quinta-feira, 12 de agosto de 2010

- Só desejo - disse o cardeal idoso - fazer o que é correto.
- Então vai deixá-la sair - declarou uma voz grave atrás dela. As palavras eram
calmas, mas o tom era categórico. Robert Langdon postou-se ao lado de Vittoria e
segurou-lhe a mão. - A senhorita Vetra e eu vamos sair desta capela. Agora.
Sem jeito, hesitantes, os cardeais começaram a abrir caminho para os dois.
- Esperem! - era Mortati.
Veio ao encontro deles pelo meio da nave, deixando o camerlengo sozinho e
derrotado no altar. Mortati parecia mais velho de uma hora para outra, cansado
além da conta. Caminhava como se carregasse um pesado fardo de vergonha. Ao
chegar, pousou uma das mãos no ombro de Langdon e a outra no de Vittoria.
Vittoria sentiu sinceridade no gesto. Ele tinha os olhos vermelhos.
- É claro que podem sair quando quiserem - disse Mortati. - Claro - e fez uma
pausa, seu sofrimento quase tangível. - Peço apenas uma coisa... - e baixou a
cabeça durante um longo momento, depois voltou a olhar para os dois. - Deixem
que eu faça isso. Vou para a praça agora e encontro uma forma qualquer de dizer
a eles. Não sei como, mas vou encontrar. A confissão da Igreja deve vir de dentro.
As falhas são nossas, nós mesmos devemos apresentá-las.
Mortati virou-se com ar melancólico para o altar.
- Carlo, você colocou a Igreja em uma situação desastrosa - e parou, procurando
em torno. Não havia mais ninguém no altar.
Com um farfalhar de tecido na passagem lateral, uma porta se fechou.
O camerlengo se fora.
CAPÍTULO 134
A batina branca do camerlengo Ventresca ondulava enquanto ele se afastava pelo
corredor que saía da Capela Sistina. Os guardas suíços ficaram perplexos quando
surgiu desacompanhado de dentro da capela e lhes disse que precisava ficar
sozinho um momento. Eles obedeceram e o deixaram passar.
Agora, ao dobrar uma esquina e fora da visão deles, o camerlengo sentiu um
redemoinho de emoções que não imaginava que fosse possível um ser humano
experimentar. Ele envenenara o homem que chamava de "Santo Padre", o homem
que o chamava de "meu filho" Sempre achara que as palavras "pai" e "filho"
faziam parte da tradição religiosa, mas agora conhecia a verdade diabólica - as
palavras haviam sido literais.
Chovia na manhã em que os funcionários do Vaticano bateram com força à porta
do camerlengo, despertando-o de um sono intermitente, O Papa, diziam, não
respondia à porta nem ao telefone. O clero estava preocupado. O camerlengo era o
único que podia entrar nos aposentos do Papa sem se fazer anunciar.
O camerlengo entrou sozinho e encontrou o Papa, como na noite anterior,
contorcido e morto em sua cama. O rosto de Sua Santidade parecia-se com o de
Satã. A língua estava negra como a morte. O próprio Demônio dormira na cama
do Papa.
O camerlengo não sentia remorso. Deus havia falado.
Ninguém veria a traição, ainda não. Isto viria mais tarde.
Ele deu a terrível notícia - Sua Santidade morrera de um derrame. Depois, o
camerlengo preparou-se para o conclave.
A voz de Mãe Maria sussurrava em seu ouvido: "Jamais quebre uma promessa
feita a Deus."
- Estou escutando, Mãe - respondeu ele. - Este é um mundo sem fé. Eles precisam
ser levados de volta para o caminho da retidão. Horror e Esperança. É o único
jeito.
- Sim - concordou ela. - Se não for você, então quem será? Quem vai fazer a
Igreja sair das trevas?
Decerto nenhum dos preferiti. Eles eram velhos, à beira da morte, liberais que
seguiriam o Papa, protegendo a ciência em sua memória, buscando seguidores
modernos ao abandonar as velhas fórmulas. Homens velhos e atrasados fingindo
pateticamente não o serem. Iriam fracassar, é claro. A tradição era a força da
Igreja, não sua transitoriedade. O mundo inteiro era transitório. A Igreja não
precisava mudar, precisava apenas lembrar ao mundo que isto era irrelevante! O
mal está vivo! Deus triunfará!
A Igreja precisava de um líder. Velhos não inspiram ninguém! Jesus inspirou!
Jovem, vibrante, vigoroso, MILAGROSO.
- Saboreiem seu chá - o camerlengo disse aos quatro preferiti, deixando-os na
biblioteca particular do Papa antes do conclave. - Seu guia vai chegar daqui a
pouco.
Os preferiti agradeceram-lhe, todos animados pela oportunidade de entrar no
famoso Passetto. Extraordinário! O camerlengo, antes de sair, destrancara a porta
do Passetto e, na hora combinada, a porta se abrira e um padre com aparência
estrangeira e uma tocha acesa na mão fizera os entusiasmados preferiti entrarem
no corredor.
De onde nunca mais saíram. Eles serão o Horror. Eu serei a Esperança.
Não. Eu sou o Horror.
O camerlengo percorria agora com passadas incertas a escuridão da Basílica de
São Pedro. De alguma forma, através da insanidade e da culpa, através das
imagens de seu pai, através da dor e da revelação, até mesmo através dos efeitos
da morfina, ele encontrara uma brilhante clareza. Uma noção de destino. Sei qual
é meu propósito, pensou, admirado com tanta lucidez.
Desde o início, nada naquela noite correra exatamente como ele planejara.
Obstáculos imprevistos haviam surgido, mas o camerlengo adaptara-se a eles,
fizera ousados ajustes. Contudo, nunca imaginou que a noite terminasse daquela
maneira, apesar de agora perceber a preordenada majestade de tudo.
Não poderia terminar de outra forma.
Ah, o pavor que sentira na Capela Sistina, achando que Deus o abandonara! Oh,
os atos que Ele exigira! O camerlengo caíra de joelhos, imerso em dúvidas, os
ouvidos esperando ouvir a voz de Deus, mas ouvindo apenas o silêncio. Ele
implorara por um sinal. Por orientação. Rumo. A vontade de Deus era aquela? A
Igreja ser destruída por escândalos e abominação? Não! Deus é que desejara que o
camerlengo agisse! Não fora Ele?
Então, o camerlengo viu. Pousado no altar. Um sinal. Comunicação divina - algo
comum visto sob uma luz incomum. O crucifixo. Singelo, feito de madeira. Jesus
na cruz. E tudo se esclarecera: o camerlengo não estava só. Nunca estaria só.
Aquela era a vontade Dele, o Seu significado.
Deus sempre pedira grandes sacrifícios àqueles a quem mais amava. Por que o
camerlengo levara tanto tempo para compreender? Seria ele temeroso demais?
Humilde demais? Não fazia mais diferença. Deus encontrara um meio. O
camerlengo até compreendia agora por que Robert Langdon fora salvo. Para
trazer a verdade. E provocar aquele final.
Como naquela noite fatídica semanas atrás, o camerlengo foi tomado por
vertigens enquanto caminhava no escuro.
Aquele era o único caminho para a salvação da Igreja!
O camerlengo sentia-se flutuar ao descer para o Nicho dos Pálios. O efeito da
morfina chegara a um ponto máximo, mas ele sabia que Deus o guiava.
Ouvia ao longe o alarido dos cardeais saindo da capela, gritando instruções para a
Guarda Suíça.
Mas nunca o encontrariam. Não a tempo.
Sentia-se atraído, cada vez mais depressa, descendo as escadas para o espaço
rebaixado onde luziam as 99 lamparinas. Deus estava devolvendo-o ao solo
consagrado. Encaminhou-se para a grade sobre a abertura que levava à Necrópole.
A Necrópole, onde aquela noite terminaria. Na sagrada escuridão subterrânea.
Pegou uma lamparina e preparou-se para descer.
Ao atravessar o Nicho, porém, ele se deteve. Algo não estava certo. Como aquilo
serviria a Deus? Um fim solitário e silencioso? Jesus sofrera exposto aos olhos do
mundo inteiro. A vontade de Deus não poderia ser aquela! O camerlengo tentou
escutar a voz de seu Deus, mas havia apenas o confuso zumbido da droga em sua
cabeça.
- Carlo - era sua mãe -, Deus tem planos para você.
Perturbado, o camerlengo continuou andando.
Então, sem preâmbulos, Deus chegou.
O camerlengo estacou. A luz das 99 lamparinas projetara a sombra do camerlengo
na parede de mármore atrás dele. Gigantesca, temível. Um vulto nebuloso
rodeado por uma luz dourada. Com as chamas cintilando em torno de seu corpo
inteiro, o camerlengo parecia um anjo subindo aos céus. Parou um momento,
elevou os braços estendidos, contemplou a própria imagem. E voltou-se para o
alto das escadas.
A mensagem de Deus era clara.
Três minutos tumultuados passaram-se nos corredores fora da Capela Sistina e
ninguém ainda localizara o camerlengo. Era como se o homem tivesse sido
engolido pela noite. Mortati estava prestes a solicitar uma busca em grande escala
na Cidade do Vaticano quando um brado jubiloso irrompeu lá fora na Praça de
São Pedro. Uma comemoração espontânea da multidão, muito ruidosa. Os
cardeais se entreolharam, preocupados.
Mortati fechou os olhos.
- Que Deus nos ajude.
Pela segunda vez naquela noite o Colégio dos Cardeais saiu para a Praça de São
Pedro. Langdon e Vittoria foram arrastados pelo agrupamento de cardeais e
também saíram para o espaço a céu aberto. As luzes das emissoras estavam todas
dirigidas para a basílica. E lá, tendo acabado de aparecer na sacada papal
localizada bem no centro da imensa fachada, estava o camerlengo Ventresca com
os braços levantados. Mesmo à distância, ele parecia a personificação da pureza.
Uma estatueta.
Vestida de branco. Inundada de luz.
A energia na praça cresceu como a de uma grande onda e logo rompeu as
barreiras formadas pela Guarda Suíça. A massa humana fluiu para a basílica em
uma eufórica torrente de humanidade, uma investida irrefreável com gente
cantando, os clarões das câmeras relampejando. Um pandemônio. As pessoas
corriam para perto da fachada da basílica provocando um caos tão intenso que
parecia que nada mais as faria parar.
E então algo as fez parar. Por completo.
No alto, o camerlengo fez o menor dos gestos. Juntou as duas mãos no peito. E
curvou a cabeça em uma prece silenciosa.
Uma a uma, depois às dezenas e às centenas, as pessoas curvaram as cabeças
junto com ele.
A praça mergulhou no silêncio como se um encanto tivesse sido lançado.
Em sua mente, girando e distante, as preces do camerlengo eram um turbilhão de
esperanças e tristezas.., perdoai-me, Pai... Mãe... cheia de graça... vós sois a
Igreja... que possais compreender este sacrifício de seu único filho concebido.
Oh, meu Jesus... salvai-nos do fogo do inferno.., levai todas as almas para o céu,
em especial as que mais necessitam da vossa misericórdia...
O camerlengo não abriu os olhos para ver a multidão lá embaixo, nem as câmeras
de televisão, nem o mundo inteiro o assistindo. Sentia tudo isso em sua alma.
Mesmo cheio de angústia, a comunhão daquele momento era embriagante. Como
uma rede de conexões estendida em todas as direções pelo mundo.
Diante das telas das televisões, em casa, dentro dos carros, o mundo todo rezava
junto. Como sinapses de um coração gigantesco sendo ativadas em série, as
pessoas se voltavam para Deus, em dezenas de línguas, em centenas de países. As
palavras que murmuravam eram recém-nascidas e ainda assim tão familiares
quanto suas próprias vozes - antigas verdades marcadas nas suas almas.
A harmonia parecia eternizar-se.
Mas o silêncio aos poucos se desfez, cânticos alegres começaram a ser entoados
novamente.
Chegara o momento.
Santíssima Trindade, eu vos ofereço o mais precioso Corpo, Sangue e Alma... em
reparação pelas ofensas, sacrilégios e indiferenças...
O camerlengo já sentia a dor física se instalando. Espalhava-se por sua pele como
uma peste, tinha vontade de enfiar as unhas na própria carne como fizera semanas
antes quando Deus viera ao seu encontro pela primeira vez. Não se esqueça da dor
que Jesus suportou. Já sentia as emanações em sua garganta. Nem a morfina
amenizaria o ardor.
Meu trabalho aqui está terminado.
O Horror cabia a ele. A Esperança, à multidão.
No Nicho dos Pálios, o camerlengo seguira a vontade de Deus e untara seu
corpo. Seu cabelo, seu rosto. Sua batina de linho branco. Sua carne. Estava
encharcado com os óleos sagrados, vítreos, das lamparinas. Tinham um perfume
doce como o de sua mãe, mas queimavam. A ascensão dele seria misericordiosa.
Miraculosa e rápida. E o que deixaria para trás não seria escândalo, mas uma nova
força e um novo prodígio.
Deslizou a mão para dentro do bolso e segurou o pequeno isqueiro dourado que
trouxera consigo do incendiário do Pálio.
Murmurou um versículo de Juízes. E, quando se elevaram as chamas do altar para
o céu, subiu também com as chamas o Anjo do Senhor.
Seu polegar fez um movimento.
Estavam cantando na Praça de São Pedro.
A visão que o mundo testemunhou ninguém jamais esqueceria.
Na alta sacada, como uma alma que se libertasse de seu envoltório físico, uma
pira de chamas luminosas irrompeu do meio do corpo do camerlengo. O fogo
subiu, engolfando-o por inteiro no mesmo instante. Ele não gritou. Levantou os
braços acima da cabeça e olhou para o céu. A conflagração rugia a seu redor,
envolvendo-o todo em uma coluna de luz. Ardeu por um tempo que pareceu
infinito tendo o mundo como testemunha. As labaredas ficaram cada vez mais
brilhantes. Então, gradualmente, as chamas se dissiparam. O camerlengo se fora.
Se caíra por trás da balaustrada ou se desintegrara no ar, era impossível dizer.
Tudo o que restou foi uma nuvem de fumaça ondulando no céu acima do
Vaticano.
CAPÍTULO 135
O dia demorou a raiar sobre a Cidade do Vaticano.
Uma chuvarada esvaziara a Praça de São Pedro. A imprensa não arredou pé, seus
representantes amontoados debaixo de guarda-chuvas e nos furgões comentando
os acontecimentos da noite. Em todo o mundo, as igrejas ficaram cheias. O
momento era de reflexão e discussão para todas as religiões. Havia muitas
perguntas e, no entanto, as respostas pareciam provocar apenas perguntas mais
profundas. Até então, o Vaticano se manteve em silêncio, sem fazer qualquer
pronunciamento.
Nas Grutas do Vaticano, o cardeal Mortati ajoelhou-se sozinho diante do
sarcófago aberto. Estendeu a mão e fechou a boca enegrecida do velho Papa. Sua
Santidade agora parecia em paz. Repousando serenamente para toda a eternidade.
Aos pés de Mortati havia uma urna dourada cheia de cinzas. Mortati pessoalmente
juntara as cinzas e as levara até ali.
- Uma oportunidade de perdão - disse ele para Sua Santidade, colocando a urna
dentro do sarcófago ao lado do corpo do Papa. - Não existe amor maior do que o
de um pai por seu filho.
Mortati escondeu a urna sob as dobras da roupa do Papa. Sabia que aquele local
sagrado era reservado exclusivamente para as relíquias dos Papas, mas de alguma
forma ele achava que aquela era uma atitude apropriada.
- Signore? - disse alguém, entrando nas grutas. Era o tenente Chartrand,
acompanhado de três guardas suíços. - Estão esperando o senhor para o conclave.
Mortati assentiu com um gesto de cabeça.
Lançou um último olhar para o sarcófago e depois se levantou. Dirigiu-se aos
guardas.
- Já é hora de Sua Santidade ter a paz que mereceu.
Os guardas se adiantaram e, com grande esforço, empurraram a tampa do
sarcófago de volta para o lugar.
Ela fechou com um estrondo conclusivo.
Mortati estava sozinho ao atravessar o Pátio Bórgia em direção à Capela Sistina.
Uma brisa úmida agitou a batina dele. Um cardeal saiu do Palácio Apostólico e
veio ao seu encontro.
- Posso ter a honra de acompanhá-lo ao conclave, signore?
- A honra é toda minha.
- Signore - disse o cardeal, com ar embaraçado. - O Colégio lhe deve desculpas
por ontem à noite.
Estávamos cegos com...
- Por favor - interrompeu-o Mortati. - Nossas mentes às vezes vêem o que nossos
corações gostariam que fosse verdade.
O cardeal calou-se por um longo tempo. Finalmente, falou:
- Já lhe contaram? O senhor não é mais nosso Grande Eleitor.
Mortati sorriu.
- Já. Agradeço a Deus pelas pequenas bênçãos.
- O Colégio insistiu que o senhor fosse elegível.
- Parece que a caridade não morreu na Igreja.
- O senhor é um homem sábio. Seria um bom líder.
- Sou um homem velho. Seria líder por pouco tempo.
Os dois riram.
Ao chegarem ao fim do Pátio Bórgia, o cardeal hesitou. Virou-se para Mortati
entre perplexo e inquieto, como se a precária reverência da noite anterior se
insinuasse de novo em seu coração.
- O senhor sabia - cochichou o cardeal - que não encontramos restos na sacada
papal?
Mortati sorriu.
- Talvez a chuva os tenha levado embora.
O homem olhou para o céu tempestuoso.
- É, quem sabe...
CAPÍTULO 136
O céu da manhã ainda estava pesado de nuvens quando saíram da chaminé da
Capela Sistina as primeiras baforadas de fumaça branca. Os alvos fiapos
encresparam-se no firmamento e aos poucos se dissiparam. Lá embaixo, na Praça
de São Pedro, o repórter Gunther Glick observava calado, refletindo. O capítulo
final. Chinita Macri aproximou-se por trás dele e apoiou a câmera no ombro.
- Está na hora - disse ela.
Glick sacudiu a cabeça com ar lúgubre.
Virou-se para ela, alisou o cabelo e respirou fundo. Minha última
transmissão, pensou. Uma pequena multidão reunira-se perto deles para assistir.
- Ao vivo em 60 segundos - avisou Macri.
Glick olhou por cima do ombro para o telhado da Capela Sistina.
- Dá para pegar a fumaça?
Macri concordou, paciente.
- Sei como enquadrar uma cena, Gunther.
Glick calou a boca. É claro que ela sabia. A atuação de Macri atrás da câmera na
noite anterior provavelmente daria a ela o Pulitzer. A atuação dele, por outro
lado... Nem queria pensar no assunto.
Tinha certeza de que a BBC o mandaria embora. Seguramente, teriam problemas
legais com diversas entidades poderosas - o CERN e George Bush, inclusive.
- Você está bem - disse Chinita, protetora, afastando o rosto da câmera com um
semblante ligeiramente preocupado. - Será que posso lhe dar um... - ela hesitou,
interrompendo-se.
- Um conselho?
Macri suspirou.
- Eu só ia dizer que não precisa fechar a matéria com espalhafato.
- Eu sei - replicou ele. - Você quer um resumo oficial.
- O mais oficial do mundo. Confio em você.
Glick sorriu. Um resumo oficial? Ela ficou maluca? Uma história como a da noite
anterior merecia muito mais. Uma virada. Uma declaração estrondosa no final.
Uma revelação imprevista de verdades chocantes.
Felizmente, Glick tinha uma carta na manga.
- No ar em... cinco... quatro... três...
Ao olhar através da câmera, Chinita Macri reparou que havia um brilho sorrateiro
no olhar de Glick. É uma loucura deixá-lo fazer isso, pensou ela. Onde eu estava
com a cabeça?
Mas o momento para reconsiderações já passara. Estavam no ar.
- Ao vivo da Cidade do Vaticano - anunciou Glick no momento certo -, aqui é
Gunther Glick, para o noticiário da BBC. - Deu um olhar solene para a câmera,
com a fumaça branca da Capela Sistina subindo atrás dele. - Senhoras e senhores,
agora é oficial. O cardeal Saverio Mortati, um progressista de 79 anos, acabou de
ser eleito Papa na Cidade do Vaticano. Apesar de não ser um candidato provável,
Mortati foi eleito por uma unanimidade sem precedentes pelo Colégio dos
Cardeais.
Macri respirou aliviada. Glick parecia incrivelmente profissional. Até austero.
Pela primeira vez em sua vida, Glick de fato se comportava e falava como um
repórter.
- Conforme já noticiamos - acrescentou Glick, a voz se intensificando
perfeitamente -, o Vaticano ainda não fez qualquer pronunciamento sobre os
miraculosos acontecimentos de ontem à noite.
Ótimo! O nervosismo de Chinita diminuiu mais um pouco. Até aqui, tudo bem.
Glick assumiu uma expressão pesarosa em seguida.
- Embora a noite passada tenha sido uma noite de prodígios, foi também uma
noite de tragédias. Quatro cardeais morreram no conflito de ontem, assim como o
comandante Olivetti e o capitão Rocher, da Guarda Suíça, ambos no cumprimento
do dever. Outras baixas incluem Leonardo Vetra, o renomado físico do CERN e
pioneiro da tecnologia da antimatéria, e Maximilian Kohler, o diretor do CERN,
que aparentemente veio ao Vaticano em um esforço para oferecer ajuda, mas que,
de acordo com as informações, faleceu nesse meio tempo. Nenhum relatório
oficial foi divulgado ainda a respeito da morte do senhor Kohler, mas se supõe
que tenha sido provocada por complicações decorrentes de uma antiga doença.
Macri balançou a cabeça para ele. A reportagem estava indo muito bem.
Justamente como tinham combinado.
- E, em conseqüência da explosão no céu acima do Vaticano na última noite, a
tecnologia da antimatéria produzida pelo CERN tornou-se o assunto quente entre
os cientistas, despertando interesse e controvérsia. Uma declaração lida em
Genebra pela assistente do senhor Kohler, Sylvie Baudeloque, anunciou esta
manhã que o conselho diretor do CERN, embora entusiasmado com o potencial
da antimatéria, está suspendendo todas as pesquisas e licenciamentos até que
investigações posteriores sobre sua segurança possam ser efetuadas.
Excelente, pensou Macri. Agora, a reta final.
- Uma ausência notável em nossas telas ontem - prosseguiu Glick - foi o rosto de
Robert Langdon, o professor de Harvard que veio para a Cidade do Vaticano a
fim de colaborar com seus conhecimentos sobre os Illuminati. Acreditava-se que
teria morrido na explosão da antimatéria, mas temos informações de que foi visto
na Praça de São Pedro após a explosão. Como ele chegou ainda é especulação,
mas um porta-voz do Hospital Tiberina afirma que o senhor Langdon caiu do céu
no rio Tibre logo depois da meia-noite, foi medicado e liberado. - Glick arqueou
as sobrancelhas para a câmera. - E se isto for verdade, essa foi certamente uma
noite de milagres.
Perfeito! Macri abriu um sorriso largo. Um resumo impecável! Agora, encerre a
transmissão!
Mas Glick não encerrou. Fez uma pausa e deu um passo na direção da câmera.
Sorriu, misterioso.
- Antes de encerrarmos, porém...
Não!
- . . . gostaria de convidar uma pessoa para conversar conosco.
As mãos de Chinita gelaram segurando a câmera. Uma pessoa? Que diabos ele vai
fazer? Que pessoa? Encerre agora, seu idiota! Mas sabia que era tarde demais.
Glick já se comprometera.
- O homem que vou apresentar - disse Glick - é um americano, um famoso
acadêmico.
Chinita ficou indecisa. Prendeu a respiração enquanto Glick se dirigia ao pequeno
grupo de pessoas em torno deles e fazia um sinal para que seu convidado se
adiantasse. Ela fez uma oração silenciosa. Por favor, que ele tenha de alguma
forma localizado Robert Langdon e não um desses malucos obcecados por
conspirações dos Illuminati.
Quando o convidado de Glick apareceu, porém, o coração de Macri se apertou.
Não era Robert Langdon coisa nenhuma. Era um homem careca de jeans e camisa
de flanela. Usava uma bengala e grossos óculos de grau. Macri ficou apavorada. É
um dos malucos!
- Quero lhes apresentar - anunciou Glick - o respeitado professor Joseph Vanek,
especialista em assuntos do Vaticano da Universidade De Paul, em Chicago.
O homem juntou-se a Glick na imagem da câmera. Não era um maníaco por
conspirações. Ela até já ouvira falar daquele sujeito.
- Doutor Vanek - começou Glick -, o senhor tem algumas informações
surpreendentes para nos dar sobre o conclave da noite passada, não é?
- De fato, tenho - disse Vanek. - Depois de uma noite de tantas surpresas, é difícil
imaginar que ainda existam mais surpresas. Entretanto... - ele fez uma pausa.
Glick sorriu.
- Entretanto, existe um detalhe estranho em tudo isso.
Vanek assentiu.
- Sim. E, por mais desconcertante que seja, acredito que o Colégio dos Cardeais
elegeu dois Papas neste fim de semana.
Macri quase deixou cair a câmera.
Glick deu um sorriso astuto.
- Dois Papas, o senhor disse?
O especialista concordou.
- Sim. Antes de mais nada, devo explicar que passei a vida estudando as leis da
eleição papal. A judicatura do conclave é extremamente complexa e grande parte
dela está hoje esquecida ou é deixada de lado como obsoleta. Talvez nem o
Grande Eleitor esteja ciente daquilo que vou revelar agora. Todavia, de acordo
com leis antigas e esquecidas enunciadas no Romano Pontífice Eligendo, Numero
63, a eleição não é o único método pelo qual um Papa pode ser eleito. Há outro
método, mais divino. Chama-se "eleição por aclamação" - ele fez uma pausa. - E
aconteceu ontem à noite.
Glick lançou um olhar penetrante a seu convidado.
- Como devem lembrar - prosseguiu o acadêmico -, na noite de ontem, quando o
camerlengo estava no telhado da basílica, todos os cardeais embaixo começaram a
gritar seu nome em uníssono.
- Sim, eu me lembro.
- Com essa imagem em mente, permita-me ler o texto original das antigas leis
eleitorais. - O homem tirou uns papéis do bolso, pigarreou e começou a ler: - "A
Eleição por Aclamação ocorre quando todos os cardeais, como se por inspiração
do Espírito Santo, livre e espontaneamente, unanimemente e em voz alta,
proclamam o nome de um indivíduo."
Glick, sorridente, perguntou:
- O senhor está dizendo então que, ontem à noite, quando os cardeais repetiram
juntos o nome de Carlo Ventresca, eles na verdade o elegeram Papa?
- Sim, com certeza. Além disso, a lei estabelece que a eleição por aclamação
suplanta a exigência de elegibilidade de um cardeal e permite que qualquer
membro do clero - padre ordenado, bispo ou cardeal - seja eleito. Portanto, como
pode ver, o camerlengo estaria perfeitamente qualificado para a eleição papal por
esse procedimento. - O doutor Vanek olhou direto para a câmera.
- Os fatos são estes: Carlo Ventresca foi eleito Papa na noite de ontem. Reinou
por menos de 17 minutos. E, se não tivesse ascendido aos céus milagrosamente
em uma coluna de fogo, estaria agora enterrado nas Grutas do Vaticano com os
Outros Papas.
- Obrigado, doutor - e Glick deu uma piscada maliciosa para Macri. - Foi muito
esclarecedor.
CAPÍTULO 137
Do alto dos degraus do Coliseu,vittoria riu e voltou-se para ele, lá embaixo,
chamando-o.
- Ande, Robert! Devia ter me casado com um homem mais moço! - o sorriso dela
era mágico.
Ele tentou acompanhá-la, mas suas pernas pesavam como se fossem feitas de
pedra.
- Espere - pediu. - Por favor...
Sua cabeça latejava.
Robert Langdon acordou sobressaltado.
Escuridão.
Ficou deitado um tempo enorme na maciez estrangeira da cama, incapaz de saber
onde estava. Os travesseiros eram de plumas de ganso, imensos e maravilhosos. O
ar cheirava a pot-pourri. Do outro lado do quarto, duas portas de vidro abriam-se
para uma generosa sacada, onde uma brisa ligeira corria sob a lua meio encoberta
pelas nuvens. Langdon tentou lembrar-se de onde estava e como fora parar ali.
Farrapos de lembranças filtravam-se por sua consciência.
Uma pira mística de fogo, um anjo se materializando em meio à multidão, a mão
leve pegando a sua mão e levando-o pela noite afora, guiando seu corpo exausto e
machucado através das ruas, levando-o para lá, para aquele apartamento,
empurrando-o meio adormecido para uma ducha escaldante, levando-o para
aquela cama e velando por ele enquanto ele adormecia como se desmaiasse.
Na penumbra, Langdon enxergou uma segunda cama. Os lençóis estavam
desarrumados, mas a cama estava vazia. De um dos aposentos ao lado, ouviu o
ruído abafado mas constante de um chuveiro aberto.
Ao olhar de novo para a cama de Vittoria, entreviu um brasão bordado em cores
nítidas no travesseiro dela e a inscrição: HOTEL BERNINI. Langdon teve de
achar graça. Vittoria escolhera bem. O luxo do Velho Mundo com vista para a
Fonte do Tritão, de Bernini - não havia hotel mais apropriado em toda a Roma.
Deitado ali, ouviu batidas e percebeu o que o acordara. Alguém estava batendo à
porta. Agora com mais força.
Confuso, Langdon levantou-se. Ninguém sabe que estamos aqui, pensou, meio
inquieto. Vestiu um elegante roupão do Hotel Bernini e saiu do quarto de dormir
para o vestíbulo da suíte. Parou um instante junto à pesada porta de carvalho e
então a abriu.
Um homem alto e vigoroso vestido numa profusão rebuscada de amarelo e roxo
olhou para ele.
- Sou o tenente Chartrand - disse o homem. - Da Guarda Suíça do Vaticano.
Langdon sabia muito bem quem ele era.
- Como... como nos encontrou?
- Vi quando saíram da praça ontem à noite. Eu os segui. Estou aliviado por ainda
estarem aqui.
Langdon sentiu uma ansiedade repentina, cogitando se os cardeais teriam enviado
Chartrand para escoltá-lo juntamente com Vittoria de volta para a Cidade do
Vaticano. Afinal, os dois eram as únicas pessoas além dos membros do Colégio
dos Cardeais que sabiam a verdade. Eram uma ameaça.
- Sua Santidade incumbiu-me de dar isto ao senhor - disse Chartrand, entregandolhe
um envelope lacrado com o sinete do Vaticano. Langdon abriu o envelope e
leu o bilhete manuscrito.
Senhor Langdon e Senhorita Vetra,
Embora seja meu profundo desejo solicitar sua discrição a respeito dos assuntos
das últimas 24 horas, não posso deforma alguma ter a presunção de lhes pedir
mais do que já concederam. Sendo assim, sem nada pretender, recolho-me
esperando que deixem seus corações os guiarem nessa questão. O mundo hoje
parece um lugar melhor e talvez as perguntas sejam mais poderosas do que as
respostas.
Minha porta estará sempre aberta para ambos.
Sua Santidade, Saverio Mortati.
Langdon leu duas vezes o bilhete. O Colégio dos Cardeais sem dúvida escolhera
um líder cheio de nobreza e generosidade.
Antes que Langdon pudesse dizer qualquer coisa, Chartrand entregou-lhe um
pequeno pacote.
- Em sinal do agradecimento de Sua Santidade.
Langdon segurou o pacote. Era pesado e estava embrulhado em papel pardo.
- Por decreto do Santo Padre - disse Chartrand -, esse objeto do cofre papal é
confiado ao senhor em empréstimo por tempo indefinido. Sua Santidade pede
apenas que em sua última vontade e testamento o senhor estabeleça que ele deve
voltar para o lugar de onde veio.
Langdon abriu o embrulho e perdeu a fala. Era o ferro de marcar. O diamante
Illuminati.
Chartrand sorriu.
- Fique em paz - disse, virando-se para ir embora.
- Muito... obrigado - Langdon conseguiu por fim dizer, as mãos trêmulas
segurando o valioso presente.
O guarda hesitou, já no corredor.
- Senhor Langdon, posso lhe perguntar uma coisa?
- Claro.
- Os outros guardas e eu estamos curiosos. Naqueles últimos minutos, o que
aconteceu lá em cima dentro do helicóptero?
Langdon ficou um tanto apreensivo. Sabia que aquele momento chegaria - o
momento da verdade. Ele e Vittoria tinham conversado sobre o assunto na noite
anterior enquanto se afastavam da Praça de São Pedro. E tinham tomado uma
decisão. Antes mesmo do bilhete do Papa.
O pai de Vittoria sonhara que sua descoberta da antimatéria causaria um despertar
espiritual. Os acontecimentos da véspera seguramente não eram o que ele
pretendia, mas havia um fato que não se podia negar: naquele momento, em todo
o mundo, as pessoas estavam pensando em Deus como nunca haviam feito antes.
Quanto tempo a mágica iria durar, Langdon e Vittoria não tinham a menor idéia,
mas nunca seriam capazes de quebrar aquele deslumbramento com escândalos e
dúvidas. O Senhor trabalha de estranhas maneiras, disse Langdon a si mesmo,
conjeturando se talvez, quem sabe, o dia anterior correra de acordo com a vontade
de Deus, afinal de contas.
- Senhor Langdon? - repetiu Chartrand. - Eu estava perguntando sobre o
helicóptero...
Langdon deu um sorriso tristonho.
- É, eu sei - e deixou que as palavras viessem de seu coração, não de sua mente. -
Pode ser que tenha sido o choque da queda, mas a minha memória... parece... está
toda embaralhada...
Chartrand fez uma cara desanimada.
- Não se lembra de coisa alguma?
Langdon suspirou.
- Tenho a impressão de que isso vai ser um mistério para sempre.
Quando Robert Langdon voltou para o quarto, a visão que o aguardava fez com
que parasse no meio do caminho. Vittoria estava na sacada, de costas para a
grade, os olhos profundos pousados nele. Uma verdadeira aparição dos céus, a
silhueta radiante com a lua brilhando por trás. Poderia ter sido uma deusa romana,
envolta em seu roupão atoalhado, a faixa apertada na cintura acentuando suas
curvas esbeltas. Na rua, uma névoa clara pairava como um halo sobre a Fonte do
Tritão, de Bernini.
Langdon sentia-se tremendamente atraído por ela, mais do que por qualquer
mulher em sua vida. Com cuidado, colocou o diamante Illuminati e a carta do
Papa em sua mesa-de-cabeceira. Haveria muito tempo para explicar tudo aquilo
depois. Foi ao encontro dela na sacada.
Vittoria mostrou-se contente ao vê-lo.
- Você acordou - murmurou ela, com um ar de timidez afetada. - Finalmente.
Langdon sorriu.
- O dia de ontem foi longo.
Ela correu a mão pela cabeleira abundante, o decote de seu roupão abrindo-se
ligeiramente.
- E agora suponho que você queira sua recompensa.
A observação pegou Langdon desprevenido.
- O que... o que foi que disse?
- Somos adultos, Robert. Pode admitir. Você está com vontade. Estou vendo em
seus olhos. Uma fome intensa, carnal. - Ela sorriu. - Eu também. E essa vontade
ardente está prestes a ser satisfeita.
- Está? - ele se animou e deu um passo em direção a ela.
- Completamente - ela lhe estendeu um cardápio de serviço de quarto. - Pedi tudo
o que eles têm aqui.
O banquete foi suntuoso. Os dois jantaram juntos ao luar, sentados na sacada
saboreando uma salada frisée, trufas e risoto. Bebericaram um vinho Dolcetto e
conversaram até tarde da noite.
Langdon não precisaria ter sido especialista em Simbologia para decifrar todos os
sinais que Vittoria lhe mandava. Durante a sobremesa de creme de amoras raras
com savoiardi e o Romcaffe fumegante, Vittoria encostou suas pernas nuas nas
dele sob a mesa e lançou-lhe um olhar carregado de significados. Parecia estar
querendo que ele largasse os talheres naquele instante e a levasse para dentro em
seus braços.
Mas Langdon nada fez. Comportou-se como um perfeito cavalheiro. Este é
um jogo de dois, pensou, disfarçando um sorriso maroto.
Quando acabaram de comer, Langdon foi sentar-se sozinho na beirada de sua
cama, onde ficou virando e revirando o diamante Illuminati nas mãos e fazendo
comentários intermináveis sobre o milagre de sua simetria. Vittoria olhava fixo
para ele, sua incompreensão transformando-se em uma evidente frustração.
- Você acha esse ambigrama tremendamente interessante, não é? - perguntou ela.
Langdon concordou.
- Fascinante.
- Diria que é a coisa mais interessante neste quarto?
Langdon coçou a cabeça, fingindo ponderar com cuidado a pergunta.
- Bem, há uma coisa que me interessa mais.
Ela sorriu e se aproximou dele.
- Que é?
- Como você refutou aquela teoria de Einstein usando atuns.
Vittoria lançou os braços para cima.
- Dio mio! Chega desses atuns! Pare de brincar comigo, estou lhe avisando!
Langdon deu um sorriso largo.
- Em sua próxima experiência, você deveria estudar linguados e provar que a erra
é plana.
Vittoria estava furiosa, mas os primeiros vestígios de um sorriso exasperado
pareceram em seus lábios.
- Para sua informação, professor, minha nova experiência vai marcar a história da
iência. Pretendo provar que os neutrinos têm massa.
- Os neutrinos têm massa? - Langdon fez uma cara espantada. - Eu nem sabia que
eles eram comestíveis!
Com um movimento fluido, ela o derrubou e o imobilizou.
- Espero que você acredite na vida depois da morte, Robert Langdon. - Vittoria ria
enquanto se sentava em cima dele, as mãos prendendo-o, os olhos cheios de
malícia.
- Na verdade - disse ele, rindo mais ainda -, sempre achei difícil imaginar alguma
coisa além deste mundo.
- É mesmo? Quer dizer que nunca teve uma experiência religiosa? Um momento
perfeito de êxtase glorioso?
Langdon sacudiu a cabeça, negando.
- Não, e duvido muito que eu seja o tipo de pessoa que jamais possa ter uma
experiência religiosa.
Vittoria deixou cair seu roupão.
- Você nunca foi para a cama com uma mestra de ioga, foi?
Fim

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