DOCE VENENO DO ESCORPIÃO
HISTÓRIA DE BRUNINHA SURFISTINHA.
"Ao perder a ti, tu e eu perdemos
Eu porque tu eras a que eu mais amava
E tu, porque eu era o que te amava mais
Contudo, de nós dois, tu perdeste mais do
que eu
Porque eu poderei amar outras como amava
a ti
Mas a ti não te amarão como te amei eu"
Interfone. Ele chegou! Deixei subir. Enquanto ele pega o elevador,
checo os últimos detalhes: cabelos escovados, pele cheirosa, boca pronta para
o que der e vier.
No quarto, a cama à espera, a luz bem leve. Para completar o clima,
coloco um CD (se ele for chato, toco baladinhas, techno, para agitar um
pouco; se for legal, prefiro Jota Quest, Emerson Nogueira, uma coisa mais
romântica). Visto uma saia bem curta e provocante, com um top que valoriza
meus seios.
Tudo fácil de tirar.
Ou de ser tirado. Calço sandálias bem altas. Não que me importe de ser
baixinha. Faz parte do meu charme. Toca a campainha. Atendo. Ele entra.
Me beija no rosto e se apresenta, já que é sua primeira vez comigo.
Mesmo sem precisar, faço o mesmo. Pego ele pela mão e o levo até o sofá. Em
clima de namoro, a conversa começa e logo ruma para a putaria.
"Hoje, quero te pegar de jeito, por trás."
Mas você quer minha boceta ou meu cu?"
Eu quero tudo , ele responde no meu ouvido enquanto passeia sua mão
pelas minhas coxas.
Sua boca ofegante roça o meu pescoço; sinto a barba por fazer,
enquanto com minhas mãos entre suas pernas sinto o mundo virar pedra. Com um
puxão dele, o top desliza e meus seios pulam para fora. Como quem descobre um
novo brinquedo, deixo que ele segure firme, mas com carinho, O bico do meu
seio fica intumescido com aquela língua atrevida passeando pela auréola.
Sinto sua respiração quente, ofegante.
Lambe um seio, depois o outro, junta os dois com as mãos, querendo
encher a boca como um garoto guloso. Na confusão de roupas tiradas com
pressa, ele puxa minha calcinha e desce com a boca até o umbigo. Pára. Me
olha com um jeito sacana.
::você quer que eu te chupe?"
Quero.
Agora,ou depois?"
Você é quem sabe... A língua é sua.
"Mas a boceta é sua."
"Então, quero agora."
Gozei muito, sem precisar de nenhum esforço interior. Foi bom de
verdade. E estava só começando.
Subimos a pequena escada de caracol do meu flat direto para o quarto.
E ele já foi encapotando o pau, para aproveitar o meladinho da boceta, e
engatamos o mais comportado papis e mamis.
"Cavalga em cima de mim."
Primeiro, montei de frente e, com ele todinho dentro de mim, me virei
de bumbum para ele. Não demorou muito até que ele saísse de mim e me pedisse
para retribuir com a boca a gentileza. Chupei até ele gozar, com ele
agarrando com delicadeza meus cabelos longos.
Mal deu tempo de a gente conversar. Ainda com a boca, reanimei o
menino. Num 69 alucinado, ele começou a brincar na minha bunda. Isso me
excitou. Não resisti e montei.
Ele, todo engatado no meu cu, me levantou e me botou de quatro. No
fim, pediu para gozar na minha boca mais uma vez. Deixei, O CD chegou ao
final quase junto com o nosso segundo tempo. Game over. O fim do CD é o sinal
de que a hora que ele tem comigo acabou. Se quiser, pode tomar um banho,
pagar o que combinamos por telefone e..
"Até logo.
Sem ressentimentos. A fila anda. Serviço prestado, pagamento feito
(e). conferido, de forma discreta, sem ele perceber, claro). Ele foi o
primeiro cliente do dia.
Tenho mais cinco pela frente. Com menos de uma hora e um banho entre
um cliente e outro, mal tenho tempo de me refazer. Prefiro fazer tudo de uma
vez, cumprir logo minha meta de cinco programas diários e ficar livre o
quanto antes.
Hoje, a agenda está funcionando. Quando eu ou o cliente nos atrasamos,
o jeito é o próximo que chega ficar lá na recepção, esperando. Até tudo
recomeçar.
O ritual da chegada, do check-list do corpo e do quarto assim que o
interfone toca é o mesmo para os que virão, O segundo cliente é o tipo de
cara bem tímido, que você tem de pegar pela mão e com quem se tem de conduzir
a transa. Foi mecânico. Com ele, não consigo gozar, pois a trepada é tensa -
para os dois. O terceiro, moleque de tudo, tem fôlego (e rapidez) para me
comer três vezes. Como é o terceiro programa comigo, batizei-o de coelhinho -
mas ele não sabe. Na base da rapidinha, quem não tem tempo de gozar sou eu.
Não faz mal: rola afinidade e a gente sempre conversa bastante.
O quarto traz a amante para uma festinha a três. Uma mulher muito
interessante - e entendida do riscado. Não era bonita, porém me acendeu. Se
eu não me controlo, e a amiguinha dele também, quase que ele fica "na mão",
literalmente. Claro que eu não ia deixar isso acontecer... Enquanto ela me
chupava, com ele me comendo, cavalguei gostoso e gozei. Não pela cavalgada,
mas pela língua.
O quinto era estilo "homem para casar". Não rolou química, mas teve
muita afinidade. Quarentão, conseguiu fazer uma coisa que eu nunca tinha
visto:
gozou sem nem tocar no pau enquanto eu chupava o saco dele. Ah, ele me
trouxe uma torta de limão. Muito boa. Depois de eu cavalgar um pouquinho, o
segundo tempo terminou com ele gozando na minha boca.
O sexto e último do dia quer que eu o leve a um clube de swing. É sua
primeira vez em uma casa dessas. Mais um que vou levar para o mau caminho...
Como a noite estava gostosa, e fazia tempo que eu não usava vestido,
escolhi um que, na verdade, é apenas um pedaço de pano: tem um decotão na
frente e é do comprimento que cobre apenas o bumbum e a boceta. Aproveitei
para ir com uma sandália de amarrar na perna. Queria arrasar. E, claro,
consegui. Eu era a mais gostosa do Marrakesh naquela noite. Mas ele, mesmo
depois de bebermos e dançarmos um pouco,não conseguia entrar no clima de
suruba.
"Não estou à vontade numa sala com tanta gente trepando."
Fomos para a única sala onde homens desacompanhados podem entrar.
Sentei em um sofazinho vazio e ele começou a me chupar. Do nada,
apareceram uns caras. Sentou um de cada lado no sofá e outros dois ficaram de
pé, só olhando. Quando ele percebeu o movimento, se assustou e acabamos indo
para um quartinho privativo, só nós dois.
Como tinha rolado química, nem fiz questão de trocar de casal. Ele
também não quis. Rolou a noite toda. Chupeta, espanhola, beijo grego...
Sempre que vou num swing, fico excitada com a chance de, numa dessas
trocas, ficar com uma mulher interessante. Hoje, para sorte do meu cliente,
só havia tiazinhas. Nada contra as tias, só que não me dão tesão. Quase rolou
com um quarentão que me puxou, mas ele estava desacompanhado. Mesmo que não
tenha rolado de eu chupar nenhuma boceta ou de ter trocado de casal, a
madrugada valeu muito. Cheguei em casa às 5h30 da manhã.
Transas enlouquecidas, surubas, muitos homens (e mulheres) diferentes
por dia, noites quase sem fim. O que pode ser excitante para muitas garotas
como eu, na efervescência dos vinte anos, para mim é rotina. É meu dia-a-dia
de labuta já faz três anos. Trabalhando cinco dias por semana, com uma média
de cinco programas por dia - é só você fazer as contas para saber quantas
vezes já transei por dinheiro. Por mais que eu chegue a curtir, a gozar de
verdade, ainda assim é trabalho. Trabalho que escolhi por não ter outra
escolha quando... Bem, é uma longa história. A minha, pessoal, e a da Bruna.
Sim, somos duas. Com duas histórias diferentes numa mesma garota: eu.
Um desconhecido. Eu dançava sozinha quando esse menino me puxou para
um beijo. Minha primeira balada à noite. Nem perguntei seu nome. Meu primeiro
programa de "adulto".
Liberdade aos 13 anos, quase 14. Não fazia nem meia hora que eu havia
chegado. Meu primeiro beijo. Ali mesmo, do beijo passamos ao amasso, no meio
da pista. Quando eu menos esperava, ele me largou. Tudo assim, sem
sentimento, sem trocar uma palavra. Naquela noite, fiquei com outros dez
garotos diferentes.
Não bastava um: tinham que ser vários para me satisfazer. Raquel
despertava para o sexo.
Um desconhecido. Mesmo nervosa, eu me apresento com um texto ensaiado
ali, na hora: "Sou a Bruna, faço oral, vaginal e anal". Completei dizendo
minha idade falsa, "18 anos", sem saber que nenhuma garota faz disso
marketing pessoal.
Ninguém podia saber que era meu primeiro programa. Fazia apenas meia
hora que eu havia saído da casa dos meus pais para chegar àquela nova casa.
Minha estréia aos 17 anos. Não diria àquele estranho que nunca tinha
feito sexo por dinheiro. Ele me escolheu, de cara. Eu queria sumir, sair
correndo e voltar para a casa dos meus pais. Em vez disso, subimos para o
quarto. Penso na minha mãe. Um estranho me toca e quer transar sem camisinha.
"Ela deve estar sofrendo." Não deixo ele me tocar. Depois de ele brincar de
ginecologista comigo, enfiando seu dedo e cheirando para saber se estava
"tudo bem", me penetrou com camisinha. Eu só pensava:
"Vou pegar o dinheiro desse cara e voltar para casa. Ainda dá tempo de
desistir e ir embora". Acabei fazendo seis programas naquela tarde.
Nunca mais voltei para casa. Nunca mais vi meus pais. Bruna nasceu
para o sexo.
Pouco mais de três anos separam esses dois momentos tão distantes um
do outro. No primeiro, Raquel mudava da água para o vinho, da meiga filha
mimada para uma adolescente sem freio, mentirosa. Havia treinado muito beijo
no espelho do banheiro, na laranja, no braço, sempre confiante nas dicas das
revistas de meninas. Ao vivo, tinha sido muito melhor. No segundo, achei no
meu corpo, entre as pernas, a chave da liberdade e o meu ganha-pão, mesmo que
isso significasse mentir minha idade e colocar em prática, por cem reais o
programa, com quarenta reais de lucro para mim, o pouco que havia aprendido
em seis transas com um namoradinho sério e outro ficante.
Na pista da Kripton, em plena Vila Olímpia, a cada noite de balada eu
queria mais e mais.
Ia de saia bem curta, para facilitar as coisas para quem quisesse
sentir com as mãos o que a quase escuridão não deixava mostrar. Se não
transei bem ali, se não quis perder no meio da pista minha virgindade, não
foi por falta de oportunidade.
O prazer que experimentava ao sentir o pênis do garoto, duro por minha
causa debaixo das calças, me roçando aqui e ali, era quase irresistível.
Quase...
Abri muito zíper de garotos na pista mesmo, só para baixar sua cueca e
puxar seu pênis um pouco para fora para brincar. Não tinha a menor idéia de
como masturbar um homem, até que um deles me pediu, com todas as letras:
"Bate uma pra mim". Sem saída, disse a verdade: "Não sei". Encostados em uma
parede próxima da pista, comigo, sem graça, ouvindo seu riso sacana, ele
pacientemente pegou minha mão e me ensinou o movimento. Dali para a frente,
só não fiz isso com quem não quis. É fantástico fazer um cara gozar, sentir
prazer. Comecei a punhetar todos com quem ficava enquanto dançava.
Ninguém à volta percebia, pois muitos estavam ocupados fazendo
exatamente a mesma coisa que eu e meu ficante da vez. Cheguei mesmo a ver
muitos casais transando de verdade nos sofás. Com os seguranças do lugar, não
havia problemas:
se pegassem um casal mais atirado ou exibicionista, pediam apenas para
maneirar.
Nunca transei na balada. Houve muitas oportunidades, mas nenhuma
coragem. Para perder a virgindade, teria que ser com alguém especial. Sou
romântica. Não que isso me impedisse de começar a deixar que os garotos me
tocassem mais intimamente. Sob a saia bem curta, abaixava um pouco minha
calcinha e, só com o contato das mãos entre minhas coxas e na minha vagina,
ficava super - molhada. Achava que aquilo era gozar. Só depois descobri que
"chegar lá" era mais, muito mais - e melhor. Aprendi que o gozo, para mim,
começa com um friozinho na barriga. Mesmo assim, não queria transar.
Cheguei muito perto de ir até o fim algumas vezes. Por duas vezes,
entrei no carro, eu e meu ficante tiramos nossas roupas, fizemos de tudo e eu
fui até onde conseguia.
E olha que já era bem longe. Na hora de transar de verdade, de ser
penetrada, ficava arrependida e com medo.
"Eu preciso ir embora."
"Agora que a gente tá no embalo?" "É que meu pai vem me pegar daqui a
pouco.
"Ele espera", dizia o outro, já com o pau duro para fora da calça e as
mãos parecendo dois polvos, cheias de dedos em cima de mim.
"Não dá."
"Mas você já tá quase pelada, já fizemos quase tudo. Só falta o
principal..."
"Vai ficar faltando, me desculpe."
Sempre arrumava uma desculpa e caía fora.
Para o garoto, mais velho e maior de idade, eu seria apenas "mais
uma".
E eu não queria ser apenas "mais uma". Me sentiria usada. Ainda
restava um pouco de razão na minha cabeça romântica. Transar ali para nunca
mais ver o cara? Não era meu ideal de primeira vez. Sem falar no medo da dor
e do sangramento do qual falavam as revistas de adolescentes. Achava que
sangraria horrores, como uma torneirinha de sangue.
No fundo, era inexperiência mesmo. Sem querer confessar ser virgem, e
igualmente sem coragem para pedir uma camisinha, me imaginava no lugar de uma
amiga que engravidou aos 15 anos. Ela nem sequer sabia quem era o pai da
criança. Mãe, quem é o meu pai?" "Não sei, filho E eu sei bem o que
significava esse tipo de diálogo.
No meu primeiro dia na casa da Franca, a última coisa que eu queria
era que descobrissem minha falta de experiência. Cheguei lá pelas duas da
tarde, depois de ter caminhado desde o Paraíso, onde morava, deixando para
trás tudo o que tinha: mãe, pai, quarto, roupas. Carregava um fichário e a
mochila do colégio com poucas roupas e muitos biquínis para usar no meu
primeiro emprego. Perda de tempo:
nenhuma das garotas trabalhava de biquini..
Sem roupa decente para trabalhar, as outras garotas me arrumaram umas
coisas horrorosas. Justo eu, que sempre me expressei pelo uso de marcas de
grife, que compensavam minha gordurinha e minha síndrome de patinho feio.
Tive de me conformar. Sabia que um dia ganharia meu dinheiro e compraria tudo
outra vez.
A cafetina da casa da Franca, Larissa, foi a única para quem disse uma
parte da verdade. Ela me pediu o RG, e não tive como esconder: eu só tinha 17
anos. "Não diga nada a ninguém sobre isso", ela me aconselhou.
Por mais que tentasse bancar a experiente na frente das outras
garotas, de cara dei bandeira:
"Com que nome você trabalha?", perguntou Larissa.
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"Raquel", disse, sem um pingo de malícia.
"Nenhuma garota de programa usa seu nome de verdade. Aqui, vai ter de
trocar."
"Você combina com Bruna", disparou a Mari, que acabou virando uma boa
amiga.
Não me lembro por que, quando foi ou quantos anos eu tinha, mas não
esqueço que cresci com a história de ser adotada na cabeça. Quando tinha
cinco anos, perguntei à minha mãe. Diante da resposta positiva, não tive
coragem de perguntar o que significava, afinal, adoção. Levei minha dúvida
para a professora da escola, que me explicou que as pessoas adotadas foram
bebês abandonados em um lugar porque a mãe não podia ou não queria criar.
Depois disso, vem um casal e escolhe uma dessas crianças para a adoção.
"Escolhe?" Me senti um objeto. Por mais que meus pais sempre tivessem
me tratado como filha, foi difícil não me revoltar, mesmo que guardasse isso
só para mim. Pô, filho era o que nascia da barriga. Só comecei a aceitar o
contrário bem mais tarde. Talvez tarde demais.
Tentava levar tudo numa boa, pois tinha mesmo uma família. Mas sempre
vinha alguém e comentava que eu era muito diferente das minhas irmãs mais
velhas e da minha mãe. Ela é bem européia, pele clarinha, cabelos e olhos
escuros, traços delicados. A gente só se parece na altura: ela é tão baixinha
quanto eu. Às vezes, até trocávamos algumas roupas, uns casacos. Mas as
semelhanças ficavam por aí. Minhas duas irmãs, ao contrário, são iguaizinhas
à minha mãe.
Mesmo um tio meu jamais me tratou como sobrinha. Para os que não
conheciam meu pai, a desculpa era: "ela puxou a ele". Nem na sombra: ele tem
1,92 metro, é gordo, branquinho... Em alguns momentos, para me defender desse
preconceito, dessa agressão, minha mãe mentia para os desconhecidos,
inventava algo para me resguardar.
Quanta inveja eu senti das minhas amiguinhas que se pareciam com seus
pais, com sua família de verdade! A raiva ia dos meus pais biológicos para os
adotivos. Quando brigávamos, eu os chamava de tio e tia. Coitada da minha
mãe... Mas eu não tinha maturidade nem estrutura para lidar com isso sozinha.
Com sete anos, em 1991, voltamos todos para Sorocaba, local de origem
da minha família adotiva também. Ou melhor, nos mudamos para nossa chácara,
em Araçoiaba da Serra. Meu pai havia sofrido um acidente e tivera de parar de
trabalhar. Um dia, na garagem do prédio, se abaixou para pegar alguma coisa
e, quando levantou, bateu a cabeça numa viga mais baixa do teto.
Aquela pancada afetou seriamente seu cérebro, nem sei explicar como.
Só quando o vi desmaiado pela primeira vez, no meio da sala, senti o quanto
era grave. Quando meu pai viu que não tinha como continuar trabalhando, no
auge de sua carreira de Direito, se abateu, ficou muito deprimido. Foi melhor
mesmo a gente se mudar para a chácara.
Apesar de ter sido uma fase muito tensa e difícil com a doença do meu
pai, não tenho do que me queixar: enquanto era poupada, sempre que possível,
do clima de doença, brincava muito, inclusive com minha mãe e, às vezes, até
com meu pai.
Ele pendurou uma tabela de basquete no quintal, no meio das árvores de
frutas, e eu passava horas treinando, sonhando em um dia ser uma
profissional. Com minha altura, seria mais um sonho do tipo impossível...
Para mim, todas as prostitutas de São Paulo estavam na Augusta. Eu já
havia passado por lá muitas vezes, inclusive com meus pais. "Olha lá aquelas
putas , alguém comentava. Como é que uma mulher chega nesse ponto?", eu
pensava. Para mim, só tinha putas ali, naquela rua suja, feia. Ou, então,
elas viviam naquelas casinhas velhas, caindo aos pedaços, com mulheres muito
maquiadas penduradas nas janelas, chamando os homens que passam pela rua. Lá
dentro, bastava elas abrirem as pernas e esperarem o cliente gozar: pronto. A
tal "vida fácil". Garota de programa seria assim, também? Não pelos anúncios
de jornal. "Você, menina de 18 a 25 anos, atenda a executivos ganhando no
mínimo mil reais por semana.
Nas semanas anteriores à minha fuga, quando já estava decidida a sair
de casa, comprei jornais para ver os classificados e cabulei aulas para
visitar muitos desses lugares: boates, privês, casas de massagem. Não vi nada
que se aproximasse daquela imagem bagaceira da Augusta, muito menos das
mulheres acabadas. A maioria dos lugares, como o Bahamas, era de bom gosto,
elegante mesmo. Por fora, você nem se toca do que é lá dentro. Casas que
encheram meus olhos. As garotas que vi por lá não tinham nada de anormal, não
tinham "puta" estampado na testa nem ficavam na porta se oferecendo a quem
passasse.
O privé da alameda Franca, nos Jardins, foi a minha escolha. Eu não
sabia fazer nada, nem tinha experiência ou segundo grau completo. Para sair
de casa, teria que pagar para ver - e ganhar os tais mil reais pelo que
fizesse. O preconceito foi embora e eu disse:
Vou ter que ser isso . E, confesso: fantasiei muito com a
possibilidade de ter vários homens e comecei
a gostar da idéia. Afinal, só tinha transado seis vezes, de modo bem
mecânico, e nunca tinha visto um filme pornô na minha vida. Ia ser a chance
de descobrir até onde o sexo podia me levar.
Isso: abre bem as pernas."
Está bom assim?
"Deixa o doutor examinar essa boceta, para ver se está tudo certinho."
Vem um dedo, depois outro, que ele tira e cheira. Hummm, você passou
no exame médico.
Após estrear com o "ginecologista", que dizia ter certeza de que a
garota não estava doente apenas cheirando seus dedos depois de enfiá-los
nela, a ilusão de "abrir as pernas e pronto" não resistiu. Nem a fantasia de
ter muitos homens diferentes, pois pensava na minha referência de homem. Mas
foi bom ter tido um "tratamento de choque" para ver se queria mesmo ter minha
independência.
Foi difícil estar na cama com uma pessoa estranha,:
mesmo que fosse o ajeitadinho metido a ginecologista. Imagine, então,
subir com um velho japonês de sessenta anos, gordo, imenso. Ele foi o meu
segundo. Nunca pensei na vida em pegar um cara assim. No entanto, ele me
pegou - e me pagou.
Para dizer não, teria de pagar à casa o que o cliente pagaria pelo
programa. Esse era o acordo. Fiz minhas contas: para ganhar cem reais, tinha
de fazer três programas. Ser escolhida, e não escolher. Não é à toa que tanta
garota de programa cheira cocaína e puxa muita maconha. Senti isso na pele.
Cheirando e fumando.
O japa foi tirando a roupa, e eu só pensando em dinheiro. Tinha uma
hora pela frente com aquilo. Ele era mais velho que meu pai! Só pensava em
fazer ele gozar logo para acabar de uma vez com aquilo. Chegamos a conversar
um pouco. O pau não subia; eu chupava, esfregava, e nada. Veio um monte de
sensações, cheiros, coisas que eu não queria sentir. Fingia para mim mesma
não sentir. Ele passava a mão em mim. Não gostei.
Até hoje, às vezes, tenho nojo de ver uma mão fazendo carinho no meu
corpo. Faço neles, mas nem sempre curto receber. Só transo ouvindo música,
que me ajuda a divagar, a entrar em outra sintonia (além de o CD durar
exatamente o tempo do programa, o que me ajuda a controlar a hora
trabalhada). Há vezes em que imagino outro homem ali, um namorado. E olho
para o lado, só para não ver a mão passeando por mim, pela minha intimidade.
É uma questão de pele. Mas fui em frente e consegui fazer o japonês ficar de
pau duro. Não sabia o que era pior.
Botei nele uma camisinha, fiquei por cima dele, cavalguei, ele me
comeu e, claro, não foi bom. Foi mais do que mecânico. Nesse dia, cheguei a
chorar com outro cliente.
Para todos que me comeram naquele dia, contei que era meu primeiro dia
como garota de programa.
Todo mundo sempre se dá algo para compensar um dia ruim, uma semana
difícil. Com garotas que vivem do sexo, não é diferente. "Eu mereço!",
pensei. Com o primeiro dinheiro de putaria que consegui ganhar e juntar, me
dei um celular de presente. Me senti recompensada, de alguma maneira, por
cada vez que engoli meu nojo para não perder o programa. É engraçado, mas
nunca senti nojo do cara antes de chegar na cama, qualquer que fosse sua
aparência. É só quando chega lá, mesmo. Não por algo que o cara tenha no
corpo, um defeito ou uma cicatriz (embora tenha minhas preferências...). O
que me pega é o cheiro. O cheiro do corpo.
Tem homem que toma banho e não adianta. Tem os que chegam com bafo,
também. Esses são os piores. Por isso beijos são uma coisa delicada. Eu não
beijo todos. E nem todos querem beijar.
Os carentes são os que mais beijam. Só que, mesmo não estando a fim,
tenho de beijar. E vai do jeito que dá, meio sem vontade. Eu não tenho muita
escolha. Faz parte do meu negócio. Então respiro fundo e vamos lá.
Os pouco mais de três anos que vivemos na chácara chegavam ao fim. Meu
pai já estava bem melhor das seqüelas do acidente e eles decidiram que seria
importante para minha educação voltar para São Paulo. Afinal, eu iria para a
quinta série em 1995. Minha irmã mais velha já havia se mudado para Cajuru,
próximo a Ribeirão Preto, por causa de trabalho. A do meio estava morando em
nosso apartamento.
Por isso, meus pais compraram um novo para nós, no mesmo bairro. Cada
um teria seu canto. Realmente moderno, levando em conta os conceitos morais
dos meus pais: uma morando no interior e a outra morando sozinha. Se fosse
verdade que os mais velhos amolecem as coisas para os mais jovens, não teria
com que me preocupar.
Com a mudança, tive de deixar para trás uma bóxer, Lunna, minha
preferida, o weimaraner Fedra e o Paco, um vira-lata. Porém, o mais
importante deixado lá foi um pedaço da minha infância, da minha felicidade.
Voltar para São Paulo, por mais que eu amasse a cidade, virou um tormento.
Meus pais tinham medo de assalto, de estupro, de tudo. E me prendiam. Para
quem foi criada solta, brincando na rua ou no quintal, era a morte ficar
presa naquele apartamento no Paraíso,
já tinha 11 anos e queria fazer do mundo o meu quintal. Minhas amigas
começavam a ir ao shopping, às matinês dançantes, e eu não podia. Sem
liberdade, passei a mentir para ir onde queria.
Minha mãe tinha ciúmes de mim. E demonstrava isso. Nem namorar, mesmo
que fosse o carinha mais perfeito do mundo, eu podia. já meu pai... Ele nunca
fez seu papel de pai. Tudo bem, teve o acidente, a doença, ele deixou sua
carreira brilhante bem no topo, viveu uma depressão fodida. Hoje sei que,
muitas vezes, ser agressivo comigo era culpa de tanto remédio tarja preta que
ele tinha que tomar. Se antes eu o culpava, percebo agora que não foi bem
assim.
A tal fase de adolescente rebelde que o excesso de proteção
desencadeou ficou quase fora de controle, e as brigas, principalmente com meu
pai, viraram rotina. Quase sempre pensava em sair de casa ou ir atrás dos
meus pais biológicos para saber se eles me queriam de volta. Se a razão para
me abandonar fosse financeira, não haveria problemas. Eu trabalharia, me
bancaria. A única direção que poderia me ajudar na busca dos meus verdadeiros
pais estava em Sorocaba, onde nasci e fui adotada. Mas, na verdade, nunca fui
atrás.
Eu estudava no colégio Bandeirantes, tradicional e superpuxado - tanto
que, quando passei com muito sacrifício, mas sem recuperação, para a sexta
série, fiquei na última sala da turma, a 6s4. Quem estudou já sabe bem o que
essa pecha significa... Meus pais, no entanto, estavam orgulhosos de mim,
mesmo assim. Se por um lado eu queria liberdade, e mentia muito para
consegui-la, por outro ainda tinha meus próprios preconceitos e dúvidas. E
bancava a boa filha.
Minha irmã do meio, que hoje tem 30 anos, começou a namorar um rapaz
que meus pais não aprovavam. Ela já morava sozinha. Bem... Digamos que nem
sempre. Minha mãe descobriu esse pequeno detalhe. A pressão para que
terminasse o namoro foi grande e ela não teve dúvida: desapareceu com o cara.
Vi o sofrimento dos meus pais com essa situação. Eu não podia ficar
indiferente a isso. Quanta raiva senti da minha irmã. O quanto rezei para que
meus pais não sofressem tanto... Acho que foi a única vez na vida em que
rezei pedindo alguma coisa, e nem era para mim. Eu sempre agradeço pela
proteção e só. Acho que Deus não faz nada por nós, além de nos proteger.
Mas eu queria que Ele fizesse por meus pais. Mal sabia que eu mesma,
dividida entre a censura à minha irmã e o desejo de liberdade, apertaria o
botão de replay nessa história.
Quando o romance da minha irmã acabou, pelo visto por decisão do
rapaz, ela voltou para nossa casa
deprimida, quase doente, falando em morte e tudo o mais. Meus pais não
passaram a mão na cabeça dela, dizendo "filhinha querida, nós te amamos
tanto". Deixaram claro que queriam que ela sentisse a dor dos seus próprios
erros. Eles a ignoravam, não conversavam com ela. E eu seguia o exemplo
deles, por mais que minha vontade fosse abraçá-la, dizer a ela que estava
tudo bem.
Lembro o dia em que vi minha mãe conversando seriamente com ela. Eu já
conhecia aquela expressão:
mamãe ficava vermelha, seus olhos secavam, ficavam sem brilho nenhum.
Sua fala era calma, mas num tom de voz estranho, que não deixava
dúvidas a respeito da seriedade de suas palavras. A testa franzia de maneira
diferente, exibindo rugas que só apareciam quando ela estava brava. Era pior
do que apanhar - por mais que nunca tivesse recebido um tapa sequer. No
final, claro, viram a seriedade da coisa e a apoiaram. E lá foi minha irmã
para o psiquiatra. Comigo foi a mesma coisa. Por que não falavam conosco? Por
que nossos problemas tinham de ser resolvidos com estranhos? Eu queria falar,
mas com eles. Não discordo do método que usaram, pois talvez não conhecessem
outro. Com meus filhos, no entanto, acho que farei diferente quando a hora
chegar.
Sempre imaginei que a primeira vez para uma menina tivesse mais peso
do que para um menino. Estava enganada. A cada cabaço que tiro, fico mais e
mais convencida disso. Tudo bem que, no futuro, eles nem se lembrem direito
com quem foi (difícil, no meu caso...), mas a sensação de estar frente a
frente com uma mulher, poder tocá-la, ter nas mãos, em vez de uma revista com
fotos de mulheres peladas, uma de carne e osso... Finalmente, descobrir a
consistência de um seio, aprender como pegá-lo, passear com a mão na gruta de
prazeres escondidos que toda mulher carrega entre as coxas. Poder cheirar,
lamber. Sinto alguns deles, nos seus 13, 14 anos, trêmulos diante da nudez.
Posso quase ler seus pensamentos. "Posso pegar?", é o que mais ouço deles,
querendo apalpar meus seios. Mãos geladas, geralmente. Sinto no ar o medo de
falhar . Ou da comparação com o pau de outros caras. Ou ainda de, quase morto
de ansiedade, gozar sem nem ao menos completar o que está fazendo ali.
Conduzo, ensino, realizo. Me sinto especial. De certo modo, estarei para
sempre na memória de cada um daqueles meninos - tão "crianças" quanto eu. E
foram muitos.
Como o colégio Dante Alighieri ficava perto da casa onde trabalhava,
já deu pra imaginar quantas virgindades "desapareceram" por lá... Os moleques
iam em turma.
Como não podia entrar menor de idade
(mas eu já trabalhava lá, claro), ligavam de um orelhão para saber se
estava tudo certo, se não tinha risco de aparecer polícia. Eles vinham num
bando enorme, embora fosse tudo com muito respeito, sem zona. Parecia uma
excursão gigante, com os garotos usando as calças de agasalho azuis com a
faixa amarela e a camiseta básica de malha com o nome do colégio estampado no
peito. Vestidos assim, pareciam ainda mais crianças. A gente deixava a porta
da casa entreaberta e eles entravam correndo. Todas nós adorávamos aqueles
meninos. Eles não iam lá para zoar e gastavam bem.
Eu, com 17 anos, subindo com moleques de 12, 13 ou 14 anos. Muitos
eram clientes freqüentes, a maioria era virgem. Que estranho: eu, que era
inexperiente, estar na cama com alguém ainda mais inexperiente!
Mas acabava sendo natural.
Nessa idade, os meninos são meio afoitos. No começo, foi estranho,
difícil até. Mas eu me acostumei. E descobri como fazer eles relaxarem e irem
até o fim.
"Devagar." "Tá machucando?" "Sim, faz assim, ó." Não há cartilha que
substitua uma boa professora...
Acabava sendo quase sempre a escolhida. Afinal, não parecia tão mais
velha do que as meninas por quem eles já tinham batido muitas punhetas,
suspirando de paixão. Subia com o garoto. Só quando chegávamos ao quarto
alguns deles confessavam ser virgens. "Você não conta para os meus amigos que
é minha primeira vez?" "Não tenho por que contar , respondia. Nunca ri de
nenhum deles.
Eu, rir da inexperiência? Ensinava como pegar nos meus seios, deixava
que me despissem, que me tocassem, me cheirassem, que vissem de perto como
era "a diferença".
Ensinava como abrir o primeiro sutiã da vida deles, aquele que ninguém
esquece. Ligava o som e conduzia meu show. Alguns foram alunos brilhantes.
Gostava de despir o uniforme do menino bem devagar. Era fácil tirar
aquelas calças de agasalho, que deixavam ver, antes de tudo, um volume
característico entre as pernas. Segurava nos seus paus bem duros, sem querer,
no entanto, que gozassem sem fazer nada. Na primeira vez, o risco de isso
acontecer, por causa da ansiedade, é sempre alto. Então, começava chupando,
para ajudar a relaxar. Acho que, quando chupo um garoto, ele curte mais do
que meter de verdade. E, claro, eles adoram.
Que tara, não? Com esses meninos, só de ir com a cara, deixei muitos
botarem na minha boca sem camisinha. Acho que ensinei bem muitos deles. E
foram, quase sempre, transas tranqüilas. Nada de malabarismos. Papis e mamis
bem gostoso. O negócio
deles é meter e curtir. As fantasias e variações só vêm com o tempo.
Com os mais experientes, não é bem assim.
Eu fazia de tudo para manter a fama de "santinha" com meus pais.
Voltava da balada e comentava com eles apenas o quanto havia dançado.
Uma noite, porém, cheguei em casa com o pescoço bem marcado das chupadas do
Thiago, um menino com quem fiquei várias vezes. Nunca namoramos porque,
quando o vi no claro, a beleza que a escuridão sugeria não dava nem sinal de
existir. E também não queria mais machucar os lábios com nossos beijos. O
fato de nós dois usarmos aparelho fixo era mesmo torturante.
Mas o roxo das chupadas estava lá. Não houve maquiagem que desse
jeito.
E olha que eu tentei.
Mamãe percebeu, claro, e me obrigou a ir à escola no dia seguinte com
uma blusa de linho que cobria o pescoço. Esforço inútil: passei o maior calor
e os hematomas não foram escondidos Não tive vergonha, não. A fama de galinha
no colégio pouco me importava. Era como se eu fosse um menino. Para eles, ter
fama de galinha era sinal de macheza. Para mim, era um troféu, a prova de que
alguém me desejou numa noite Uma noite de sexo selvagem, quem sabe? Eu sabia
da verdade. Eles, não. Esse era o grande barato. Foi o meu jeito de chamar a
atenção de todo mundo.
Eu, uma garota de 13 anos, cheia de espinhas pelo rosto, ainda meio
gordinha, mesmo com vinte quilos a menos, à base de regime. Nenhum garoto da
escola me dava bola, nem na rua, nem em lugar nenhum. Apenas na noite. No
escuro, eu devia parecer bonita. Como me pareceu o Thiago.
Nessas de me auto-afirmar, comecei também a fumar escondida dentro do
banheiro do colégio. Fui, sim, uma verdadeira maria-vai-com-as-outras.
Eu andava com a turminha "do mal". Muitos deles, com 12 ou 13 anos, já
fumavam maconha. Eu não queria ser tachada de careta, mas ia ficar só no
cigarro de cravo, meu preferido. Que graça tinha dar uns tragos numa ervinha
enrolada num papel fino escondido pelos becos do Paraíso, em volta da escola,
enquanto matávamos aula? Só para ficar rindo à toa e falando merda, coisas
sem nexo? Queimei a língua assim que queimei meu primeiro beck, logo que fiz
14 anos.
Nessa idade, por mais que a gente se ache adulto, no fundo não dá para
ter muita convicção das coisas... Quando comecei a fumar, por exemplo, eu não
gostava do sabor, da tontura que sentia, nem sabia tragar direito - e isso
era a morte para mim.
"Olha lá a Raquel: não sabe nem tragar. Fazer papel de boba no meio da
turma? Treinei muito até conseguir esquecer o gosto ruim e a tosse.Tudo para
me encaixar no modelo, ser uma igual aos meus amigos. Igual? Amigos? Esses
"amigos" se foram. Os vícios ficaram. E não só esses.
Com bebidas foi mais ou menos a mesma coisa. Eu não gostava do sabor,
não via graça. Alguém me viu e quem me vê...). Um dia, para mostrar que
estava por dentro, pedi para um cara do colegial, mais velho comprar uma
latinha de cerveja que entornei de uma vez para não ter de sentir muito o
gosto. Pedi outra e mais outra, também devidamente viradas em um gole só.
Depois da terceira, tudo estava girando. Entre a euforia e o calor da
bebedeira, tinha o medo de que algum paisana, um daqueles seguranças do
colégio que ficavam disfarçados rondando a vizinhança para pegar alunos
fazendo bobagens, me desse um flagra.
Todo esse esforço para ser cool, fumar, beber e badalar começou a se
refletir nos meus boletins que, quando eu não conseguia interceptar nas
correspondências com a ajuda do porteiro do prédio, misteriosamente chegavam
às mãos da minha mãe. (Lá estavam as faltas que eu sempre tentava justificar
dizendo que o professor não ouvia minha voz dizendo presente) e as notas a
cada dia piores, mais difíceis de explicar. Nada disso, porém, me impediu de
continuar mentindo e aprontando.
Para compensar a bandalheira, não podia dar bandeira com as notas da
escola. Como cabulava todo dia, e não conseguia entender nada das matérias
pelos livros, comecei a colar. Os exames das diversas séries, no
Bandeirantes, são impressos em papéis coloridos. Simples: eu comprava papéis
da mesma cor das minhas provas e, em casa, copiava neles a matéria que eu
achava que cairia. A idéia não era minha: vários alunos do Bandeirantes
faziam isso. Eu, para variar, só acompanhei a massa. Quando o professor não
estava olhando, enfiava essa folha no meio da prova.
Perfeito!
A tática funcionou comigo até a última prova do ano, de História. Só
precisava de um ponto para passar, mas caí em tentação. E também nas garras
da professora. Expulsa da sala, no caminho para casa, andava meio atordoada,
assustada com o que meu pai diria ou faria, e quase fui atropelada. Antes
tivesse sido.
Enrolei muito para subir. Toquei a campainha. Meu pai abriu a porta.
"E aí, filha, como foi na prova?" Desandei a chorar. Para minha surpresa, ele
me abraçou.
Comecei a chorar ainda mais, agora de vergonha. "Se souber, o senhor
vai querer me matar."
Contei a verdade, esperando sentir sua mão me batendo. Nem sei por
que:
ele nunca havia encostado sequer um dedo em mim.
Ele só quis saber o que me levou a isso e me fez prometer nunca mais
colar. Essa não seria a única surpresa, nem a única lição que tirei daí.
No dia em que minha mãe foi chamada ao colégio para conversar com a
professora, esta disse que era normal os alunos colarem. E que minha cola
estava muito grande.
Rindo, mostrou aquele papel enorme. "Você tem que aprender a fazer
umas menores." Não acreditei: ganhei uma lição de "faça você mesmo". Ela
ainda me elogiou, disse que me daria o tal ponto por eu ter sido uma aluna
que não dava problemas. Eu? Que aprontei todas nas aulas dela - isso quando
eu ia. A generosidade humana tem caminhos realmente muito estranhos.
Já estávamos no quarto há quase meia hora. Apesar da rapidez, tanto o
primeiro quanto o segundo tempo foram muito bons. Tínhamos mais meia hora,
mas o mocinho não dava sinais de que chegaria a uma terceira gozada. Deitado
ao meu lado, os dois nus, ele me pediu colo. Se aconchegou nos meus braços e
lá ficou, brincando com os dedos nos meus seios, deslizando pela barriga e
voltando. Foi ele quem quebrou o silêncio. "Eu tenho tesão pela minha própria
mãe."
Gosto de conversar com meus clientes. Converso muito e eles acabam se
abrindo comigo. Já ouvi cada coisa... É o meu lado psicóloga. Queria ser
psiquiatra, mas sei que não conseguiria nunca entrar em medicina. A
psicologia está ali, bem pertinho. E é isso que vou fazer, quando voltar a
estudar. Material para estudo é que não vai faltar. Bem, não era esse o
assunto. Eu já tinha lido Édzpo, aquele livro que fala do sujeito que sentia
atração pela mãe, a Jocasta.
Porém, para mim, aquilo não passava de uma ficção da tragédia grega.
Até aquela confissão à queima-roupa. Aquele cara, com sua franqueza,
despertou minha curiosidade.
Falamos muito sobre isso e ele me contou que sua mãe engravidou dele
muito novinha, com 16 anos. Ele já devia ter uns 44 anos, pois, segundo ele,
a mãe estava com 60.
A atração vem da infância (olha que coisa freudiana!). Quando ele era
menininho, a mãe ficava andando de calcinha e sutiã pela casa, bem à vontade.
Essa imagem ficou impressa nele. Tomavam banho juntos e tudo. O desejo e a
fantasia o acompanharam a vida toda. Mesmo hoje, na idade em que está, o cara
é fissurado por transar com ela. Depois do programa, ele disse que me daria o
quanto eu quisesse se conseguisse fazer com que ela fosse para a cama com
ele. Dei corda na história e pedi dez mil reais. Confesso que o dinheiro era
tentador, mas não tinha
a menor idéia de como convencê-la a dormir com o filho. Ele me contou
como imaginava que seria o sexo, de como ele ia tirar a roupa dela, cheirar
sua calcinha, lambê-la inteira, as posições. Mil fantasias.
Que continuam só na cabeça dele.
Na lista de "desejos inconfessáveis", os que mais mexem comigo são os
de pedofilia. Um dia, vou casar e ter meus filhos. Tremo com essa
possibilidade. A primeira vez que um deles se abriu (e foram muitos depois
dele) eu tinha 18 anos e ainda não tinha colocado silicone (o que aconteceu
alguns meses depois do meu aniversário.
Foram 240 mililitros em cada seio, mais pelo trabalho do que por mim
mesma. Nunca ouviu falar da "espanhola"? Vou falar disso depois). Meu corpo,
naquela época, era bem de menininha. Parecia que eu ainda tinha 15 anos.
Isso, eu sabia, deixava alguns clientes malucos. "Filhinha, vem com o titio,
deixa eu comer você. Mas esse, no meio da conversa, depois do programa, se
confessou pedófilo. Me perguntou se eu não conhecia alguma menina menor de
idade, de 13 ou 14 anos no máximo. E nisso também ele não foi o único. Chegou
a me contar como o desejo despertava. Ele sente tesão pela sobrinha de 5
anos. Foi contando e um filminho foi passando pela minha cabeça. Ele coloca a
menina no colo dele, um carinho normal entre tio e sobrinha. E o p... dele
fica duro na hora. A criança não percebe nada, não tem como saber, não
entende o que está acontecendo. Ele tentou tocá-la, passar suas mãos nela
enquanto dormia, mas a menina acordou. Não julgo ninguém, nem suas fantasias.
Quem sou eu? Mas me dou o direito, sim, de ficar assustada e de ter os
meus limites.
Minha vontade de descobrir tudo sobre a vida parecia não ter fim
quando fiz 14 anos. Claro, sobravam dúvidas. Uma delas dizia respeito à minha
sexualidade. Já havia dado muito prazer aos garotos que masturbei nas
baladas, já havia segurado muitos p... duros, mas não sabia se aquele era o
limite do prazer.
Tinha curiosidade de saber como era ter contato com o corpo de outra
mulher. E muito medo também. E se fosse lésbica? Naquela fase da vida, só
existem duas cores: o preto e o branco.
Se não sou preto, só posso ser branco. Mas procurava não pensar muito
nisso.
Um dia, na escola, o garoto que sentava na minha frente levou uma
Playboy. Ele começou a olhar a revista no meio da aula, e eu de papagaio de
pirata, superantenada no que via. Nunca tinha visto revistas de mulheres
nuas. Essas coisas não entravam na minha casa. Imagine a vergonha de comprar
uma na banca. Pedi para ver. Ele me emprestou e eu adorei. Na hora do
intervalo, não tive dúvidas:
roubei a Playboy do menino, enfiei na mochila e levei para casa. Eu já
tinha me masturbado vendo a O Magazine - tinha comprado montes delas.
Mas nunca tinha gozado vendo aqueles caras de p... duro. Quem sabe se,
olhando para as mulheres, eu finalmente gozaria. Bingo! Depois dessa
conquista, a do orgasmo vendo fotos de mulheres, a curiosidade tinha de sair
do papel e ir para a realidade.
Fui a uma festa de debutantes com uma amiga - superamiga - e combinei
de dormir na caso dela depois. Bebemos champanhe até não poder mais, ficamos
bem alegrinhas.
Em casa, ela resolveu tomar banho.
"Pô, você tá demorando aí dentro. "Não tô te ouvindo."
Entrei no banheiro para brigar com ela.
"Eu também quero tomar banho."
"Entra aqui no box, então", ela respondeu, na boa, sem malícia. Aí eu
entrei...
lembro a sensação de prazer e torpor de estar ali, frente a frente com
outra menina, nua, tomando banho diante de mim. "O que foi?" "Nada." O tesão
foi tomando conta, mas não dei o primeiro passo. Apesar daquela confusão toda
dentro de mim, do desejo, da vontade, da disponibilidade, do medo, achei tudo
estranho.
Eu só olhava. Isso passou, porém, assim que ela tomou a iniciativa.
Debaixo do chuveiro quente, o banheiro esfumaçado, nós duas ali,
molhadas, em silêncio, e as mãos dela passeando delicadamente por mim, pelo
meu corpo. A cada toque, me deixava levar. Retribuia.
Recebia de volta. Um corpo igual ao meu. Um sexo igual ao meu.
Feminino, arredondado, suave. Ficamos naquela noite e foi muito bom.
Nunca mais isso se repetiu com ela. Ambas ficamos envergonhadas.
Também nunca falamos a respeito daquela noite. E a amizade esfriou. Como
posso contar ou ouvir coisas de uma amiga com quem já fui para a cama?
Voltamos a nos reencontrar, algum tempo depois; nos reaproximamos, mas a
amizade nunca mais foi igual. Acho que não deveríamos ter ficado naquela
noite. Preferia ter minha amiga de volta, por melhor que tenha sido a
experiência.
Um dia, pintaram dois clientes juntos. "Vocês querem ir um de cada
vez?" "Queremos ao mesmo tempo." Uau! Será que eu agüento? Nunca tinha feito
dupla penetração (a tal DP). Dizem que a curiosidade matou o gato. No meu
caso, o gato (ou a gata)
tem sete vidas e continua vivinho. "Vamos nessa!" No início, nem sabia
para quem eu dava mais atenção. Comecei chupando um, quando o outro veio e se
ajoelhou ao lado do amigo e eu passei a fazer rodízio de picolé. Beijava um,
depois o outro. Fiquei pensando se ia rolar alguma coisa entre eles, como
costuma rolar entre as mulheres num ménage. Mas saquei que entre eles não
haveria contato
nenhum. Só as cabeças dos p... encostavam uma na outra, e mesmo assim
quando eu juntava e tentava chupar os dois ao mesmo tempo. Missão difícil..,
embora não impossível.
Estar com dois homens à minha disposição me deu uma incrível sensação
de poder. Um deles se deitou e eu comecei a chupá-lo de quatro. O outro veio
por trás e cravou na minha boceta Depois de ficarmos um tempão engatados
nessa posição, o que me comia por trás resolveu colocar no cu, O que eu
chupava escorregou por baixo de mim e, com muito jeito, penetrou minha
boceta. Senti os dois paus brigando dentro de mim. E olha que não eram dos
pequenos. "Tá sentindo a luta de espadas dentro de você?"
"E que luta..." Tudo bem que os movimentos ficam mais contidos. Melhor
ainda: dá para fazer tudo num ritmo diferente. E descobri que adoro
DP.
O que estava no anal gozou primeiro e saiu do quarto. Rolou um tempão
ainda comigo cavalgando o outro, até ele gozar. Só depois que terminou é que
vi que a gozada do primeiro tinha escorrido para o lençol. Ai, que saco...
A rotina das garotas de programa tem um lado bem pouco glamouroso. Eu
dividia meu quarto ajeitado, mas simples, com as camas, armário grande,
espelhos e uns quadros impessoais na parede, parecidos com os de hotel, com
outras quatro garotas. Nada que lembre o que se vê no cinema, por exemplo,
com penteadeira de puta cheia de badulaques. Como também era lá que
trabalhávamos, tínhamos de cuidar da limpeza geral. Nos revezávamos na
varrição, na hora de tirar o pó. Nem todas curtiam o trabalho, mas ficar num
lugar sujo não rola... Lavar a roupa de cama e a toalha dos clientes era
tarefa da lavanderia. Mas são as garotas que trocam.
Senão, dá nojo. Só que (segredo) não é uma roupa de cama para cada
cliente. Tem vezes que é a mesma o dia todo, onde vários homens já se
deitaram. Dá uma esticadinha e pronto. Eu vivia pedindo à gerência para poder
trocar. Como não tinham tantos lençóis assim, e não dava para gastar tanto
com lavanderia, a gerente ficava brava e dizia não. Às vezes eu sujava o
lençol de propósito com gel só para não ter jeito. Ela brigava comigo, claro.
Mas eu não estava nem aí. Nessas ocasiões, precisava mesmo trocar...
A primeira vez que mudei de casa foi sete meses depois de começar a
trabalhar, mais ou menos.
Na verdade, a cafetina da Franca me expulsou, junto com mais duas
meninas, porque alguém dedurou que fumávamos maconha escondidas. Apesar de
ter conhecido meninas bacanas, com histórias bem parecidas, rola muita
inveja. Afinal, uma garota é concorrente da outra. Por isso, nunca quis ir
trabalhar em casas como o Café Photo ou o Bahamas.
Imagina: se já rola isso entre dez, no privê, o que não deve rolar com
cem? Também não curto ter de ficar xavecando cliente para ele fazer programa
comigo: ou ele me quer, vem e transa, ou estou fora. Como nessa profissão o
que vale é seu corpo, também tem aquela de a garota ficar botando defeito na
outra. E não é fácil fazer amizade de verdade nesse meio. Nunca trabalhei em
empresa, mas acho que deve ser igual... Quando você é escolhida pelo cliente
então, tem de sair da sala de costas, porque, nessa hora, abrem a tampa do
serpentário. Numa dessas, uma inimiga oculta resolveu dar com a língua nos
dentes com a história do beck só para me foder. Deu certo.
Acabei indo parar numa casa amarela, na alameda Jurupis, bem perto do
shopping Ibirapuera. Tinha de continuar a viver. E a trabalhar. Por ironia do
destino, isso durou poucos meses. A Mari me ligou um dia dizendo que tinha
muitos clientes indo embora da Franca sem fazer programa por não me encontrar
mais lá. Resultado: a cafetina, Larissa, teve que engolir um pouco o orgulho
e me chamar de volta. Gostava da casa e voltei, mas só para trabalhar, já que
eu tinha alugado um flat para mim, na Miruna, em Moema.
Apesar de ter torrado muita grana com bebida, maconha e cocaína, eu
tinha juntado um dinheirinho lá na Franca, antes de me expulsarem. Como não
conseguia abrir conta em banco nenhum (tente fazer isso com 18 anos, sendo
garota de programa, sem profissão reconhecida e sem endereço fixo, a não ser
o do privê), ficava andando com o dinheiro dentro de um saquinho, na maior
insegurança. Aluguei o flat mais para ter onde esconder as minhas economias -
e dormia lá porque "já tava pago mesmo"...
A volta para a Franca não foi o que eu esperava. As meninas que eu
conhecia não estavam mais lá e tudo ficou muito estranho. Precisava de ação,
de novidade, de um horizonte. Também estava deprimida, sem rumo e queria
muito parar com o pó. Sabia que se não desse uma virada na minha história, ia
me perder total, sem objetivo, só trepando o dia todo para cheirar e fumar
tudo depois do expediente.
Enfim:
a imagem da puta sem esperança, que vira bagaça e acaba sozinha
fazendo ponto numa calçada ou pendurada numa janela de um casarão velho.
Pensava só em juntar dinheiro para poder ser mais dona do meu nariz,
sem ficar sustentando cafetão.
Então, teria que trabalhar mais. Uma menina, que morava no
mesmo flat que eu, me falou do "Vintão". Ganha um doce quem adivinhar
por que esse nome. Fiquei muito curiosa para saber como uma menina podia se
vender por 20 reais.
Se o negócio era quantidade e alto giro de capital, lá vamos nós.
Ela me levou até esse lugar, no Campo Belo. Negócio de alta
rotatividade, muitos quartinhos individuais, luxo zero - idem de higiene.
Bagaceira, pulgueiro, pocilga mesmo. Imaginem que o quarto é tão
pequeno que só cabem uma cadeira fuleira e um colchão de solteiro no chão,
com um lençol podre por cima (que só é trocado uma vez por dia). A trepada é
rapidinha, 10 ou 15 minutos: programas expressos, dez reais para a o cafetão,
dez reais para a garota.
Queria muito ver a cara dos clientes. Tinha de tudo ali: gari,
faxineiro, os caras que ganham salário mínimo. Caras a fim de uma gozada,
nada mais. Mas, surpresa:
tinha boyzinho e cara bem de vida, também. Peguei um engenheiro
quarentão e que transava forte, me pegava de Jeito. Curiosa, não me contive:
Por que você vem aqui se pode ir a um lugar melhor?". "Prefiro sair
todo dia a fazer um programão num dia só. Por isso venho aqui todos os dias."
Passei a admirar mais as pessoas práticas depois que ouvi essa resposta.
Foram dois dias apenas de "Vintão".
Embora dois dias bem didáticos, confesso.
A grande queimada de filme da minha vida no Bandeirantes aconteceu em
outubro de 1999. Eu tinha 15 anos. Dessa vez, não deu para reverter.
Nem tinha como. Eu morria de tesão por um garoto da minha classe.
Bonito, loiro, branquinho, parecia um anjo, de olhos bem azuis. Mas seu
jeito, metido e meio cafajeste, estragava tudo. Até o dia em que ele começou
a dar em cima de mim.
Numa aula no laboratório de física, a professora apagou a luz durante
uma experiência. Estávamos todos de pé, ao redor do experimento. Ele ficou
colado em mim. De repente, bem de mansinho, pegou minha mão. Com o coração
disparado, deixei. Ele foi me guiando. Levou minha mão até o seu pênis.
Segurei por cima da calça. Ele já estava duro. Achei que todo mundo estivesse
escutando meu coração bater alucinadamente O medo falou mais alto e eu tirei
a mão. Ele não desistiu. Veio para trás de mim e ficou me encoxando ali, no
meio de todo mundo. Não resisti:
ele estava dando em cima de mim! Da Raquel, a gordinha! Eu estava toda
molhada, excitada e assustada.
Não sei quanto tempo ficamos assim, com ele encostando seu pau duro em
mim por trás, me provocando, acendendo meu tesão.
Como era a última aula daquela tarde, e já estava ficando escuro, ele
se ofereceu para me acompanhar no trajeto para casa. Na verdade, queria me
convencer a ir para algum lugar e fazer o que não tínhamos conseguido
terminar durante a aula.
"já está tarde, minha mãe vai me dar bronca." "Diz que foi estudar
anatomia com um colega." "Vamos deixar para outro dia." Fiz um pouco de doce.
Até que ele me dobrou.
"Pô, você não vai me deixar assim, na mão, vai? Eu sei que você também
quer."
Paramos junto ao muro de uma escola que ficava na rua de trás da minha
casa. Na hora, não deixei que ele me beijasse, mas acabei batendo uma para
ele ali, no meio da rua deserta, mesmo sem vontade.
No dia seguinte, na aula, ele continuou insistindo, mandou bilhetinhos
e eu não resisti mais. Tinha chegado a minha hora. Depois da aula, uma nova
aventura. No caminho, ele parou para comprar camisinhas. Entrei em pânico,
como em tantas outras "quase" vezes em que transei. Não queria que minha
primeira vez fosse assim. Nem que ele percebesse que eu ainda era virgem.
Paramos em uma rua sem saída.
"Não vai rolar." "Qual é?"
"Eu fiquei de sair com minha mãe."
"Nada disso: a gente chegou até aqui e não vai ficar por isso mesmo."
Quis novamente ir embora, mas ele não deixou.
"Daqui você não escapa sem ao menos fazer um boquete pra mim."
Não tinha mais saída. Só sairia de lá se fizesse um oral nele. Também
não poderia dizer que não sabia fazer isso. E a vergonha? Nunca tinha
colocado um pau na minha boca, não tinha a menor idéia de como fazer aquilo.
Me imaginei chupando um picolé. Eu agachada no chão, ele encostado na parede,
com as calças arriadas, agarrando meus cabelos, sincronizando o vaivém. Não
curti essa de ficar empurrando minha cabeça. Eu segurava seu pau pela base,
junto do saco. Se deixasse, ele ia enfiar tudo para dentro. Estava com medo
de engasgar, mas muito excitada. Pela situação, pelo gosto do garoto, pelo
cheiro dele, pelo ato em si, pelo medo de ser flagrada.
Não demorou muito, ele começou a gemer de verdade, arfando, empurrando
seu p... com força entre meus lábios. Então, com um empurrão mais forte, veio
aquele gosto estranho, direto na minha garganta. Ele gozou dentro da minha
boca. Só não tive coragem de engolir.
Não sei se é verdade, mas ele me disse que aquela tinha sido a melhor
chupada da vida dele. Bem, estreei com elogios da crítica... Só sei que ele
realmente gemeu gostoso. Só me faltou, mais uma vez, coragem para dizer que
aquela tinha sido minha primeira vez. Prometemos que aquilo morreria ali,
entre nós.
Muito boba, eu mesma quebrei a promessa: contei para uma "amiga", que
idolatrava o cara. Ele, pelo visto, também não manteve a boca fechada. A
fofoca correu a série toda em poucos dias. Ninguém veio me perguntar se era
verdade, ouvir o meu lado da história. Só ouvia as risadinhas e sentia os
olhares na minha direção. Alguns de malícia. Outros, de nojo.
Como num passe de mágica, sumiu todo mundo. Nem as minhas "amigas"
ficaram a meu lado. Fiquei absolutamente sozinha. Era a vergonha de serem
vistos comigo. Uma menina veio me perguntar quanto eu cobrava. Disse que
nada. Não devia ter feito isso. Me senti injustiçada. Até mesmo aquelas que
já não eram mais virgens ajudaram a criar e espalhar minha fama de puta pelo
colégio. Mas segurei minha barra. Ia à escola normalmente e, mesmo sozinha e
machucada, derramei poucas lágrimas por causa disso, apesar de estar sofrendo
de verdade com a situação. Eu só tinha 15 anos! Até o dia em que, não
agüentando mais hipocrisia, disse: "Fiz, gostei e faria de novo". Serviu para
calar algumas bocas.
Eu sei que não cometi nenhum crime. Então caiu outra ficha: o que o
garoto tinha contado? Homem tem essa mania idiota e infantil de aumentar
tudo, de contar vantagem. Nunca soube se isso aconteceu, já que ninguém
falava comigo. Nem ele. Mas acho que ele se vangloriou, sim, de ter
"transado" comigo.
A história, claro, foi parar na diretoria. Neguei tudo e negaria até a
morte. Nesse dia, desabei. Cheguei em casa chorando e contei tudo para minha
mãe. Bem, nem tudo. Disse que havia saído da escola para beijar um garoto e
que ficaram inventando que eu tinha transado com ele, que tinha feito sexo
oral nele. Era o fim da oitava série e minha mãe achou melhor me mudar de
colégio. Não sei se ela acreditou em mim. Ou simplesmente fingiu, como eu. O
Bandeirantes viraria história. Isso se um menino de lá não tivesse também
mudado para o Maria Imaculada - e caído na mesma classe que eu. História
devidamente espalhada, Raquel mais uma vez marginalizada. Quer saber? Fodamse!
A experiência do "Vintão" tinha sido muito interessante, de verdade.
Embora não fosse para mim. Eu trabalho com meu corpo e, claro, fico
cansada.
Sem querer brincar com trocadilhos, essa "vida fácil" não é mole, não.
Fazer dez programas por dia beira a insanidade. Fica tudo dolorido. O
negócio era experimentar outro privê, tomar fôlego e começar novamente. Mas
com outra cabeça.
Fui parar numa casa da rua Michigan, no Brooklin. Hoje sei por que
tinha de passar por lá: foi onde ganhei o meu "sobrenome". Sempre gostei
muito de mar. Uma de minhas duas irmãs tinha uma casa no Guarujá e eu sempre
descia. Saudades...
No mar, tive meus únicos momentos sozinha, sem ninguém por perto.
Cheguei a surfar de morey e até de prancha nos points de lá. Mas ninguém
sabia disso.
Havia duas "Brunas" trabalhando na casa. Um cliente escolheu a Bruna e
a gerente levou a outra para ele:
Não é essa, quero a surfistinha. Gostei do cara. Foi um programa em
que rolou química e afinidade. "Por que você me chamou de surfistinha? Você
tem estilo. Taí: gostei! Quando saí dessa casa e comecei a trabalhar em flat,
tinha de arrumar um sobrenome que combinasse comigo. Lembrei da história e
não tive dúvidas:
eu seria a Bruna Surfistinha.
Já falei que uma das coisas que mais me irritavam nos privês era a
história das roupas. Bem, lá vai mais uma história de bastidores. Na
Michigan, era o pessoal da própria casa que lavava as roupas de banho (as de
cama iam para a lavanderia). Tinham umas quatro máquinas de lavar e um monte
de varal para secar. Só que, na chegada do inverno, quando surgem mais
clientes, não fazia sol e as benditas não secavam de jeito nenhum. Na sala
onde as garotas ficavam aguardando tinha um aquecedor. A gente descia do
programa com a toalha, a gerente colocava na frente do aquecedor, deixava
secar um pouquinho, dava uma olhada para ver se não tinha nenhuma manchinha e
embrulhava de novo. Lavou, tá novo, não? E vários homens se enxugavam com a
mesma toalha. Coisa feia...
Toda essa confusão, a descoberta do desejo, as fofocas, a perda dos
amigos, o fato de eu ter sido sempre gordinha, tudo me levou a um lance
doloroso. Eu fiquei com depressão, tomava Prozac e tudo. Uma neura de
engordar de novo, no meio disso tudo, me levou à bulimia. Enchia a cara com
doces e depois, na maior, enfiava os dedos na garganta e... virou uma
compulsão. Eu tinha fome, comia muito, acho que devido ao remédio e à
ansiedade, para em seguida sair correndo da mesa e colocar tudo para fora.
Quando voltava da escola, passava por uma loja e comprava, todo santo dia,
vinte reais em doces e chocolates.
Praticamente engolia tudo de uma vez, só para sentir o gosto, e, dois
minutos depois, dava um jeito de tirar aquilo de mim. Minha mãe sacou, até
pelo barulho da descarga depois de cada refeição e de cada escapada. Para
disfarçar, comecei a vomitar em um jornal, só para não precisar dar a
descarga.
Sei lá por que veio essa maldita depressão. Quer dizer, até sei: me
achava gorda, feia, era adotada, tinha um monte de problemas com meu pai...
Quando cheguei aos 16 anos, depois da cagada no Bandeirantes e de a história
ter me perseguido também no Imaculada, me vi, não bastasse tudo isso, sem
amigos. A situação chegou em um ponto do qual não via saída. Planejei me
matar. Tinha de ser algo rápido, que não me fizesse sentir dor ou correr o
risco de continuar viva, mas tetraplégica, por exemplo. Um revólver seria o
ideal. Meu pai tinha um em casa.
Legalizado, claro. Não que ele alguma vez tivesse usado; isso veio do
tempo em que morávamos na chácara. Eu sabia onde ele guardava a arma.
Um dia, sozinha em casa, estava mesmo no fundo do poço. Peguei a arma
onde meu pai a escondia e, mesmo trêmula, levei o cano à boca. Estranho
segurar uma arma. Ela é fria, seu peso não combina com seu tamanho. Parecia
que eu tinha nas mãos algo de outro planeta, local que bem poderia ser meu
destino final após experimentar o primeiro e último tiro que daria na vida.
Fechei os olhos e, com o dedão, me preparei para pressionar o gatilho. Tinha
uma pressão absurda dentro de mim, da minha cabeça, dentro do meu peito.
Contei até três e...
Aquela merda estava sem balas. Mesmo assim, recobrei a vontade de ir
até o final. Revirei tudo e achei um saquinho onde meu pai guardava as balas.
Não seio que deu em mim, mas não consegui colocar nenhuma bala no revólver.
Achei melhor desistir. Por enquanto.
Passou uma semana e eu continuava péssima. Tomava Prozac para ficar
acordada e outra droga para dormir. Acho que nenhuma teve o efeito esperado,
pois passei cada noite desses sete dias repassando minha vida a limpo, vendo
quanta coisa eu tinha que resolver. E resolvi tentar de novo. Esperei todos
irem dormir, coloquei uma cadeira junto à janela da sala, que era a única que
não tinha tela, e concluí que cair do nono andar seria fatal, como eu
pretendia. Subi, coloquei uma perna para fora da janela e, com metade do
corpo para dentro e outra para o nada, fiquei pensando nas coisas ruins da
minha existência. Isso me daria a força necessária para dar o salto. Não
consegui pensar em nada que fosse tão ruim assim a ponto de me fazer tomar
impulso. Só vieram coisas boas a minha mente: meus sonhos, a vontade de fazer
as pazes com meus pais. A coragem, que já não era muita, se mandou pela
janela antes de mim.
Nunca mais tentei. Queria viver. Então, tinha de fazer algo por mim.
Eu já tinha namorado dois garotos, um do Bandeirantes e outro do
colégio Maria Imaculada, sem nunca ter passado com eles o limite de uns bons
amassos, pegação e um ou outro oral. Vão achar que estou mentindo, mas eu
ainda era tecnicamente virgem aos 17 anos!
Ou seja: nenhum menino havia enfiado seu pau em mim. O que, também
tecnicamente, qualifica uma garota a ser ou não virgem. Sinceramente, não
teria motivo nenhum para mentir sobre isso agora.
Como minha mãe fazia marcação cerrada, e eu não queria que minha
primeira vez fosse encostada no muro de uma rua escura, ou numa pista de
dança, ficava difícil atender a todos os requisitos. Claro, eu também tinha
de estar realmente apaixonada. Sonhava em arrumar um namorado para ir morar
com ele, não importava a idade que eu tivesse.
O terceiro namorado da minha vida eu arrumei pela internet. Lá em
casa, meu pai e eu tínhamos, cada um, o seu próprio computador, o que
garantia certa privacidade, mesmo que no mundo virtual. Sempre fui maluca
pela internet e passava horas navegando, escrevendo coisas e, claro,
paquerando no virtual. Até que me apaixonei por um garoto pela tela do
computador. Sério. Marcamos encontro e tudo. No cara a cara, achei ele
horrível. Se não fosse a paixão... Começamos a namorar de verdade.
Em casa, sofremos muito preconceito, pois ele era motoboy. A fílhinha
de papai, classe média, namorando um cara assim Meu pai não aceitou, de jeito
nenhum. "Não quero você namorando um pobre, um motoboy. Imagina você casando
com um tipo assim, que não vai poder te sustentar; você vai ter que
trabalhar." Para ele, família era como a dele:
minha mãe nunca trabalhou, apesar de ser formada em Letras e ter sido
professora, por algum tempo, em Sorocaba, antes de se casar com meu pai.
Coitada, que tédio:
ver tv o dia todo, cuidar da casa, das filhas, falar bobagens ao
telefone.
A paixão é cega, surda e descerebrada. Muda, nunca. Brigava com meus
pais todos os dias. Acho que foi por causa disso que armei até não poder mais
para acabar de vez com minha virgindade. Imagina o malabarismo. Meus pais
tinham ido viajar e minhas irmãs não moravam mais conosco. Minha mãe, quando
estava fora, sempre pedia para a empregada dormir lá em casa - na sala, para
ser mais específica... Ela sempre dormia cedo, o que era um facilitador.
Planejei tudo. Meu namorado chegou no prédio e me ligou pelo celular. Sem
levantar suspeitas, disse que ia no
apartamento de uma amiga. Desci, encontrei com ele e subimos juntos
pelo elevador de serviço, para evitar ter de interfonar. No meu andar, ele
ficou escondido na escada.
Muito excitante, mesmo. Parecia coisa de filme.
Meu coração disparava sem motivo nenhum; morria de medo de alguma
coisa não dar certo. Pedi um delivery de jantar. Assim que a comida chegou,
pedi para a empregada descer para pegar. Era o tempo de ele entrar
furtivamente em casa pela porta da cozinha e ir se esconder no armário
embutido do meu quarto, enquanto eu disfarçava um pouco na sala. Peguei a
comida, deixei a parte da empregada para ela comer sozinha e fui me trancar
no quarto. Ele saiu do armário (no bom sentido), jantou comigo e esperamos
até ouvir o ronco da empregada. De barriga cheia, ela logo dormia. Saímos do
meu quarto, com todo cuidado para não acordá-la, e fomos para o quarto dos
meus pais. Claro: tinha de ser em cama de casal... A transa não deu muito
certo nas primeiras duas noites (das cinco) em que repetimos esse esquema. Só
na terceira é que tive coragem de transar. Foi uma loucura, muito ruim, pois
foi planejado. Foi algo bem mecânico. Eu senti o hímen se romper e ficou por
isso mesmo. No fim das contas, só perdi a virgindade. Não, aquilo não foi
sexo. Doeu muito, eu nem podia gritar ou fazer barulho.
Levou um tempo até eu transar de verdade.
Valeu a pena? Sim. Eu imaginava que virar a "mulher" de alguém, por
inteiro, seria mais uma razão para eu decidir, finalmente, sair de casa para
morar com ele. Mas percebi que não precisava casar com ninguém para fazer
isso. E tinha de ser rápido.
Meus seios eram pequenos, proporcionais ao meu corpo. Eu estava
contente com eles, mas não era hora de pensar em mim. Lá fui eu, com minhas
economias, turbinar os peitinhos. E não foram só os seios que aumentaram:
entrou outro "prato" no cardápio da Bruna Surfistinha:
oral, vaginal, anal e... espanhola! Se ainda não adivinhou o que é, eu
conto. Eu aperto os dois seios e, naquele apertadinho macio, faço um
"genérico" de boceta Para mim, no começo era engraçado, pois parecia que eu
estava vendo a transa como se estivesse dentro da vagina, com a cabeça do pau
aparecendo e desaparecendo, bem perto da minha boca. Com os mais bem-dotados,
dá até para emendar um "dois em um", com umas lambidas na cabecinha quando
ela chega perto. Já tive clientes que só conseguiam gozar assim.
Estava trabalhando como garota de programa há quase um ano quando
pintou meu primeiro casal (de uma longa série) lá na Michigan. Quer dizer,
a primeira dupla. Ambos eram casados, sim - mas não um com o outro.
Eles chegaram e eu, curiosa, fui medindo a mulher. Confesso que fiquei
muito excitada. Chupar outra garota enquanto o cara chupa você é uma sensação
indescritível.
Nem preciso fazer força para gozar de verdade. Ela retribuiu a
gentileza e me chupou com gosto.
Enquanto ela ficava com a língua na minha boceta, eu engolia o pau
dele. Adorei ser o centro das atenções deles. Enquanto ele me comia, deitado,
ela se oferecia toda pra mim, lambia meus seios, me dava um banho de língua
com ele engatado em mim. Nos beijamos, nos esfregamos nos chupamos. Se não
fosse por mim, o coitado teria de ficar batendo punheta. Gozei umas duas
vezes.
Essa foi a primeira vez que transamos, e estranhei ela ter ficado
muito mais interessada em mim do que nele. Nada contra, mas não me pareceu
natural. Se eu não desse um pouco de atenção ao rapaz, seria como se ele não
estivesse lá.
Saquei que ela tinha nojo dele, escapando a cada investida, a cada
toque, a cada tentativa de beijar, chupar. Enquanto ele tomava banho, nós
duas começamos a conversar. Eles eram amantes há algum tempo, mas o interesse
dela era pelo dinheiro dele, e não pelo prazer que o fato de serem amantes
poderia proporcionar. O marido dela não tinha condições de dar nem metade do
que o amante dava para ela. Carro do ano, jóias, enfim, presentes de amante
mesmo.
Eles só podiam se encontrar uma vez por semana, durante duas horas.
Para se livrar do fardo de fazer sexo com ele, ela passou a exigir
outra mulher na cama com eles.
Inventou que gostava (mas parecia gostar, mesmo), só para fazer o
tempo correr mais rápido quando houvesse esses tais encontros. Não sei se ela
inventou isso para dar uma desculpa, embora fizesse sentido, pelo que vi.
Essa mulher era uma exceção, com certeza. Depois que sair com casais
virou rotina, e me iniciou no interessante mundo dos clubes de swing,
consegui chegar a uma conclusão sobre a alma feminina: elas gostam de estar
com outra mulher.
Esse papo de "realizar a fantasia do marido" é para a minoria. É a
desculpa útil. Mulher é mais tímida, reservada, tem medo dos tabus. É claro
que há casais em que se torna evidente o marido ter forçado a barra, obrigado
a mulher a sair com outra. Estas chegam com medo, travadas, não sabem o que
fazer.
Foi meio constrangedora uma ocasião em que a mulher chegou a chorar na
minha frente pelo ciúmes de ver o marido comigo. Mas têm as outras, que até
incentivam. Essas juram que, se fizerem isso, os maridos não
terão necessidade de traí-las, pois estarão sempre juntos nas
aventuras sexuais. Se elas soubessem quantos deles voltaram sozinhos
depois...
Sem falar nos que tinham vindo antes. Já ouvi muito "quando ela vier
aqui, você finge que nunca me viu na vida, hein?". Sinto pena delas. Estão
sendo enganadas e não sabem. Ou fingem não saber, não perceber, sei lá. Nunca
vou ter essa ilusão de ser liberal para evitar a traição. Não existe essa de
satisfação total nem garantia de nada.
Engraçado, são tantas as razões de cada uma dessas mulheres para
chegar a dividir sua cama e seu marido com mais alguém: medo, prazer, ciúmes,
curiosidade, insegurança, fantasia. Mas, no fundo, acredito que toda mulher
goste mesmo de mulher. Se homem gosta de homem eu já não sei, pois quando
rola de estar com dois ao mesmo tempo, mesmo nas "festinhas" com direito a DP
e tudo, nunca vi nada entre eles (o que é uma pena). Se fazem quando estão
sozinhos, já é outro departamento... Já vivi a intimidade do sexo com muita
gente, homens e mulheres, e sei do que estou falando. Vou dar uma excelente
psicóloga, pode escrever.
A história do namorado motoboy, as mentiras que eu contava só para
conseguir o que eu queria, as aprontadas e minhas notas no colégio, tudo isso
só ajudou a azedar minha relação com meu pai. Ele ainda tentou dar um jeito:
levei bomba no primeiro colegial e, quando passei para o segundo, me mandou
para o São Luís para ver se um novo ambiente ajudaria. Não adiantou nada: eu
continuava sem o menor saco para estudar.
Eu e meu pai tínhamos brigas terríveis, mas ele nunca havia me batido,
por mais que eu temesse o contrário. No fundo, sempre achei que merecia.
Por isso, vou revelar a verdadeira história de por que eu apanhei do
meu pai pela primeira vez. Nunca contei isso a ninguém por absoluta vergonha
mesmo. Eu roubava.
Não, não sou ladra profissional. Começou quando eu tinha uns oito anos
e a gente morava em Araçoiaba. Lá, tinha uma quitanda com um baleiro sobre o
balcão. Como tinha só uma atendente, que estava ocupada com minha mãe, era
muito fácil pegar as balas escondido - e igualmente escondida eu as
saboreava. Sabia que bastava pedir que minha mãe compraria quantas eu
quisesse. Mas o barato era a adrenalina, o medo do proibido e o risco de ser
apanhada. Só uma vez eu me descuidei e minha mãe perguntou de onde vinham
aquelas balas. Menti: "Ganhei na escola". Passou pouco tempo até eu descobrir
outras facetas dessa vontade incontrolável: os doces não eram suficientes e
eu me descobri compulsiva por dinheiro. É isso mesmo: o dinheiro sempre me
dominou.
Imagine: eu, com oito anos, pegando dinheiro dos meus pais! Como meu
pai quase não podia sair, por causa da doença, sempre havia dinheiro na casa.
Naquela época, nem era real ainda. Não tinha a menor idéia do valor do
dinheiro, mas já sabia que pedir (no que certamente seria atendida) era menos
excitante do que pegar. Comecei pegando algumas notas, de vez em quando,
daquele bolinho que ele sempre guardava. Então, ia até uma loja e perguntava
à vendedora o que dava para comprar. Mesmo assim, continuei pegando coisas em
outros lugares. Principalmente doces.
Tínhamos um motorista só para me levar e buscar na escola, que era em
Sorocaba, já que meu pai não podia me levar e minha mãe não gostava de
dirigir até lá. No caminho, sempre pedia para ele parar na Real, uma padaria
maravilhosa da cidade, inventando que minha mãe havia pedido para eu comprar
alguma coisa. Eu tinha o dinheiro na minha bolsinha e nem estava tanto assim
com vontade de comer doces ou chocolate. Fiz isso durante muito tempo, até
que um dia...
Não sei por que, minha mãe resolveu me levar à escola naquele dia. Ela
parou na tal padaria e me pediu para ir até lá comprar alguma coisa. Na
volta, veio com um papo muito estranho: tinha visto uma menina sendo levada
aos safanões pelo segurança da loja até o escritório. E ficou dizendo que a
garota havia sido apanhada pelas câmeras de segurança furtando coisas da
padaria. Eu nem sonhava que existisse isso nas lojas. Até hoje não sei se ela
sabia de alguma coisa (era bem provável, já que todo mundo ali conhecia minha
mãe e devem ter dado um toque) e escolheu esse caminho para me dar um susto,
ou se a história era mesmo verdadeira. Só sei que parei de pegar fora de
casa. Só fora de casa. Lá dentro, era sempre em cash.
Todos os dias, quando a gente já havia voltado para São Paulo, eu
pegava ao menos cinqüenta reais. O que valia era a sensação do proibido, até
porque eu ganhava mesada deles e, se precisasse de mais, bastava pedir. Eu
fiquei tão fissurada nesse negócio que não deixava passar um dia sequer sem
pegar dinheiro. Minha mãe me flagrou duas vezes, e o seu perdão (pedido aos
prantos, com lágrimas e vergonha verdadeiras) parecia um green card para eu
continuar fazendo.
Ela até chegava a comentar com meu pai, na minha frente, que estava
sumindo dinheiro da carteira dela - acho que na esperança de que eu me
tocasse e parasse com aquilo.
Doce ilusão...
Comecei a pegar no colégio, também. Eram só dez reais aqui e acolá,
nada grandioso. Ninguém levava mais do que isso para a aula. Eu esperava o
pessoal sair para o recreio, voltava para a sala e vasculhava as bolsas. Até
o dia em que uma menina da classe
deixou trinta reais em cima da carteira e eu nem pisquei: fui lá e
peguei na caradura. Deu diretoria... Alguém me viu voltando para a sala no
intervalo e dedurou.
Quando a diretora perguntou, não procurei mentir e assumi: "Fui eu
mesma". Ela me perguntou se eu estava usando drogas. Seria bobagem admitir
isso, já que eu não gastava tudo o que pegava com erva. Resolvi mentir. O
castigo seria devolver o dinheiro. Adivinha o que eu fiz? Peguei em casa.
Caso encerrado, pero no mucho. Imagina se não continuou sumindo dinheiro no
colégio... Mas, das outras vezes, só paguei a fama sem deitar na cama.
Eu realmente achei que, devolvendo a grana, ficaria tudo bem. No
entanto a diretora resolveu chamar minha mãe e contar tudo. Ela ficou
arrasada, muito brava comigo, brigamos e tudo. Mas, àquela altura do
campeonato, por mais que eu quisesse parar (e eu queria), não conseguia.
Tinha de pegar cada vez mais. Tudo para alimentar outro vício: a
compulsão por compras. Eu só comprava futilidades, mas tinha uma necessidade
maluca de comprar. E isso demandava cada vez mais dinheiro.
A coisa estava tão fora de controle que até os dólares que minha irmã
guardou (sobras da viagem aos Estados Unidos para conhecer meu cunhado)
entraram na dança.
Antes de voltar para o exterior para casar, ela resolveu fazer uma
obra no apartamento dela e, com medo dos pedreiros, levou o dinheiro lá para
casa. Eu pegava uma ou outra nota de dólar e, quando vi, tinha roubado todas.
E a coisa não parava. Comecei a vender meus livros em sebos, até acabar com
todos.
Comecei a levar outros de casa. Chega! Prometi a mim mesma que não
faria mais isso. Quando prometo algo, eu cumpro. Dessa vez, não deu.
Um dia, quando ninguém estava em casa, comecei a xeretar as gavetas
atrás de algum dinheiro. Encontrei um gravador e um monte daquelas fitínhas
cassetes. Comecei a ouvir e descobri que minhas conversas ao telefone haviam
sido todas gravadas. Tudo bem que eu havia feito um monte de cagadas, mas
aquilo era invasão demais.
No começo de 2002, pensei: "Se eu pegar bastante dinheiro e comprar
tudo o que quiser, depois eu paro". Me lembrei de um conjunto de jóias da
Vívara que meu pai havia dado a minha mãe como presente de aniversário de
casamento no ano anterior e que ela nunca havia usado. Tentei vender só o
anel, mas ninguém me dava mais do que cinqüenta reais por ele, por mais que
sua pedra fosse rara. Desisti temporariamente da idéia, até que, num
rompante, resolvi pegar o estojo com todo o conjunto.
Soube de um lugar na Oscar Freire que comprava jóias e pagava bem.
Então, levei tudo na mochila para o colégio. Eu havia até me esquecido
de que estava lá quando uma amiga me pediu alguma coisa e eu falei que ela
podia
pegar na bolsa. Foi um auê: parou a aula e até a professora veio ver o
que estava acontecendo, tamanho o escândalo que a menina fez. A professora
perguntou por que eu estava carregando aquilo, e eu, mais uma vez, menti: era
um presente do namorado que eu ia emprestar a uma amiga para ir a uma festa.
No fim da aula, lá fui eu à tal loja da Oscar Freire. O cara
reconheceu o valor das jóias, mas disse que só podia pagar quinhentos reais.
Disse não, é lógico. Voltei para casa com o estojo, guardei novamente no
armário, embora a perspectiva de ter quinhentos reais fosse muito tentadora.
Era muito dinheiro para uma garota de 17 anos. Pensava nas coisas que poderia
comprar com essa grana e não resisti. Minha mãe, que nunca havia usado
aquelas jóias, nem ia dar pela falta delas. No dia seguinte,fechei o negócio.
Tomei um táxi e, na mesma hora, me arrependi. Pedi ao motorista que desse a
volta no quarteirão e voltei à loja. Adivinha quanto ele queria para eu
comprar tudo de volta? Dois mil e quinhentos reais!!! De onde eu tiraria essa
grana toda? Deixei para lá. O que estava feito, estava feito.
Em maio, minha mãe resolveu colocar as tais jóias para irmos a um
casamento. Evidente: ela não as achou. Chegou a perguntar para mim se eu
havia visto - e eu menti, claro. Ela revirou a casa inteira atrás das
benditas jóias e acabou colocando outras.
Foi um alívio - mesmo que temporário. No dia seguinte, um sábado, ela
colocou a casa de pernas para o ar. Juro que tive vontade de chegar nela e
contar tudo, mas não soube como. "Foi a empregada!", concluiu minha mãe. Eu
fiquei morrendo de culpa, pois a empregada trabalhava com a família há quase
vinte anos e não achei justo que ela levasse a culpa. Mas continuei no
silêncio.
Na semana seguinte, minha mãe chegou em casa dizendo que viera do
colégio e que a diretora contara a ela que eu andava com atitudes estranhas;
dando presentes a minhas amigas (estava me desfazendo das minhas coleções de
adesivos e papéis de cartas, só isso). Como prato principal, a revelação:
a história da jóia vista na sala de aula chegou aos seus ouvidos. "Se
foi você, quero as jóias de volta", disse ela, imaginando que ainda
estivessem comigo. Não teve jeito e eu confessei tudo, inclusive a venda. Ela
quis saber por quanto eu havia vendido, porém isso não revelei. Cena de
horror, embora minha mãe garantisse que não contaria nada ao meu pai, com
medo da reação dele, de ele ter algum troço, já que ainda deveria estar
pagando as prestações do presente, ou até mesmo de ele me bater.
Passou pouco tempo até que cheguei em casa e vi minha mãe com aquela
expressão terrível que só ela sabe fazer quando está brava. Ela disse apenas:
"Não agüentei e contei tudo para o seu pai".
Nisso, eu o vi vindo da sala na minha direção. Sem dizer nada, começou
a me bater, bater, bater. De mão fechada, aberta, de tudo quanto é jeito. Não
sei como, começaram a chegar pessoas lá em casa:
minhas irmãs, os amigos delas, meu cunhado. Virou platéia. Meu pai me
arrastou até o sofá e continuou batendo. Quando ele cansava, eu pedia para
ele bater mais.
Já que não tinha conseguido me matar, aquela era a chance: "Me mata de
uma vez. Eu deixo você me matar"; ele dizia: "Eu vou te matar, mesmo, de
pancada".
Resolvi enfrentar. Não derramei uma lágrima sequer. Queria me mostrar
forte, por mais machucada que tivesse. Meu pai falou que já havia falado com
alguns juízes amigos dele e que eu ia direto para a Febem. Apanhei até a hora
que meus pais saíram para dar queixa de mim. Fiquei sendo vigiada pelas
minhas irmãs, que, claro, me censuraram. Me "lembraram" de que eu havia sido
adotada por amor, que eu tinha tudo o que elas nunca tiveram, pois nem sempre
meus pais tiveram grana. Mas eu enfrentava todo mundo, nem sei por quê. Na
volta, meu pai continuou a me bater, até cansar. Fui para o meu quarto e
deitei com a roupa que estava, sem nem tomar banho. Ele entrou no quarto, me
deu um tapa no rosto e disse: "Toma mais um". Foram três dias assim, até que
ele parou de me bater. Nunca mais fiquei sozinha. Sempre tinha alguém me
vigiando, em casa, na rua, no caminho para a escola.
À noite, eles trancavam as duas saídas do apartamento e iam dormir.
Durante o dia, trancavam as portas do escritório e do quarto deles,
com medo que eu roubasse mais alguma coisa.
Uma semana depois, meu pai chegou para mim e disse: "Hoje é sua
audiência". Bem, se ele não me matou, melhor mesmo seria ir para a Febem. Ele
e minha mãe foram de táxi. Eu ganhei um bilhete de metrô e algumas
orientações de como chegar até lá. No meio do caminho, pensei em fugir, mas
tive medo e resolvi enfrentar o juiz. Quando cheguei lá, ficamos em uma sala
onde estavam muitas mães de garotos presos, pois era dia de audiência para
ver quem seria solto. Na hora que entrou aquela fila de meninos de mãos
dadas, obrigados a olhar para o chão sem virar o rosto, muitas delas
começaram a chorar vendo os filhos. "Vai escolhendo aí quem vai ser seu
namorado na Febem", disse meu pai. Nem sei, mas acho que meninos e meninas
ficam separados lá dentro. Ele disse isso mais para me machucar. Ainda mais.
Minha mãe só chorava; não dizia nada.
Fomos chamados para a sala da juíza (ainda bem que era mulher). Eu
estava com o coração na mão. Primeiro falou meu pai. Depois, minha mãe, que
confirmou minha rebeldia e os problemas que eu estava causando, que eles não
sabiam mais o que fazer comigo e que estavam decepcionados. Na minha vez,
menti dizendo que tudo isso era por
causa da maconha. Alguma coisa até era, porém não tudo. Disse que
estava arrependida, embora para mim fosse indiferente ir para a Febem ou
voltar para casa.
Na vez da juíza, ouvi o sermão. "Eu conheço sua família, trabalhei com
sua irmã, sei como são boas pessoas. No seu lugar, eu valorizaria tudo isso.
Você estudou em bons colégios, não tinha razão para fazer o que fez. Já que
você diz que o problema é a maconha, não vou fazer nada com você. Vou passar
uma lista de clínicas de desintoxicação para você parar com a droga. O
processo que seu pai abriu vai ficar aqui comigo, arquivado, pois tenho
certeza de que isso é uma coisa de adolescente, que pode e vai mudar. Não vou
colocar você, que é estudada, no meio dos outros que nunca tiveram, e
dificilmente terão, as oportunidades que teve na vida e a chance de mudar o
que foi feito. Se teus pais não te deram uma chance, eu vou dar, para você
provar que mudou." Ficou por isso mesmo...
Acabei não indo para clínica nenhuma, pois meu pai jurou que nunca
mais gastaria um tostão comigo - e as clínicas eram todas pagas e caras. Eu
até o vi dando uma olhada no papel algumas vezes, no entanto nunca se tocou
no assunto. A promessa de secar a fonte financeira foi cumprida à risca. Eu
fui transferida do São Luís para o Brasílio Machado, um colégio estadual.
Cortaram minha mesada, me tiraram da academia. Só recebia os passes para ir à
escola. Eu ia a pé do Paraíso à Vila Mariana e vendia os passes em troca de
dez reais por semana. Quase nada, mas dava-se um jeito: conseguia comprar
cigarros, ao menos. Baladas? Nem pensar... Nessa escola, conheci muita gente
boa, mas muita gente do mal, que roubava para ter dinheiro, mesmo que não
fossem, vamos dizer assim, carentes... Quase entrei no meio deles, mas
escapei.
Havia um japinha que vivia correndo atrás de uma garota lá da
Michigan.
Mas que acabou ficando comigo mesmo, já que levou uma esnobada.
"Eu tenho uma fantasia."
"Qual?"
"Eu adoro depilar as putinhas."
eu já tenho bem pouquinho. . ."
Não faz mal: eu quero raspar tudo e deixar sua boceta peladinha."
Sacando um aparelho e o creme de barbear de sua pasta, meu "barbeiro
japa" foi tirando os poucos pêlos que eu tinha. Fiquei carequinha.
Sensação nova e excitante.
Tentei continuar a transa, mas a sessão de fantasias ainda não havia
terminado: ele queria fotografar. Deixei. Só quando ele já havia tirado um
monte de
fotos foi que caiu de boca. Lei da selva: matou, tem de comer. No meu
caso, descascou, tem de chupar. Só depois desse ritual foi que transamos
sossegados. Apesar da tara, ficamos no bom e velho papis e mamis.
Na putaria, a gente entra em contato com um lado mais verdadeiro e
menos hipócrita das pessoas. Elas não escondem seus desejos mais secretos,
liberam fetiches que não confessariam a ninguém, nem sob tortura. Com uma
garota de programa, ninguém precisa fazer jogo de cena. Eles vêm até mim para
realizar suas fantasias. Funcionamos como terapeutas, às vezes. Meu critério
de normalidade mudou muito desde que passei a viver do sexo. Mesmo assim, em
algumas ocasiões há situações difíceis de esquecer.
Trabalhando nos privês, descobri que tem muitos homens casados, muitos
mesmo, geralmente entre 35 e 45 anos, que querem é que você seja "ativa" para
eles.
"Você tem brinquedinhos?", eles perguntam ao telefone.
"Sim, muitos."
"E quais são?"
"Tem de tudo. Basta me dizer com o que você gosta de brincar."
"Tem vibrador?"
Essa é uma abordagem muito comum, acredite. O que me fez virar cliente
assídua de sex shop. É um mundo bem divertido, além de pervertido. Há vários
"brinquedinhos", pomadas, cremes, roupas, fantasias, perfumes, lingeries. E
camisinhas (que eu compro para dar aos meus clientes), além de um monte de
gente que passa por cima da vergonha e carrega sua figura insuspeita para
dentro das lojas em busca de excitação. Ficam expostos uns consolos enormes,
boceta de borracha, bonecas infláveis.
Foi num desses sex shop que eu vi um cara comprando uma boneca e logo
pensei: se algum dia um namorado ou meu marido disserem que já transou com
uma coisa dessas, é fim de caso.
Hoje freqüento um sex shop aqui mesmo em Moema que é um barato: só
entram mulheres. A gente fica mais à vontade, sem aqueles homens olhando,
curiosos, apenas para ver o que a mulherada compra. E tem umas coisas
engraçadinhas: um canudinho e um jogo de talheres em formato de pau, que eu
comprei para a minha casa. Às vezes, vou só para ver as novidades.
Putz, quase mudei de assunto. Voltando: bem, o que esses homens querem
é que eu vire o "bruninho", que enfie um vibrador bem grande neles, que coma
mesmo. Faço muitos programas em que o trabalho é vestir a calcinha com
o consolo preso e mandar ver, sem dó. Modéstia à parte, acho que como
muito bem. São caras que você olha na rua e vê que são pais de família, uns
caras bem comuns.
Não comi só esses que fazem o tipo "paizão", não. Já enrabei também
muito cara bombado de academia, que posa de macho, tem preconceito contra
homossexuais, mas que, no fundo, no "vamos ver", tem tara por ficar de
quatro, ser dominado.
Acho que eles não têm coragem de procurar um homem e se sentem menos
bichas se forem comidos por uma mulher. No fim das contas, tudo isso vira
coisa normal. Assim como é normal brochar. Só os homens não sabem disso... Um
dia, chegou um moleque novinho, bem alto. Estava pra lá de tímido. Fui
abraçá-lo. Com a minha altura, fiquei com o ouvido colado no coração dele.
Batia bem acelerado. Além de tímido, estava ansioso. Não conversamos muito,
mas posso dizer que foi um programa "exótico".
Ele começou a chupar meus peitos e percebi algo diferente. Ele não
estava chupando: estava mamando em mim! E ficou assim por um bom tempo.
Quando ele soltou, disfarçadamente dei uma apertada nos bicos, para
ver se não estava saindo leite.
Brincadeira...
Depois da mamação, foi a minha vez de cair de boca. Acho que fazia um
tempão que ele não batia umazinha pois seu gozo foi muito intenso e farto. O
pau dele ficou latejando um tempão na minha boca. Fui ao banheiro para me
limpar e, assim que voltei, ele já pegou minha mão e levou ao seu pau mole.
Uau! Ele não quer dar nem o respiro regulamentar! Voltei a chupar seu pau
mole. Bem, fiquei nessa durante meia hora. Não tem coisa pior do que ficar
chupando pau mole. E nada de o "menino" ressuscitar.
Sorte dele que não cobrei pelos mililitros de saliva que gastei
naquele dia. E ele foi ficando puto, xingava o pau, reclamava como se
conversasse com "ele". Ficou sem graça comigo por ter "brochado" no segundo
tempo. Pudera: eu nunca vi essa coisa de dar "duas sem sacar da moringa".
Ele acabou indo para o banheiro para bater umazinha por conta e ver se
o negócio subia. Como eu sei? Na porta do quarto fazia a sombra dele
balançando. Eis um caso típico de problema na cabeça de cima.
Um ponto final com duas sentenças diferentes. Esse foi o saldo da
briga com meu pai. Precisava fugir dali, ir viver minha vida, antes que ele
decidisse se e como eu deveria vivê-la. Naquela casa de portas trancadas, eu
era uma espécie de cobaia humana. Primeiro as portas trancadas, depois as
gravações e, agora, o silêncio total: ninguém mais falava comigo ali.
Só tinha mesmo minha gatinha para me fazer um pouco de companhia.
Justo eu, que tenho horror de ficar sozinha.
Sem querer, uma noite ouvi meus pais conversando sobre me mandar para
um lugar, sem dizer que lugar era esse. Nem sabia o que pensar. Me senti uma
menininha novamente, sozinha, imóvel e assustada em seu quarto escuro,
medrosa como sempre fui (e ainda sou), imaginando um monstro debaixo da cama.
No meu caso, ele dormia no quarto ao lado - e sua maldade parecia um segredo
inconfessável. Se eu escapei de ir para a Febem, o que será que ele tinha em
mente? Essa foi a mais tenebrosa e a mais longa jornada noite adentro da
minha vida.
Certo dia em julho, do nada, minha mãe me avisou que eu iria para o
Guarujá no dia seguinte. Quem é que, depois de uma história maluca como essa,
manda a filha se divertir na praia? Percebi, até pelo silêncio da minha mãe,
que não se tratava de um sinal de arrependimento: eles realmente estavam
planejando algo para mim e me queriam longe dali.
Você acredita que meu pai só me deu 50 reais para eu passar duas
semanas? Tudo bem que eu ia ficar na casa de uma amiga, mas aquilo, claro,
não duraria nem um dia. Como não durou. Embora não quisesse pegar mais
dinheiro de ninguém, nem que fosse emprestado pela pessoa, me passou uma
idéia pela cabeça: fazer sexo por dinheiro. Nem sei de onde tirei essa idéia,
mas lá fui eu. Saí uma noite sozinha para passear no calçadão paquerando os
homens sozinhos. Se algum chegasse junto, eu ia dizer que era garota de
programa e que, para fazer sexo comigo, ia ter de pagar. Vários homens
pararam e alguns até se aproximaram. Eu é que não tive coragem de falar nada.
Não era uma coisa que eu queria ou sabia fazer. Não sabia como vender meu
corpo. Desisti e pedi dinheiro emprestado para um amigo que era a fim de mim.
Ele me deu 150 reais. "Quando puder, você me devolve." Nunca mais o vi...
Depois que voltei dessa viagem, feliz de verdade como há muito tempo
não me sentia, e nem sei por que, meus pais nem se viraram da TV para
responder ao meu "cheguei!".
Nunca mais minha mãe conversou comigo. Não sentiria nada se meu pai
nunca mais olhasse na minha cara. Mas nunca mais ouvir "minha filha" na voz
acolhedora da minha mãe talvez seja o mais perto da solidão da morte que já
cheguei. Nunca mais queria sentir isso de novo. Nunca mais.
O incômodo silêncio foi se arrastando pelos dias, pesado. Seja lá o
que fosse que tivessem pensado em fazer comigo, como me mandar para um
colégio interno, me emancipar para poder me colocar para fora de casa ou
coisa parecida, eu não esperaria para ver. Meu tempo estava se esgotando.
Comecei a comprar jornais apenas para ler os classificados. Vi que
minha inexperiência seria um obstáculo intransponível. Todos os caminhos me
levavam à única coisa que uma garota como eu poderia fazer. Assim começou
minha peregrinação pelas casas que colocavam os anúncios nos jornais, atrás
de garotas entre 18 e 25 anos, para ganhar os tais "mil reais por semana".
Visitei casas de massagem, privês e até boates. No dia 8 de outubro de
2002, vinte dias antes de completar 18 anos, tomei coragem de falar para o
meu pai que eu sairia de casa para trabalhar. Repetindo que não me daria mais
nada se eu fosse embora, perguntou como é que eu esperava sobreviver. Na
minha santa ingenuidade, porém firme no propósito de afrontá-lo, falei que
seria massagista para executivos. Mas eu realmente pensava assim, pois os
anúncios diziam isso: massagem. Uma menina de uma casa que visitei também
falou que só a massagem era um preço "x"; se o cliente quisesse sexo, pagaria
a diferença para a menina no quarto. Eu ia ficar mesmo só na massagem. Ele,
claro, ficou uma fera. Estava pronta e disposta a apanhar novamente.
No lugar da mão pesada, veio a voz, confusa, desorientada,
desconcertada. Ele começou a conversar comigo. Nervoso, sim. Bravo, sim. Mas
tentava conversar comigo.
Tarde demais para começar a conversar. Ele não tinha o menor jeito
para isso. Eu insistia, sinceramente, na ingenuidade: "Mas pai, é só
massagem, não é sexo. Eu não vou fazer sexo, só vou fazer a massagem". Tudo o
que ele não havia falado comigo a vida inteira, e especialmente desde que foi
estabelecido o "voto de silêncio" em nossa casa, vomitou naquela noite, O que
ele queria, de verdade, era me fazer desistir de ir embora. Ouvi tudo calada.
Meu silêncio alimentava sua verve. Puta... Vagabunda... Piranha... As frases
sucediam, como se ele nem parasse para respirar.
Abatido, terminou a conversa deixando escapar um desejo (será?), uma
quase-sentença de morte: "Toda puta tem Aids. Eu lamento muito que vá morrer
sozinha, aidética, no Emílio Ribas". Então tá: se para ser livre tivesse de
ser puta, era o que eu seria. E se tivesse que morrer, que assim fosse.
Eu já havia transado com muitos homens. De alguns, nem me lembrava
mais. É certo que há outros inesquecíveis. Como um cara supercarente que
apareceu um dia. Ele era claramente complexado e inseguro. Triste. Uma hora,
como quem está longe, conversando consigo mesmo, começou a cantarolar a
música que estava tocando. Confesso que fiquei emocionada com aquela cena.
Eis ali um homem que precisava de refúgio. Mas não foi só por isso que ele me
marcou. Quando eu vi o corpo dele nu, levei um susto.
Primeiro porque o cara era magérrimo. Segundo, tinha um pau enorme!
Acho que é o maior que já vi. O programa foi péssimo, pois estava
preocupada com o que ele estava sentindo. Ele precisava de ajuda e eu não
sabia o que fazer... Além disso, não conseguia chupar direito. Era tão grande
que só entrava a cabecinha (modo de dizer) na minha boca. Na hora de colocar
a camisinha, então, foi um parto. Era muito apertada para ele e fazia o pau
amolecer. Mesmo assim, deu para transarmos um pouco. Foi uma das poucas vezes
em que senti o pau bater no meu útero. Uma sensação nova, afinal. Ele gozou
batendo punheta em cima dos meus peitos, despejou um litro de porra e se foi.
Fiquei com uma impressão estranha de que tinha faltado algo naquele programa.
O quê? Quem sabe eu devesse ter dito alguma coisa. Sei lá, deve ser
mesmo apenas impressão.
Mas sei bem como é estar angustiada...
Em dezembro de 2003, já havia comprado um computador para mim. Era um
jeito de compensar os momentos de solidão. Sempre fui maluca por navegar na
internet e tinha descoberto a febre dos blogs. Todo mundo estava fazendo o
seu e parecia ser uma coisa interessante, divertida. Se a curiosidade matou o
gato, no meu caso não foi bem assim. Decidi procurar no Google por blogs de
garotas de programa, só para ver como era a vida, o dia-a-dia de outra menina
como eu, comparar. Na internet tem de tudo, não tem? Surpresa: não
encontrado! Busquei de novo, com todas as ferramentas que existem na rede.
Nada!
Eu vivia sozinha, coisa que detesto. Tenho medo, sei lá. Eu tinha
conhecido uma moça realmente do bem:
a Gabi, que tinha um flat no mesmo prédio que eu e que hoje é minha
melhor amiga. Numa noite de baixo-astral, interfonei para ela vir ficar
comigo, mas ela não podia.
Fiquei quase maluca. Assim decidi escrever no blog tudo o que eu
queria ter dito para ela naquela noite. Alguém ia ver. Quem sabe se minha
família não veria? O que eu queria, de verdade, era que qualquer pessoa
viesse me socorrer, me salvar. Da minha vida, da minha história. De mim.
Para dar um jeito naquela angústia, escrevi no meu blog um desabafo
muito forte falando de tudo isso. Eu estava muito deprê. Fiz um resumo da
minha vida e escrevi que não valia a pena fazer programa e que, se pudesse
voltar no tempo, nunca teria escolhido esse caminho. Isso num blog de uma
garota de programa... No dia seguinte, um pouco melhor, resolvi deletar tudo.
As pessoas iam pensar que, além de puta, eu era louca. Acho que tudo
aconteceu por causa do Natal, que estava perto. Eu pensava na minha mãe, na
minha casa. Meu entusiasmo pelo blog esfriou um pouco e eu deixei para lá.
No dia 1. de janeiro de 2004, pensei: "Vou retomar o meu blog". Já que
era uma espécie de diário, tinha tudo a ver começar nesse dia. Foi por isso
que decidi contar a minha rotina em vez de desabafar. E ia poder, também,
registrar de modo diferente tudo o que eu anotava na minha agenda,
principalmente os detalhes de cada cliente.
Sempre pensei em fazer uma estatística mais detalhada quando eu saísse
da putaria. Só para ter uma idéia, posso garantir, com cem por cento de
certeza, que setenta por cento deles são casados. Sempre pergunto o motivo
para a traição, levando-se em conta que estão pagando por sexo. Há apenas
dois tipos de resposta: enjoaram do sexo com a mulher ou as mulheres não são
tão liberais a ponto de eles declararem todas as suas fantasias... Apenas
vinte por cento são solteiros convictos que não têm tempo ou saco para balada
(ou não conseguem conquistar ninguém) e os dez por cento restantes são noivos
ou comprometidos.
Nunca imaginei que isso fosse ser interessante para alguém. Mas ia ser
divertido para mim. Imaginem, poder classificaras transas, contar como eram.
Dessa maneira inventei as cotações - Transa mecânica: mecânica mesmo, sem
química, quando estou cansada, sem paciência. Fico olhando no relógio,
controlando o tempo, que não passa; faço tudo com má vontade, apesar de fazer
o máximo para o cliente gozar rápido e ir embora. Tem vezes que até bufo.
"Vamos mudar de posição?", sugere o cliente. "Humpf", respondo, sem
saco total, já que não posso soltar um palavrão. Rs... Não me esforço nem
para gemer.
- Namoradinho: quando rola química, como se fôssemos namoradinhos de
verdade, naquele clima de primeira transa entre os dois, no motel, se
beijando, se abraçando, com carinho, sexo cuidadoso, papai-e-mamãe (sim,
papis e mamis).
- Putaria: é clima de putaria, precisa traduzir? Eu me sinto puta de
verdade, faço sexo com vontade, não sei bem explicar... Namoradinhos, mesmo
com entusiasmo, não me considero puta. Aqui, sim.
Nessa época, o meu blog era no site Terra. Uma noite, quando fui
postar, escrevi a senha e apareceu uma mensagem dizendo que a senha estava
errada. Era uma sexta-feira e por essa razão eu teria que esperar até segunda
para poder resolver isso.
No domingo, resolvi tentar novamente e, para a minha surpresa, vi que
tinha um post novo e, pior,
não era o que eu tinha escrito! Então, concluí que alguém tinha
invadido o meu computador e roubado a minha senha... Chorei muito de raiva!
Na segunda liguei para o Terra e consegui entrar em contato com o responsável
pelo webloger.
Expliquei o que tinha acontecido e eles conseguiram recuperar a minha
senha depois de uma semana.
Em todos esses dias, a pessoa continuou postando se passando por mim.
Fiquei com medo de que essa pessoa escrevesse algo que me
comprometesse. Mas não ocorreu isso. A pessoa se contentou em me imitar
direitinho, tanto que em alguns posts eu até pensava que era eu mesma que
tinha escrito aquilo tudo.
Recuperei a senha, deletei tudo o que eu não tinha escrito e expliquei
aos leitores o acontecimento. Não passou um mês e roubaram a senha novamente.
Dessa vez foi bem pior, pois além de a pessoa se passar por mim, ainda postou
os arquivos que roubou no Word do meu computador. Eram arquivos muito
comprometedores já que alguns capítulos do meu livro foram copiados e colados
no blog.
Dessa vez chorei mais e fiquei várias noites sem dormir, imaginando
quem poderia ter feito isso e por qual motivo. Consegui recuperar minha senha
novamente, porém desisti de manter o blog. Até que um amigo que trabalha com
informática me sugeriu que eu tivesse um site particular, no qual poderia
continuar com o blog e ainda colocar minhas fotos.
Foi com este site que comecei a ter sucesso. Com as fotos conquistei a
credibilidade das pessoas que não acreditavam que aquele blog era de uma
garota de programa de verdade. Eu recebia vários e-mails de pessoas duvidando
de mim.
Muitos, inclusive, achavam que era um homem fantasiando tudo aquilo.
Foi com esta mudança de endereço eletrônico que o meu blog adquiriu
repercussão. Até porque muitos pensaram - e ainda pensam - que o fato de as
minhas senhas terem se perdido foi um lance de marketing para chamar atenção.
De uma hora para outra havia tantos visitantes no blog que fiquei
assustada. Algo tão espantoso acontecia que o próprio iBest me chamou para
dizer que o meu blog estava em segundo lugar no top link. Eu não tinha noção
de que isso pudesse ir tão longe. No começo, me assustei com essa
repercussão. É estranho imaginar que um monte de gente sabe da sua vida, como
se estivessem invadindo minha casa e revirando as gavetas. Ao mesmo tempo,
descobri que era isso exatamente o que eu queria:
que as pessoas lessem sobre a minha vida. Ao menos sobre a pública.
Não a da Raquel, mas a da Bruna Surfistinha.
Fui dormir pela última noite naquela casa. A conversa tinha me abalado
muito. Realmente, meu pai não confiava em mim. Nem na minha capacidade de me
cuidar sozinha.
Ele fez com que me sentisse uma inútil. Prometi a mim mesma que essa
seria a última vez que permitiria isso. Vindo dele ou de qualquer outro homem
na face da terra.
Alternei momentos de angústia e de grande excitação. Em poucas horas,
seria livre para ir onde quisesse, para fazer o que me desse vontade.
Amanheceu um dia lindo. Não sei por que, mas algo acontece dentro de
mim quando o sol brilha num dia frio. Cria-se uma sensação de irrealidade, de
sonhar acordada:
aquela luz forte no céu azul, mas que não pode aquecer. Uma linda
mentira. Essa foi a primeira coisa que vi, quando acordei às dez horas da
manhã. Logo o encantamento desse cenário de sonho deu seu lugar à realidade
de minha dúvida mais cruel: é isso mesmo o que desejo fazer da minha vida?
Sabia que, se saísse, seria para sempre.
Não teria volta. Nem por mim, nem por meus pais.
Preparei minha mochila do colégio com algumas peças de roupa. Não
poderia sair dali com uma mala.
Ao vasculhar o armário, vi cada peça de roupa e lamentei não poder
levar todas elas. Separei umas calcinhas, uma roupinha para dormir, uma
camiseta, uma blusinha, alguns biquínis para trabalhar e, com a roupa do
corpo mais o casaco que vestiria, estava feita a minha bagagem. Minha gatinha
só observava a movimentação. Tentei escondê-la dentro da bolsa, mas ela não
topou. "Bem", pensei, "mais uma coisa que vai ficar para trás, com minhas
roupas da Guaraná Brasil e da Pólo Ralph Lauren, meu quarto e minhas
lembranças."
Fui para a sala e fiquei sentada à mesa de jantar, fingindo fazer
minha lição de casa. Na verdade, fiquei olhando para minha mãe, silenciosa,
de costas para mim, preparando algo na cozinha. Reconhecia que ela não
merecia passar por tudo aquilo. No entanto, era o que eu queria fazer. Ou o
que tinha que fazer. Pensava que, em pouco tempo, ela perderia duas filhas:
minha irmã mais velha e também minha madrinha, que conheceu um americano pela
internet e se mudou para se casar lá e não voltou mais.
Estava eufórica por um lado, embora triste por outro. Olhando aquela
mulher que um dia abriu mão da própria vida para ficar com um marido, cuidar
da casa e dos filhos, até de mim, que não era sua filha de verdade, senti uma
imensa vontade de dividir com ela minha decisão. Mostrar que nada daquilo era
por ela, mas por mim. Eu até poderia seguir seus
passos e abrir mão de mim, fazer tudo igual ao que ela tinha feito.
Bati o martelo.
Sem perceber, comecei a colocar tudo o que queria dizer a ela no
papel.
Não foi premeditado. Foi espontâneo e sincero, como há muito tempo eu
não conseguia ser.
Agradeci por tudo o que tinha feito por mim, pedi perdão pela dor que
ela sentiria, mas deixei claro que estava indo buscar a minha felicidade,
onde quer que ela estivesse. Desejei que, dessa maneira, ela e meu pai também
pudessem voltar a ser felizes, sem mim, sem meus problemas. Reli a carta, que
parecia a de um suicida.
Não conseguiria escrever nada diferente, porém. De certa maneira, algo
morria em mim naquele dia.
Deixei a carta em cima da mesa, apanhei o fichário e a mochila. Eu
sempre saía pela porta da cozinha. Passei por minha mãe, que estava fazendo o
almoço, de costas para mim, encostada na pia. "Tchau, mãe." Ela não me
respondeu. Ela não se virou. Eu sabia que era para nunca mais. Ela não.
Fiquei parada na porta um segundo, olhando para ela. Ela não se virou. Me
arrependo tanto do abraço que não tive coragem de dar naquela hora. Eu amo
minha mãe. Ela não sabia. Ela não se virou. Não veio nenhuma palavra, nenhum
gesto. Nem dela, nem meu. Me virei. Em silêncio, fechei a porta atrás de mim.
Tchau, mãe.
O diário de uma garota de programa
Quarta, 27
PRIMEIRO PROGRAMA
Perfil do cliente: a princípio, doidinho. Depois, até que ficou
legalzinho. E é muito safadinho. Não rolou química nem afinidade.
Estilo do programa: mecânico.
Fato interessante: ele comeu minha boceta pensando que fosse o cu Mas
a culpa não foi minha. Eu juro.
Fato engraçado: ele jurou que eu tinha fumado um beck. Não era
verdade.
Eu juro.
Primeiro tempo: nos chupamos, mas ninguém gozou assim. Ainda bem. Daí,
cavalguei até ele virar os olhinhos.
Segundo tempo: fiquei de quatro e fizemos anal... ops... vaginal, até
ele gozar.
Desde junho de 2004, meus relatos no www.bruna surfistinha.com eram
todos desse jeito: padronizados, bem físicos, sem muitos detalhes. Era uma
época em que chegava a fazer até dez programas por dia. Não sobrava muito
tempo para escrever tudo. Eu só tinha tempo, entre um programa e outro, de
anotar tudo em um papel para depois jogar no computador. Mesmo assim, por
causa do blog, virei uma espécie de musa inspiradora para as punhetas de
meninos e marmanjos. E comecei a ter certa notoriedade.
Não era bem isso o que eu queria, mas, já que aconteceu...
Em agosto de 2004, a revista Época me procurou para entrevistas; uma
edição especial da Capricho (Mina) também fez matéria comigo. Dei entrevista
para a Vzp, diversos jornais e umas revistas de sacanagem; apareci em vários
sites, participei de chats e, um dia, me chamaram para ir ao Superpop,
programa da Luciana Gimenez. Foi uma chance dupla: primeiro, ia mostrar meu
rosto para que acreditassem que eu existia e era eu mesma (sim, tinha um
monte de Brunas Surfistinhas falsas começando a pipocar por aí usando o meu
nome, como a tal Samara, que se passou por mim no Orkut e até criou uma
comunidade:
CHEGA DE BRUNA SURFISTINHA.
Em segundo lugar, acreditava que meus pais iam me ver e perceber que,
sim, faço programa, mas estou bem.
Não estou jogada em qualquer canto. Mesmo as entrevistas eu dei
pensando nisso. Até mesmo a do Pânico, da rádio Jovem Pan (divertidíssima).
Por sinal, eles foram muito gentis, por mais que eu tivesse medo de
que fossem zoar comigo - o que não aconteceu. Eles até evitaram abrir para
perguntas dos ouvintes. Sei lá, acho que é uma lição de vida para todos nós.
Torço para que, no dia em que tudo isso passar, eu possa voltar a me
aproximar deles.
No dia em que fui ao Superpop, os efeitos da exposição aconteceram
antes mesmo de eu aparecer no ar - ou de sair de casa. O carro da produção
chegou na recepção do flat e o motorista pediu para me avisarem. O porteiro,
claro, perguntou se eu ia aparecer na TV e, mais óbvio ainda, assistiu ao
programa, que é ao vivo. Não precisa dizer que a história se espalhou. Isso
não mudou a forma como os funcionários daqui me tratam.
Só teve uma época em que o gerente pegou no meu pé, dizendo que os
outros hóspedes estavam se queixando de eu trazer muitos homens para cá. Eu
nunca vi ninguém no corredor... Era coisa dele mesmo. No entanto, ao verem
que me tornara "famosa", acabou. Passaram a me respeitar mais (não que tenham
me desrespeitado em algum momento).
Percebi que o blog, além de atrair muita gente que nunca tinha feito
programa comigo, também podia ser um "algo mais" de diversão para os meus
clientes. Eles adoram ver qual é a minha avaliação de sua performance. Tanto
que há, até hoje, um aviso: OS PROGRAMAS MAIS "INTERESSANTES OU BACANAS" DA
SEMANA.
CASO VOCÊ TENHA FEITO PROGRAMA COMIGO NESTE PERÍODO, E EU NÃO RELATEI,
NÃO SE DESESPERE.
TENTE NOVAMENTE QUANDO PUDER... E muitos realmente tentam muitas
vezes. Bom para os negócios, não?
Quando a vida estabilizou numa média de cinco ou seis programas
diários (de segunda a sexta, só depois do almoço), resolvi apimentar meu
blog.
Mas tudo sempre pensando em não entregar o cliente. Só ele sabe de
quem estou falando. Há coisas como uma tatuagem, o lugar de um piercing,
algum detalhe do corpo ou de personalidade que podem acabar dedurando o cara.
E essa não é a minha intenção. A gente sabe que tem meninas de programa que
acabam infernizando a vida do cliente, até chantageando.
Mas essa, definitivamente, não é a praia da Surfistinha. Meu barato é
outro.
Uma coisa que todo mundo sempre pergunta é se consigo ter prazer com
meus clientes. Claro que sim. Por mais profissional que seja, se rola
química, afinidade e tesão, não vou aproveitar? Afinal, brincar em
serviço é o meu serviço. Sou paga para realizar as fantasias dos
outros (por mais que eu tenha as minhas, guardo para mim. Como "pessoa
jurídica", tenho minha rotina profissional de fazer as coisas, é um "padrão
Bruna de qualidade").
Apesar desse lado lúdico e de "conhecer" tanta gente, confesso que
rola uma solidão. Não consigo ficar sozinha. Tenho de cuidar de alguém e
sentir que alguém cuida de mim. Não sou uma máquina. Percebo que vai
acontecer algo legal quando o cliente está realmente a fim de me dar prazer.
Se é isso o que ele está querendo, por que não dar a ele? Ou, ao menos, me
esforçar. É certo que às vezes não rola.
Nem com o que costumo chamar de "esforço interior" - exercícios de
pompoarismo, com os músculos da vagina, que potencializam a força do orgasmo.
Eu uso essa "força" para os clientes que fazem questão de que eu goze. Para
ir mais rápido... Esses, certamente, não entram no blog...
Apesar dessa vida que levo, consegui ter, além de muitos rolos, alguns
namorados. O último durou quatro meses. É, pouco tempo. Mas, para quem tem
uma rotina como a minha, foi um longo tempo. Nos conhecemos por intermédio de
um amigo comum. Bem, não era amigo, até virar. Esse menino começou a me ligar
diversas vezes, e começamos a conversar muito. Comigo, virou amigo, nada de
transa. Não faço sexo com meus amigos. Uma noite, eu estava à- toa no flat
com a Gabi e falei para ele vir e trazer um amigo para ficar com ela.
Nada de putaria: queria companhia mesmo, jogar conversa fora e, se
rolasse algo, seria pessoal. Ele trouxe, sim, um amigo: meu namorado!
Quando nos vimos, foi uma coisa de filme, arrebatadora e recíproca.
Ele sabia quem eu era, que fazia programas e tudo. Mesmo assim, ficou comigo
naquela noite e começamos a namorar. A sensação era ótima: voltava a ser
apenas uma mulher que gostava de um homem e que sentia algo por ele.
O namoro era como o de qualquer menina da minha idade: sair, cinema,
dançar, ficar bundando em casa, rir, conversar e, lógico, transar. Sei bem
separar o sexo de trabalho do sexo com o namorado, com amor, ou paixão, ou
seja lá qual for o barato da relação. Minha cabeça e meu corpo estão
cansados, mas quando encontro a pessoa que está comigo, eu quero transar, de
verdade. Às vezes, é um esforço para mim. Mas é péssimo não dar atenção a
quem está com você. Afinal, o cara já agüenta a barra de namorar uma puta e
eu ainda deixo faltar logo sexo para ele? Mesmo sabendo de saída tudo sobre
mim, assim como os que vieram antes dele, ele não conseguiu segurar a onda da
minha profissão e da exposição que começou a rolar com o blog e tudo mais,
meus "15 minutos de fama".
Que pena: esses minutinhos vão passar e eu vou continuar aqui, sendo
eu mesma.
No meio de todo aquele brilho, de toda a atenção que recebia por causa
das entrevistas e, claro, dos programas de tv, teve gente que me conhecia
antes e ligou para mim, numa boa, para conversar. Teve gente, por outro lado,
que ligou para me lembrar de que ser uma puta tem seu preço em qualquer
tempo. Um menino que estudou comigo no Bandeirantes telefonou e me deixou
péssima. "Ê, Raquel, quem diria, hein?... Virou puta! O que mais me doeu é
que o propósito dele era me machucar. "Todo mundo que estudou com a gente
está no segundo ou terceiro ano da faculdade e só você virou puta." Ele me
inferiorizou, me tocou de um jeito que eu não queria. Com certeza eu já tinha
pensado nisso, em como era a vida de quem tinha estudado comigo, que todos
estavam progredindo. Até hoje não sei bem por que ele fez isso. Ele não
ganhou nada me violentando desse modo. Porém, já que eu saí na chuva...
Tem quem acredite que garotas de programa não sentem carência, vontade
de transar só por transar. Que babaquice. Seria o mesmo que dizer que um
cozinheiro não sente fome. Deve ser por isso que, mesmo trabalhando com sexo,
eu viva me masturbando. Quero chegar ao prazer com minhas próprias fantasias.
A última aprontada que eu dei como "pessoa física" acabou levando o cara a
ser demitido. Isso mesmo! Quem me contou o desfecho da história foi a Nataha,
uma amiga que vira prima nos programas surubinha quando os clientes não
trazem sua própria "priminha". Nós duas tínhamos ido a uma balada normal, por
diversão, lá nos Jardins. Cheguei a contar no blog, dizendo em que casa tinha
sido (é provável que algum dedo-duro tenha lido e, por causa disso, o cara
foi demitido). Fiquei maus, mas era ele que estava trabalhando, não eu... Eu
tinha bebido muito. Quando isso acontece, fico fácil, perco mesmo o controle.
Aliás, acho que toda mulher nessa situação fica fácil e com tesão.
A casa tem dois ambientes. Eu estava no andar de cima, onde ele
trabalhava como garçom no bar. Percebi que ele me olhava - e fiquei olhando
de volta, claro, paquerando na caradura. Em certo momento, fui buscar outra
cerveja no balcão; ele se insinuou para mim e eu não agüentei: dei um beijo
nele. Pedi a ele um guardanapo para eu anotar meu telefone, para a gente se
encontrar fora dali. "Não, vamos fazer o seguinte: eu vou ao banheiro, você
dá um tempo e me segue. A gente fica lá, rapidinho."
Foi mais de meia hora... Quando a gente saiu, tinha uma baita fila na
porta. O banheiro é unissex e eu saí morrendo de vergonha. Fazia um tempão
que eu não transava
com quem eu quisesse. Precisava transar assim, com quem eu estivesse a
fim - e não por dinheiro. Já tinha perdido as esperanças de me envolver
novamente com alguém.
Mas, no dia dos namorados de 2005, me senti uma garota comum de novo:
fui pedida em namoro. Isso mesmo!!! Pelo Pedro. Ele era casado e sempre
falava de como o casamento ia mal, que não se separava por causa das duas
filhas pequenas. Nunca tinha saído com nenhuma garota de programa, mas
acompanhava o meu blog, tinha ficado curioso para me conhecer e, como ele
mesmo disse, "virou meu fã". Acabamos fazendo sete programas juntos, desde
que nos conhecemos, até virarmos amigos. Há poucos meses ele tinha se
separado da mulher. No dia 12 de junho, surpresa!, ele me pede em namoro. Ele
já havia dado umas indiretas de que me bancaria se eu quisesse parar de fazer
programa. Expliquei (e ele, com muita maturidade, entendeu) que saí de casa
para ser independente. Ele me respeita e segura bem a barra de estar comigo.
Tanto que já moramos juntos e temos planos para o futuro. Sinto que ele é o
amor da minha vida. Minha mãe certamente iria adorá-lo. Sempre brinco com ele
que, depois dessa minha experiência, aprendi todas as desculpas que os
maridos dão para as mulheres para pular o muro. Ele vai ter de ser muito
criativo se algum dia cair nessa tentação... Coitado do Pedro.
Quinta, 4
QUINTO PROGRAMA
Êêêê! Até que enfim alguém me chamou para ir ao swing.!! Chegamos às
23 horas e saímos às quatro. Ele já tinha saído comigo umas três vezes.
Com ele me deu, pela primeira vez, uma sensação estranha no final da
noite. Acabei chorando no quarto de casais. Hoje tava lotado, mas não estava
legal, apesar de ter um pessoal bonito.
Havia muitos molequinhos sozinhos, muita mulher fresca e, no
labirinto, às quintas, é permitida a entrada de homens sozinhos. Ou seja: não
dá pra ficar passeando por lá, porque fica parecendo urubu em cima da
carniça. Sério... Mas o som estava excelente, com muito flashback. Tocou até
uma das minhas músicas preferidas (não sei o nome, mas sei que é do The Mamas
& The Papas). Para azar dos homens, quinta também é dia de show de stripper
só para a mulherada. Não fui puxada para o meio dos shows, como quase sempre
acontece. Até mesmo porque eu não estava a fim. Trocamos três vezes de casal,
mas apenas uma delas valeu a pena pra mim. No primeiro, a menina era muito
gostosa, mas ela não ficava com mulher, para minha infelicidade. Quando tirei
minha blusa, ela apertou meu peito e disse "é silicone, né, fia?".
Me chamar de fia , ainda mais no meio do sexo, foi brochante.
Ri na caradura. Odeio que me chamem de filha. E muito menos de fia.
Ninguém merece ficar ouvindo sinopse de filme no meio do swing.
O parceiro dela também era um moleque chato, que queria gozar no meu
peito. Não aceitei, mas ele insistiu. Como não gosto de ver ninguém
insistindo em algo que não estou a fim de fazer, acabei falando que deixava.
Na hora em que ele foi gozar, eu sacaneei: saí da frente e nenhuma gotinha de
porra caiu em mim. A segunda troca foi com um japinha de quem eu até gostei,
mas na hora "H", não curti. Estávamos transando comigo de quatro sobre o sofá
e ele de pé. Ele metia muito forte.
Para me proteger, virei o rosto de lado para não bater o nariz com
tudo na parede. Porém, acabei batendo a cara com tudo. Vi estrelinhas. Ele
foi um pouco agressivo, mas, por sorte, gozou rapidinho. Meu cliente fingiu
que gozou com a "fia" só para eles saírem rapidinho e a gente poder transar
só os dois. Comigo, ele gozou.
Depois da terceira troca (não tive coragem de pegar a menina do cara,
apesar de estar louca pra chupar ela), um carioca muito bêbado me puxou e
começou a falar que, assim que me viu, lembrou do filme Perfume de mulher, e
começou a contar o filme todo.
Antes da terceira, paramos no labirinto. Tinha uma tia de uns quarenta
anos que estava se amassando com o marido, mas chupando um cara. Uma
chupadora convicta: do nada, aparece um outro pau e ela abocanha. De repente,
começou a aparecer homem de tudo quanto é tipo e de tudo quanto é lado para
ser chupado pela tia. Pelas minhas contas, ela chupou sete paus. Até pensei
que o povo ia começar a tirar senha. Até aí, tudo bem. Se bem que eu, mesmo
sendo a puta, nunca chuparia sete paus num swing.
Notei que a tia não olhava pra cima. Ela não sabia a quem pertenciam
aqueles paus todos. Apenas ia pegando e enfiando na boca. Eu só prestava
atenção no naipe dos caras: todos nada a ver, para ser bem-educada. Quem sou
eu para criticar alguém? Mas confesso: fiquei assustada. Vai ver era sua
fantasia. Não sei se tive mais nojo da tia ou dos homens. Homem é PHODA!
Homem, quando quer gozar, enfia o pau no primeiro buraco que vê pela frente.
Só não enfia num buraco na parede porque ela não geme. Ainda não tinha
chupado nenhuma boceta. Estávamos na salinha onde entram apenas casais e ela
começou a tocar em mim. Depois, sugeriu que fôssemos para um quarto
privativo. Nos chupamos muito, mas eu não consegui gozar.
Porém, ela gozou na minha boca. A boceta dela é do jeito que eu gosto,
bem carnudinha.
Com todos os relacionamentos que já tive trabalhando, aprendi que só
vão me respeitar novamente como mulher no dia em que eu parar de fazer
programa. E tem mais uma lição nisso tudo: quando isso acontecer, e eu
conhecer o homem da minha vida, aquele com que vou casar e ter filhos, não
vou contar que já fui garota de programa.
Decidi: quero deixar tudo isso no passado. Esquecer? Não, isso é
impossível... Vamos dizer que colocarei essa experiência toda de vida numa
gaveta que nunca mais vou abrir. Com certeza vou morrer de medo de ele já ter
me conhecido como Bruna ou que descubra de outra forma. Mas tenho que deixar
claro:
não sou uma "madalena arrependida . Espero que com o Pedro seja
diferente, pois eu o amo muito e quero que ele saiba me respeitar.
Uma das histórias clássicas de todo conto de fadas de prostituta é
encontrar o homem que vai tirar você "dessa vida". Não é que aconteceu
comigo? Era um cliente de 62 anos, viúvo e supercarente. Toda semana ele me
procurava para fazer programa, mas quase nunca transávamos, era mais conversa
(e isso é mais comum do que você imagina). Um dia, ele falou na lata: "Quero
conversar muito sério com você". Me disse que o filho, com quem ele morava,
ia fazer intercâmbio por um ano, e ele ia ficar sozinho. Me convidou para
morar com ele e pediu para eu parar de fazer programa. Ele bancaria tudo o
que eu quisesse: estudos, academia, roupas, ia me dar mesada, desde que eu
parasse com tudo.
Falei que ia pensar e realmente pensei muito. No fundo, não ia parar
de fazer programa, mas ia fazer só com ele, também por dinheiro. Um único
cliente para o resto da vida (dele, o que poderia ser muito tempo). Minha
recusa não teve nada a ver com ele, que eu curtia de verdade, nem pela oferta
generosa, pois ninguém estava enganando ninguém ali. Pô, eu saí da casa dos
meus pais para ter mais liberdade. Me prender a um homem, sem ser por amor,
era trocar uma gaiola por outra. Dourada, sim, mas uma gaiola. Sei que me
daria muito bem nessa, que recusei a oferta da vida de muitas garotas que
vivem como eu, mas também tive medo de que ele morresse e jogassem a culpa em
mim. Acho que já vi muito disso em filmes e na vida real por aí.
Se não é todo dia que alguém resolve "salvar sua alma guardando seu
corpo", algo muito comum, depois de fazer muitos programas com o mesmo cara,
é virar amizade.
Hoje, todos os meus amigos são meus ex-clientes. Meu melhor amigo
chegou a fazer cinco ou seis programas comigo. E, em muitos deles, a
sacanagem ficou
em segundo lugar. Em seguida, passamos a nos falar diariamente, sem
essa de falar só para marcar foda. Um dia, tive de deixar bem claro: "A
partir do momento em que nos tornarmos amigos, acabou o sexo". Não dá, não
rola. Eu não consigo fazer sexo com os meus amigos. Virou amigo, acabou a
relação garota de programa-cliente.
Esse é o meu limite pessoal.
Fato interessante: um deles já tinha feito programa comigo.
Fato triste: cheguei em casa às cinco e meia da manhã...
Terça, 12
TERCEIRO PROGRAMA
Fui a uma festinha com três caras, eu e mais uma "prima", mas um deles
ficou só de voyeur. Combinamos de nos encontrar no bar All Black e de lá
fomos para o apartamento de um deles. Foi uma surubinha bem tranqüila.
Primeiro, fiquei com um no quarto. Transamos um pouco e ele só gozou depois,
no oral. Depois, ficamos bebendo um pouco e conversando com os outros dois na
sala, enquanto a menina entrou no quarto com o mesmo que eu estava. Acabei
deitando no sofá enquanto um me chupava e, para facilitar, o ajudei com o meu
dedinho. E gozei gostoso. O outro continuou apenas nos observando sentado no
outro sofá. Quando o "casalzinho" saiu do quarto, fomos nós dois, então.
Transamos um pouco, eu cavalguei e ele gozou no oral.
Na rotina de uma garota de programa, o ginecologista tem papel
fundamental. É fato que ele tem de saber que eu faço programa. Isso é questão
fechada. De que outro jeito ele pode me orientar de verdade, me examinar com
o rigor que eu preciso para me proteger? O medo da Aids é o maior. Faço meus
exames a cada três meses e sempre é a mesma agonia. Sempre vou com muito
medo. Sim, me protejo, uso camisinha em todas as relações... Quer dizer:
quando o cara me come, sem chance de engaiolar o passarinho sem preservativo.
Mas, no oral, confesso que me arrisco. Meu médico me explicou que, num oral,
as chances de contrair são menores, mas estão lá. Principalmente se eu tiver
uma pequena ferida na boca, que é coisa que a gente nem percebe que tem. Sei
lá, às vezes, vou com a cara do cliente, me sinto à vontade, confio no que
estou vendo e caio de boca ao natural. Depois, bate aquele arrependimento.
Não dá para saber se o cara tem alguma coisa só de olhar. Mas nunca
engulo. Até deixo o cara gozar na minha boca, curto, mas não engulo
(raramente, vai). Eu diria que cinco em cada dez das vezes eu caio
nessa besteira de chupar sem camisinha. Mas quero cair cada vez menos.
Cuidar do corpo sem cuidar da cabeça seria bobagem, né? Saúde ok,
cabelo ok (para inveja de um monte de meninas, meu cabelo é liso mesmo, não
precisa de chapinha. Que sorte a minha, não?), pele hidratada, unhas sempre
bem-feitas.
Quando o "kit trabalho" está checado, me dou o direito de ter um tempo
para mim. Toda segunda-feira à tarde vou à terapia. Engraçado, pois a vida
inteira convivi com psicólogos. Agora, no entanto, é diferente.
No começo, não sabia quem é que eu estava levando às consultas: a
Raquel ou a Bruna. Hoje não está mais tão difícil. Já passou aquela fase de
querer contar toda a sua história para o terapeuta, que é a mais chata e a
mais complicada. Hoje, sempre faço um resumo da semana anterior, mas falando
de como os acontecimentos afetam a Raquel, o que eu penso da vida, meus
planos. É óbvio que, no meio de tanta conversa sobre mim, acaba rolando falar
também de clientes e de programas. São coisas indissociáveis.
Sexta, 22
PRIMEIRO PROGRAMA
Molequinho, mas que já é gente grande e bem sussu. Rolou afinidade.
Programa em clima de putaria. Fato engraçado: ele pediu para que eu
desse um tapa na cara dele.
Dei com dó. Não consigo bater nem que me paguem para isso. Fato
interessante: fui "Bruninho"... Foi divertido e saí da rotina.
No primeiro tempo, quando comecei a chupá-lo, ele de cara me pediu
para fazer um fio terra .
Ok. Esse, fiz sem dó. Então, ele pediu para que eu colocasse a cinta
que tem um pau de borracha acoplado (óbvio). Mas ele já tinha perguntado pelo
telefone se eu tinha, então não foi nenhuma surpresa. Com o pau em mim, me
transformei no "Bruninho" e ele se tornou minha fêmea. Não fizemos nada
demais. E ele nem desmunhecou. Apenas o comi "de frango assado", enquanto ele
batia uma punhetinha. Depois, pediu para eu sentar na beirada da cama para
que ele sentasse no meu pau E ele gozou assim. Acho que comi ele gostoso.
Segundo tempo: foi a vez de ele me comer.
Cavalguei, dei de quatro, mas ele gozou de novo na punhetinha.
Tem cliente que fica com medo de me ligar por causa de preço. Certeza
que tem menininha cobrando 300, 400 reais, mas acaba fazendo um, dois,
ou, no máximo, três programas por semana, quando muito. Sei que, com
essa tal "fama" da Bruna Surfistinha, poderia até cobrar mais. Mas gosto do
que faço, não nego. Faz eu me sentir desejada, coisa que nunca fui. E, óbvio,
tem o lado prático. Sou uma pessoa prática: quanto mais programas fizer, mais
grana entra. Não perco tempo negociando preço.
Um monte de caras fica chorando desconto, vantagens, exclusividade.
Não tenho saco para nada disso.
Da mesma forma que entrei nessa, sei que vou sair. Não quero ser puta
o resto da vida. Trabalho para isso. Primeiro, me livrei de cafetão. Não vou
dar metade ou mais do que ganho para ninguém. Sim, tem um lado ruim, de
trabalhar sozinha, que é a insegurança. Atender em um flat ajuda um pouco. E
eu sempre fico com o telefone do cliente - e confirmo se é dele mesmo. "Me dá
seu telefone. Se pintar alguma emergência, eu posso ligar e desmarcar." Como
eles sempre marcam com algumas horas de antecedência, fica sussu. Até hoje,
nunca tive problemas com clientes agressivos. Ainda bem, né? Meu maior medo,
no fundo, é encontrar algum amigo do meu pai ou das minhas irmãs. Já fiz
programas com caras conhecidos, colegas do Bandeirantes até (que não me
reconheceram, mas eu fiz questão de contar: "Eu me lembro de você de algum
lugar, mas não é da putaria. Nós estudamos no mesmo colégio").
Sozinha, trabalhando de segunda a sexta, faço de 25 a 30 programas por
semana. Tem dias que rola até mais de cinco, mas também não é legal passar
muito disso. Cada programa, aqui no meu flat, dura uma hora e, por 200 reais,
faço oral e vaginal. Se quiser anal, já sobe para 250 reais (isso foi depois
da minha participação no Pânico, em junho, quando resolvi aumentar um
pouquinho, já que a procura aumentou:
antes, durante muuuuito tempo, cobrava 150 reais e 200,
respectivamente). Quantas vezes der para fazer nessa uma hora. E não precisa
pagar motel, flat, nada:
está tudo incluído. A menos que o cliente queira ir ao motel ou queira
me chamar no hotel dele (aí, cobro o dobro, por conta do deslocamento).
Com esse jeito de trabalhar, já me permito folgar nos finais de
semana. Com todo mundo não é assim? Por que com uma garota de programa seria
diferente?
Mesmo encarando tudo o que faço como uma relação comercial, confesso
que já tive pena de cliente. Lembro que pensei: "Pô, esse cara economizou um
tempão para estar aqui comigo". Como eu soube? Ele juntou tudo em notas de um
real. Isso mesmo!
Acho que era troco de busão, disso, daquilo. Juntou 150 reais, em
notas de um real. Ele ficou muito sem graça. Você se importa se eu pagar
assim. Não, não me importo." Aí, ele me entregou aquele bolo de notas e eu
contei para conferir enquanto ele terminava de se arrumar.
Na hora, senti um aperto. Imagina o trampo para juntar tudo aquilo. Só
que, dar de graça, no way. Pena, pena, negócios à parte. Outra coisa que
percebi nessa profissão é que ela também tem época de cheia e de vazante. Já
tinha falado que, no começo do inverno, a procura aumenta. Pois é: no final
do ano também, que é quando chega o décimo terceiro. Do salário normal, não
dá para tirar. Então, o cara aproveita a grana extra. Dá certo orgulho saber
que o cara trabalhou o ano inteiro e se deu de presente de Natal um programa
com você. Esses, até por conta disso, são os que aproveitam melhor a trepada.
Um lado interessante de ser freelancer é agir conforme suas próprias
regras e convicções. Criar um padrão próprio de serviços. Lembra a história
das toalhas e dos lençóis? Pois é: pelos clientes, e por mim também, higiene
é básico.
Tanto que, aqui no flat, tem uma toalha para cada cliente. Até brinco
que, quando parar de fazer programa, não sei o que vou fazer com elas. São
quase oitenta! Às vezes, eu perdia o controle de deixar juntar um tanto para
mandar para a lavanderia e, quando ia ver, não tinha mais muitas limpas. O
jeito era comprar novas. Virou coleção... Todas branquinhas, pois fica
evidente que estão limpas de verdade. O sabonete dos meus clientes é líquido
(acho nojento aqueles sabonetes em barra cheios de pêlos grudados, arghh,
passando de um cliente para o outro). Os lençóis, a menos que um cliente sue
muito ou suje de gel, eu faço render ao menos dois programas, sem dramas. As
camisinhas eu providencio. A menos que o cliente seja do tipo GG, que
geralmente traz as suas camisinhas de tamanho apropriado.
Segunda, 9
QUARTO PROGRAMA
Repetimos a festinha. Os mesmos caras da outra vez. Só que hoje só
tinha dois, o voyeur e o dono do apartamento. Hoje teve "festa no apê".
Infelizmente, o caubói não estava... Como das outras vezes, a festinha
foi tranqüila. Além de mim, tinha de novo a outra "prima". Enquanto eu fiquei
com o voyeur na sala, o outro casalzinho foi para o quarto. No começo, fiquei
sem graça, porque o voyeur (que hoje NÃO ficou só olhando) nunca tinha feito
com garota de programa. E digo mais: nunca tinha pulado a cerca!!! Um homem
quase perfeito, né? Pelo menos até hoje...
Ele me perguntou se não pular a cerca é bom ou ruim. Nem queiram saber
a minha resposta.
Ele foi todo carinhoso comigo... Primeiro ficamos nas preliminares
durante um tempão. Depois, o chupei e ele gozou rapidinho. Ficamos esperando
para fazer a "troca".
O outro saiu do quarto e já veio para cima de mim de pau duro. Me
chupou um pouco e depois me pegou num papis e mamis até gozar.
Tomei um baita susto. Numa noitada, eu estava numa fissura danada e
desatei a cheirar. Nem tenho idéia de quanta coca eu aspirei naquele dia.
Até uma hora em que parecia que eu não estava mais dentro de mim. Meu
corpo não respondia.
Minha respiração estava estranha. Um gosto estranho subiu à minha
boca.
Overdose. Me olhei no espelho e me vi morta: sem cor, a boca seca, os
lábios roxos. Meu coração, de tão disparado, parecia que ia explodir.
Apaguei. Eu sou espiritualista, pois acredito que, do "outro lado", tem tudo
o que temos aqui. Até hospital. Quando acordei, jurava que estava no hospital
"de lá". Estava literalmente numa bad trz. No meio daquela sensação irreal,
até hoje não sei se foi viagem minha, se eu vi, se sonhei, mas me lembro de
conversar muito com um homem, que não sei quem é mesmo, que me dizia um monte
de coisas. Inclusive para eu parar de cheirar pó. Não tinha nenhum homem por
lá, como percebi depois que acordei de verdade. Desse dia em diante prometi
para mim mesma que eu ia parar.
Com a cara limpa, fiquei firme na minha decisão. Foi difícil, claro.
Tive crises de abstinência, sentia muita falta e achava que estava
morrendo toda vez que acontecia. A Gabi me ajudou muito nessa época, me
apoiou e me agüentou desse jeito. Eu meio que me internei em casa:
parei de ir às baladas, pois sabia onde encontrar cocaína facilmente e
não queria mais.
Quando pintava aquela fissura, aquela vontade louca de cheirar,
pensava na minha vida, naquele sonho (viagem ou alucinação), no tal homem do
hospital. Lembrava que tinha entrado na vida de programa pensando em parar.
Mas cheguei a gastar 50, 70 reais por dia aspirando quatro gramas de coca. Da
pura, a mais cara. Nada de pó de giz ou de mármore. Era mais de 50% do que eu
ganhava. Dessa maneira eu não chegaria a lugar nenhum. Ou, talvez, só no
hospital do "outro lado".
Após resolver parar com a cocaína, fiquei um pouco mais centrada nos
meus objetivos, vi como tinha sido boba de cair nessa. Por isso que tudo o
que vem fácil vai mais fácil ainda... Dinheiro "fácil" também vicia. E eu não
quero passar o resto da minha vida fazendo programa. Juntando tudo isso ao
fato de eu ser muito prática, criei um plano para me ajudar na disciplina. Eu
chamo de "meta do pé-de-meia dos quinhentos". Muita gente acha que é juntar
500 mil reais. Mas não é bem assim.
No começo, quando saí de casa, achava que ia fazer programa pelo resto
da vida. Com o tempo, vi que é um trabalho cansativo, física e
psicologicamente. Em 2004 surgiu a idéia de parar de fazer programa, voltar a
estudar. Na verdade, caiu a ficha de que preciso parar de fazer programa. Não
sei quando, mas preciso parar um dia.
Só que, para isso, tenho que ter algum objetivo, alguma meta. Sentei
um dia aqui no flat e viajei alto, pensando em quanto custa um apartamento.
Fiquei fazendo várias contas de coisas que quero comprar - e de quanto
precisava para poder comprar e me tornar "ex" de tudo isso, somando o que eu
já havia economizado. Daí, deu um absurdo, tipo quinhentos paus. Haja
programa. Eu não tenho como conseguir isso... Fui eliminando um monte de
coisas da minha "lista de desejos" e cheguei a 300 mil reais.
Ganhar essa dinheirama, a princípio, assusta, porque é muito dinheiro.
Mais ainda se a gente considerar o jeito que ganho. Então tive a idéia de
dividir esses 300 mil reais em cotas, para amenizar - e eu não sentir tanto.
A conta foi simples: 300 mil divididos por quinhentas cotas seiscentos reais
cada cota. Peguei uma folha de papel e numerei de um a quinhentos.
Assim, a cada seiscentos reais que consigo guardar e depositar no
banco, vou lá e risco o número correspondente da cota.
Quando não tiver mais o que riscar, saberei que consegui os 300 mil.
Na verdade, já cortei outros itens da minha lista e baixei o total para 200
mil. Mas acho que, se chegar nos 100 mil, eu paro, mesmo não comprando
apartamento. De qualquer forma, já tenho meus planos de futuro. Tem meses que
consigo economizar até 8 mil reais. Parece que o futuro está chegando.
Desse tempo, vou levar algumas "heranças": dois piercings (um no
umbigo, outro no lábio inferior, o terceiro, na sobrancelha, eu tirei) e três
tatoos (o escorpião do meu signo na parte de trás do ombro, o coração na
virilha e uma frase na nuca, que eu tinha feito para meu ex-namorado - da
qual me arrependo muito:
"Thanks Du". Quando o namoro acabou, mudei para "Thanks Dad"). Além do
que "levo", tem coisas que deixei de conquistar. Fiquei dois anos sem
estudar, e a sensação de que tinha esquecido tudo foi inevitável. A certeza
também. Antes, eu não gostava de estudar. Mudei de idéia. Quero ir para a
faculdade assim que tudo isso terminar.
O supletivo eu acabo em 2005 e, se conseguir passar no vestibular, em
2006 vou para a faculdade de Psicologia. Conheço um monte de gente que nunca
foi para a faculdade, mas que é empresário e ganha superbem. No entanto,
tiveram "patrocínio". Como eu não tenho mais, me liguei que, para me dar bem
na vida, vou ter que estudar, querendo ou não, gostando ou não.
Terça, 28
PRIMEIRO PROGRAMA
Hoje foi a terceira vez que fiz programa com eles. Hoje eles não
quiseram ir ao motel e vieram no meu flat. Brincamos bastante juntos.
Primeiro, ela fez um strip rápido, mas o suficiente para os três se
empolgarem. Então, eu a chupei até ela gozar na minha boca. Bom, o que mais
curti foi quando ela estava cavalgando nele enquanto eu fazia um beijo grego
nela. Ah, também quando ela estava me chupando enquanto eu chupava ele...
Transei um pouco com ele, mas, surpresa, eles transaram bastante só os dois,
comigo de voyeur. Eu não gozei, embora ela tenha me chupado bem gostoso. Ele
também não gozou, pois ficou "segurando". Já ela gozou muito! Umas quatro
vezes, pelas minhas contas.
Engraçado: todos os meus amigos, hoje, já foram meus clientes. Com
certeza você não saca a amizade no primeiro programa. Como eu já disse, com
amigos eu não transo.
Nem pessoal nem profissionalmente.
E deixo claro isso.
Alguns conseguem ficar no fio da navalha: continuam clientes, mas
chegam muito perto de virar amigo, porém sem virar. É gostoso receber algumas
demonstrações de carinho deles. Muitos ligam só para saber como estou ou,
quando eu não escrevo no blog, só para saber se está tudo bem. Ganho muitos
presentes, também. Ganhei um CD que o cara personalizou com uma foto minha na
capa. O máximo! Outro dia, escrevi no blog que queria ler o Anjos e demônios
e um cliente trouxe o livro para mim.
Também é bom na Páscoa, no meu aniversário...
No ano passado, comemorei meu aniversário em um clube de swing. Na
época, eu estava realmente viciada nesse tipo de lugar. Poder transar com
homens e mulheres, gozar de montão, aquele clima de putaria. Assumo que era
um prazer pessoal.
Tem o lado baladinha, dançar, beber e conversar, e tem, claro, o lado
suruba. Mas não é tudo no mesmo ambiente (tem gente que acha que sim). Daí,
pensei: "É meu aniversário, eu curto o lugar e tem um monte de gente que
nunca teve coragem de ir no swing porque acha que é só inferno". Então, esse
monte de gente que não tinha coragem teve de ir ao swing naquele dia. Na
época, eu estava namorando e, lógico!, ele também foi.
Eu queria reunir tudo: meu aniversário, a curtição, realizar a
fantasia com meu namorado lá dentro, e com meus amigos também. Fantasia
realizada (a minha e a de um monte de gente, diga-se de passagem). Presentão.
Para quem não tem coragem (mas muita curiosidade), vou contar como é.
Aqui em São Paulo tem um monte deles. Só aqui em Moema são sete! Na
fachada, porém, é um lugar comum. Não está escrito "casa de swing". Como a
maioria, eu imaginava que, logo ao entrar, já se via um monte de gente na
suruba, pelado, transando. Na verdade, tudo começa como uma balada normal:
bar, mesinhas, pista de dança. É onde rola paquera entre os casais, mas sem
putaria. Quando você começa a se aventurar para os fundos da casa é que o
bicho pega. Para chegar aos quartinhos, você passa por um labirinto (que nem
todas as casas têm):
um corredor escuro, bem apertado, que força todo mundo a se encostar,
se esfregar. Dá para tirar um sarro gostoso, sem vergonha, pois mal dá para
ver quem está ali.
Seguindo mais adiante, você chega nos quartinhos. Eles têm paredes de
treliça, para quem está fora poder ver tudo o que rola lá dentro (ou o que
conseguir ver, pois a luz também não é de estádio de futebol). Tudo funciona
para que a coisa seja mais tátil do que visual. Apalpou, gostou do que pegou,
libere geral. É uma coisa de maluco: chega a ter vinte casais transando ali,
ao mesmo tempo. Para os casais mais recatados, que ficaram xavecando no bar
ou na pista, geralmente há quartos privativos para quem quer trocar com outra
dupla apenas.
O saco, nesses lugares, é que é dificil encontrar gente bonita. São
geralmente pessoas casadas, entre 30 e 45 anos. Nem muito novos, nem muito
velhos. Há várias casas que não permitem garotas de programa. Eu mesma já fui
barrada em uma dessas. Supõe-se que a garota esteja lá pela grana - e não
pela tara, pelo prazer. E eles não curtem isso: os casais estão em busca de
troca com outros casais, casados de verdade.
Quinta, 31
SEGUNDO PROGRAMA
Foi um programa sussu, sem grandes lembranças. Depois que acabou, ele
me falou que tinha prazer com o sadomasoquismo. Ele é sado, que fique bem
claro. Só que não fala pelo telefone com a menina porque curte bater de
surpresa. Ele me contou que, quando chegou aqui, não teve coragem de me
bater. "Você não tem cara de garota de programa. Você é meiguinha e eu não
tive coragem de te bater. Vou marcar com outra amanhã só para bater nela."
Ainda bem...
Já ouvi muitas histórias de meninas que passam por apuros no trabalho.
Acho que, por pura sorte, eu não coleciono muitas passagens assim.
Uma das coisas que mais me incomoda no meu trabalho é a hora de
cobrar.
Eu tenho vergonha. A ponto de, duas vezes, o cliente ter saído sem
pagar - e eu, sem cobrar.
No ritual do programa, a grana é o último ato. Isso, tipo consulta de
psicólogo.
Para esses dois, tive de pedir para a Gabi (que é quem atende meu
celular e marca os programas, pois nossas vozes são mesmo parecidas) ligar e
cobrar. Vexame, não? Um desses "caloteiros involuntários" voltou para pagar.
O outro, que já estava meio longe, ficou com os dados da minha conta e fez um
depósito. Gente do bem. Outras duas vezes aconteceram no swing um catalão de
pouco papo (não só pela língua, mas porque era caladão mesmo) aproveitou que
fui ao banheiro e se mandou! O outro eu até perdôo: tinha bebido muito,
passei mal e dou razão a ele de não ter querido pagar.
É engraçado, pois essa coisa com dinheiro parece que teve um fim.
Depois de tudo o que aprontei em casa, com meus pais, por causa de
grana, levar alguns calotes é uma forma de "resgatar" tudo aquilo. Mas outras
coisas também "vingaram" minhas aprontadas. Quando ainda estava na Franca,
tinha uma amiga, a Taísa. Ela era meio vagabunda (no sentido de não gostar de
trabalhar, mesmo) e não ganhava muito dinheiro. Como eu não tinha conta
bancária, guardava meu dinheiro na gaveta. Sempre saquei que desaparecia
dinheiro de lá, mas nunca acreditei que pudesse ser ela.
Mesmo depois que fomos "saídas" da Franca e tivemos que trabalhar no
privê em Moema, e os pequenos furtos continuaram, nunca tive coragem de
encostar ela na parede.
Não queria perder a amizade por causa de dinheiro. Uma noite, fomos a
uma balada na Vila Madalena. Na época, eu ainda cheirava. Além disso, naquela
noite, bebi muito.
Passei mal, óbvio. No banheiro, achei que ela estava me ajudando, mas
senti a mão dela vasculhando meu bolso. Na hora, chapada, nem me atinei.
Quando fomos pagar a conta eu percebi que meus 50 reais haviam sumido.
Arrastei a Taísa até o banheiro, junto com outra menina, e revistei ela
inteirinha. Nada.
Na base da força, fiz ela tirar a roupa e... surpresa: os meus 50
reais estavam enroladinhos dentro da calcinha dela. Foi a gota d'água. Ao
chegarmos no privê, subi atrás dela no quarto, achando que ela ia me matar.
Quase. Muito cabelo puxado, arrancado, unhadas, tapas. Fechei o caso com uma
frase: "Você tem inveja de mim porque eu trabalho e você não. Não tem nada,
não. Amanhã, eu ganho outro dinheiro".
Outra vez que perdi dinheiro ocorreu no primeiro flat. Eu tinha
economias de 3 mil reais que simplesmente sumiram. A Gabi disse que, se fosse
com ela,
ficaria maluca. Eu nem quis saber se foi a empregada ou algum cliente.
Quer saber a verdade? Nem fiquei triste. Acho que, de certo modo,
terminei de pagar pelo que fiz. Aqui se faz, aqui se paga? Pois é...
Chega desse papo. Vou mudar de assunto. Acho realmente muito bacana
quando o cliente desabafa comigo. Tem meninas que acham um porre ficar
ouvindo história de cliente.
Mas eu sinto que isso é uma parte importante do "pacote" para aqueles
homens. Eles não vêm aqui só para despejar esperma. E eles contam coisas que,
muitas vezes, não confessariam nem para os amigos ou a esposa. Há alguns que,
passado o susto, chegam a ser engraçados. Um desses chegou aqui e me disse
que havia comprado dois tijolos de maconha. Fiz cara de assustada (e estava
mesmo). Ele me pediu desculpas, mas tinha de contar para alguém. Outra vez, o
cliente fez questão de dar a entender que era o "fodão", bandido mesmo. No
entanto a transa rolou legal, sem sustos. Mas ao voltar do banho, ouvi ele
falando no celular: "Não. Vê se ele morreu mesmo. Porque, se não morreu, a
gente tem de acabar com isso". Ele falava tanta gíria no meio que eu quase
não entendia nada. Fiquei olhando bem para ele, e ele tinha cara de bandido.
Sabe aqueles que aparecem na TV no noticiário? Comecei a chorar, mas sem ele
perceber. Fiquei bem assustada.
Outras vezes, o susto é outro... Eu curto tentar adivinhar como é o
pau do cara assim que ele chega. Às vezes, acerto. Principalmente quem tem
pau pequeno. Engraçado, com esses está na cara. Não sei explicar, embora
acerte quase noventa por cento das vezes. Já o bem-dotado é sempre um enigma.
Tem uns caras que chegam e você imagina horrores. Na hora do vamos ver, não
que seja pequeno, mas não é o monumento que parecia ser. E há outros que, de
saída, você não dá nada por ele. Na hora que o bicho pega, surpresa! Já
cheguei a pensar "não vai caber". Se nem no teste da boca passa (só entra a
cabeça, mesmo), imagina na boceta. Confesso que em certas horas o tamanho
assusta. Mas sempre se dá um jeitinho.
Pessoalmente, não me ligo muito na estampa do homem ou no "tamanho".
Alguns clientes, claro, eu gostaria de ter conhecido em outra
situação.
Sim, me envolveria com eles: homens gentis, às vezes bonitos, outras
vezes não. Eu, como todas as mulheres, sonhava com o homem ideal. O meu tinha
de ser fiel. Hoje, já desisti de encontrar...
É o sonho do tipo impossível. Mas quero um companheiro. Que me dê
carinho, proteção - e que vai ter isso de volta também. Que tenhamos
cumplicidade entre nós. E não faço, mesmo, questão de beleza. Ela não me
importa mais.
Segunda, 9
QUINTO PROGRAMA
Cliente tosco, cavalo, mas tentou ser bacana. Definitivamente, não
rolou química, muito menos afinidade. No começo, o programa foi em clima de
putaria, mas depois ficou mecânico. Muito mecânico. Meu, eu fiquei com nojo
dele, principalmente da língua dele, e quase chorei. Juro. Daí, respirei
fundo e lembrei que quem está na chuva é para se molhar... Ele me chupou, mas
eu não consegui gozar de jeito nenhum, por causa do nojo que eu estava da
língua dele. Como ele demorou para gozar, dei um jeito de contornar a
situação:
chupei um pouco o cara e depois fiquei de quatro. Ele gozou na minha
boceta.
Pois é, nem sempre rola de tirar prazer do trabalho. Mas algumas
coisas que a gente faz nos levam ao arrependimento. Não, não vou dar uma de
falso moralista aqui, calma. Acho que, nessa minha trajetória, mais, na minha
vida, a única coisa de que me arrependo é ter feito o bendito filme pornô. No
meu prédio também moram muitos garotos de programa e alguns atores. Eu sempre
encontrava alguns deles no elevador e já vinha aquele papinho: "Você é
bonita", "Não quer tirar umas fotos para eu levar para a produtora onde eu
faço filme?". Ouvi isso tantas vezes que acabei mandando as fotos para a tal
produtora. Eu tinha consciência de que não eram filmes "de arte". Me
chamaram, e lá fui eu.
Não foi legal. Nem um pouco legal. É tudo muito artificial, tudo
montado. Pára toda hora, o diretor pede para parar, manda cortar. Difícil
fazer alguma coisa natural desse jeito... Você não pode olhar para a câmera,
porque tem de ficar o tempo todo olhando para o bendito diretor para ver os
sinais que ele faz. Quando ele levanta a mão assim, é para mudar de posição.
De outro jeito, é para gemer.
Transar com um monte de gente à sua volta e prestando atenção às
ordens do diretor é uma loucura.
Foi interessante porque fiquei sabendo como se faz. Não foi bacana
porque vi realmente que não é nada daquilo que a gente pensa que é...
Também não foi legal por outras razões. Eles pagam muito mal. Você
ganha pouquíssimo. Dá até vergonha de falar quanto eu ganhei porque é
miséria, mesmo. Tá bom:
foram 500 reais. Isso só acontece porque é no Brasil. Nos Estados
Unidos, é profissão.
O respeito é outro.
Sei que tudo que aconteceu na minha vida, a fama (sei, sei,
passageira), as coisas boas e ruins,
de certo modo ainda me assustam. Outro dia, eu estava andando aqui
mesmo na rua em que moro, de óculos escuros, quando um cara passou do meu
lado, encostou em mim (eu achando que era assalto) e falou: "Com licença.
Desculpe a pergunta, mas você é a Bruna Surfistinha? .
Não, não sou. Ah, então, desculpa, eu me enganei." Fiquei
supersurpresa, jamais esperava que alguém fosse me abordar na rua, me
reconhecer.
Fiquei tão sem reação que acabei falando que não era eu. Que
bobagem...
Por outro lado, já aconteceu de eu ficar com um cara, numa troca de
casais em um swing, e ele virar depois e dizer: "Você é a Bruna Surfistinha,
não é? Eu sempre fui louco para fazer programa com você, mas agora tive de
graça". Quis matar o cara. Brincadeira. O que mais me surpreende é que as
reações das pessoas, na maioria das vezes, ao me reconhecer, é de
neutralidade, embora já tenha ouvido risinhos enquanto eu passo em algum
lugar. Mas sempre fica a dúvida:
será que era de mim que estavam rindo, de mim que estavam falando?
Tenho a impressão que sim, mas não sei qual o motivo. Não vou ficar na
neurose por causa da vida que levo. Ficar imaginando que algum carinha está
me paquerando por saber quem eu sou. Sou uma mulher bonita. Não vou ficar
pensando: "Ah, ele me reconheceu e por isso está dando em cima".
É loucura demais. Prefiro deixar a vida me levar Às vezes, de
madrugada, vou até o prédio em que meus pais moram. Fico na calçada um
tempão. Na última vez, fui com meu namorado: meia hora ali, bebendo, enquanto
passava o filminho na minha cabeça. Eu vejo o portão e uma menina saindo
assustada, com a roupa do colégio, uma mochila com algumas roupas,
desnorteada, sem rumo - caminhando para o destino que ela escolheu. Lá de
baixo, olho as janelas de luzes apagadas no apartamento em que um dia morei.
Lembro do meu quarto clarinho, das persianas (nada de cortinas ou bichinhos
de pelúcia: tenho asma e rinite...), dos móveis da Babilândia (não queria
móveis de "adulto") e da grande bancada onde eu estudava e fazia as lições de
casa, e passava horas no meu computador ou vendo a tv. Não vou até lá
esperando um encontro casual. Pelo horário, quero mesmo é não ver ninguém.
Não estou preparada. Nem eles. Como meu pai reagiria? E minha mãe? Nós nunca
mais nos falamos. Vamos nos encontrar um dia, claro, mas vai ser planejado.
Quando eu parar de fazer programa, quero provar para eles que fiz, mas parei.
Tomara que isso facilite a volta.
Terminada a cerveja, dou uma última passeada pela frente do prédio,
olho ao redor e vejo que muita coisa mudou. Inclusive eu.
Hoje vejo que tudo o que vivi era uma fase pela qual eu tinha que
passar. Sem arrependimentos.
Três anos que eram para ter acontecido assim: putaria, drogas... Se
não fosse desse jeito, longe dos meus pais, talvez eu ainda estivesse tomando
antidepressivos.
E eles, nem sei... Por que foi bom? Por vários motivos (eu sempre vejo
o lado bom das coisas). Desde o meu amadurecimento como pessoa, de aprender a
cuidar e a gostar de mim, ao aprendizado de conviver com todo tipo de gente,
de respeitar o lado de cada um. Antes, eu não respeitava ninguém. Se não
fosse garota de programa, nunca aceitaria as diferenças das pessoas. Conheci
todo tipo de gente: boas e ruins. A melhor delas foi a Gabi. Por tudo isso,
sei que fiquei menos egoísta. Penso até que, se tivesse sido mais paciente,
dado um tempo, se não tivesse saído de casa, a minha relação com meus pais um
dia ia voltar ao normal. Nada de Bruna, só Raquel.
Mas só a Bruna podia chegar a essa conclusão. Nunca a Raquel...
No ano passado, fui visitar minha avó, mãe da minha mãe, que está numa
clínica geriátrica em Sorocaba. Ela me mostrou um álbum de fotos. Entre elas,
nenhuma do meu pai. Mas havia uma de minha mãe, segurando no colo minha
sobrinha recém-nascida, que, por motivos óbvios, eu ainda não conheço. Não
sei por que, mas resolvi pegar a foto emprestada e tirar um xerox. Guardo
essa foto na minha agenda.
De certo modo, me aproxima da minha mãe - e da maternidade. Eu penso
nos meus filhos (quero ter dois:
um casalzinho, gêmeos, de preferência). Me imagino uma mãe mais
companheira, liberal. Sou a prova viva de que não adianta você prender filho,
proibir. Tudo bem que os meus filhos poderão sair e voltar a hora que
quiserem, desde que eu leve e busque. Ter vivido a minha vida me mostrou bem
onde está a maioria das armadilhas do mundo. Eu caí em todas elas.
Quinta, 21
Às vezes, paro para pensar no que fiz na minha vida, mas sei que
colherei os meus frutos, ou até que já os estou colhendo sem saber. Hoje
fiquei relembrando todo o meu passado, sem depressão; apenas lembrei com
saudades e com carinho.
Se não fosse o meu passado, acho que não teria me tornado a pessoa que
sou, não a puta que sou, mas o meu outro lado, que poucas pessoas conhecem. É
tão bom lembrar das risadas em família, das viagens, dos colegas do colégio,
de tudo... Depois que fiquei um tempão assistindo ao "filme" do meu passado,
que passou apenas pelos pensamentos, limpei as lágrimas e levantei a cabeça.
Gosto de chorar porque me faz bem.
Quando este livro estiver lançado eu não estarei mais fazendo
programas. Não sei qual o dia exato de outubro, só sei que será antes do meu
aniversário, O presente que me darei.
Quero que os meus pais saibam e entendam que tudo o que fiz foi em
nome da minha felicidade. Para sermos felizes precisamos sempre abrir mão de
algo. Não dá para termos tudo de uma vez.
Tive a sorte de encontrar o homem da minha vida fazendo programas. Sei
que não são todas as garotas de programa que têm o mesmo final feliz.
Vou me aposentar, mas continuarei com o blog até o último dia de minha
vida. Ainda quero escrever nele que "amanhã será o meu casamento" ou que "o
meu filho nasceu ontem". E espero mais ainda que estes fatos aconteçam com o
Pedro.
O importante na vida é nunca desistir de buscar a
felicidade.
fim
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