção, geralmente, era tratada com mais consideração, sendo-lhe atribuídos mais direitos e privilégios. Por causa de tudo isso, não era estranho que as mulheres fossem menosprezadas. Mesmo os gregos tinham a mulher na menstruação como uma das três grandes causas da impureza, as outras duas eram a carne de porco e o alho.

84:4:9 9362 Por mais tolas que essas noções antigas fossem, algum bem elas fizeram, pois davam às mulheres extenuadas, ao menos enquanto eram jovens, uma semana a cada mês de um descanso bem-vindo e de meditação proveitosa. Assim, elas podiam afiar a sua sabedoria para lidar com os seus companheiros masculinos, no restante do tempo. Essa quarentena das mulheres também protegia os homens de caírem nos excessos sexuais, contribuindo com isso, indiretamente, para a restrição da população e para aumentar o autocontrole.

84:4:10 9363 Um grande avanço foi feito quando foi negado ao homem o direito de matar a sua esposa à vontade. Do mesmo modo, um passo à frente foi dado quando foi permitido à mulher possuir os presentes de casamento. Mais tarde ela ganhou o direito legal de possuir, de controlar e mesmo de dispor da propriedade; mas, durante muito tempo, ela ficou despojada do direito de ter um posto, fosse na igreja, fosse no estado. A mulher tem sido sempre tratada mais ou menos como uma propriedade, até o século vinte depois de Cristo, e mesmo nele. Ela ainda não conseguiu liberar-se, em escala mundial, de estar em reclusão sob o controle do homem. Mesmo em meio a povos avançados, até mesmo as tentativas do homem de proteger a mulher têm sido sempre uma afirmação tácita da superioridade.

84:4:11 9364 As mulheres primitivas, todavia, não tinham piedade de si próprias, como as suas irmãs mais recentemente liberadas estão habituadas a ter. Elas eram, afinal, relativamente felizes e contentes; e não ousavam visualizar um modo melhor ou diferente de existir.

5. A MULHER, SOB OS COSTUMES EM DESENVOLVIMENTO


84:5:1 9365 Para a autoperpetuação a mulher é igual ao homem, mas, na parceria da automanutenção, ela trabalha com uma desvantagem clara, e esse obstáculo, sendo a maternidade forçada, apenas pode ser compensado pelos costumes esclarecidos, em uma civilização adiantada, e pelo senso crescente de justiça do homem.

84:5:2 9366 À medida que a sociedade evoluiu, os padrões sexuais tornaram-se mais importantes entre as mulheres, porque elas sofreram mais as conseqüências da transgressão dos costumes sexuais. Os padrões sexuais do homem melhoraram apenas tardiamente, em conseqüência do simples senso de justiça que a civilização demanda. A natureza nada sabe sobre a justiça – faz a mulher sofrer sozinha as dores do parto.

84:5:3 9367 A idéia moderna da igualdade dos sexos é bela e digna de uma civilização em progresso, mas não é encontrada na natureza. Quando uma força gera o seu próprio direito, o homem a impõe à mulher; quando a justiça, a paz e a eqüidade mais prevalecem, a mulher emerge gradualmente da escravidão e da obscuridade. A sua posição social tem variado, em geral, de modo inverso ao nível de militarização de qualquer nação ou época.

84:5:4 9371 O homem, todavia, nem consciente, nem intencionalmente, tirou os direitos da mulher para, então, gradual e relutantemente, dá-los de volta a ela. Tudo isso aconteceu como um episódio inconsciente e não planejado na evolução social. Quando chegou, realmente, a época de a mulher desfrutar de mais direitos, ela os obteve, e de um modo totalmente independente da atitude consciente do homem. Lenta, mas seguramente, os costumes mudam, de modo a prover os ajustamentos sociais que são uma parte da evolução persistente da civilização. Os costumes em avanço, lentamente, proporcionaram às mulheres um tratamento cada vez melhor; as tribos que persistiram na crueldade para com elas não sobreviveram.

84:5:5 9372 Os adamitas e os noditas conferiam às mulheres um reconhecimento crescente, e os grupos que eram influenciados pelos anditas migrantes tinham a tendência a ser influenciados pelos ensinamentos edênicos sobre o lugar da mulher na sociedade.

84:5:6 9373 Os chineses primitivos e os gregos tratavam as mulheres melhor do que a maioria dos povos vizinhos. Mas os hebreus eram excessivamente desconfiados delas. A mulher, no Ocidente, tem tido uma ascensão difícil sob as doutrinas de Paulo, ligadas ao cristianismo, embora o cristianismo tenha avançado com os costumes ao impor obrigações sexuais mais estritas ao homem. O estado da mulher é quase desesperador, sob a degradação peculiar ligada a elas no maometismo, e ela é ainda mais maltratada sob os ensinamentos de várias outras religiões orientais.

84:5:7 9374 A ciência, não a religião, realmente emancipou a mulher; foi a fábrica moderna que a libertou amplamente dos confins do lar. As capacidades físicas do homem deixaram de ser um elemento vital essencial para o novo mecanismo de manutenção; e a ciência mudou de tal modo as condições de vida, que o poder do homem nunca mais seria tão superior ao poder da mulher.

84:5:8 9375 Essas mudanças tiveram a tendência de liberar a mulher da escravidão doméstica e trouxeram uma tal modificação de status que ela agora desfruta de um grau de liberdade pessoal e de determinação sexual que praticamente a iguala ao homem. Outrora, o valor de uma mulher consistia na sua capacidade de produzir alimento, mas as invenções e a riqueza capacitaram-na para criar um novo mundo no qual funcionar – as esferas da graça e do encanto. Assim, a indústria ganhou a sua luta inconsciente e involuntária na emancipação social e econômica da mulher. E novamente a evolução teve êxito em fazer o que nem mesmo a revelação conseguiu realizar.

84:5:9 9376 A reação dos povos esclarecidos contra os costumes injustos que regulamentaram sobre o lugar da mulher na sociedade, de fato, tem tido os seus extremos, tem oscilado, como o movimento de um pêndulo. Entre as raças industrializadas, ela tem recebido quase todos os direitos e desfruta da isenção de muitas obrigações, tais como o serviço militar. Cada facilidade na luta pela existência tem redundado na libertação da mulher, e ela tem-se beneficiado diretamente em cada avanço para a monogamia. O mais fraco sempre tem ganhos desproporcionais em cada ajuste dos costumes, na evolução progressiva da sociedade.

84:5:10 9377 Quanto aos ideais do casamento constituído de um casal único, a mulher finalmente ganhou o reconhecimento, a dignidade, a independência, a igualdade e a educação; todavia, será que ela se demonstrará digna de toda essa conquista nova e sem precedentes? A mulher moderna responderá a essa grande realização de libertação social com a indolência, a indiferença, a esterilidade e a infidelidade? Hoje, no século vinte, a mulher está sendo submetida ao teste mais crucial da sua longa existência no mundo!

84:5:11 9381 A mulher é a parceira igual do homem na reprodução racial e é, pois, de suma importância no desenvolvimento da evolução racial; por isso a evolução tem trabalhado cada vez mais para a realização dos direitos da mulher. Mas os direitos da mulher não são, de nenhum modo, os direitos do homem. A mulher não pode prosperar, tendo os direitos dos homens, mais do que o homem pode prosperar tendo os direitos das mulheres.

84:5:12 9382 Cada sexo tem a sua própria esfera distinta de existência, junto com os seus próprios direitos naquela esfera. Se a mulher aspira a desfrutar literalmente de todos os direitos do homem, então, mais cedo ou mais tarde, uma competição fria e sem piedade certamente substituirá o cavalheirismo e a consideração especial de que muitas mulheres agora desfrutam, e que tão recentemente ganharam dos homens.

84:5:13 9383 A civilização nunca pode obliterar o abismo de comportamento existente entre os sexos. De idade em idade, os costumes mudam, mas o instinto, nunca. A afeição materna inata nunca permitirá que a mulher emancipada se torne uma rival séria do homem na indústria. Para sempre, cada sexo permanecerá supremo no seu próprio domínio; domínio este determinado pela diferenciação biológica e pela dessemelhança mental.

84:5:14 9384 Cada sexo terá sempre a sua própria esfera especial, e, de quando em quando, ambos sobrepor-se-ão. Apenas socialmente os homens e as mulheres competem em termos de igualdade.

6. A PARCERIA DO HOMEM COM A MULHER


84:6:1 9385 O impulso da reprodução leva infalivelmente os homens e as mulheres a unirem-se para a autoperpetuação, mas, por si só, ele não assegura que permaneçam juntos, em cooperação mútua – na fundação de um lar.

84:6:2 9386 Todas as instituições humanas de êxito abrangem antagonismos de interesse pessoal, ajustados na harmonia para a prática do trabalho; e os trabalhos de casa não são exceção. O matrimônio, a base da edificação do lar, é a mais alta manifestação dessa cooperação entre antagonistas, que tão freqüentemente caracteriza os contatos da natureza e da sociedade. O conflito é inevitável. O acasalamento é inerente e é natural. O matrimônio, contudo, não é biológico; é sociológico. A paixão assegura que o homem e a mulher se reúnam, mas o instinto, menos forte, da paternidade e os costumes sociais mantêm-nos juntos.

84:6:3 9387 Se considerados praticamente, o macho e a fêmea são duas variedades distintas da mesma espécie; vivendo em associação próxima e íntima. Os seus pontos de vista e reações vitais são todos essencialmente diferentes; eles são totalmente incapazes de uma compreensão mútua, plena e real. Um entendimento completo entre os sexos não é alcançável.

84:6:4 9388 As mulheres parecem ter mais intuição do que os homens, mas parecem também ser um tanto menos lógicas. A mulher, contudo, tem sempre sido o esteio moral e tem tido a liderança espiritual da humanidade. É a mão que embala o berço e que ainda confraterniza com o destino.

84:6:5 9389 As diferenças de natureza, de reação, de ponto de vista e de pensamento, entre os homens e as mulheres, longe de ocasionar preocupação, deveriam ser consideradas como altamente benéficas à humanidade, tanto individual quanto coletivamente. Muitas ordens de criaturas do universo são criadas em fases duais de manifestação de personalidade. Essa diferença é descrita como o macho e a fêmea, entre os mortais, entre os Filhos Materiais e entre os midsonitas; entre os serafins, os querubins e os Companheiros Moronciais, tem sido denominada positiva ou ativa, e negativa ou reservada. Tais associações duais multiplicam grandemente a versatilidade e superam limitações inerentes, como o fazem algumas associações trinas no sistema Paraíso-Havona.

84:6:6 9391 Os homens e as mulheres necessitam uns dos outros, nas suas carreiras moronciais e espirituais, exatamente como nas suas carreiras mortais. As diferenças de ponto de vista entre o macho e a fêmea perduram mesmo além da primeira vida e durante as ascensões do universo local e do superuniverso. E, mesmo em Havona, os peregrinos que uma vez foram homens e mulheres ainda estarão ajudando-se mutuamente na ascensão até o Paraíso. Nunca, mesmo no Corpo de Finalidade, a criatura irá metamorfosear-se tanto, a ponto de obliterar os traços de personalidade que os humanos chamam de masculinos e de femininos; sempre essas duas variações básicas da humanidade continuarão a intrigar, a estimular, a encorajar e a ajudar-se mutuamente; sempre serão mutuamente dependentes da cooperação para a solução dos problemas desconcertantes do universo e para a superação das múltiplas dificuldades cósmicas.

84:6:7 9392 Embora os sexos nunca possam esperar entender-se mutuamente, eles são efetivamente complementares e, embora a cooperação seja com freqüência mais ou menos antagônica pessoalmente, ela é capaz de manter e de reproduzir a sociedade. O matrimônio é uma instituição destinada a compor as diferenças dos sexos, ao mesmo tempo em que efetua a continuação da civilização e assegura a reprodução da raça.

84:6:8 9393 O matrimônio é a mãe de todas as instituições humanas, pois conduz diretamente à fundação e à manutenção do lar, que é a base estrutural da sociedade. A família está vitalmente ligada ao mecanismo da autopreservação; é a única esperança de perpetuação da raça sob os costumes da civilização e ao mesmo tempo provê, de modo muito eficaz, algumas formas de autogratificação bastante satisfatórias. A família é a mais elevada realização puramente humana, combinando, como o faz, a evolução das relações biológicas do macho e da fêmea nas relações sociais entre o marido e a esposa.

7. OS IDEAIS DA VIDA FAMILIAR


84:7:1 9394 O acasalamento sexual é instintivo, os filhos são o resultado natural e, assim, a família automaticamente vem à existência. Tais como são as famílias da raça ou da nação, assim é a sociedade. Se as famílias são boas, do mesmo modo a sociedade o é. A grande estabilidade cultural do povo judeu e dos chineses repousa na força dos seus grupos familiares.

84:7:2 9395 O instinto que a mulher tem de amar as crianças, e de cuidar delas, conspirou para fazer da mulher a parte interessada em promover o casamento e a vida familiar primitiva. O homem foi forçado à edificação do lar apenas pela pressão dos costumes mais recentes e das convenções sociais; ele demorou a interessar-se pelo estabelecimento do matrimônio e do lar, porque o ato sexual não lhe impõe conseqüências biológicas.

84:7:3 9396 A associação sexual é natural, mas o matrimônio é social, e tem sido sempre regulado pelos costumes. Os costumes (religiosos, morais e éticos), junto com a propriedade, o orgulho e o cavalheirismo, estabilizam as instituições do matrimônio e da família. Sempre que os costumes flutuam, há uma flutuação na estabilidade da instituição do lar-matrimônio. O matrimônio está atualmente passando da era da propriedade para a era pessoal. Anteriormente, o homem protegia a mulher porque ela era uma posse sua, e ela lhe obedecia pela mesma razão. Independentemente dos seus méritos, esse sistema trouxe a estabilidade. Agora, a mulher não mais é encarada como uma propriedade, e estão emergindo novos costumes, destinados a estabilizar a instituição do matrimônio-lar:

84:7:4 9397 1. O novo papel da religião – o ensinamento de que a experiência de progenitores é essencial, a idéia de procriar cidadãos cósmicos, a compreensão ampliada do privilégio da procriação – de dar filhos ao Pai.

84:7:5 9401 2. O novo papel da ciência – a procriação está tornando-se mais e mais voluntária, sujeita ao controle do homem. Nos tempos antigos, a falta de compreensão assegurava o aparecimento de filhos, na ausência de qualquer desejo de tê-los.

84:7:6 9402 3. A nova função das atrações do prazer – isso introduz um novo fator à sobrevivência racial; o homem antigo levava os filhos não desejados à morte; os modernos recusam-se a concebê-los.

84:7:7 9403 4. A elevação do instinto de paternidade. Cada geração agora tende a eliminar, da corrente de reprodução da raça, aqueles indivíduos para os quais o instinto paternal não é forte o suficiente para assegurar a procriação dos filhos, os pais prospectivos da geração seguinte.

84:7:8 9404 Contudo, o lar como uma instituição, uma parceria entre um homem e uma mulher, data mais especificamente dos dias da Dalamátia, há cerca de meio milhão de anos; as práticas monogâmicas de Andon e dos seus descendentes imediatos haviam sido abandonadas tempos atrás. Contudo, não havia muito para se orgulhar da vida familiar, antes dos dias dos noditas e dos posteriores adamitas. Adão e Eva exerceram uma influência duradoura sobre toda a humanidade; pela primeira vez, na história do mundo, os homens e as mulheres foram vistos trabalhando lado a lado no Jardim. O ideal Edênico de toda uma família de jardineiros era um novo ideal em Urântia.

84:7:9 9405 A família primitiva englobava um grupo ligado pelo trabalho, incluindo os escravos, todos morando em uma única habitação. O matrimônio e a vida familiar não têm sempre sido idênticos, mas, por necessidade, ambos têm estado estreitamente relacionados. A mulher sempre quis a família individualizada e, finalmente, ela ganhou o caminho para tanto.

84:7:10 9406 O amor da progênie é quase universal e tem um valor especial para a sobrevivência. Os antigos sempre sacrificavam os interesses da mãe pelo bem-estar do filho; uma mãe esquimó, ainda hoje, lambe o seu bebê, em vez de lavá-lo. As mães primitivas, contudo, apenas nutriam e cuidavam dos seus filhos quando eram muito jovens e, como os animais, descartavam-nos tão logo cresciam. As ligações humanas duradouras e contínuas nunca têm sido baseadas apenas em afetos biológicos. Os animais amam os seus filhos; o homem – o homem civilizado – ama os filhos dos seus filhos. Quanto mais elevada for a civilização, maior o contentamento dos pais com o progresso e o êxito dos filhos; assim, vem à existência a realização nova e mais elevada do orgulho do nome.

84:7:11 9407 As famílias grandes, entre os povos antigos, não eram necessariamente sentimentais. Ter muitos filhos era uma coisa desejada, porque:

84:7:12 9408 1. Eles eram valiosos como trabalhadores.

84:7:13 9409 2. Os filhos eram a segurança para a velhice.

84:7:14 94010 3. As filhas eram vendáveis.

84:7:15 94011 4. O orgulho da família exigia que o nome fosse expandido.

84:7:16 94012 5. Os filhos proporcionavam proteção e defesa.

84:7:17 94013 6. O medo dos fantasmas gerava o pavor da solidão.

84:7:18 94014 7. Algumas religiões exigiam uma progênie.

84:7:19 94015 Os adoradores dos ancestrais viam a ausência de filhos como a calamidade suprema para todo o tempo e para a eternidade. Eles desejavam, acima de tudo o mais, ter filhos que oficiassem nas festas depois da morte, para oferecerem os sacrifícios exigidos pelo progresso dos fantasmas na terra dos espíritos.

84:7:20 9411 Em meio aos selvagens antigos, a disciplina dos filhos começava muito cedo; e a criança compreendia também cedo que a desobediência significava o fracasso, ou mesmo a morte, exatamente como acontecia aos animais. É a proteção que a civilização dá à criança, contra as conseqüências naturais de uma conduta tola, que contribui tanto para a insubordinação moderna.

84:7:21 9412 As crianças esquimós progridem com tão pouca disciplina e correções, simplesmente porque são naturalmente como animaizinhos dóceis; os filhos, tanto dos homens vermelhos quanto dos amarelos, são igualmente fáceis. Todavia, nas raças que contêm herança andita, as crianças não são tão plácidas; tais jovens mais imaginativos e aventureiros exigem mais educação e disciplina. Os problemas modernos da educação das crianças tornaram-se crescentemente difíceis, por causa de:

84:7:22 9413 1. Um grande grau de mistura racial.

84:7:23 9414 2. Uma educação artificial e superficial.

84:7:24 9415 3. A incapacidade de a criança adquirir cultura imitando os pais – os pais ficam ausentes do convívio da família por muito tempo.

84:7:25 9416 As idéias antigas de disciplina familiar eram biológicas, vinham da compreensão de que os pais eram os criadores da existência da criança. Os ideais avançados da vida familiar estão levando ao conceito de que trazer uma criança ao mundo, em vez de conferir certos direitos aos pais, implica a responsabilidade suprema da existência humana.

84:7:26 9417 A civilização considera os pais como assumindo todos os deveres, a criança como tendo todos os direitos. O respeito da criança pelos seus pais surge, não do conhecimento da obrigação que é gerada pela procriação parental, mas cresce naturalmente, como resultado dos cuidados, da educação e do afeto, demonstrados amorosamente na assistência dada à criança para vencer a batalha da vida. Os verdadeiros pais estão empenhados em uma ministração de serviço contínua, que a criança sábia acaba por reconhecer e apreciar.

84:7:27 9418 Na era industrial e urbana atual, a instituição do matrimônio está evoluindo ao longo de linhas econômicas novas. A vida familiar tornou-se cada vez mais cara, enquanto as crianças, que outrora eram um ativo financeiro, passaram a ser uma responsabilidade econômica. Contudo, a segurança da própria civilização ainda repousa na disposição crescente que uma geração tem de investir no bem-estar das próximas e futuras gerações. E qualquer tentativa de transferir a responsabilidade dos pais para o estado ou para a igreja revelar-se-á suicida para o bem-estar e o avanço da civilização.

84:7:28 9419 O matrimônio com filhos e a conseqüente vida familiar estimulam os potenciais mais elevados na natureza humana e, simultaneamente, fornecem a via ideal de expressão desses atributos vivificados da personalidade mortal. A família provê a perpetuação biológica da espécie humana. O lar é a arena social natural em que a ética da irmandade consangüínea pode ser compreendida pela criança em crescimento. A família é a unidade fundamental da fraternidade, na qual os pais e os filhos aprendem as lições da paciência, do altruísmo, da tolerância e da indulgência, que são tão essenciais para a realização da irmandade entre todos os homens.

84:7:29 94110 A sociedade humana seria aperfeiçoada em muito se as raças civilizadas retornassem de um modo mais geral às práticas anditas de um conselho familiar. Os anditas não mantinham a forma patriarcal ou autocrática de governo familiar. Eles eram bastante fraternos e associativos, discutindo livre e francamente qualquer proposta ou regulamentação de natureza familiar. E eram fraternais de um modo ideal, em todo o seu governo familiar. Numa família ideal, o afeto filial e paternal são aumentados pela devoção fraterna.

84:7:30 9421 A vida familiar é a progenitora da verdadeira moralidade, é o ancestral da consciência da lealdade ao dever. As associações forçadas de vida familiar estabilizam a personalidade e estimulam o seu crescimento por meio da obrigação de um ajuste indispensável às outras personalidades diversas. E ainda mais, uma verdadeira família – uma boa família – revela aos pais procriadores a atitude do Criador para com os seus filhos, ao mesmo tempo em que esses verdadeiros pais transmitem aos seus filhos a primeira de uma longa série de revelações ascendentes do amor do Pai, do Paraíso, de todos os filhos do universo.

8. OS PERIGOS DA AUTOGRATIFICAÇÃO


84:8:1 9422 A grande ameaça contra a vida familiar é a inquietante maré montante de autogratificação, a mania moderna do prazer. O incentivo primordial ao matrimônio costumava ser econômico; a atração sexual era secundária. O matrimônio, baseado na automanutenção, conduziu à autopreservação e, concomitantemente, trouxe uma das formas mais desejáveis de autogratificação. É a única instituição da sociedade humana que engloba todos os três grandes incentivos da vida.

84:8:2 9423 Originalmente, a propriedade era a instituição básica da automanutenção, enquanto o matrimônio funcionava como a instituição de autoperpetuação singular. Apesar de a satisfação trazida pela comida, pelos jogos e pelo humor, bem como o deleite do sexo periódico serem meios de autogratificação, continua sendo um fato que os costumes em evolução houvessem fracassado em edificar qualquer outra instituição de autogratificação. E é devido a esse fracasso, de fazer evoluir técnicas especializadas de desfrutes agradáveis, que todas as instituições humanas estão completamente impregnadas dessa busca do prazer. A acumulação de propriedades está-se tornando um instrumento para aumentar todas as formas de autogratificação e, ao mesmo tempo, o matrimônio muitas vezes é visto apenas como um meio para o prazer. E essa indulgência excessiva, essa mania de prazer, tão amplamente disseminada, constitui agora a maior ameaça jamais dirigida à instituição evolucionária social da vida familiar: o lar.

84:8:3 9424 A raça violeta introduziu uma característica nova na experiência ainda imperfeitamente realizada da humanidade: o instinto lúdico, combinado ao senso de humor. Ele existia, em uma certa medida, entre os sangiques e os andonitas, mas a linhagem Adâmica elevou essa propensão primitiva até o auge do potencial do prazer, uma nova e glorificada forma de autogratificação. O tipo básico de autogratificação, afora o apaziguamento da fome, é a gratificação sexual, e essa forma de prazer sensual foi enormemente elevada com a mistura dos sangiques e dos anditas.

84:8:4 9425 Há um perigo real na combinação da inquietação, da curiosidade, da aventura e do abandono ao prazer, característicos das raças pós-anditas. A fome da alma não pode ser satisfeita por meio dos prazeres físicos; o amor do lar e das crianças não aumenta com uma busca pouco sábia do prazer. Embora possais exaurir os recursos da arte, da cor, do som, do ritmo, da música e dos adornos pessoais, não podeis, com isso, esperar elevar a alma ou nutrir o espírito. A vaidade e a moda nada podem conferir à edificação do lar e à educação dos filhos; o orgulho e a rivalidade são impotentes para elevar as qualidades de sobrevivência das gerações que se sucedem.

84:8:5 9426 Todos os seres celestes em avanço desfrutam do repouso e da ministração dos diretores da reversão. Todos os esforços para obter diversões sadias e para praticar jogos que elevam são saudáveis; o sono restaurador, o repouso, a recreação e todos os passatempos que evitam o enfado da monotonia valem a pena. Os jogos competitivos, as narrativas de histórias e mesmo o gosto da boa comida podem-se constituir em formas de autogratificação. (Quando usais o sal para dar sabor à comida, pausai e considerai que, durante quase um milhão de anos, o homem apenas podia obter o sal mergulhando o seu alimento nas cinzas. )

84:8:6 9431 Que o homem goze a vida; que a raça humana encontre o prazer de mil e uma maneiras; que a humanidade evolucionária explore todas as formas da autogratificação legítima, fruto da longa luta biológica de elevação. O homem fez por onde ganhar alguns dos seus júbilos e prazeres atuais. Prestai, porém, muita atenção à meta do destino! Os prazeres são suicidas, de fato, se tiverem êxito em destruir a propriedade, que se tornou a instituição da automanutenção; e as autogratificações terão de fato custado um preço fatal, se acarretarem o colapso do matrimônio, a decadência da vida familiar e a destruição do lar – a aquisição evolucionária suprema do homem, e a única esperança de sobrevivência da civilização.

84:8:7 9432 [Apresentado pelo Comandante dos Serafins, estacionado em Urântia.]
DOCUMENTO 85

AS ORIGENS DA ADORAÇÃO
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A religião primitiva teve uma origem biológica, um desenvolvimento evolucionário natural, independentemente das conjunções morais e de todas as influências espirituais. Os animais superiores têm medos, mas não têm ilusões e, conseqüentemente, nenhuma religião. O homem cria as suas religiões primitivas dos próprios temores e por meio das suas ilusões.

85:0:2 9442 Na evolução da espécie humana, a adoração, nas suas manifestações primitivas, apareceu muito antes que a mente do homem fosse capaz de formular os conceitos mais complexos de vida que agora, e futuramente, merecem ser chamados de religião. A religião primitiva tinha uma natureza totalmente intelectual e era baseada inteiramente em circunstâncias de relacionamento. Os objetos da adoração eram sempre sugestivos; consistiam de coisas da natureza que estavam à mão, ou que ocupavam lugar bem comum na experiência dos urantianos primitivos de mentes simples.

85:0:3 9443 Ao mesmo tempo em que a religião evoluiu além da adoração da natureza, ela adquiriu raízes de origem espiritual, entretanto, foi ainda sempre condicionada pelo ambiente social. À medida que se desenvolveu a adoração da natureza, o homem imaginou conceitos de uma divisão do trabalho para o mundo supramortal; havia espíritos da natureza para os lagos, as árvores, as cachoeiras, a chuva e centenas de outros fenômenos terrestres comuns.

85:0:4 9444 Em um momento ou em outro, o homem mortal adorou tudo sobre a face da Terra, incluindo a si próprio. Ele adorou também tudo o que fosse imaginável, no céu e sob a superfície da Terra. O homem primitivo temia todas as manifestações de poder; e adorou a todos os fenômenos naturais que não podia compreender. As forças naturais poderosas, tais como as tempestades, as enchentes, os terremotos, os deslizamentos de terra, os vulcões, o fogo, o calor e o frio, e a sua observação, impressionaram em muito a mente em expansão do homem. As coisas inexplicáveis da vida ainda são chamadas de “atos de Deus” e de “dispensações misteriosas da Providência”.

1. A ADORAÇÃO DE PEDRAS E MONTANHAS


85:1:1 9445 O primeiro objeto a ser adorado pelo homem em evolução foi uma pedra. Hoje, o povo Kateri, do sul da Índia, ainda adora uma pedra, como o fazem numerosas tribos no norte da Índia. Jacó dormiu sobre uma pedra porque ele a venerava; e até mesmo a ungiu. Raquel escondia um bom número de pedras sagradas na sua tenda.

85:1:2 9446 As pedras primeiro impressionaram o homem primitivo, por serem extraordinárias, em vista do modo pelo qual tão subitamente apareciam na superfície de um campo cultivado ou de um pasto. Os homens não levavam em conta a erosão, nem os resultados dos arados sobre o solo. As pedras também impressionaram muito aos povos primitivos, pela sua freqüente semelhança com animais. A atenção do homem civilizado detém-se em numerosas formações de pedras, nas montanhas que tanto se assemelham às faces de animais e mesmo de homens. Contudo, a influência mais profunda foi exercida pelos meteoros que os humanos primitivos viam entrar na atmosfera, em uma grandiosidade flamejante. A estrela cadente era atemorizante para o homem primitivo, que acreditava facilmente que aqueles riscos flamejantes marcavam a passagem de um espírito a caminho da Terra. Não é de causar surpresa que os homens fossem levados a adorar tais fenômenos, especialmente quando descobriram subseqüentemente os meteoros. E isso levou a uma reverência ainda maior a todas as outras pedras. Em Bengala muitos adoram um meteoro que caiu na Terra em 1 880 d. C.

85:1:3 9451 Todos os clãs e tribos antigas tinham as suas pedras sagradas, e a maior parte dos povos modernos manifesta uma certa veneração por alguns tipos de pedras – as suas jóias. Um grupo de cinco pedras foi reverenciado na Índia; na Grécia, foi um agrupamento de trinta delas; em meio aos homens vermelhos, foi comum um círculo de pedras. Os romanos sempre atiravam uma pedra para o ar, quando invocavam Júpiter. Na Índia, até hoje, uma pedra pode ser usada como testemunha. Em algumas regiões, uma pedra pode ser empregada como um talismã da lei, e um transgressor pode ser levado ao tribunal pelo seu prestígio. Todavia, os simples mortais nem sempre identificam a Deidade com um objeto de cerimônia reverente. Tais fetiches são, muitas vezes, meros símbolos do objeto real da adoração.

85:1:4 9452 Os antigos tinham uma consideração peculiar pelos orifícios nas pedras. Supunha-se que essas rochas porosas fossem inusitadamente eficazes para curar doenças. As orelhas não eram perfuradas para o porte de pedras, mas as pedras eram colocadas ali para manter os furos das orelhas abertos. Mesmo nos tempos modernos, as pessoas supersticiosas fazem furos nas moedas. Na África, os nativos fazem grande alarde dos seus fetiches de pedras. De fato, em meio a todas as tribos e povos atrasados, as pedras são ainda mantidas em uma veneração supersticiosa. A adoração das pedras ainda agora está muito disseminada por todo o mundo. A pedra tumular é um símbolo sobrevivente das imagens e dos ídolos esculpidos na pedra, em vista das crenças nos fantasmas e nos espíritos dos companheiros que se foram.

85:1:5 9453 A adoração de colinas veio depois da adoração da pedra, e as primeiras colinas a serem veneradas foram grandes formações de rochas. Em seguida, tornou-se hábito acreditar que os deuses habitavam nas montanhas, de um tal modo que as altas elevações de terras eram adoradas por mais essa razão. Com o passar do tempo, certas montanhas eram associadas a certos deuses e, portanto, tornavam-se sagradas. Os aborígines ignorantes e supersticiosos acreditavam que as cavernas levavam ao submundo, com os seus espíritos e demônios malignos, em contraste com as montanhas, que eram identificadas com os conceitos, de um desenvolvimento mais recente, das deidades e dos espíritos bons.

2. A ADORAÇÃO DE PLANTAS E ÁRVORES


85:2:1 9454 As plantas primeiro foram temidas e depois adoradas, por causa dos líquidos intoxicantes que se derivavam delas. O homem primitivo acreditava que a intoxicação fazia com que alguém se tornasse divino. Supunham haver algo de inusitado e sagrado em tal experiência. Mesmo nos tempos modernos, o álcool é conhecido como “espírito”.

85:2:2 9455 O homem primitivo via a semente germinando com um temor e um respeito supersticioso. O apóstolo Paulo não foi o primeiro a retirar lições espirituais profundas da semente germinando, e a pregar crenças religiosas sobre ela.

85:2:3 9456 Os cultos de adoração de árvore estão nos grupos das religiões mais antigas. Todos os casamentos primitivos eram feitos sob as árvores e, quando as mulheres desejavam ter filhos, algumas vezes iam às florestas para abraçar afetuosamente um robusto carvalho. Muitas plantas e árvores foram veneradas pelos seus poderes medicinais, reais ou imaginários. O selvagem acreditava que todos os efeitos químicos fossem devidos à atividade direta de forças sobrenaturais.

85:2:4 9457 As idéias sobre os espíritos das árvores variavam muito entre as tribos e raças diferentes. Algumas árvores eram habitadas por espíritos afáveis; outras abrigavam os espíritos cruéis e enganosos. Os finlandeses acreditavam que a maior parte das árvores era ocupada por espíritos bons. Os suíços há muito desconfiavam das árvores, acreditando que continham espíritos traiçoeiros. Os habitantes da Índia e da Rússia Oriental consideravam os espíritos das árvores como sendo cruéis. Os patagônios ainda adoram as árvores, como o fizeram os semitas primitivos. Muito depois que os hebreus cessaram de adorar as árvores, eles continuaram a venerar as suas várias deidades nos bosques. Exceto na China, houve um culto universal à árvore da vida.

85:2:5 9461 A crença de que a água, bem como os metais preciosos, debaixo da superfície da Terra, podem ser detectados por um ramo de madeira adivinhatório é uma lembrança dos antigos cultos às árvores. O mastro de Primriro de maio, a árvore de Natal e a prática supersticiosa de bater na madeira perpetuam alguns dos antigos costumes de adoração das árvores e dos seus cultos mais recentes.

85:2:6 9462 Muitas dessas formas mais primitivas de veneração da natureza combinaram-se com as técnicas de adoração posteriores, em evolução, mas os tipos mais primitivos na adoração, ativados pelos espíritos ajudantes da mente, estavam funcionando muito antes que a natureza religiosa recém-despertada da humanidade se tornasse plenamente sensível ao estímulo das influências espirituais.

3. A ADORAÇÃO DE ANIMAIS


85:3:1 9463 O homem primitivo tinha um sentimento peculiar e fraternal para com os animais superiores. Os seus ancestrais haviam vivido com eles e haviam, até mesmo, se acasalado com eles. No sul da Ásia acreditou-se primitivamente que as almas dos homens voltavam à Terra, na forma animal. Essa crença era um remanescente da prática ainda mais primitiva de adorar os animais.

85:3:2 9464 Os homens primitivos reverenciavam os animais pelo seu poder e a sua astúcia. Eles julgavam que o apurado sentido do olfato e da visão de certas criaturas fosse um sinal de orientação espiritual. Os animais têm sido adorados por uma raça ou por outra, em um momento ou em outro. Entre esses objetos de adoração, estavam criaturas que foram consideradas como meio humanas e meio animais, tais como o centauro e a sereia.

85:3:3 9465 Os hebreus adoravam serpentes até os dias do rei Ezequias, e os indianos ainda mantêm relações amigáveis com as suas cobras caseiras. A adoração chinesa ao dragão é um remanescente dos cultos das cobras. A sabedoria da serpente era um símbolo da medicina grega e é ainda empregado como um emblema pelos médicos modernos. A arte do encantamento das cobras tem sido transmitida desde a época das xamãs femininas do culto do amor das cobras, as quais, como resultado das picadas diárias das cobras, tornaram-se imunes; de fato, se tornaram verdadeiras dependentes do veneno sem o qual não podiam viver.

85:3:4 9466 A adoração dos insetos e de outros animais foi promovida por uma má interpretação da regra dourada – de fazer aos outros (toda a forma de vida) como gostaríeis que fosse feito a vós. Os antigos, certa vez, acreditaram que todos os ventos eram produzidos pelas asas de pássaros e, por isso, tanto temiam como adoravam todas as criaturas com asas. Os nórdicos primitivos julgavam que os eclipses eram causados por um lobo que devorara um pedaço do sol ou da lua. Os hindus freqüentemente mostram Vishnu com uma cabeça de cavalo. Muitas vezes, o símbolo de um animal representa um deus esquecido ou um culto extinto. Primitivamente, na religião evolucionária, o cordeiro tornou-se o animal típico do sacrifício, e a pomba, o símbolo da paz e do amor.

85:3:5 9467 Na religião, o simbolismo pode ser bom ou mau, na mesma medida em que o símbolo substitui ou não a idéia original adorada. E o simbolismo não deve ser confundido com a idolatria direta, na qual o objeto material é direta e factualmente adorado.

4. A ADORAÇÃO DOS ELEMENTOS


85:4:1 9468 A humanidade tem adorado a terra, o ar, a água e o fogo. As raças primitivas veneraram fontes e adoraram rios. E, ainda agora, na Mongólia, floresce o culto a um rio importante. O batismo tornou-se um cerimonial religioso na Babilônia, e os gregos praticavam o ritual anual do banho. Era fácil para os antigos imaginar que os espíritos residiam nas nascentes borbulhantes, nas fontes efusivas, nos rios fluentes e nas torrentes intensas. As águas em movimento impressionavam vividamente essas mentes simples, que acreditavam na animação dos espíritos e no poder sobrenatural. Algumas vezes, a um homem que se afogava era negado o socorro, por medo de ofender algum deus do rio.

85:4:2 9471 Muitas coisas e numerosos acontecimentos têm funcionado como estímulos religiosos para povos diferentes, em épocas diferentes. Um arco-íris ainda é adorado por muitas das tribos das montanhas na Índia. Tanto na Índia quanto na África, o arco-íris é considerado como sendo uma cobra celestial gigantesca; os hebreus e os cristãos consideram-no o “arco da promessa”. Do mesmo modo, influências consideradas como benéficas, em uma parte do mundo, podem ser consideradas malignas em outras regiões. O vento oriental é um deus na América do Sul, pois traz a chuva; na Índia, é um demônio, porque traz a poeira e causa a seca. Os beduínos antigos acreditavam que um espírito da natureza produzia os redemoinhos de areia e, mesmo na época de Moisés, a crença em espíritos da natureza era forte o suficiente a ponto de assegurar a sua perpetuação na teologia hebraica, como anjos do fogo, da água e do ar.

85:4:3 9472 As nuvens, a chuva e o granizo têm sido todos temidos e adorados por numerosas tribos primitivas e por muitos dos cultos primitivos da natureza. As tempestades de vento com trovões e relâmpagos aterrorizavam o homem primitivo. Tão impressionado ele ficava com as perturbações dos elementos, que o trovão era considerado a voz de um deus irado. A adoração do fogo e o temor dos relâmpagos eram ligados um ao outro e eram bem disseminados entre muitos grupos primitivos.

85:4:4 9473 O fogo esteve associado à magia nas mentes dos mortais dominados pelo medo. Um devoto da magia lembrará vividamente de um resultado por acaso positivo, na prática das suas fórmulas mágicas, ao mesmo tempo em que ele se esquece, indiferentemente, de uma série de resultados negativos, de fracassos absolutos. A reverência ao fogo atingiu o seu apogeu na Pérsia, onde perdurou por muito tempo. Algumas tribos adoravam o fogo como uma deidade em si; outras reverenciavam-no como o símbolo flamejante do espírito da purificação e da purgação das suas deidades veneradas. As virgens vestais eram encarregadas do dever de vigiar os fogos sagrados; e as velas, no século vinte, ainda queimam como uma parte do ritual de muitos serviços religiosos.

5. A ADORAÇÃO DOS CORPOS CELESTES


85:5:1 9474 A adoração de rochas, de montanhas, de árvores e de animais desenvolveu-se naturalmente por meio da veneração amedrontada dos elementos, até a deificação do sol, da lua e das estrelas. Na Índia e em outros lugares, as estrelas eram consideradas como as almas glorificadas de grandes homens que haviam partido da vida na carne. Os cultuadores caldeus das estrelas consideravam-se como sendo os filhos do pai-céu e da mãe-terra.

85:5:2 9475 A adoração da lua precedeu a adoração do sol. A veneração da lua esteve no seu auge durante a era da caça, enquanto a adoração do sol tornou-se a principal cerimônia religiosa das idades agriculturais subseqüentes. A adoração solar primeiro arraigou-se extensivamente na Índia, e ali perdurou por mais tempo. Na Pérsia, a veneração do sol deu origem ao culto mitraico posterior. Entre muitos povos, o sol era considerado o ancestral dos seus reis. Os caldeus colocavam o sol no centro dos “sete círculos do universo”. Mais tarde, as civilizações honraram o sol, dando o seu nome ao primeiro dia da semana.

85:5:3 9476 Supunha-se que o deus do sol fosse o pai místico dos filhos do destino, nascidos de uma virgem, os quais, de tempos em tempos, se outorgavam como salvadores das raças favorecidas. Esses infantes sobrenaturais eram sempre encontrados, à deriva, em algum rio sagrado, para serem resgatados de um modo extraordinário, depois do que eles cresceriam para tornar-se personalidades miraculosas e os libertadores dos seus povos.

6. A ADORAÇÃO DO HOMEM


85:6:1 9481 Tendo adorado tudo o mais sobre a face da Terra, e nos céus acima, o homem não hesitou em honrar a si próprio com tal adoração. O selvagem de mente simples não faz distinção clara entre as bestas, os homens e os deuses.

85:6:2 9482 O homem primitivo tinha como supra-humanas todas as pessoas inusitadas e, assim, ele temia tais seres, a ponto de ter por eles um respeito reverente; em uma certa medida, ele os adorava literalmente. Até o fato de dar irmãos gêmeos à luz era considerado ou de muita sorte ou de muita falta de sorte. Os lunáticos, os epiléticos e os de mente débil eram freqüentemente adorados pelos seus semelhantes de mentes normais, que acreditavam que tais seres anormais eram habitados pelos deuses. Sacerdotes, reis e profetas foram adorados; os homens sagrados de outrora eram considerados como sendo inspirados pelas deidades.

85:6:3 9483 Os chefes tribais eram deificados quando mortos. Posteriormente, almas que se distinguiram eram santificadas depois de falecidas. A evolução, sem ajuda, nunca originou deuses mais elevados do que os espíritos glorificados, exaltados e evoluídos dos humanos mortos. Na evolução primitiva, a religião cria os seus próprios deuses. No curso da revelação, os Deuses formulam religiões. A religião evolutiva cria os seus deuses à imagem e à semelhança do homem mortal; a religião reveladora busca evoluir e transformar o homem mortal à imagem e à semelhança de Deus.

85:6:4 9484 Os deuses fantasmas, que se supõe serem de origem humana, deveriam distinguir-se dos deuses da natureza, pois a adoração da natureza fez evoluir um panteão – espíritos da natureza, elevados à posição de deuses. Os cultos da natureza continuaram a desenvolver-se junto com os cultos dos fantasmas, que surgiram posteriormente, e cada um exerceu uma influência sobre os outros. Muitos sistemas religiosos adotaram um conceito dual de deidade; os deuses da natureza e os deuses fantasmas; em algumas teologias, esses conceitos estão entrelaçados confusamente, como é ilustrado por Tor, um herói fantasma que foi também o mestre do relâmpago.

85:6:5 9485 A adoração do homem pelo homem, todavia, teve o seu apogeu quando os dirigentes temporais exigiam uma grande veneração dos seus súditos e, para dar substância a essas exigências, pretendiam descender da deidade.

7. OS AJUDANTES DA ADORAÇÃO E DA SABEDORIA


85:7:1 9486 A adoração da natureza parece ter surgido natural e espontaneamente nas mentes dos homens e mulheres primitivos, e assim foi; mas, ao mesmo tempo, estava atuando sobre essas mesmas mentes primitivas o sexto espírito ajudante da mente, espírito este que havia sido outorgado a esses povos como uma influência orientadora dessa fase da evolução humana. E esse espírito estava constantemente estimulando o impulso da adoração da espécie humana, não importando quão primitiva a sua primeira manifestação pudesse ser. O espírito da adoração deu uma origem definida ao impulso da adoração, não obstante aquele medo animal motivasse a expressão da adoração, e aquela prática inicial houvesse sido centrada em objetos da natureza.

85:7:2 9487 Deveis lembrar-vos de que o sentimento, e não o pensamento, era a influência que guiava e controlava todo o desenvolvimento evolucionário. Para a mente primitiva, há pouca diferença entre temer, esquivar-se, honrar e adorar.

85:7:3 9488 Quando o impulso da adoração está disciplinado e é dirigido pela sabedoria – o pensamento meditativo e experiencial –, então ele começa a desenvolver-se no fenômeno da verdadeira religião. Quando o sétimo espírito ajudante, o espírito da sabedoria, alcança uma

85:7:4 9491 ministração efetiva, então o homem em adoração começa a afastar-se da natureza e dos objetos naturais, para voltar-se para o Deus da natureza e para o Criador eterno de todas as coisas naturais.

85:7:5 9492 [Apresentado por um Brilhante Estrela Vespertino de Nebadon.]

DOCUMENTO 86

A EVOLUÇÃO PRIMITIVA DA RELIGIÃO
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A evolução da religião a partir do impulso anterior primitivo de adoração não depende da revelação. O funcionamento normal da mente humana, sob as influências diretivas do sexto e do sétimo ajudantes da mente, outorgamentos que são de espírito universal, é totalmente suficiente para assegurar esse desenvolvimento.

86:0:2 9502 O mais antigo medo pré-religioso das forças da natureza, por parte do homem, tornou-se gradativamente religioso quando a natureza passou a ser personalizada, espiritualizada e finalmente deificada para a consciência humana. A religião do tipo primitivo foi, portanto, uma conseqüência biológica natural da inércia psicológica das mentes animais em evolução, depois que tais mentes haviam já admitido conceitos sobrenaturais.

1. O ACASO: BOA SORTE E MÁ SORTE


86:1:1 9503 À parte o impulso natural da adoração, a religião evolucionária primitiva teve as suas raízes originárias nas experiências humanas com o acaso – a chamada sorte, os acontecimentos comuns. O homem primitivo era um caçador de alimentos. Os resultados da caça variam sempre, e isso certamente dá origem às experiências que o homem interpreta como boa sorte e má sorte. O infortúnio era um grande fator nas vidas dos homens e mulheres que viviam constantemente no limite incerto de uma existência precária e acossada.

86:1:2 9504 O horizonte intelectual limitado do selvagem concentra de tal forma a atenção no acaso, que a sorte torna-se um fator constante na sua vida. Os urantianos primitivos lutavam pela existência, não por um padrão de vida; eles levavam vidas perigosas, nas quais o acaso exercia um papel importante. O pavor constante da calamidade desconhecida ou não visível pairava sobre esses selvagens como uma nuvem de desespero que efetivamente eclipsava cada prazer. Assim, eles viviam no constante pavor de fazer algo que pudesse trazer a má sorte. Os selvagens supersticiosos sempre temeram um período longo de boa sorte. considerando tal fortuna como precursora certa de calamidade.

86:1:3 9505 Esse pavor, sempre presente, da má sorte era paralisante. Por que trabalhar duro e colher como recompensa a má sorte – nada por alguma coisa – quando se poderia deixar ir e encontrar a boa sorte – alguma coisa por nada? Os homens irrefletidos esquecem-se da boa sorte – aceitam-na como certa – e dolorosamente se lembram da má sorte.

86:1:4 9506 O homem primitivo vivia na incerteza e no medo constante do acaso – da má sorte. A vida era uma aposta excitante de riscos; toda a existência era um jogo. Não é de se espantar que povos parcialmente civilizados ainda creiam no acaso e evidenciem predisposições remanescentes para o jogo. O homem primitivo alternava-se entre dois interesses poderosos: a paixão de conseguir algo por nada e o medo de ganhar nada em troca de alguma coisa. E esse jogo da existência era o interesse principal e a fascinação suprema para a mente selvagem primitiva.

86:1:5 9511 Os pastores de épocas posteriores tinham a mesma visão do acaso e da sorte, ao passo que os agricultores ainda mais recentes eram cada vez mais conscientes de que as colheitas eram influenciadas, de modo imediato, por muitas coisas sobre as quais o homem tinha pouco ou nenhum controle. O agricultor via-se vítima da seca, das enchentes, do granizo, das tempestades, das pestes e das doenças das plantas, bem como do calor e do frio. E, como todas essas influências naturais afetavam a prosperidade do indivíduo, eram encaradas como boa ou má sorte.

86:1:6 9512 Essa noção do acaso e da sorte impregnou fortemente a filosofia de todos os povos antigos. Mesmo em épocas recentes, na Sabedoria de Salomão, é dito: “Eu voltei e vi que a corrida não é para os velozes, nem a batalha para os fortes, nem o pão para os sábios, nem as riquezas para os homens de compreensão, nem o favorecimento para os homens de habilidade; mas o destino e o acaso a todos atingem. Pois o homem não conhece o seu destino; do mesmo modo que os peixes são colhidos em uma rede má, e os pássaros são apanhados em uma armadilha, também os filhos dos homens caem nas malhas de um tempo mau, quando este se abate subitamente sobre eles”.

2. A PERSONIFICAÇÃO DO ACASO


86:2:1 9513 A ansiedade era o estado natural da mente selvagem. Quando os homens e as mulheres transformam-se em vítimas da ansiedade excessiva, eles estão simplesmente retornando ao estado natural dos seus ancestrais longínquos; e, quando a ansiedade torna-se de fato dolorosa, ela inibe a atividade e, infalivelmente, leva a mudanças evolucionárias e a adaptações biológicas. A dor e o sofrimento são essenciais à evolução progressiva.

86:2:2 9514 A luta pela vida é tão dolorosa que algumas tribos retrógradas, mesmo hoje, bramem e lamentam-se a cada novo amanhecer. O homem primitivo constantemente perguntava-se: “Quem me está atormentando?” Não encontrando uma fonte material para as suas mágoas, ele encontrou uma explicação no espírito. E, assim, a religião nasceu do medo do misterioso, do temor do invisível e do pavor do desconhecido. O medo da natureza tornou-se, pois, um fator na luta pela existência; primeiro, por causa do acaso e, depois, por causa do mistério.

86:2:3 9515 A mente primitiva era lógica, mas tinha poucas idéias de associação inteligente; a mente selvagem era inculta, totalmente ingênua. Se um acontecimento vinha depois de outro, o selvagem considerava-os como causa e efeito. O que o homem civilizado considera como superstição, era só ignorância pura, no selvagem. A humanidade tem sido lenta em compreender que não há necessariamente qualquer relação entre propósitos e resultados. Os seres humanos estão apenas começando a compreender que as reações da existência surgem entre os atos e as suas conseqüências. O selvagem esforça-se para personalizar tudo o que é intangível e abstrato e, assim, tanto a natureza quanto o acaso tornam-se personalizados como fantasmas – espíritos – e, mais tarde, como deuses.

86:2:4 9516 O homem tende naturalmente a crer naquilo que ele julga ser o melhor para si próprio, naquilo que é do seu interesse imediato ou remoto; o interesse próprio obscurece, em muito, a lógica. A diferença entre as mentes dos selvagens e a dos homens civilizados é mais de conteúdo do que de natureza, de grau mais do que de qualidade.

86:2:5 9517 Continuar a atribuir coisas de compreensão difícil a causas sobrenaturais, contudo, nada mais é do que um modo preguiçoso e conveniente de evitar todas as formas de trabalho intelectual pesado. A sorte é um termo forjado meramente para encobrir o inexplicável em qualquer época da existência humana; ela designa aqueles fenômenos que os homens são incapazes ou não se dispõem a penetrar. Usar a palavra sorte significa que o homem é ignorante demais, ou indolente em excesso, para determinar causas. Os homens consideram uma ocorrência natural como sendo um acidente, ou má sorte, apenas quando eles são desprovidos de curiosidade e de imaginação, quando falta iniciativa e aventura às raças. A exploração dos fenômenos da vida, mais cedo ou mais tarde, destrói a crença do homem no acaso, na sorte e nos chamados acidentes; e, conseqüentemente, esses fenômenos passam a ocupar o lugar de um universo de lei e de ordem, em que todos os efeitos são precedidos por causas definidas. Assim, o medo da existência é substituído pelo júbilo de viver.

86:2:6 9521 O selvagem via toda a natureza como sendo viva, como se fosse possuída por algo. O homem civilizado ainda chuta e pragueja contra os objetos inanimados que entram na sua frente e chocam-se com ele. O homem primitivo nunca encarou nada como acidental; tudo sempre foi intencional. Para o homem primitivo, o domínio do destino, a função da sorte, o mundo dos espíritos, tudo era tão desorganizado e sujeito ao acaso, quanto o era a sociedade primitiva. A sorte era considerada como uma reação caprichosa e temperamental do mundo do espírito; e, mais tarde, como o humor dos deuses.

86:2:7 9522 Contudo, nem todas as religiões se desenvolveram do animismo. Outros conceitos do sobrenatural foram contemporâneos do animismo, e essas crenças também conduziram à adoração. O naturalismo não é uma religião – ele nasce da religião.

3. A MORTE – O INEXPLICÁVEL


86:3:1 9523 A morte foi o choque supremo para o homem em evolução, a combinação mais desconcertante de acaso e de mistério. Não a santidade da vida, mas o choque da morte é que inspirava o medo e, assim, fomentava efetivamente a religião. Em meio aos povos selvagens, a morte, comumente, era causada pela violência, de um modo tal que a morte não violenta tornou-se cada vez mais misteriosa. A morte, como um fim natural e esperado para a vida, não era algo que estivesse claro para a consciência dos povos primitivos; e foram necessárias idades e mais idades para que o homem compreendesse a sua inevitabilidade.

86:3:2 9524 O homem primitivo aceitou a vida como um fato, ao mesmo tempo em que considerava a morte como uma visitação de alguma espécie. Todas as raças têm as suas lendas sobre homens que não morriam, vestígios das tradições da atitude inicial para com a morte. Na mente humana, existia já o conceito nebuloso de um mundo do espírito, obscuro e não organizado, um domínio de onde vinha tudo o que é inexplicável na vida humana, e a morte estava nessa lista longa de fenômenos sem explicação.

86:3:3 9525 Acreditava-se, inicialmente, que todas as doenças humanas, bem como a morte natural, fossem devidas à influência do espírito. E, ainda no presente, algumas raças civilizadas encaram a doença como tendo sido produzida pelo “inimigo”, e dependem de cerimônias religiosas para efetuar a sua cura. Sistemas mais recentes e mais complexos de teologia ainda atribuem a morte à ação do mundo do espírito; e tudo isso acarretou doutrinas tais como a do pecado original e a da queda do homem.

86:3:4 9526 Foi a compreensão da impotência diante das forças poderosas da natureza, junto com o reconhecimento da fraqueza humana diante das visitações da doença e da morte, que impeliu o selvagem a buscar ajuda do mundo supramaterial, vagamente visualizado como a fonte dessas vicissitudes misteriosas da vida.

4. O CONCEITO DE UMA SOBREVIVÊNCIA APÓS A MORTE


86:4:1 9527 O conceito de uma fase supramaterial da personalidade mortal nasceu da associação inconsciente, e puramente acidental, entre as ocorrências da vida diária e os sonhos com espíritos. Quando vários membros de uma tribo sonhavam, simultaneamente, com o chefe que já estava morto, isso parecia constituir uma evidência convincente de que o velho chefe havia, realmente, voltado, sob alguma forma. Tudo era muito real, para o selvagem, quando, molhado de suor, ele acordava desses sonhos, tremendo e gritando.

86:4:2 9531 A origem da crença em uma existência futura explica a tendência de sempre imaginar as coisas não visíveis nos termos das coisas visíveis. E, logo, esse conceito novo de uma vida-futura-do-fantasma-onírico transformou-se, efetivamente, no antídoto para o medo da morte, associado ao instinto biológico de autopreservação.

86:4:3 9532 O homem primevo também se preocupava muito com o ar expirado, especialmente nos climas frios, quando a exalação saía como uma nuvem. O sopro da vida foi considerado como o fenômeno que diferenciava os vivos dos mortos. Ele sabia que o seu sopro podia deixar o corpo e os seus sonhos, de estar fazendo toda espécie de coisas estranhas, enquanto adormecido, convenciam-no de que havia algo imaterial em um ser humano. A idéia mais primitiva da alma humana, o fantasma, derivou desse sistema de idéias gerado pela respiração e pelos sonhos.

86:4:4 9533 Finalmente, o selvagem concebeu a si próprio como um ser duplo – o corpo e a respiração. O sopro, menos o corpo, era igual ao espírito, igual a um fantasma. Embora tivessem uma origem humana bastante definida, os fantasmas, ou os espíritos, eram considerados supra-humanos. E essa crença, na existência de espíritos fora dos corpos, parecia explicar a ocorrência do inusitado, do extraordinário, do infreqüente e do inexplicável.

86:4:5 9534 A doutrina primitiva da sobrevivência depois da morte não era necessariamente uma crença na imortalidade. Seres que não podiam contar acima de vinte, dificilmente poderiam conceber a infinitude e a eternidade; eles pensavam, antes, em repetidas encarnações.

86:4:6 9535 A raça alaranjada era especialmente dada a acreditar na transmigração e na reencarnação. Essa idéia, a da reencarnação, originou-se na observância da semelhança hereditária e nos traços entre a progênie e os ancestrais. O costume de chamar os filhos com os nomes dos avós e outros ancestrais era devido à crença na reencarnação. Algumas raças bem recentes acreditavam que o homem morria de três a sete vezes. Essa crença (que remonta aos ensinamentos de Adão sobre os mundos das mansões), bem como muitas outras, que são remanescentes da religião revelada, podem ser encontradas entre as doutrinas absurdas, por outros motivos, dos bárbaros do século vinte.

86:4:7 9536 O homem primitivo não alimentou idéias de um inferno, nem de punições futuras. O selvagem via a vida futura exatamente como via esta, menos toda a má sorte. Mais recentemente, um destino diferente para os bons espíritos e para os maus espíritos – o céu e o inferno – foi concebido. Todavia, já que muitas raças primitivas acreditavam que o homem entrava na próxima vida exatamente como havia deixado esta, a idéia de tornarem-se velhos e decrépitos não lhes era agradável. O idoso preferia muito ser morto, antes de tornar-se enfermo demais.

86:4:8 9537 Os grupos, quase todos, tinham idéias diferentes a respeito do destino do fantasma da alma. Os gregos acreditavam que os homens fracos deviam ter almas fracas e, sendo assim, inventaram o Hades como um lugar adequado para receber essas almas anêmicas; supunha-se também que esses espécimes, pouco robustos, tivessem sombras menores. Os primeiros anditas achavam que os seus fantasmas retornavam para as terras ancestrais. Os chineses e os egípcios acreditaram outrora que a alma e o corpo permaneciam juntos. Entre os egípcios, isso levou a construções aprimoradas de tumbas e a esforços para se preservarem os corpos. Mesmo os povos modernos buscam evitar a decomposição dos mortos. Os hebreus concebiam que uma réplica do fantasma do indivíduo descia até o Sheol, e não podia voltar à terra dos vivos. Eles conceberam esse avanço importante na doutrina da evolução da alma.

5. O CONCEITO DA ALMA-FANTASMA


86:5:1 9538 A parte não material do homem tem sido denominada de vários modos: de fantasma, de espírito, de sombra, de visão, de espectro e, mais recentemente, de alma. A alma era o sonho que o homem primitivo tinha, do seu ser duplicado; era, em todos os sentidos, exatamente como o próprio mortal, a não ser pelo fato de não ser sensível ao toque. A crença nesses duplos oníricos levou diretamente à noção de que todas as coisas, animadas e inanimadas, tinham almas tanto quanto os homens. Esse conceito, durante muito tempo, levou à perpetuação das crenças em espíritos da natureza; os esquimós ainda acham que tudo na natureza tem um espírito.

86:5:2 9541 A alma fantasma podia ser ouvida e vista, mas não tocada. Gradualmente, a vida que a raça tinha durante os sonhos desenvolveu e expandiu, assim, as atividades desse mundo espiritual em evolução, e de tal modo que a morte, finalmente, foi considerada como “entregar a alma”. Todas as tribos primitivas, excetuando-se aquelas só pouco acima dos animais, desenvolveram algum conceito de alma. À medida que a civilização avança, esse conceito supersticioso da alma é destruído, e o homem torna-se inteiramente dependente da revelação e da experiência religiosa pessoal, para a sua nova idéia da alma, como uma criação conjunta, feita pela mente mortal sabedora de Deus e monitorada pelo seu espírito interior divino residente, o Ajustador do Pensamento.

86:5:3 9542 Os mortais primitivos, em geral, não conseguiram diferenciar o conceito do espírito residente, separando-o do conceito da alma de natureza evolucionária. O selvagem muito se confundia quanto à alma fantasma nascer junto com o corpo ou quanto a ser um agente externo que tomava posse do corpo. A ausência de um pensamento racional, ao lado da perplexidade, explica as inconsistências grosseiras da visão selvagem sobre as almas, os fantasmas e os espíritos.

86:5:4 9543 Pensou-se na alma como sendo relacionada ao corpo, como o perfume está para a flor. Os antigos acreditavam que a alma podia deixar o corpo de vários modos, tais como:

9544 1. No desmaio comum e passageiro.

9545 2. No sono, no sonho natural.

9546 3. No estado de coma e de inconsciência ligado à doença e a acidentes.

9547 4. Na morte, a sua partida permanente.

86:5:5 9548 O selvagem considerava o espirro como uma tentativa abortada de a alma escapar do corpo. Estando desperto e alerta, o corpo era capaz de frustrar a tentativa feita pela alma de escapar. Posteriormente, o espirro foi sempre acompanhado por alguma expressão religiosa, tal como “Deus o abençoe!”

86:5:6 9549 Nos primórdios da evolução, o sono foi considerado como uma prova de que a alma fantasma poderia estar ausente do corpo, e acreditou-se que podia ser chamada de volta, falando-se ou gritando-se o nome do adormecido. Em outras formas de inconsciência, julgava-se que a alma estivesse mais longe, talvez tentando escapar para sempre – a morte iminente. Os sonhos eram considerados como as experiências da alma, durante o sono, enquanto estava temporariamente ausente do corpo. O selvagem crê que os seus sonhos sejam tão reais quanto quaisquer partes da sua experiência na vigília. Os antigos tinham a prática de acordar os adormecidos gradativamente, de modo que a alma pudesse ter tempo de re-encaixar-se no corpo.

86:5:7 95410 Em todas as épocas, os homens amedrontavam-se com as aparições em horas noturnas; e os hebreus não foram nenhuma exceção. Eles acreditavam verdadeiramente que Deus falava a eles, em sonhos, apesar das determinações de Moisés contra tal idéia. E Moisés estava certo, pois os sonhos comuns não são o meio empregado pelas personalidades do mundo espiritual, quando buscam comunicar-se com os seres materiais.

86:5:8 95411 Os antigos acreditavam que as almas podiam entrar nos animais ou mesmo nos objetos inanimados. Essa identificação com os animais culminou na idéia de lobisomens. Um indivíduo podia ser um cidadão da lei durante o dia, mas, quando ele adormecia, a sua alma podia entrar em um lobo ou em outro animal e perambular em depredações noturnas.

86:5:9 9551 Os homens primitivos achavam que a alma estivesse associada à respiração, e que por meio desta as suas qualidades podiam ser comunicadas ou transferidas. O valente chefe sopraria sobre a criança recém-nascida, com isso ministrando-lhe a coragem. Entre os primeiros cristãos, a cerimônia de conferir o Espírito Santo era acompanhada de sopros nos candidatos. Disse o salmista: “Pela palavra do Senhor, os céus foram feitos e todas as hostes deles, por meio do sopro da Sua boca”. É antigo o costume de um filho primogênito tentar captar o último sopro do seu pai à morte.

86:5:10 9552 A sombra, mais tarde, veio a ser temida, e reverenciada, do mesmo modo que a respiração. O reflexo de si próprio na água, também, algumas vezes, foi visto como prova do duplo eu, e os espelhos foram encarados com um respeito supersticioso. E, mesmo hoje, muitas pessoas civilizadas viram os espelhos contra a parede, em caso de morte. Algumas tribos retrógradas ainda acreditam que as fotos, desenhos, modelos, ou imagens, retiram toda ou parte da alma do corpo; por isso, tais coisas são proibidas.

86:5:11 9553 Achava-se geralmente que a alma era identificada com a respiração; mas, também, vários povos a localizaram na cabeça, no cabelo, no coração, no fígado, no sangue e na gordura. O “grito que saiu do sangue de Abel, no chão”, exprime a crença, de outrora, na presença do fantasma no sangue. Os semitas ensinavam que a alma residia na gordura do corpo e, entre muitos deles, comer gordura animal era um tabu. Um modo de capturar a alma do inimigo era caçar a sua cabeça, como o era tirar o escalpe. Em tempos recentes, os olhos têm sido encarados como sendo janelas da alma.

86:5:12 9554 Aqueles que sustentavam a doutrina de três ou quatro almas acreditavam que a perda de uma alma significava desconforto, de duas, a doença, e de três, a morte. Uma alma vivia na respiração, outra, na cabeça, a terceira, nos cabelos, e a quarta, no coração. Os doentes recebiam o conselho de passear ao ar livre, na esperança de recapturar as suas almas desgarradas. Os maiores dos curandeiros deviam trocar a alma adoentada de uma pessoa enferma por uma nova, o que era um “novo nascimento”.

86:5:13 9555 Os filhos de Badonan desenvolveram a crença em duas almas: a respiração e a sombra. As primeiras raças noditas consideravam que o homem consistia de duas pessoas: alma e corpo. Essa filosofia da existência humana, mais tarde, refletiu-se no ponto de vista grego. E mesmo os próprios gregos acreditavam em três almas: a vegetativa, que residia no estômago; a animal, no coração; a intelectual, na cabeça. Os esquimós acreditam que o homem tem três partes: corpo, alma e nome.

6. O MEIO AMBIENTE DOS ESPÍRITOS-FANTASMAS


86:6:1 9556 O homem herdou um meio ambiente natural, adquiriu um ambiente social e imaginou um ambiente fantasma. O estado é a reação do homem ao seu meio ambiente natural; o lar, a sua reação ao seu ambiente social; a igreja, a sua reação ao seu ambiente-fantasma ilusório.

86:6:2 9557 Muito cedo, na história da humanidade, as realidades do mundo imaginário, dos fantasmas e dos espíritos tornaram-se universalmente acreditadas, e esse mundo espiritual recém-imaginado tornou-se um poder na sociedade primitiva. A vida mental e moral de toda a humanidade foi modificada para sempre pelo surgimento desse novo fator no pensamento e nos atos humanos.

86:6:3 9558 Dentro dessa premissa maior, na ilusão e na ignorância, o medo do mortal empacotou todas as superstições e religiões subseqüentes dos povos primitivos. E foi essa a única religião do homem até a época da revelação, e, hoje, muitas das raças do mundo têm apenas tal religião imatura, proveniente apenas da evolução.

86:6:4 9559 Com o avanço da evolução, a boa sorte ficou associada aos bons espíritos, e a má sorte, aos espíritos maus. O desconforto de uma adaptação forçada a um ambiente em mutação foi encarado como má sorte, o descontentamento dos fantasmas espíritos. O homem primitivo, aos poucos, fez a sua religião evoluir, saída do seu impulso inato de adoração e da sua concepção errônea do acaso. O homem civilizado criou esquemas de segurança para superar os acontecimentos ao acaso; a ciência moderna, em lugar de espíritos fictícios e de deuses caprichosos, coloca os compêndios e as estatísticas apoiando-as em cálculos matemáticos.

86:6:5 9561 Cada geração que passa sorri das superstições tolas dos seus ancestrais, alimentando, ao mesmo tempo, as falácias de pensamento e de adoração que irão ser o motivo dos risos futuros da posteridade mais esclarecida.

86:6:6 9562 Finalmente, porém, a mente do homem primitivo foi ocupada por pensamentos que transcenderam a todos os seus impulsos biológicos inerentes; afinal, o homem chegou a ponto de fazer evoluir uma arte de viver, baseada em algo mais do que uma resposta a estímulos materiais. Os primórdios de uma política primitiva de vida filosófica estavam surgindo. Um padrão sobrenatural de vida estava para aparecer, pois se, quando o fantasma espírito está em fúria, ele traz a má sorte, e quando no prazer, ele traz a boa sorte, então, a conduta humana deve ser regulada considerando isso. O conceito do certo e do errado havia, afinal, evoluído; e, tudo isso, muito antes da época de qualquer revelação na Terra.

86:6:7 9563 Com o surgimento desses conceitos, foi iniciada a longa e destrutiva luta para apaziguar os espíritos, sempre descontentes, e iniciou-se a prisão escravizadora ao medo religioso evolucionário, que se constituiu de todos aqueles esforços humanos, longos e desperdiçados, gastos em túmulos, templos, sacrifícios e sacerdócios. Foi um preço terrível, e assustador, o que se pagou; mas valeu todo o seu custo, pois, nisso, o homem alcançou um estado natural de consciência do certo e do errado relativos; e, assim, a ética humana havia nascido!

7. A FUNÇÃO DA RELIGIÃO PRIMITIVA


86:7:1 9564 O selvagem sentia a necessidade de segurança e, assim, ele pagava com boa disposição os seus pesados preços, na forma de medo, de superstição, de pavor e de donativos aos sacerdotes; e isso era a sua política de magia para o seguro contra a má sorte. A religião primitiva era simplesmente o pagamento do prêmio ao seguro contra os perigos das florestas. O homem civilizado paga prêmios materiais, contra os acidentes da indústria e os riscos dos modos modernos de vida.

86:7:2 9565 A sociedade moderna está retirando o negócio dos seguros das mãos dos sacerdotes e da religião, colocando-o sob o controle da economia. A religião está-se ocupando, cada vez mais, com a segurança da vida além da sepultura. Os homens modernos, pelo menos aqueles que pensam, não mais pagam dispendiosos prêmios para controlar a sorte. A religião, vagarosamente, está ascendendo a patamares filosóficos mais elevados, se a sua função for comparada à atuação anterior, como esquema de segurança contra a má sorte.

86:7:3 9566 Essas idéias antigas, de religião, impediram, contudo, os homens de tornarem-se fatalistas e desesperadamente pessimistas; eles acreditaram que poderiam ao menos fazer algo para influenciar o destino. A religião do medo de fantasmas transmitiu aos homens a certeza de que eles deveriam regular sua conduta, de que havia um mundo supramaterial que mantinha controle sobre o destino humano.

86:7:4 9567 As raças civilizadas modernas estão, agora, deixando de lado esse medo de fantasmas, como explicação para a sorte e para as desigualdades tão comuns da existência. A humanidade está conseguindo emancipar-se da servidão, deixando de explicar a má sorte por meio de espíritos fantasmas. Entretanto, ao mesmo tempo em que os homens estão desistindo da doutrina errônea de uma causa espiritual para as vicissitudes da vida, eles demonstram uma disposição surpreendente para aceitar um ensinamento, quase tão falacioso, que os concita a atribuir toda a desigualdade humana ao desajuste político, à injustiça social e à competição industrial. No entanto, uma nova legislação, uma filantropia crescente e uma reorganização mais industrial, por melhores que forem, por si próprias, não irão remediar os fatos do nascimento e dos acidentes da vida. Apenas a compreensão dos fatos e uma manipulação mais sábia, dentro das leis da natureza, capacitarão o homem para conseguir o que ele almeja e para evitar o que ele não quer. O conhecimento científico, que conduz à ação científica, é o único antídoto contra os chamados males acidentais.

86:7:5 9571 A indústria, a guerra, a escravidão e o governo civil surgiram, em resposta à evolução social do homem, no seu meio ambiente natural; a religião surgiu, do mesmo modo, como uma resposta dele ao ambiente ilusório do mundo imaginário dos fantasmas. A religião foi um desenvolvimento evolucionário de automanutenção, e tem funcionado não obstante ter sido originalmente errônea em conceito e totalmente ilógica.

86:7:6 9572 Por intermédio da força poderosa e intimidante do falso medo, a religião primitiva preparou o solo da mente humana para o recebimento de uma força espiritual autêntica, de origem sobrenatural: a dádiva do Ajustador do Pensamento. E os Ajustadores divinos, desde então, têm trabalhado para transmutar o temor de Deus em amor a Deus. A evolução pode ser lenta, mas é infalivelmente eficaz.

86:7:7 9573 [Apresentado por um Estrela Vespertino de Nebadon.]

DOCUMENTO 87

OS CULTOS DOS FANTASMAS
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O culto dos fantasmas evoluiu como uma compensação pelos riscos da má sorte; a sua prática religiosa primitiva resultou da ansiedade em vista da má sorte e do medo desregrado dos mortos. Nenhuma dessas religiões primitivas era relacionada ao reconhecimento da Deidade, nem à reverência ao supra-humano; os seus ritos eram, na sua maioria, negativos, destinados a evitar, a expulsar ou a coagir os fantasmas. O culto dos fantasmas nada mais era do que uma segurança contra o desastre; não havia nenhuma relação com o investimento que é destinado a buscar retornos futuros mais elevados.

87:0:2 9582 O homem tem mantido uma longa e amarga luta contra o culto dos fantasmas. Na história humana, nada inspira mais piedade do que esse quadro da escravidão abjeta do homem ao medo do espírito-fantasma. No entanto, com o nascimento desse medo, a humanidade iniciou a sua trajetória ascendente de evolução religiosa. A imaginação humana abandonou as margens do eu e não voltará a lançar âncora nele até chegar ao conceito de uma verdadeira Deidade, de um Deus real.

1. O MEDO DOS FANTASMAS


87:1:1 9583 A morte era temida, porque significava que um novo fantasma seria liberado do corpo físico. Os antigos davam o melhor de si para impedir a morte e evitar o problema de ter de lutar com um novo fantasma. Eles ficavam sempre ansiosos para induzi-lo a deixar a cena da morte e embarcar na sua viagem para a terra dos mortos. O fantasma era mais temido do que tudo durante o suposto período de transição entre o seu surgimento, na hora da morte, e a sua partida posterior para a terra dos fantasmas, que era um conceito vago e primitivo de um falso céu.

87:1:2 9584 Embora o selvagem atribuísse poderes sobrenaturais aos fantasmas, ele dificilmente concebia-os como dotados de uma inteligência sobrenatural. Muitos truques e estratagemas eram praticados em um esforço para iludi-los e enganá-los; o homem civilizado ainda coloca muita fé na esperança de que uma manifestação externa de piedade, de alguma maneira, engane até mesmo a uma Deidade onisciente.

87:1:3 9585 Os primitivos temiam a doença, porque eles observavam que, muitas vezes, era ela que anunciava a morte. Se o curandeiro da tribo falhava em curar um indivíduo afligido, o homem adoentado era geralmente removido da tenda da família e levado para uma menor, ou deixado em local aberto, para morrer a sós. Uma casa na qual a morte havia ocorrido, em geral, era destruída; se não o fosse, era sempre evitada, e esse medo impedia o homem primitivo de construir moradas duráveis. E também atuava contra o estabelecimento de vilas e de cidades permanentes.

87:1:4 9586 Os selvagens velavam toda noite e conversavam quando um membro do clã morria; eles temiam que também pudessem morrer caso dormissem perto de um cadáver. O contágio do cadáver justificava o medo do morto, e todos os povos, em uma época ou em outra, praticavam minuciosas cerimônias de purificação, destinadas a limpar um indivíduo depois do contato com o morto. Os antigos acreditavam que se deveria manter um cadáver sob a luz; o corpo de um morto não devia nunca permanecer no escuro. No século vinte, velas ainda são queimadas nas câmaras mortuárias, e os homens ainda velam os seus mortos. O chamado homem civilizado ainda não eliminou completamente, da sua filosofia de vida, o medo dos corpos mortos.

87:1:5 9591 A despeito, porém, de todo esse medo, os homens ainda buscavam enganar os fantasmas. Se a tenda da morte não fosse destruída, o cadáver era removido por meio de um buraco na parede, nunca saindo pela porta. Tais medidas eram tomadas para confundir o fantasma, para impedir que ele ficasse naquele local e para assegurar-se de que não voltaria. Aqueles que iam a um funeral também retornavam dali por um caminho diferente, para que o fantasma não os seguisse. Muitas outras táticas, como dar as costas, eram praticadas para assegurar que o fantasma não voltasse da cova. Freqüentemente, trocava-se de roupas entre os sexos, para enganar o fantasma. Antes, o hábito do luto destinava-se a disfarçar os sobreviventes, e, mais tarde, a demonstrar respeito pelos mortos e, assim, apaziguar os fantasmas.

2. O APLACAMENTO DOS FANTASMAS


87:2:1 9592 Na religião, o programa de restrições negativas para o apaziguamento dos fantasmas precedeu em muito ao programa positivo de coação e de súplicas aos espíritos. Os primeiros atos do culto humano foram fenômenos de defesa, não de reverência. O homem moderno considera sábio assegurar-se contra o fogo; o selvagem, do mesmo modo, considerava sábio assegurar-se contra a má sorte vinda dos fantasmas. Os esforços para assegurar essa proteção constituíram as técnicas e os rituais do culto aos fantasmas.

87:2:2 9593 Já se pensou que o maior desejo de um fantasma era ser rapidamente enterrado, de modo tal que pudesse ir sem empecilhos para a terra dos mortos. Qualquer erro de execução ou de omissão, nos atos dos vivos, dentro do ritual de enterrar os fantasmas, certamente retardava o seu progresso para a terra dos fantasmas. Acreditava-se que isso era um desprazer para o fantasma, e supunha-se que um fantasma enfurecido fosse uma fonte de calamidade, de infortúnio e infelicidade.

87:2:3 9594 O serviço fúnebre originou-se do esforço do homem para induzir a alma-fantasma a partir para a sua casa futura, e o sermão fúnebre foi originalmente destinado a instruir o novo fantasma sobre como chegar lá. Era costume prover o fantasma de roupas e de comida para a sua viagem, colocando-se objetos dentro ou perto da cova. O selvagem acreditava serem necessários de três dias a um ano para “enterrar o fantasma” ? para afastá-lo da vizinhança da sepultura. Os esquimós ainda crêem que a alma fica com o corpo por três dias.

87:2:4 9595 O silêncio ou o luto era observado depois de um falecimento, para evitar que o fantasma fosse atraído de volta para a sua casa. As autotorturas ? as feridas ? eram uma forma comum de luto. Muitos instrutores avançados tentaram acabar com isso, mas não conseguiram. Supunha-se que o jejum e outras formas de auto-sacrifício fossem do agrado dos fantasmas, que obtinham prazer com o desconforto dos vivos, durante o período de transição em que eles ainda pairavam nas imediações, antes da sua partida real para a terra dos mortos.

87:2:5 9596 Os períodos longos e freqüentes de inatividade pelo luto foram um dos grandes obstáculos ao avanço da civilização. Semanas, e mesmo meses, de cada ano eram literalmente desperdiçados nesse luto improdutivo e inútil. O fato de que eram contratadas carpideiras profissionais para as ocasiões dos funerais indica que o luto era um rito, não uma evidência da tristeza. O homem moderno pode prantear o morto por respeito e por luto, mas os antigos faziam-no por medo.

87:2:6 9597 Os nomes dos mortos nunca eram pronunciados. De fato, muitas vezes, eles eram banidos da fala. Esses nomes tornavam-se um tabu, e, desse modo, as línguas ficavam constantemente empobrecidas. E isso, finalmente, produzia uma multiplicação de expressões orais simbólicas e figurativas, tais como “o nome ou o dia que nunca se menciona”.

87:2:7 9601 Os antigos eram tão ansiosos para livrar-se de um fantasma, que lhe ofereciam tudo o que este poderia haver desejado durante a vida. Os fantasmas queriam esposas e servos, um selvagem de posses esperava que ao menos uma escrava-esposa fosse enterrada viva com ele, por ocasião da sua morte. Mais tarde tornou-se costume que uma viúva cometesse o suicídio na sepultura do seu marido. Quando uma criança morria, sua mãe, ou a tia ou a avó, era, muitas vezes, estrangulada, para que um fantasma adulto pudesse acompanhar o fantasma infantil e cuidar dele. E aqueles que assim cediam as suas vidas usualmente faziam-no voluntariamente; de fato, se vivessem, violando o costume, o seu medo da ira do fantasma despojaria a sua vida dos poucos prazeres desfrutados pelo homem primitivo.

87:2:8 9602 Era costumeiro despachar um grande número de súditos para acompanhar o chefe morto; escravos eram mortos quando os seus donos morriam, para que pudessem servi-los na terra dos fantasmas. Os indígenas de Bornéu ainda dão ao morto um mensageiro por companhia; um escravo é morto com uma lança para fazer a viagem dos fantasmas com o seu dono. Acreditava-se que o fantasma de uma pessoa assassinada deliciava-se de ter o fantasma do seu assassino como escravo; essa noção motivava os homens a caçar cabeças.

87:2:9 9603 Supunha-se que os fantasmas gostavam do odor de comida; as oferendas de alimentos em festas fúnebres já foram universais. O método primitivo de dar graças era, antes de comer, jogar um pouco de comida no fogo, com o propósito de apaziguar os espíritos, murmurando uma fórmula mágica.

87:2:10 9604 Supunha-se que os mortos fossem usar os fantasmas das ferramentas e das armas que haviam usado em vida. E quebrar um desses objetos era como “matá-lo”, liberando, assim, o seu fantasma, para que passasse a servir na terra dos fantasmas. O sacrifício das propriedades era também feito queimando-as, ou enterrando-as. O desperdício nos funerais antigos era enorme, e, nesses sacrifícios para os mortos, raças mais recentes faziam modelos em papel e desenhos substitutos para objetos reais e pessoas. Foi um grande avanço para a civilização, quando a herança dos parentes substituiu a queima e o enterro das propriedades. Os índios iroqueses fizeram muitas reformas quanto ao desperdício nos funerais. E essa conservação da propriedade capacitou-os a tornar-se os mais poderosos dos homens vermelhos do norte. Supõe-se que o homem moderno não tema os fantasmas, mas o hábito é forte, e muitos dos bens terrenos ainda são consumidos nos rituais fúnebres e nas cerimônias para os mortos.

3. O CULTO DOS ANCESTRAIS


87:3:1 9605 O progresso do culto aos fantasmas tornou inevitável a adoração dos ancestrais, já que se tornou o elo de ligação entre os fantasmas comuns e os espíritos mais elevados, que eram os deuses em evolução. Os deuses primitivos eram simplesmente humanos, mortos e glorificados.

87:3:2 9606 A adoração aos ancestrais originalmente acontecia mais como um medo do que como um culto, mas essas crenças contribuíram definitivamente para uma disseminação ulterior do medo e da adoração dos fantasmas. Os devotos dos cultos primitivos dos ancestrais-fantasmas temiam até mesmo dar um bocejo, sob pena de que um fantasma maligno entrasse nos seus corpos nesse momento.

87:3:3 9607 O costume de adotar crianças era para assegurar-se de que alguém fizesse oferendas depois da morte, para a paz e o progresso da alma. Os selvagens conviviam com o medo dos fantasmas dos seus semelhantes e passavam o seu tempo livre planejando o salvo-conduto do seu próprio fantasma, depois da morte.

87:3:4 9608 A maioria das tribos instituía uma festa para todas as almas, ao menos uma vez por ano. Os romanos tinham doze festas de fantasmas por ano, e as cerimônias correspondentes. A metade dos dias do ano era dedicada a alguma espécie de cerimônia associada a esses antigos cultos. Um imperador romano tentou reformar essas práticas, reduzindo o número de dias de festas a 135 por ano.

87:3:5 9611 O culto dos fantasmas estava em contínua evolução. À medida que se visualizava que os fantasmas passavam de uma fase incompleta para uma fase mais elevada de existência, o culto finalmente progrediu até a adoração dos espíritos, e mesmo de deuses. No entanto, independentemente das várias crenças em espíritos mais avançados, todas as tribos e raças no passado acreditaram em fantasmas.

4. OS BONS E OS MAUS ESPÍRITOS-FANTASMAS


87:4:1 9612 O medo de fantasmas foi a nascente de todas as religiões do mundo; e, durante eras, muitas tribos sempre agarraram-se à velha crença em alguma espécie de fantasmas. Ensinavam que o homem tinha boa sorte, quando o fantasma estava satisfeito, e, má sorte, quando ele estava irado.

87:4:2 9613 À medida que o culto do temor do fantasma se expandia, veio o reconhecimento de tipos mais elevados de espíritos, ou seja, de espíritos não identificáveis nitidamente com qualquer indivíduo humano. Eles eram os fantasmas graduados ou glorificados, que haviam progredido além do domínio da terra dos fantasmas para os Reinos mais elevados de terras espirituais.

87:4:3 9614 A noção da existência de duas espécies de espíritos-fantasmas fez um progresso lento, mas certo, em todo o mundo. Esse novo espiritismo dual não foi disseminado de uma tribo para outra; brotou independentemente em todas as partes do mundo. Ao influenciar a mente evolucionária em expansão, o poder de uma idéia não repousa na sua realidade ou razoabilidade, mas antes na intensidade e na universalidade da sua aplicação pronta e simples.

87:4:4 9615 Um pouco mais tarde, a imaginação do homem visualizou o conceito dos agentes sobrenaturais bons e maus; alguns fantasmas nunca evoluíram até o nível dos bons espíritos. O mono-espiritismo inicial do medo dos fantasmas foi gradualmente evoluindo para um espiritismo dual, um conceito novo do controle invisível dos assuntos terrenos. Finalmente, a boa sorte e a má sorte eram retratadas como tendo os seus respectivos controladores. E, entre as duas classes, acreditava-se que o grupo que trazia a má sorte era o mais ativo e mais numeroso.

87:4:5 9616 Quando a doutrina dos bons e dos maus espíritos finalmente amadureceu, ela tornou-se a mais amplamente disseminada e persistente de todas as crenças religiosas. Esse dualismo representou um grande avanço religioso-filosófico, porque capacitou o homem a explicar a boa e a má sorte e, ao mesmo tempo, a acreditar em seres supramortais que, até certo ponto, tinham um comportamento consistente. Podia-se contar com os espíritos como sendo bons e maus; e não se pensava que eram seres completamente temperamentais, como os fantasmas iniciais do mono-espiritismo, conforme a concepção das religiões mais primitivas. O homem, enfim, foi capaz de conceber forças supramortais de comportamento coerente, e isso foi, na verdade, uma das descobertas mais importantes em toda a história da evolução da religião e da expansão da filosofia humana.

87:4:6 9617 A religião evolucionária, entretanto, pagou um preço terrível pelo conceito do espiritismo dualista. A filosofia primitiva do homem era capaz de reconciliar a constância espiritual com as vicissitudes da sorte temporal, apenas postulando duas espécies de espíritos, uma, boa, e a outra, má. E, se bem que essa crença haja capacitado o homem a reconciliar as variáveis do acaso com um conceito de forças imutáveis supramortais, essa doutrina, desde então, tornou difícil, para os religiosos, conceber a unidade cósmica. Os deuses da religião evolucionária têm encontrado oposição, em geral, nas forças das trevas.

87:4:7 9621 A tragédia de tudo isso repousa no fato de que, quando essas idéias estavam criando raízes na mente primitiva do homem, não havia realmente espíritos maus ou desarmoniosos em todo o mundo. Essa situação desafortunada somente se desenvolveu após a rebelião de Caligástia e perdurou apenas até Pentecostes. Mesmo no século vinte, o conceito do bem e do mal, como coordenada cósmica, permanece muito vivo na filosofia humana; a maioria das religiões do mundo ainda traz essa marca cultural de nascença, de dias longínquos, de quando emergiram os cultos dos fantasmas.

5. O AVANÇO DO CULTO DOS FANTASMAS


87:5:1 9622 O homem primitivo imaginava os espíritos e os fantasmas com direitos quase ilimitados, mas sem nenhum dever; julgava-se que, para os espíritos, era o homem quem possuía muitos deveres, mas nenhum direito. Acreditava-se que os espíritos tinham um certo desprezo pelos homens, porque estes estavam constantemente fracassando no desempenho dos seus deveres espirituais. Era crença geral da humanidade que os fantasmas cobrassem um tributo contínuo de serviço como preço pela não-interferência nos assuntos humanos; e o menor percalço era atribuído às atividades dos fantasmas. Os humanos primevos eram tão temerosos de que pudessem esquecer-se de alguma honra devida aos deuses, que, depois de haver feito sacrifícios a todos os espíritos conhecidos, eles repetiam o culto, dirigindo-o aos “deuses desconhecidos”, só para ficarem mais seguros.

87:5:2 9623 E então o simples culto dos fantasmas foi logo seguido pelas práticas do culto mais avançado e relativamente complexo dos espíritos-fantasmas, consistindo em servir e em adorar os espíritos mais elevados, tal como evoluíram na imaginação primitiva do homem. Os cerimoniais religiosos deviam manter-se no ritmo da evolução e do progresso espiritual. A ampliação do culto não era senão a arte da autopreservação, praticada em relação à crença em seres sobrenaturais, uma auto-adaptação ao meio ambiente espiritual. As organizações industriais e militares foram adaptações ao meio ambiente natural e social. Assim como o casamento surgiu para ir de encontro às demandas da bissexualidade, do mesmo modo a organização religiosa evoluiu em resposta à crença em forças e seres espirituais mais elevados. A religião representa o ajustamento do homem às suas ilusões sobre o mistério do acaso. O medo dos espíritos e a sua subseqüente adoração foram adotados como um seguro contra a má sorte, como uma apólice de prosperidade.

87:5:3 9624 O selvagem visualiza os espíritos bons cuidando dos seus próprios assuntos, solicitando pouco dos seres humanos. São os fantasmas e os espíritos maus os que devem ser apaziguados. Desse modo, os povos primitivos davam mais atenção aos seus fantasmas malevolentes do que aos seus espíritos benignos.

87:5:4 9625 Supunha-se que a prosperidade humana provocasse especialmente a inveja dos espíritos maus, e que os seus métodos de retaliação fossem dar uma réplica, por intermédio de um agente humano, pela técnica do mau olhado. Aquela fase do culto que procurava evitar os maus espíritos preocupava-se muito com as maquinações do mau olhado. E o medo do mau olhado tornou-se quase mundial. As mulheres belas usavam véus, para serem protegidas do mau olhado; em conseqüência, muitas mulheres que desejavam ser consideradas belas adotaram essa prática. Em vista desse medo dos espíritos maus, raramente permitia-se às crianças que saíssem depois que escurecesse, e as preces matinais sempre incluíam o pedido: “livrai-nos do mau olhado”.

87:5:5 9626 O Corão contém todo um capítulo que é devotado ao mau olhado e aos feitiços mágicos, e os judeus acreditavam plenamente neles. Todo o culto fálico cresceu como uma defesa contra o mau olhado. Os órgãos da reprodução eram considerados como sendo o único fetiche que poderia torná-lo sem efeito. O mau olhado deu origem às primeiras superstições sobre marcas pré-natais nas crianças, impressões maternais, e em certo momento esse culto chegou a ser quase universal.

87:5:6 9631 A inveja é uma característica humana bem arraigada, e é por isso que o homem primitivo atribuía-a aos seus deuses primitivos. Pelo fato de o homem haver enganado os fantasmas, ele logo começou a enganar os espíritos. Ele dizia: “se os espíritos são ciumentos da nossa beleza e prosperidade, nós nos desfiguraremos e falaremos pouco do nosso sucesso”. A humildade primitiva não era, portanto, uma depreciação do ego, mas antes uma tentativa de despistar e de enganar os espíritos invejosos.

87:5:7 9632 O método adotado para impedir os espíritos de tornarem-se ciumentos da prosperidade humana era lançar vitupérios sobre alguma pessoa ou coisa muito amada ou de muita sorte. Daí a origem do hábito de se fazer observações depreciativas sobre si próprio ou sobre a própria família, evoluindo, finalmente, para a modéstia, a reserva e a cortesia na civilização. Pelo mesmo motivo, tornou-se moda parecer feio. A beleza despertava a inveja dos espíritos, e denotava um orgulho humano pecaminoso. Os selvagens adotavam nomes desagradáveis. Esse aspecto do culto foi um grande impedimento para o avanço da arte, e manteve, durante um longo período, o mundo na sombra e na fealdade.

87:5:8 9633 Sob o culto dos espíritos, a vida era no máximo um jogo, o resultado do comando dos espíritos. O futuro de alguém não era resultado do esforço, da engenhosidade, nem do talento, exceto quando estes podiam ser utilizados para influenciar os espíritos. As cerimônias de propiciação aos espíritos constituíam uma pesada carga, tornando a vida tediosa e praticamente insuportável. Através dos tempos, e de geração em geração, as raças, umas após as outras, procuraram melhorar essa doutrina do superfantasma, mas nenhuma geração jamais ousou rejeitá-la integralmente.

87:5:9 9634 A intenção e a vontade dos espíritos foram estudadas por intermédio dos presságios, oráculos e símbolos. E essas mensagens dos espíritos foram interpretadas pela adivinhação, por profecias, magias, ordálios e pela astrologia. Todo o culto era um esquema destinado a aplacar, a satisfazer e a comprar os espíritos, por intermédio de subornos disfarçados.

87:5:10 9635 E assim cresceu e expandiu-se uma nova filosofia mundial, que consistia nos aspectos que se seguem:

9636 1. O dever – aquelas coisas que devem ser feitas para manter os espíritos em uma disposição favorável, ou, pelo menos, neutra.

9637 2. O certo – as condutas e as cerimônias corretas destinadas a ganhar dos espíritos uma posição ativa no interesse próprio.

9638 3. A verdade – o entendimento justo dos espíritos e uma atitude correta para com eles, e, portanto, para com a vida e a morte.

87:5:11 9639 Não era meramente por curiosidade que os antigos buscavam saber o futuro; eles queriam esquivar-se da má sorte. A adivinhação era simplesmente uma tentativa de evitar os problemas. Durante essa época, os sonhos eram encarados como proféticos, e tudo fora do ordinário era considerado como presságio. E, mesmo hoje, a crença em símbolos, amuletos e outros remanescentes supersticiosos do culto dos fantasmas de antigamente é um flagelo para as raças civilizadas. O homem é lento, muito lento para abandonar aqueles métodos pelos quais ele ascendeu tão gradativa e penosamente na escala evolucionária da vida.

6. A COERÇÃO E O EXORCISMO


87:6:1 96310 Quando os homens acreditavam apenas em fantasmas, o ritual religioso era mais pessoal, menos organizado, mas, para o reconhecimento dos espíritos mais elevados e para lidar com eles, era necessário o uso de “métodos espirituais mais elevados”. Essa tentativa de melhorar e de elaborar a técnica da propiciação espiritual levou diretamente à criação de defesas contra os espíritos. Na verdade, o homem sentiu-se desamparado diante das forças incontroláveis que atuam na vida terrena e o seu sentimento de inferioridade levou-o a tentar encontrar alguma adaptação compensadora, alguma técnica para equilibrar as probabilidades na luta unilateral do homem contra o cosmo.

87:6:2 9641 Nos dias iniciais do culto, os esforços do homem para influenciar a ação do fantasma limitavam-se à propiciação, às tentativas, por meio do suborno, para eliminar a má sorte. À medida que o culto dos fantasmas evoluiu, alcançando o conceito de bons, bem como de maus espíritos, essas cerimônias transformaram-se em tentativas de uma natureza mais positiva, em esforços para ganhar a boa sorte. A religião do homem não era mais totalmente negativista, nem o homem deixou de lado os esforços para conquistar a boa sorte; um pouco mais tarde, ele começou a inventar esquemas por meio dos quais ele podia compelir o espírito a cooperar com ele. O religioso não permanece mais indefeso perante as demandas incessantes dos espíritos fantasmagóricos da sua própria criação; o selvagem está começando a inventar armas para obrigar os espíritos à ação e para forçar a sua ajuda.

87:6:3 9642 Os primeiros esforços de defesa do homem foram dirigidos contra os fantasmas. À medida que as idades passaram, os vivos começaram a inventar métodos de resistir aos mortos. Muitas técnicas foram desenvolvidas para amedrontar os fantasmas e para afastá-los, entre as quais, podem ser citadas as que se seguem:

9643 1. Cortar a cabeça e atar o corpo à sepultura.

9644 2. Atirar pedras à casa do morto.

9645 3. Castrar ou quebrar as pernas do cadáver.

9646 4. Enterrar o cadáver sob as pedras; essa é uma das origens das modernas lápides sepulcrais.

9647 5. Cremar; coisa que foi uma invenção mais recente, para impedir as maquinações dos fantasmas.

9648 6. Lançar o corpo ao mar.

9649 7. Expor o corpo para ser comido por animais ferozes.

87:6:4 96410 Supunha-se que os fantasmas ficassem perturbados e amedrontados com o barulho; gritos, sinos e tambores afastavam-nos dos vivos; e esses métodos antigos ainda estão em voga, hoje, nos “velórios” dos mortos. Misturas de odores fétidos eram utilizadas para banir os espíritos indesejáveis. Imagens horríveis dos espíritos eram construídas para que eles fugissem depressa, quando contemplassem a si próprios. Acreditava-se que os cães pudessem detectar a aproximação de fantasmas, coisa que avisavam com uivos; e que os galos cantassem quando eles estivessem por perto. O uso do galo nos cata-ventos veio em perpetuação dessa superstição.

87:6:5 96411 A água era considerada como a melhor proteção contra os fantasmas. A água benta era superior a todas as outras formas; também a água na qual os sacerdotes haviam lavado os seus pés. Acreditava-se que tanto a água quanto o fogo constituíssem barreiras intransponíveis para os fantasmas. Os romanos andavam em torno de um cadáver, por três vezes, com água; no século vinte, o corpo é aspergido com água benta, e lavar as mãos no cemitério ainda é um ritual judeu. O batismo foi um aspecto mais recente do rito da água; o banho primitivo era uma cerimônia religiosa. Apenas recentemente, o banho tornou-se uma prática de higiene.

87:6:6 96412 Contudo, o homem não se limitou à coerção sobre os fantasmas; por meio do ritual religioso e de outras práticas, ele logo tentou compelir o espírito à ação. O exorcismo era o emprego de um espírito para controlar ou banir um outro, e essas táticas eram também utilizadas para amedrontar os fantasmas e os espíritos. O conceito do espiritismo-dual, de forças boas e más, ofereceu ao homem uma ampla oportunidade de opor um agente ao outro, pois, se um homem poderoso pode vencer outro mais fraco, então, certamente, um espírito forte poderia dominar um fantasma inferior. A maldição primitiva era uma prática coercitiva destinada a intimidar os espíritos menores. Posteriormente, esse costume expandiu-se, levando à prática de lançar maldições aos inimigos.

87:6:7 9651 Durante muito tempo, acreditou-se que, retornando-se aos usos dos costumes mais antigos, os espíritos e os semideuses seriam forçados a agir segundo os desejos dos homens. O homem moderno é culpado do mesmo procedimento. Vós falais uns com os outros em uma linguagem cotidiana comum, mas, quando orais, vós recorreis a um estilo mais antigo e de uma outra geração, o estilo chamado de solene.

87:6:8 9652 Essa doutrina também explica muito das regressões de rito religioso de fundo sexual, tais como a prostituição no templo. Essas regressões a costumes primitivos eram consideradas como uma proteção segura contra muitas calamidades. Entre os povos de mentes simples, todas essas manifestações estavam inteiramente isentas do que o homem moderno chamaria de promiscuidade.

87:6:9 9653 Em seguida, veio a prática de votos rituais, logo seguida das promessas religiosas e dos juramentos sagrados. A maioria desses juramentos era acompanhada de autotortura e de auto-mutilação; e, mais tarde, do jejum e da oração. O auto-sacrifício, subseqüentemente, foi encarado como sendo uma coerção certa; e isso foi especialmente verdadeiro na questão da abstenção sexual. E, assim, o homem primitivo desenvolveu muito cedo uma austeridade decidida nas suas práticas religiosas, uma crença na eficácia da autotortura e do auto-sacrifício, como rituais capazes de coagir os espíritos refratários a reagir favoravelmente ante tais sofrimentos e privações.

87:6:10 9654 O homem moderno não mais intenta abertamente coagir os espíritos, embora ainda evidencie uma disposição para barganhar com a Deidade. E ainda jura, bate na madeira, cruza os dedos e pronuncia uma frase sem sentido depois de um espirro; pois tudo isso já foi uma fórmula mágica.

7. A NATUREZA DOS CULTOS


87:7:1 9655 O tipo de organização social baseada nos cultos sobreviveu, porque ele provia um simbolismo de preservação e um estímulo aos sentimentos morais e às lealdades religiosas. O culto cresceu com as tradições das “famílias antigas” e foi perpetuado como uma instituição estabelecida; todas as famílias têm um culto de alguma espécie. Todo ideal inspirador busca atingir algum simbolismo perpetrador – procura alguma técnica de manifestação cultural que irá assegurar a sobrevivência e aumentar a realização –, e o culto alcança esse fim gratificando e estimulando a emoção.

87:7:2 9656 Desde o alvorecer da civilização, todo movimento atraente na cultura social ou no progresso religioso desenvolveu um ritual, um cerimonial simbólico. Quanto mais inconsciente haja sido o crescimento desse ritual, tanto mais fortemente teria atraído os seus devotos. O culto preservou o sentimento e satisfez às emoções, mas ele tem sido o maior obstáculo para a reconstrução social e para o progresso espiritual.

87:7:3 9657 Não obstante o culto haver sempre retardado o progresso social, é lamentável que tantos crentes modernos nos padrões morais e nos ideais espirituais não tenham nenhum simbolismo adequado ? nenhum culto de suporte mútuo ?? nada a que possam pertencer. Contudo, um culto religioso não pode ser fabricado; ele tem de crescer. Os cultos de dois grupos quaisquer não podem ser idênticos, a menos que os seus rituais sejam arbitrariamente padronizados pela autoridade.

87:7:4 9658 O culto cristão inicial foi o mais eficaz, atraente e duradouro entre todos os rituais jamais concebidos ou legados, mas muito do seu valor foi destruído em uma idade científica, pela aniquilação de muitos dos seus princípios originais subjacentes. O culto cristão tem sido desvitalizado pela perda de muitas das suas idéias fundamentais.

87:7:5 9659 No passado, a verdade cresceu rapidamente e expandiu-se livremente, quando o culto não era elástico e o simbolismo era expansível. A verdade abundante e um culto ajustável favoreceram a rapidez da progressão social. Um culto sem sentido vicia a religião, quando tenta suplantar a filosofia e escravizar a razão; um culto genuíno cresce.

87:7:6 9661 A despeito dos inconvenientes e das desvantagens, cada nova revelação da verdade tem dado surgimento a um novo culto e, até mesmo, o pronunciamento novo da religião de Jesus deve desenvolver um simbolismo novo e apropriado. O homem moderno deve encontrar algum simbolismo adequado para as suas idéias, ideais e lealdades, novos e expandidos. Esse símbolo mais elevado deve surgir da vida religiosa, da experiência espiritual. E esse simbolismo mais enaltecido, para uma civilização mais elevada, deve ser pregado sobre o conceito da Paternidade de Deus e deve estar prenhe do poderoso ideal da irmandade dos homens.

87:7:7 9662 Os velhos cultos foram demasiado egocêntricos; o novo culto deve ser fruto da aplicação do amor. O novo culto deve, como os antigos, dar força ao sentimento, satisfazer à emoção e promover a lealdade, mas deve fazer mais: deve facilitar o progresso espiritual, enaltecer os significados cósmicos, elevar os valores morais, encorajar o desenvolvimento social e estimular um tipo elevado de vida pessoal religiosa. O novo culto deve estabelecer metas supremas de vida que sejam tanto temporais quanto eternas ? social e espiritualmente.

87:7:8 9663 Nenhum culto pode perdurar e contribuir para o progresso da civilização social e para a realização espiritual individual, a menos que seja baseado na significação biológica, sociológica e religiosa do lar. Um culto que queira sobreviver deve simbolizar aquilo que é permanente, em presença da mudança incessante; deve glorificar aquilo que unifica o fluir da sempre mutante metamorfose social. Deve reconhecer os verdadeiros significados, exaltar as belas relações e glorificar os bons valores de nobreza autêntica.

87:7:9 9664 Todavia, a grande dificuldade de encontrar um simbolismo novo e satisfatório está em que os homens modernos, enquanto grupo, aderem à atitude científica, evitam a superstição e abominam a ignorância, ao passo que, enquanto indivíduos, anseiam pelo mistério e veneram o desconhecido. Nenhum culto pode sobreviver, a menos que incorpore algum mistério magistral e oculte algo inatingível, mas digno de ser almejado. Ou seja, o novo simbolismo não deve ser significativo somente para o grupo, mas deve também ter significado para o indivíduo. As formas de qualquer simbolismo útil devem ser aquelas que o indivíduo possa levar adiante, por iniciativa própria, e das quais ele possa também desfrutar com os seus semelhantes. Se o novo culto pudesse apenas ser dinâmico, em vez de estático, ele poderia realmente contribuir com algo de valioso para o progresso da humanidade, tanto temporal quanto espiritualmente.

87:7:10 9665 Um culto, no entanto ? um simbolismo de ritos, de lemas ou de metas ?? não funcionará, se for muito complexo. É necessário que ele comporte a exigência da devoção, de resposta à lealdade. Cada religião eficaz desenvolve, infalivelmente, um simbolismo condigno, e os seus devotos deveriam impedir a cristalização de ritos em cerimônias estereotipadas, entorpecedoras, paralisadoras e sufocantes, que apenas impedem e retardam todo progresso social, moral e espiritual. Nenhum culto pode sobreviver se ele retardar o crescimento moral e se deixar de fomentar o progresso espiritual. O culto é o esqueleto estrutural em torno do qual cresce o corpo vivo e dinâmico da experiência espiritual pessoal – a verdadeira religião.

87:7:11 9666 [Apresentado por um Brilhante Estrela Vespertino de Nebadon.]

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